Adolescentes de baixa renda na Europa enfrentam maiores riscos de obesidade

Junho 6, 2024 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança, Relatório | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , , , , , , , ,

Notícia da ONU News de 28 de maio de 2024.

Estudo envolvendo 44 países identificou taxas crescentes de sobrepeso e obesidade e baixos níveis de atividade física entre os jovens; a Organização Mundial da Saúde considera estes como fatores de risco para uma série de doenças; adolescentes mais pobres tendem a ter maior dependência de alimentos processados e açucarados. Um relatório da Organização Mundial da Saúde, OMS, lançado neste mês de maio, constata disparidades “alarmantes” na dieta, exercício e peso entre adolescentes de diferentes origens socioeconômicas na Europa. 

O estudo, baseado em dados de 44 países participantes, destaca hábitos alimentares não saudáveis, taxas crescentes de sobrepeso e obesidade e baixos níveis de atividade física entre os jovens. 

Fatores de risco

Este são considerados pela OMS como fatores de risco significativos para uma série de doenças não transmissíveis, incluindo as cardiovasculares, além de diabetes e câncer.

O relatório traça um quadro preocupante dos hábitos alimentares dos adolescentes, com especial incidência no declínio dos comportamentos alimentares saudáveis e no aumento de escolhas pouco nutritivas.

Os dados revelam que menos de dois em cada cinco adolescentes consomem frutas ou hortaliças diariamente, e esses números diminuem com a idade. 

Por outro lado, o consumo de doces e bebidas açucaradas permanece elevado, com um em cada quatro adolescentes relatando consumo diário de doces ou chocolates. Esta taxa é mais elevada entre as meninas do que entre os meninos e tem aumentado desde 2018.

Impacto do status socioeconômico

Embora o consumo diário de refrigerantes tenha sofrido uma pequena queda geral desde a última pesquisa, em 2018, ainda está presente em 15% dos adolescentes, com taxas mais altas entre meninos, e especialmente entre aqueles de famílias menos abastadas.

O relatório também revela uma ligação preocupante entre o status socioeconômico e hábitos alimentares não saudáveis, com adolescentes de famílias de baixa renda mais propensos a consumir bebidas açucaradas e menos propensos a comer frutas e vegetais diariamente.

O gerente do Programa de Saúde da Criança e do Adolescente da OMS/Europa, Martin Weber, disse que “a acessibilidade de opções de alimentos saudáveis é muitas vezes limitada para famílias com renda mais baixa, levando a uma maior dependência de alimentos processados e açucarados, o que pode ter efeitos prejudiciais na saúde dos adolescentes”.

Sobrepeso e obesidade

A prevalência de sobrepeso e obesidade entre adolescentes tem sido um importante problema de saúde pública, com mais de um em cada cinco adolescentes afetados. Esse número subiu desde o último levantamento, em 2018, de 21% para 23% em 2022. As taxas de sobrepeso e obesidade são maiores entre os meninos, com 27%, do que entre as meninas, com 17%.

Os fatores sociais também geram impactos neste aspecto, com adolescentes de famílias mais pobres sendo mais propensos a ter sobrepeso ou obesidade, numa proporção de 27%, em comparação com 18% de seus pares mais ricos. 

Segundo a OMS, essa disparidade destaca a necessidade urgente de abordar os fatores socioeconômicos subjacentes que contribuem para essas tendências.

Mais informações na notícia da WHO:

The inequality epidemic: low-income teens face higher risks of obesity, inactivity and poor diet

Sucesso educativo dos alunos europeus permanece associado ao contexto socioeconómico

Setembro 15, 2023 às 6:00 am | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , , ,

Texto da Escola Virtual

Nenhum sistema educativo é capaz de dissociar o desempenho escolar dos alunos do seu estatuto socioeconómico, constata a Comissão Europeia. Aos 15 anos, os jovens europeus mais carenciados têm uma probabilidade seis vezes maior de insucesso, por comparação aos colegas privilegiados.

O abandono escolar precoce é um dos sinais de falta de equidade nos sistemas educativos da União Europeia (UE), apesar de continuar a descer. Em 2021, a média europeia situava-se nos 9,7%, o que, segundo os autores do estudo, coloca os países no bom caminho para atingirem os 9% até 2030. A Comissão Europeia destaca ainda que os alunos cujos pais têm um baixo nível de escolaridade e que têm nove vezes mais probabilidade de estar fora da escola. Por comparação aos jovens cujos pais têm níveis mais elevados de instrução.

De acordo com a Comissão Europeia (CE), são já vários os estudos nacionais que mostram uma correlação positiva entre o conhecimento sobre a disciplina, por parte dos professores, e as notas obtidas pelos alunos. Todavia, em vários países é iminente o uso de uma força de trabalho não qualificada. Os autores do último relatório “Education and Training Monitor 2022” (traduzido por Monitor da Educação e da Formação), defendem, no entanto, que os países devem recentrar as suas ações no combate ao abandono precoce “dos jovens desfavorecidos e mais difíceis de alcançar”.

Origem migrante

O aumento de alunos estrangeiros, que requerem atenção especial para se integrarem, contam-se entre os múltiplos fatores que, de acordo com vários estudos nacionais, explicam o abandono escolar em Malta. A taxa de abandono permanece acima da média da UE (10,7%, face a 9,7% em 2021). Mas teve uma das maiores descidas entre os países-membros: caiu 10,7 pontos percentuais desde 2010. A elevada percentagem de alunos de 15 anos com fraco aproveitamento, baixos níveis de bem-estar e o bullying são outras das causas.

Apesar de em Itália estar a cair, a taxa de abandono escolar precoce permanece uma das mais altas da UE. Sobretudo na região sul e entre a população migrante. Em 2021, 12,7% dos jovens entre os 18 e os 24 anos não estudavam, abaixo dos 13,1% que no ano anterior e seguindo a tendência de descida da última década. A resposta do Governo italiano tem sido o reforço do sistema de orientação vocacional na transição do 3.º ciclo para o ensino secundário.

Cerca de 15,3% dos jovens romenos, entre os 18 e os 24 anos, não tinham em 2021 o ensino secundário completo e estavam fora da educação e formação. A percentagem era igual à registada em 2019 e muito acima da média da UE. O abandono escolar precoce é “particularmente elevado entre os alunos Roma”. Apenas 22% dos jovens nesta faixa etária completaram o ensino secundário, contra 83,3% entre a população total. As disparidades regionais são substanciais: abandonam a escola antes do tempo 4,5% dos alunos que vivem em meios urbanos e 23,2% dos meios rurais.

Diferenças de género

O género é um fator determinante sobre quem completa e abandona os estudos. No Chipre, o abandono precoce de educação e formação está a subir desde 2015. Entre os jovens nascidos no estrangeiro a taxa é de 27,9% (21,5%, na UE), entre os nativos é de 3,9% (8,5% na UE), dados de 2021. O país tem uma das maiores taxas de pedido de asilo por habitante da UE. Entre os requerentes, a proporção de jovens dos 18 aos 34 anos é elevada, 62%, em 2018. Dois terços dos alunos que abandonam a escola são rapazes.

Na Estónia, os rapazes deixam de estudar, de forma precoce, duas vezes mais do que as raparigas. O baixo desempenho, no final do 3.º ciclo, é muito maior entre os rapazes. Os percursos educativos também diferem. Os rapazes escolhem com mais frequência o ensino profissional, enquanto as raparigas continuam no ensino secundário geral. Por essa razão, suplantam os rapazes entre os diplomados do ensino superior. A diferença entre géneros é das mais altas da UE (21,2%, face 11,1% da média da UE, em 2021).

Escolaridade dos pais

Em França, os resultados escolares dos alunos dependem em grande medida da situação socioeconómica dos pais. Muito mais do que em qualquer outro sistema educativo europeu, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). O contexto social e económico da família condiciona o acesso à educação e cuidados na primeira infância antes dos 3 anos. Também prediz o desempenho, na medida em que explica 17,5% da variação nas pontuações de leitura entre alunos favorecidos e desfavorecidos.

Há duas décadas que, na Alemanha, o contexto familiar e a origem migrante, impactam não só as notas, como a escolhas do percurso escolar dos alunos. Em 2022, uma análise nacional identificava três fatores de risco socioeconómico para o sucesso escolar: pais pouco qualificados, desemprego e pobreza familiar. Entre as crianças sem histórico migratório, 16% são afetadas por pelo menos um fator de risco e 1% pelos três. Entre as de origem migrante, as percentagens sobem para 48% e 8%, respetivamente. Em 2020, mais de 40% das crianças menores de 6 anos eram migrantes.

Diferenciação de percursos

O encaminhamento precoce para diferentes vias de ensino, a escolha da escola, a repetição de ano e o acesso limitado a professores experientes têm um efeito negativo sobre a equidade educativa na Bélgica. A diferenciação de percursos inicia-se aos 12 anos nas escolas germanófonas e flamengas. Cerca de 23% dos alunos repetem pelo menos 1 ano no ensino básico ou secundário na comunidade flamenga, 43% na comunidade francesa. O desempenho escolar e o contexto socioeconómico determinam a escolha da escola no 3.º ciclo e secundário.

A localização da escola é um dos fatores que influencia fortemente os resultados dos alunos, na República Checa. A elevada eletividade do sistema educativo faz com que os alunos desfavorecidos e com baixo desempenho se concentram em certas escolas. Os alunos privilegiados superam os colegas desfavorecidos em 148 pontos no PISA, o equivalente a cerca de 3 anos de escolaridade (130 pontos é a média da UE). O encaminhamento precoce de 10 a 25% dos alunos – normalmente de nível socioeconómico mais elevado – para escolas secundárias com vários anos de escolaridade (do 7.º ao 12.º ano) contribui para o agravar das diferenças entre escolas.

Na Suécia, os estudos mais recentes sugerem que a escolha da escola leva a uma segregação crescente dos alunos com base no país de nascimento e no nível de educação dos pais. Os alunos mais privilegiados (também entre os alunos de origem migrante) estão a ser matriculados com mais frequência nas escolas independentes. Um inquérito, de 2021, realizado a 690 diretores de escolas de 3.º ciclo confirmou a crescente segregação das escolas. Em 2022, a Inspeção Escolar Sueca, descobriu, na maioria das escolas independentes critérios de candidatura adicionais não declarados.

Na Polónia, uma elevada percentagem de alunos com deficiência continua em contextos educativos segregados, apesar de a legislação consagrar a escola inclusiva. Entre 2010 e 2018, aumentou o número de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) nas escolas regulares, mas o nível de segregação e as disparidades no desempenho educativo permanecem elevados. Cerca de 46% dos alunos com NEE no ensino primário frequentavam o ensino regular, 19% estavam em classes inclusivas e 33% em escolas primárias especiais.

Cuidados de infância

As desigualdades não surgem, nem se esgotam na adolescência. Os cuidados de infância e a educação pré-escolar são, no entanto, “um dos principais fatores que contribuem para a equidade se abrangerem as crianças provenientes de meios socioeconómicos desfavorecidos”, lê-se no relatório da rede Eurydice.

Na Áustria, a frequência de creches abaixo e acima dos 3 anos de idade é inferior à média europeia. E piora entre as crianças mais desfavorecidas ou de origem migrante. Proporcionar a estas crianças a aprendizagem da língua alemã, o mais cedo possível, é crucial, diz a CE. E também beneficiaria 16% das crianças cujo alemão é a sua primeira língua. A participação na educação e cuidados na primeira infância, sobretudo entre as crianças desfavorecidas com menos de 4 anos, é baixa na Grécia.

Disparidades regionais

Em Portugal, os dados disponíveis indicam que os alunos de contextos socioeconómicos desfavorecidos, que recebem Ação Social Escolar, têm mais dificuldades que os seus pares. No entanto, a CE, diz que as desigualdades educativas são menos acentuadas do que nos restantes países da UE. Mas as disparidades regionais e os elevados níveis de reprovação, são desafios. “Portugal tem um quadro abrangente de educação inclusiva, mas a inclusão continua orientada principalmente para os alunos com necessidades educativas especiais”, lê-se no relatório.

O sistema educativo da Lituânia é marcado por uma divisão regional. A participação nos cuidados para a infância tende a ser menor nas áreas rurais, e os resultados dos alunos são marcados por um fosso urbano-rural significativo. A taxa de abandono escolar precoce é quase quatro vezes superior nas zonas rurais (8,2%, em 2021) do que nas zonas urbanas (2,2%). Também a taxa de conclusão do ensino superior para pessoas com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos é muito inferior: 43,6%, nas zonas rurais face a 70,6%, nas zonas urbanas, de acordo com dados de 2021.

Fracas competências básicas

No PISA de 2018, mais de 50% dos jovens desfavorecidos, da Eslováquia, mostraram não ter competências básicas (51,9%), face a 1% dos mais favorecidos. A percentagem de alunos do 3.º ciclo e ensino secundário com baixos níveis de competências básicas está significativamente acima da média da UE (31% vs. 22,5% em leitura, 29% vs. 22,3% em ciências e 25% vs. 22,9% em matemática). Além disso, os alunos com fraco desempenho e desfavorecidos estão, muitas vezes, concentrados nas mesmas escolas.

Na Finlândia, a falta de equidade vê-se na descida do número de alunos que concluem o ensino secundário no tempo esperado. No ano letivo 2019/2020, 6,8% dos alunos dos cursos profissionais descontinuaram os estudos e não os retomaram. Essa proporção era de 3,6% para os alunos do ensino secundário geral. 21% dos estudantes não concluem o ensino secundário geral nos 3 anos e meio previstos. E, após 4,5 anos, 11% ainda não concluiu. Espera-se que o aumento da escolaridade obrigatória de 16 para 18 anos, em 2021, tenha um impacto positivo neste aspeto.

Falta de professores qualificados

A crescente escassez de professores qualificados no pré-escolar, ensino básico e secundário, pode prejudicar a qualidade da educação na Dinamarca. Até 2030 são precisos 13.100 professores. A CE sublinha que os resultados escolares “são altamente dependentes da disponibilidade de uma força de trabalho docente bem treinada e motivada”. No entanto, 16% do pessoal docente no 1.º, 2.º e 3.º ciclos carece de formação de professor e o mesmo acontece a 33% dos educadores em funções.

Também a Hungria está a braços com a escassez de professores sobretudo às disciplinas de Matemática, Ciências, Línguas Estrangeiras, mas também para lecionar no ensino profissional e em escolas localizadas em territórios desfavorecidos. Em 2020, 46% dos professores tinham 50 anos ou mais. A escassez de auxiliares aumenta a carga dos professores que precisam de lidar com alunos com necessidades educativas especiais, problemas psicológicos ou socioeconómicos. Em média, há 1 assistente operacional para 17 professores, enquanto a média da OCDE é de 1 para 12.


ANDREIA LOBO
É jornalista especializada em educação desde 2007, e nos últimos anos tem colaborado na produção de conteúdos do EDULOG, o think tank para a educação da Fundação Belmiro de Azevedo. Integrou projetos de investigação e divulgação científica nas áreas da educação para os media e da aprendizagem da leitura e da escrita. Antes, trabalhou em meios de comunicação social como o jornal A Página da Educação e o portal EDUCARE.PT.

Education and Training Monitor 2022

Obesidade infantil diminuiu, mas continua a afetar mais as meninas

Dezembro 10, 2020 às 12:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , ,

Notícia do Sapo24 de 9 de dezembro de 2020.

Um estudo sobre a obesidade infantil sugere que “há uma diminuição geral” na sua prevalência entre 2002 e 2016, e as meninas “apresentam sempre valores superiores aos meninos”, anunciou hoje a Universidade de Coimbra (UC).

O projeto “Desigualdades na Obesidade Infantil: O Impacto da Crise Socioeconómica em Portugal de 2009 a 2015” foi desenvolvido pelo Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra, que avaliaram entre outros parâmetros, o comportamento das famílias em termos de alterações do padrão alimentar, atividade física e outros hábitos.

“Apesar da diminuição da prevalência de obesidade, a crise económica de 2009-2015 levou a um aumento das desigualdades sociais associadas com a obesidade infantil e nas famílias de maiores rendimentos há uma diminuição maior do que nas de menores rendimentos”, refere nas considerações finais, a investigadora do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, Cristina Padez.

Este é o terceiro projeto de obesidade infantil realizado em Portugal que decorreu no ano letivo de 2016/2017 e contou com a participação de 3.830 crianças com idades entre os 7 e os 10 anos, de várias escolas e jardins-de-infância do Porto, Coimbra e Lisboa.

O primeiro estudo foi realizado em 2002 e envolveu 3.277 crianças e o segundo realizou-se em 2009, com 3.447 crianças de escolas de Lisboa, Porto e Coimbra.

“Verificámos que comparativamente com 2002, há uma diminuição geral do excesso de peso, mas essa diminuição é maior nas meninas (-16,2%)”, explica a investigadora da UC.

No estudo de 2016/2017, verificou-se um excesso de peso e mais obesidade nas meninas de 28,7%, sendo que os meninos registaram 25,1%.

Em 2002, as meninas situaram-se nos 34,9% e os meninos nos 29,9%.

Cristina Padez explicou que nos países considerados mais desenvolvidos ou modernos, em média, se verifica que as crianças oriundas de estratos sociais mais desfavorecidos ou pobres apresentam valores de obesidade superiores às crianças de famílias com maiores rendimentos.

“No mundo, 10 % das crianças pobres têm o dobro da obesidade das crianças mais favorecidas. Em Portugal, verifica-se a mesma tendência. Os valores da obesidade são superiores nas classes sociais mais baixas”, sustentou.

Outro dado que o projeto constata é o aumento das desigualdades sociais entre os anos de 2002 e de 2016.

“Em 2002, a diferença de obesidade entre crianças pobres e ricas situava-se nos 6,2% e em 2016, essa diferença é de 12,8%. Também se verificam diferenças entre Lisboa, Porto e Coimbra. Nestes três distritos, entre 2002 e 2016, a desigualdade social foi diferente. Aumentou muito mais em Lisboa, aumentou em Coimbra e, no Porto, a desigualdade social diminuiu”, frisou.

A investigadora sublinha que existem variáveis mediadoras que estão entre a obesidade e o nível socioeconómico e que tem a ver com a alimentação, o sedentarismo, a obesidade parental ou o tabagismo materno na gravidez, entre outros.

mais informações no link:

https://noticias.uc.pt/universo-uc/sessao-virtual-de-apresentacao-de-resultados-do-projeto-desigualdades-na-obesidade-infantil-o-impacto-da-crise-socioeconomica-em-portugal-de-2009-a-2015/

Quase 2,2 bilhões de crianças e jovens não têm internet em casa

Dezembro 3, 2020 às 12:00 pm | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , , , , ,

Notícia da ONU News de 1 de dezembro de 2020.

Novo relatório do Unicef revela que disparidade afeta a próxima geração; UIT vê “lacuna particularmente grande” de acesso à banda larga móvel e uso da rede mundial.

Um estudo de agências das Nações Unidas revela que 2,2 bilhões de crianças e jovens menores de 25 anos não têm internet em casa. O total corresponde a dois terços dos habitantes do planeta.

A situação afeta l,3 bilhão de crianças entre 3 e 17 anos.  Em todo o mundo, 759 milhões de pessoas entre 15 e 24 anos não acessam a internet de seus lares.

Exclusão 

A pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e da União Internacional de Telecomunicações, UIT, destaca que em tempo de pandemia esta situação atrapalha a educação e formação.

O relatório revela que a exclusão digital mantém as desigualdades entre países e comunidades. Em nível global, 58% das crianças em idade escolar das famílias mais ricas têm conexão à internet em casa, contra 16% das mais pobres.

A disparidade ocorre entre as populações urbanas e rurais e países de alta e baixa rendas: cerca de 60% de crianças em idade escolar nas cidades não estão conectados em casa contra um terço nas áreas rurais.

Com cerca de 90% de alunos sem internet, a África Subsaariana e o sul da Ásia são as regiões mais afetadas.

América Latina e Caribe 

Na América Latina e Caribe, pelo menos metade de crianças e jovens recebe internet em casa. Na região rural, 27%  das crianças e jovens acessam o serviço em comparação com 62% de áreas urbanas.

Segundo o relatório, a disparidade digital entre áreas rurais e urbanas depende, em muitos aspectos, do nível de renda do país.

Essas desigualdades no acesso à internet quase não existem em países de alta renda, mas são muito mais perceptíveis em países em desenvolvimento.

Para a diretora-executiva do Unicef, Henrietta Fore, essa grande disparidade é mais do que uma lacuna digital, “mas um desfiladeiro digital”.

Conectividade 

Ela acredita que para além de ser uma barreira à capacidade de crianças e jovens estarem online, a falta de conectividade “os isola do trabalho e os impede de competir na economia moderna”.

Fore contou que o fechamento das escolas levou à perda de educação e que a “falta de acesso à internet está custando o futuro à próxima geração.”

Cerca de 250 milhões de alunos ainda estão fora da escola tendo que depender da aprendizagem virtual.

A crise pode piorar os níveis de educação dos que não têm acesso à internet. O documento realça que mesmo antes da pandemia, era crescente o número de jovens que “precisava aprender habilidades básicas, transferíveis, digitais, específicas para cada trabalho e empreender para competir na economia do século 21.”

Acesso doméstico

O secretário-geral da UIT, Houlin Zhao, realçou o desafio de conectar populações rurais. Uma das razões é que grande parte delas “não tem cobertura de uma rede de banda larga móvel e há menos residências no campo com acesso doméstico”.

O representante considera “particularmente grande” a lacuna na adoção da banda larga móvel e no uso da internet entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Mais informações no relatório da Unicef:

How many children and young people have internet access at home?

Desigualdades sociais influenciam a saúde logo na infância

Setembro 13, 2020 às 2:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , , , , , , , ,

Notícia da Universidade do Porto de 5 de agosto de 2020.

Por Diana Seabra / ISPUP

Estudos do ISPUP concluem que crianças provenientes de contextos socioeconómicos menos favorecidos tendem para uma trajetória de saúde menos favorável ao longo da vida.

Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), recentemente publicado na revista “Preventive Medicine”, concluiu que as crianças provenientes de contextos socioeconómicos menos favorecidos apresentam, já aos 7 e aos 10 anos de idade, alterações biológicas que as podem colocar numa trajetória de saúde menos favorável ao longo da vida.

Segundo Sara Soares, primeira autora da investigação, coordenada por Sílvia Fraga, o trabalho avaliou “de que forma as condições socioeconómicas ao nascimento poderiam influenciar alguns marcadores da saúde cardiometabólica das crianças, como a pressão arterial, o perímetro abdominal e o índice de massa corporal (IMC)”. Na prática clínica, estes indicadores são usados para avaliar o estado de saúde cardiovascular dos adultos.

Sabe-se que “a doença cardiovascular é mais frequente em adultos que têm um estatuto socioeconómico mais baixo. Neste estudo, o que quisemos avaliar foi se, já no período da infância, crianças que pertencem a contextos socioeconomicamente mais desfavorecidos apresentam alterações nestes marcadores cardiometabólicos”, acrescenta.

Para avaliarem esta associação, os investigadores usaram informação recolhida das crianças que integram a coorte Geração XXI – um estudo longitudinal do ISPUP que segue, desde 2005, cerca de 8600 participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto.

Analisaram-se os marcadores cardiometabólicos de mais de 2900 participantes da coorte, avaliados aos 7 e aos 10 anos de idade. Considerou-se o IMC, o perímetro da cintura, a pressão arterial sistólica e diastólica, a percentagem de massa magra, os triglicerídeos e a glicose.

Adicionalmente, analisaram-se a escolaridade e a ocupação profissional dos pais, bem como o rendimento do agregado familiar, para fazer a caracterização do contexto socioeconómico da criança.

Menos condições socioeconómicas, menos saúde

Observou-se que as crianças que têm pais menos escolarizados, com ocupações profissionais menos diferenciadas ou que auferem rendimentos mais baixos apresentam, já aos 7 e aos 10 anos de idade, um IMC, perímetro abdominal e pressão arterial sistólica mais elevados.

Já as que têm pais mais escolarizados, com profissões mais diferenciadas e rendimentos mais altos, apresentam, aos 10 anos, níveis mais elevados de HDL (o chamado colesterol bom) em comparação com crianças de famílias menos favorecidas, concluiu o estudo designado Early life socioeconomic circumstances and cardiometabolic health in childhood: evidence from the Generation XXI cohort, disponível AQUI.

Estes resultados mostram “que o ambiente socioeconómico em que a criança nasce parece condicionar alterações biológicas já na infância. Ainda que isto não queira necessariamente dizer que estas crianças irão desenvolver doença mais tarde na vida, o estudo parece mostrar que as que provêm de contextos mais desfavorecidos podem estar a crescer numa trajetória de saúde menos favorável”, concretiza.

Níveis de proteína C-reativa também são mais altos 

Num outro estudo, intitulado How do early socioeconomic circumstances impact inflammatory trajectories? Findings from Generation XXI, publicado na revista Psychoneuroendocrinology, e disponível AQUI, os investigadores do ISPUP mostraram, uma vez mais, que as condições socioeconómicas têm impacto nos marcadores biológicos das crianças.

Ao avaliarem o estatuto socioeconómico dos pais e os níveis de inflamação de mais de 2500 participantes da Geração XXI, aos 4, 7 e 10 anos de idade, os investigadores demonstraram que as crianças que nascem em contextos socioeconómicos mais desfavorecidos apresentam níveis de proteína C-reativa – um marcador inflamatório indicador de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares – mais altos aos 10 anos de idade.

Com este estudo, percebeu-se que “as crianças que nascem em famílias com condições socioeconómicas menos favorecidas, apresentam níveis de inflamação mais elevados, logo na primeira década de vida, algo que até agora só tem vindo a ser demonstrado em estudos realizados em adolescentes e adultos”, refere Sara Soares.

“Desconhece-se se este processo de inflamação pode ser revertido durante a adolescência e até na idade adulta, mas percebemos que o estatuto socioeconómico dos pais provoca, logo nos primeiros dez anos de vida, alterações biológicas nos filhos. Assim, as crianças de contextos menos favorecidos parecem estar a crescer numa trajetória de saúde menos favorável”, acrescenta.

Combater as desigualdades socioeconómicas para evitar as desigualdades em saúde

Tendo em conta a evidência encontrada, Sara Soares sublinha a importância de reduzir as desigualdades socioeconómicas para prevenir desigualdades em saúde.

Um dos objetivos que a Organização das Nações Unidas (ONU) e os Estados-Membros definiram para 2030 na Agenda para o Desenvolvimento Sustentável é a redução das desigualdades. “Com estes dois estudos, percebemos que as diferenças no estatuto socioeconómico das famílias se podem estar a traduzir em desigualdades na saúde das crianças, e que tal pode estar a acontecer já desde a infância”, diz.

Por isso, “uma sociedade mais igualitária ajudaria a reduzir as desigualdades em saúde que se começam a manifestar muito precocemente”.

Crianças do pré-escolar passam mais de hora e meia por dia em frente a ecrãs

Julho 2, 2020 às 6:00 am | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Notícia do Expresso de 19 de junho de 2020.

Foram avaliados os hábitos de 8.430 crianças, com idades compreendidas entre os três e os 10 anos, a residir nas cidades de Coimbra, de Lisboa e do Porto

Um estudo concluiu que as crianças do ensino pré-escolar (até aos cinco anos) passam, em média, mais de uma hora e meia (154 minutos) por dia em frente à televisão e outros dispositivos, anunciou esta sexta-feira a Universidade de Coimbra (UC).

Publicado na revista científica BMC Public Health, o estudo, intitulado “Social inequalities in traditional and emerging screen devices among Portuguese children: a cross-sectional study”, foi realizado por uma equipa de investigadores do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC).

O estudo, refere a UC, teve como objetivo avaliar o tempo de ecrã das crianças portuguesas em diferentes equipamentos eletrónicos — os tradicionais (como a televisão, o computador e as consolas de jogos) e os modernos, incluindo os ‘tablets’ e os ‘smartphones’ –, bem como “determinar as diferenças no uso de acordo com o sexo e a idade das crianças e a posição socioeconómica das famílias”.

Foram avaliados os hábitos de 8.430 crianças, com idades compreendidas entre os três e os 10 anos, a residir nas cidades de Coimbra, de Lisboa e do Porto.

Os dados foram recolhidos em 118 escolas públicas e privadas, e as taxas de participação foram de 58% em Coimbra, 67% em Lisboa e 60% no Porto.

De acordo com os resultados do estudo, nas crianças mais velhas o tempo em frente ao ecrã é maior, sobretudo devido ao maior tempo gasto em dispositivos eletrónicos, como computadores, videojogos e ‘tablets’: aproximadamente 201 minutos por dia.

“Concluímos que a maior parte das crianças, principalmente entre os meninos, excede as recomendações de tempo de ecrã indicadas pela Organização Mundial da Saúde e pela Associação Americana de Pediatria, em que o tempo de ecrã deve ser limitado a uma hora (em crianças até aos cinco anos) ou a duas horas por dia (em crianças acima dos seis anos)”, afirma, citada pela UC, Daniela Rodrigues, primeira autora do artigo agora publicado.

Embora a televisão continue a ser o equipamento mais utilizado, “o uso de ‘tablets’ está generalizado e o tempo gasto neste equipamento é elevado, incluindo em crianças com três anos de idade”, nota a investigadora.

O tempo de ecrã “é sempre mais elevado em crianças de famílias de menor posição socioeconómica, independentemente da idade, sexo, ou do tipo de equipamento”, sublinha ainda Daniela Rodrigues.

De acordo com a investigadora, tendo em conta que o tempo de ecrã está associado a um impacto negativo na saúde das crianças, por exemplo, menor tempo e qualidade do sono, maior atraso no desenvolvimento cognitivo e da linguagem, excesso de peso, etc., estes resultados “indicam que é necessário um maior controlo por parte dos pais no acesso que as crianças têm aos equipamentos eletrónicos”.

Este panorama é “ainda mais preocupante numa altura em que, devido à pandemia de covid-19, as crianças estão obrigadas a passar mais tempo em casa, e precisam de recorrer a alguns destes equipamentos para aceder à telescola”, adverte.

“É fundamental identificar os subgrupos de risco e identificar como cada dispositivo é usado de acordo com a idade, para permitir futuras intervenções apropriadas”, sustenta a investigadora da FCTUC.

Os pais, conclui Daniela Rodrigues, “devem ter em mente que as crianças passam a maior parte do tempo a ver televisão, mas os dispositivos móveis estão a tornar-se extremamente populares a partir de tenra idade”.

O estudo citado na notícia é o seguinte:

Social inequalities in traditional and emerging screen devices among Portuguese children: a cross-sectional study

Crianças praticam menos desporto por falta de tempo e dinheiro

Agosto 20, 2019 às 6:00 am | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , ,

Notícia do Público de 17 de julho de 2019.

Investigação avança que as raparigas são as mais privadas da actividade desportiva por entraves associados à segurança.

Lusa

A falta de tempo e de dinheiro são dois dos principais obstáculos à prática desportiva pelas crianças, revela um estudo do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), Faculdade de Ciências e Tecnologia, da Universidade de Coimbra (FCTUC).

A investigação avança que “a falta de tempo e de dinheiro são duas grandes barreiras para a prática de desporto em crianças com idades entre os 6e os 10 anos”.

Mas a segurança também é um dos entraves à pratica desportiva por parte das crianças, “especialmente das raparigas”, segundo a mesma investigação, intitulada “Parental perception of barriers to children’s participation in sports: biological, social, and geographic correlates of Portuguese children”, destaca um comunicado da FCTUC.

Publicado no Journal of Physical Activity and Health, o estudo pretende identificar “as barreiras percebidas pelos pais que podem contribuir para estratégias de promoção da actividade física em crianças, e perceber até que ponto o estatuto socioeconómico, o local de residência e o sexo, a idade e a participação desportiva das crianças afectam essas barreiras percebidas”, explicita a instituição.

Dos 834 pais inquiridos, residentes nos concelhos vizinhos de Coimbra e da Lousã, “quase metade referiu a falta de tempo e a falta de dinheiro como as principais barreiras para a prática desportiva das crianças”.

Saúde, transporte, segurança, instalações, clima, cansaço e falta de interesse das crianças foram outras barreiras apontadas pelos pais.

“Como esperado, de modo geral, os pais com menor poder socioeconómico indicaram mais barreiras, principalmente a nível do custo e do transporte para a prática dessas actividades”, refere Daniela Rodrigues, primeira autora do artigo. “Curioso foi que os pais de raparigas reportaram mais barreiras relacionadas com o custo e a segurança do que os pais de rapazes”, salienta, citada pela FCTUC.

Ainda de acordo com a investigadora do CIAS, o facto de os pais das raparigas indicarem o custo e a segurança como barreiras pode, “até certo ponto e aliado a outros factores já conhecidos, ajudar a explicar porque é que os rapazes praticam mais desporto do que as raparigas”.

Em relação ao local de residência – locais com maior ou menor nível de urbanização –, a diferença mais significativa que os investigadores encontraram está na falta de tempo: “Os pais dos meios mais urbanizados referem significativamente mais vezes a falta de tempo como barreira do que os pais de meios menos urbanizados”, afirma Daniela Rodrigues.

“Comummente, a maioria das famílias, particularmente das comunidades urbanas, tem pai e mãe em empregos de tempo integral, o que pode contribuir para a falta de tempo dos pais nesses ambientes”, admite.

Os resultados deste estudo “devem ser considerados no planeamento e nas intervenções futuras para promover efectivamente a actividade física em crianças”, recomendam os seus autores. “As barreiras mencionadas pelos pais podem ser superadas em alguns casos com o envolvimento de governos locais, decisores políticos e escolas, disponibilizando sessões de desporto locais para crianças imediatamente após a escola ou durante o dia escolar”, sugerem.

O artigo citado na notícia é o seguinte:

Parental Perception of Barriers to Children’s Participation in Sports: Biological, Social, and Geographic Correlates of Portuguese Children

Será a roupa que as crianças vestem na escola uma forma de expressão ou uma forma de discriminação?

Agosto 6, 2019 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , ,

thumbs.web.sapo.io

Texto e imagem do Sapo Lifestyle

A crónica de Luísa Agante

As opiniões dividem-se entre aquelas que os acham uma bênção e uma solução muito prática, e outros que os veem como limitadores da liberdade de expressão das crianças. Um artigo de opinião de Luísa Agante, professora de marketing na Faculdade de Economia do Porto e especialista em comportamento do consumidor infantil e juvenil.

Há uns tempos li um estudo realizado em França que tinha um relato de uma criança dizendo que quando levava o seu calçado Nike para a escola tinha amigos com quem falar e conversar, mas quando levava outro tipo de calçado não era tão bem aceite. Já não tinha amigos e já não queriam falar nem brincar com ela. Auch! Até me doeu ao ler isto. Mais uma consequência da realidade à qual tenho vindo a dedicar parte da minha investigação, o consumismo/materialismo nas crianças.

Por materialismo entende-se a valorização dos bens materiais como atribuidores de valor à pessoa que os utiliza. Nas crianças o consumismo/materialismo é um tema recorrente por estar associado muitas vezes a fenómenos como o bullying, isto porque as crianças valorizam os bens materiais e, ao mesmo tempo, estão a aprender a socializar e a usar esses bens como indicadores do valor social de si próprios e dos pares.

Os níveis de materialismo não são iguais em todas as crianças e dependem de vários fatores. Sabemos por exemplo que os rapazes tendem a ser mais materialistas que as raparigas. Enquanto os rapazes ousam menos em sair das marcas aceites e a escolha de uma t-shirt é um processo muito importante para eles, as raparigas aprendem desde cedo a depender menos das marcas e a saber como criar um “estilo” sem necessitarem tanto de usar as marcas para o expressarem. O materialismo também é muito diferente consoante o tipo de produto, nomeadamente entre a roupa e o calçado. Poucas crianças ousam divergir da maioria no que toca a calçado, mas já se nota uma maior flexibilidade em termos de roupa.

“Enquanto a possibilidade do uso de uniforme for conotada por uns como uma mentalidade de direita associada aos colégios ditos “elitistas”, onde o uso de uniforme é uma medida discriminatória e snob, e por outros pais, como uma mentalidade de esquerda que retira a possibilidade de expressão do indivíduo e uniformiza todos os seres humanos, será difícil mudar e pensar no que é mais importante, a formação das crianças”

Sendo a escola o local onde as crianças passam a maior parte do tempo, e onde estão apenas com os seus pares e com os professores, esse tende a ser o local onde mais expressam o seu materialismo. Normalmente os professores não interferem neste tipo de assuntos, de modo que as crianças estão à mercê do escrutínio dos colegas. Na escola são ditadas tendências, são definidas regras e são valorizadas e/ou penalizadas as crianças que não seguem essas regras.

Por tudo isto, depois de muito estudar e analisar os temas do materialismo, tenho vindo a defender a utilização de uniformes nas escolas. Uniformes simples, que incluam roupa e calçado, que sejam desenhados e confecionados tendo em conta os tempos em que vivem estas crianças e os corpos tão diferentes que cada criança tem. E como sei que não é um tema nada consensual, vou fazendo perguntas e anotando as respostas que obtenho dos pais.

As opiniões dividem-se entre aquelas que os acham uma bênção e uma solução muito prática, e outros que os veem como limitadores da liberdade de expressão das crianças, que ficam assim privadas da utilização da roupa como expressão do seu “Eu”. Alguns estudos mostram mesmo que as pessoas que são mais conscientes e sensíveis aos temas de moda consideram esta medida como um ultraje e uma limitação das liberdades individuais de cada um.

Antes de passar para as entrevistas com as crianças é necessário que este tipo de decisão reúna mais algum consenso da maioria dos pais. Enquanto a possibilidade do uso de uniforme for conotada por uns como uma mentalidade de direita associada aos colégios ditos “elitistas”, onde o uso de uniforme é uma medida discriminatória e snob, e por outros pais, como uma mentalidade de esquerda que retira a possibilidade de expressão do indivíduo e uniformiza todos os seres humanos, será difícil mudar e pensar no que é mais importante, a formação das crianças.

Olhando para exemplos internacionais, temos países como o Reino Unido ou a Índia (ligados por raízes históricas mas com características tão diferentes), que já utilizam uniformes há muito tempo, e que mostram como essa medida permite uniformizar os alunos retirando a carga materialista da roupa na escola; para além disso, como optaram por uniformes mais formais, reconhecem que os alunos aprendem a considerar a escola um local mais formal, de respeito, e se habituam a usar roupa formal num ambiente “profissional”. No entanto, a sua obrigatoriedade põe a tónica nas escolas e exige um enorme controlo dos uniformes no dia a dia, e coloca mais pressão sobre os professores que têm que verificar se as crianças estão ou não devidamente uniformizadas.

Penso que em Portugal temos condições fantásticas para a implementação de um modelo de uniformes obrigatórios nas escolas públicas (e privadas) pelo menos até 9º ano de escolaridade. Algumas escolas já têm uniformes, mas muitas os abandonam no final do ensino primário, quando o desenvolvimento do materialismo é mais crítico durante os anos de pré-adolescência e adolescência.

“Nenhuma destas situações é tão discriminatória, tão visível, como a roupa e o calçado que as crianças usam na escola”

O modelo que imagino ser possível implementar utilizaria as nossas vantagens competitivas ao nível da indústria têxtil e calçado. Escolheria também designers nacionais e as crianças participariam na tomada de decisão do uniforme a implementar. Criando-se opções de peças onde as crianças pudessem escolher entre calças, calções, saias e alguns modelos de camisolas, cada família poderia adequar a indumentária recomendada ao perfil da sua criança sem que esta se sentisse tão restringida na uniformização.

Em termos de modelo económico seria possível cobrar uma pequena margem em cada peça, a qual daria para gerar a sustentabilidade financeira do projeto, e subsidiar os uniformes das famílias que não tivessem capacidade financeira para o adquirir. Para além disso, seria possível criar um uniforme simples para o uso do dia a dia, com uma opção mais formal para que todas as crianças se habituassem aos dias especiais e não vivessem sempre na versão t-shirt e calça de ganga.

Sei, no entanto, que a discriminação das crianças com maiores ou menores posses não vai acabar com uma possível introdução dos uniformes. Os mais variados tipos de julgamentos e descriminações continuarão a ocorrer quando se perguntar qual o destino de férias, quais as prendas de Natal, quais os programas de fim-de-semana, entre tantas outras coisas que diferenciam as pessoas consoante o seu poder aquisitivo. Contudo, nenhuma destas situações é tão discriminatória, tão visível, como a roupa e o calçado que as crianças usam na escola, daí eu a defender e ter esperança que um dia se introduza este tema nas conversas e debates de domínios públicos.

Luísa Agante é professora de marketing na Faculdade de Economia do Porto e especialista em comportamento do consumidor infantil e juvenil. Tem uma página no Facebook chamada “Agante & Kids” na qual publica e partilha regularmente conteúdos informativos sobre comportamento infantil para pais e educadores.

Porque é tão importante para os adolescentes serem populares?

Agosto 20, 2018 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , , , , ,

thumbs.web.sapo.io

Notícia do Sapolifestyle de 8 de agosto de 2018.

Porque precisam de colmatar a insegurança própria de uma idade em que muitas mudanças ocorrem ao mesmo tempo. O problema é quando são populares por causa da roupa que vestem ou do telemóvel que usam. Saiba o que dizer ao seu filho sobre popularidade e, acima de tudo, amigos.

As crianças gostam de agradar aos outros e de fazer novos amigos, mas quando crescem um pouco mais e tornam-se adolescentes isso torna-se quase uma obsessão. Tendo em conta os diferentes tipos de personalidade, pode-se dizer que os tímidos fazem tudo para se integrar no grupo, mas preferem passar algo despercebidos, enquanto os mais efusivos não se importam de ser reconhecidos – e seguidos.

Num extenso artigo do suplemento infantil do El Mundo, questiona-se quais são afinal os critérios para ser popular. E parece que também neste campo o sexo faz a diferença. Assim, se as raparigas “tendem a promover sua beleza física, vestindo roupa da moda, tentando ser sociáveis e atrair rapazes, estes valorizam, acima de tudo, a boa forma física e as habilidades sociais e, e gostam de exibir as mais modernas tecnologias”, por exemplo um bom smartphone.

“A popularidade pode dever-se a vários fatores, nomeadamente ao prestígio (granjeado por mérito académico ou habilidade desportivas), caraterísticas emocionais que facilitem as relações no grupo (por exemplo companheirismo, simpatia e bom caráter) e facilidade em representar o ideal do grupo”, defende-se no estudo “Relações Sociais na Escola: o Problema do Abandono Escolar”, de Estefanía López, Belén Ferrer e Teresa Jimenéz Gutiérrez. As autoras afirmam ainda que “os adolescentes populares mostrar maior competência social e habilidades cognitivas, comportamentos menos agressivos e perturbadores e menos sentimentos de solidão”.

Ter muitos amigos é um bom sinal. A questão, abordada neste artigo, é se os adolescentes granjeiam esta admiração de forma justa ou sobretudo à conta de fatores alheios: “O problema surge quando essa popularidade assenta em fatores externos, nomeadamente pela forma como se vestem ou pelos dispositivos tecnológicos que possuem”.

Esta ansia de popularidade, segundo os especialistas, serve para colmatar a insegurança própria de uma idade difícil, em que muitas mudanças físicas e emocionais ocorrem ao mesmo tempo. Mas atenção: nada de querer ser popular à força se isso fizer o adolescente passar por cima dos seus princípio e velhos amigos.

Veja alguns conselhos que o El Mundo recolheu para dar aos pais desses jovens:

Conselhos para dar aos adolescentes

1. Reforço da autoestima

Os pais têm de explicar aos filhos que serão sempre especiais e únicos para eles. “Devemos reforçar a sua autoestima e ajudá-los a valorizarem-se pelo que são – em matéria de valores e habilidades”. É preciso dizer-lhes que “a adolescência é um palco e que estamos cá em baixo a apoiá-los, sejam eles populares ou não”. É importante também reforçar que há certas características neles que valorizamos mais do que a popularidade.

2. Manter amizades saudáveis – e sinceras

Quando um adolescente é popular, costuma andar rodeado por amigos que o procuram para também serem populares ou para se destacarem socialmente de alguma forma. No entanto, “ele pode sentir-se sozinho porque, em alguns momentos, vai perceber que essa amizade é transitória”. Os pais devem ajudar os adolescentes a promover amizades saudáveis. “Temos de tentar que os nossos filhos encontrem amigos que os estimem pela sua personalidade e caráter e não pela roupa que usam ou pelo smartphone que têm”.

3.Não rejeitar amigos de toda longa data

Tentar ser popular a todo custo pode levar o adolescente a rejeitar amigos que não ligam a esse “status”. “Os pais têm de perguntar aos filhos por que razão se afastaram de amizades duradouras e tentar refletir sobre a atitude deles”.

4. Desvalorizar a popularidade

Ao conversar com os adolescentes sobre este assunto, eles começam a compreender que o importante não é ser popular, ou acumular amigos, mas sentir que essas amizades são fortes e saudáveis. “No futuro, eles agradecerão aos pais essa lição”.

O estudo citado na notícia é o seguinte:

Las relaciones sociales en la escuela : el problema del rechazo escolar

Aumenta o fosso entre rapazes e raparigas no sucesso escolar

Fevereiro 2, 2018 às 6:00 am | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , , , ,

Notícia do https://www.publico.pt/ de 12 de janeiro de 2018.

O género e o contexto socioeconómico continuam a marcar fortemente o desempenho dos alunos. Ministério divulga resultados do indicador que mede quantos conseguem ao longo da escolaridade um percurso “limpo” de chumbos.

CLARA VIANA

É sabido que em média as raparigas têm melhores desempenhos escolares do que os rapazes, mas em Portugal esta tendência está a acentuar-se no 3.º ciclo e no ensino secundário. É o que mostram os dados sobre os chamados percursos directos de sucesso divulgados nesta quinta-feira pelo Ministério da Educação (ME).

Para o ME, um aluno com um percurso directo de sucesso é aquele que, cumulativamente, não chumbou em nenhum dos anos do seu ciclo de escolaridade e que obteve positiva nos principais exames. No conjunto dos alunos, estes casos de “percursos limpos” ainda são a minoria, embora estejam a aumentar. Como também aumentou o fosso entre rapazes e raparigas neste indicador.

No ensino secundário a diferença entre eles e elas passou de sete pontos percentuais em 2015/2016 para 10 pontos em 2016/2017. No 3.º ciclo, a diferença que separa uns e outros subiu, num ano, de nove pontos percentuais para também 10. No concreto: 47% das raparigas conseguiram, em 2016/2017, concluir o 12.º ano com um percurso directo de sucesso — ou seja, não chumbaram nem no 10.º, nem no 11.º ano e tiveram positiva nas principais provas finais no 12.º. Os rapazes saíram-se pior: apenas 37% conseguiram um percurso livre de chumbos.

No 9.º ano as taxas de sucesso (zero chumbos no 7.º e no 8.º e positiva nos exames do 9.º) foram, respectivamente, de 51% e 41% para raparigas e rapazes.

“Existem mais repetências entre os rapazes”, confirma o presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima que, no entanto, afasta a questão do comportamento como sendo actualmente uma das razões para que tal aconteça. “Posso dizer por experiência que hoje já não é verdade que as raparigas sejam mais bem comportadas que os rapazes”, refere.

O que poderá explicar então a diferença? “As raparigas amadurecem mais cedo e talvez estejam mais predispostas para os estudos do que os rapazes”, admite.

Ainda uma minoria

O indicador sobre os percursos directos de sucesso foi lançado pela primeira vez no ano passado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC). Ficou a saber-se então que tanto no 3.º ciclo do básico como no secundário os alunos com “percursos limpos” de chumbos e que, cumulativamente, tinham nota positiva nos exames nacionais constituíam uma minoria.

Os dados agora divulgados confirmam este retrato, embora se tenha registado uma evolução positiva. Em 2016/2017, 42% dos alunos do 3.º ciclo tiveram percursos de sucesso, quando no ano anterior eram 37%. No secundário, o mesmo aconteceu com 46%. Em 2015/2016 eram 40%.

Em declarações aos jornalistas, durante a apresentação destes resultados, o secretário de Estado da Educação João Costa considerou que estas subidas se poderiam justificar pela “ligeira subida da média dos exames nacionais” registada no ano passado em quase todas as disciplinas e por algum impacto das acções entretanto adoptadas pelas escolas no âmbito do programa de promoção do sucesso escolar, lançado em 2016/2017. O governante frisou, contudo, que esta evolução deve ser “olhada com cautela” porque em educação dois anos não são tempo suficiente para identificar tendências.

“Penso que ainda é prematuro atribuir-se ao programa de sucesso escolar. Estamos só no segundo ano deste programa que, na maioria das escolas, tem incidido sobretudo no 1.º ano de escolaridade”, comenta Filinto Lima, em declarações ao PÚBLICO. Para o presidente da ANDAEP, esta evolução poderá reflectir sobretudo a preocupação das escolas em conseguir que “os bons alunos atinjam outros patamares”. “A par do combate ao insucesso escolar, existe hoje uma forte sensibilização das escolas para com os alunos que, estando já com notas positivas, podem melhorar ainda mais as suas aprendizagens.”

O peso do meio

O que os novos dados também mostram é que esta tendência de subida é transversal a todo o tipo de estudantes, independentemente do contexto socioeconómico de origem, embora o peso do meio continue a marcar profundamente o desempenho.

Para avaliar este impacto, a DGEEC foi saber qual a percentagem de alunos com Acção Social Escolar (ASE) que conseguiram ter percursos de sucesso e também a dos que não beneficiam destes apoios, que só são atribuídos a estudantes oriundos de agregados com rendimentos iguais ou inferiores ao salário mínimo nacional.

Os beneficiários da ASE estão divididos em dois escalões: A e B, sendo o primeiro o dos mais carenciados. Em 2016/2017, 28% dos alunos do escalão A e 35% do escalão B que concluíram o 12.º ano estavam entre os estudantes com percursos de sucesso. Em 2015/2016, estes valores tinham sido, respectivamente, de 23% e 30%.

Já entre os alunos de meios mais favorecidos, ou seja, sem apoios do Estado, esta proporção passou de 39% em 2015/2016 para 44% no ano lectivo passado.

No 3.º ciclo, 54% dos estudantes que não estão abrangidos pela ASE tiveram percursos de sucesso em 2016/2017. No ano anterior tinham sido 47%. Entre os alunos do escalão A da ASE a evolução foi de 18% para 22% e no escalão B passou-se de 28% para 34%.

É uma evolução que Filinto Lima vê com “muita satisfação”. “Significa que as escolas estão a cumprir o seu papel de elevador social.” Apesar disso não tem dúvidas de que a diferença a favor dos alunos mais favorecidos será “uma tendência que vai continuar”.

Também a nível distrital a tendência é de subida. No secundário as maiores subidas neste indicador de sucesso escolar (sete pontos percentuais) registaram-se em Aveiro, Beja, Castelo Branco e Porto. Braga e Viana do Castelo são os distritos que mais se distanciaram pela positiva: tiveram 48% de alunos com percursos de sucesso quando a média nacional foi de 42%. Braga volta a destacar-se no 3.º ciclo com 50% de estudantes nesta situação, mas a campeã é Coimbra que atingiu os 56%.

Para João Costa, a avaliação com base nos percursos de sucesso “permite contrariar análises simplistas e não induzir algumas más práticas educativas” nas escolas, ao contrário do que sucede com os rankings tradicionais, elaborados só com base nas notas dos exames. Um exemplo: este indicador, quando usado para comparar escolas, “penaliza as que estão a chutar alunos para fora para não ficarem mal” nos rankings. Mais: ele permite uma avaliação mais séria do trabalho realizado, acredita. “Uma escola é boa pelo progresso que os alunos fazem”, sublinha.

O estudo mencionado na notícia é o seguinte:

Provas Finais e Exames Nacionais 2017 – Principais Indicadores Ensino Básico e Secundário

 

 

 

Página seguinte »


Entries e comentários feeds.