Alunos que agridem professores e professores que agridem alunos

Outubro 31, 2019 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Artigo de opinião de Rute Agulhas publicado no DN Life de 26 de outubro de 2019.

Diversas situações de agressões físicas entre alunos e professores têm sido noticiadas recentemente, dando conta de uma realidade que sabemos que existe e cuja prevalência é muito preocupante. Este é um tema complexo que remete para diversos aspectos, entre eles o papel da família, a representação social da escola e dos professores, bem como a saúde mental de todos os envolvidos.

Mas vamos por partes.

Antes de mais, o papel da família, principal agente de educação e formação das crianças e jovens. A quem cabe educar, não apenas numa perspectiva de satisfação das necessidades (sejam elas físicas, cognitivas ou emocionais), mas também enquanto instructores directos, assumindo um papel mais didáctico numa lógica de resolução de problemas cognitivos ou de interacção social. É na e com a família que as crianças aprendem em primeira instância, porque lá encontram os seus principais modelos, que observam e tendem a imitar. Porque lá percebem que os comportamentos têm consequências, positivas ou negativas. Porque lá aprendem as regras, que podem, ou não, interiorizar. Porque lá percebem a diferença entre o certo e o errado, valores que podem, ou não, interiorizar. Tudo depende da forma como os pais souberem, ou não, desempenhar estes diferentes papeis. O que, por sua vez, se relaciona com variáveis dos próprios pais (como a sua história, aprendizagens passadas, personalidade, crenças), da criança (o temperamento da criança é um factor importante a ter em conta, que também influencia a forma como os pais interagem com ela) e do meio (como, por exemplo, as dinâmicas conjugais, o stresse parental e a rede de suporte social da família). Resumindo, o exercício da parentalidade não é linear e pode ser determinado por um conjunto de factores que, por sua vez, influenciam o desenvolvimento da criança.

E o que temos nós, tantas vezes? Crianças e jovens que crescem com a interiorização de que tudo podem fazer, sem quaisquer consequências negativas. Crianças e jovens autocentrados, sem tolerância à frustração ou capacidade para resolver problemas de forma assertiva. Crianças e jovens com necessidade em sentir controlo e poder, impulsivos, pouco empáticos e desmotivados. Com dificuldade em regular as suas emoções e em antecipar as consequências dos seus actos. Neste contexto, agredir os professores (os seus pares ou qualquer outro adulto) surge como algo natural, a resposta lógica e ajustada, face a um meio que é sentido como injusto e ameaçador.

Se os pais também contribuem para este cenário? Claro que sim.

E, neste contexto de desvalorização, progressiva desautorização e, até, desrespeito, a par da insegurança e imprevisibilidade que os professores sentem, estão criadas as condições para termos adultos desmotivados

Em segundo lugar, falemos da representação social da escola e dos professores. Olhamos para trás e parece que passámos do 8 para o 80. De um contexto e uma classe com muito poder, tantas vezes temida pela autoridade exercida, para um contexto de segunda classe, de menor importância, por vezes até ridicularizada. A quem tudo se pede e tudo se exige, como se a escola tivesse agora de se substituir à família. E, neste contexto de desvalorização, progressiva desautorização e, até, desrespeito, a par da insegurança e imprevisibilidade que os professores sentem, estão criadas as condições para termos adultos desmotivados, cansados e sem recursos para lidar com as exigências crescentes que a infância e adolescência de hoje colocam.

De mãos dadas com tudo isto, a saúde mental, ou a falta dela. Nas crianças e nos jovens, nos pais, nos professores, em toda a comunidade escolar. E aqui não há volta a dar. O sistema educativo precisa de mais psicólogos, num rácio adequado que permita, não apenas desenhar e implementar programas de intervenção, mas também e, acima de tudo, investir na prevenção primária. Em articulação com outros profissionais, destacando-se aqui o papel fundamental dos agentes da escola segura. Sublinhar também que a academia pode e deve ser um precioso aliado das escolas, num esforço de implementação e disseminação de metodologias com base em evidências.

A Psicologia pode ainda ajudar a um outro nível, mais macro, numa lógica de repensar o funcionamento do sistema educativo e as políticas que o orientam. Porque falar de educação é, antes de mais, falar de pessoas que estão numa fase muito sensível do seu desenvolvimento. E estará a escola dos dias de hoje adaptada à infância e juventude dos dias de hoje? Penso que não.

Face a tudo isto, e em jeito de conclusão, dizer apenas que colocar a tónica no castigo e suspender os alunos ou professores agressores não resolve a situação. Digamos que seria como se um médico colocasse um penso rápido para combater uma infecção generalizada.

V Seminário Direitos das Crianças: exigências e desafios – 19 novembro em Penafiel

Outubro 31, 2019 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Mais informações no link:

Guias para Familias e Profissionais de Educação sobre diversidade de Gênero na Infância

Outubro 31, 2019 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Guia para Familias de Crianças com Papéis e comportamentos de Género Diverso

Guia para Profissionais de Educação sobre Diversidade de Expressões de Género na Infância

Da parceria do IAC com a AMPLOS nasceram os Guias para Famílias e para Profissionais Educação sobre Diversidade de Género na Infância.

Instituto de Apoio à Criança quer criação de Estatuto da Criança Vítima – notícia com declarações de Dulce Rocha Presidente do IAC

Outubro 30, 2019 às 8:00 pm | Publicado em O IAC na comunicação social | Deixe um comentário
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© iStock

A notícia contém declarações da Dra. Dulce Rocha, Presidente do IAC

Notícia e imagem do NotíciasaoMinuto de 29 de outubro de 2019.

A presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC) disse hoje que uma das principais reivindicações a fazer nesta legislatura é a discussão e aprovação de um Estatuto da Criança Vítima, como já existe para as mulheres.

A criação do Estatuto de Criança Vítima “é uma matéria que merece uma reflexão. O facto de se ter aprovado o estatuto para a mulher que é vítima mostra que foi considerado que este é vantajoso, e porque é que não é vantajoso para a criança, porque é que é inútil para a criança?” disse Dulce Rocha à agência Lusa no final de uma cerimónia de comemoração dos 30 anos da Convenção Sobre os Direitos da Criança, que decorreu hoje no auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, juntando várias dezenas de especialistas ligados a esta área e que contou com a presença da ministra da Justiça.

Dulce Rocha sublinhou que se a maior parte dos casos de intervenção das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens são com crianças que assistiram ou que vivenciaram situações de violência doméstica, isso “também é motivo para serem consideradas vítimas nos termos da Convenção de Istambul”.

Durante a cerimónia foi “apresentado publicamente” o Conselho Consultivo do IAC, um órgão de reflexão que congrega cerca de 300 especialistas em diversas áreas relacionadas com este problema.

“Foi criado o Conselho Consultivo porque os assuntos atualmente são tão complexos que vale a pena juntar um conjunto de personalidades com sensibilidades diferentes, interdisciplinares (juristas, magistrados principalmente, mas também psiquiatras, pediatras, sociólogos, psicólogos, entre outros) que vêm pronunciar-se sobre assuntos importantes” disse a presidente do IAC.

“Pretendemos desenvolver a formação interna, que reconhecemos ser indispensável para respondermos cada vez com mais qualidade aos novos desafios que se nos colocam”, afirmou, acrescentando que é necessário “refletir e debater com mais tempo um conjunto de temas muito sérios e atuais sobre a forma de tornar mais efetivos os direitos da criança”.

Dulce Rocha lembrou que o IAC já tinha experimentado de alguma forma órgãos que foram precursores deste, “mas eram demasiado informais e sem aquela continuidade que dá às instituições a coerência necessária para se afirmarem”.

A presidente do IAC disse que “não basta só a audição da criança, mas também é necessário escutá-la com vista ao respeito pela sua opinião, pela sua vontade, porque assim a participação é mais envolvente”, uma das perspetivas que foi passada no encontro, que “serviu para refletir e pensar o futuro”.

Especialista da UNESCO considera Plano Nacional de Leitura “exemplo para todo o mundo”

Outubro 30, 2019 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação, Livros | Deixe um comentário
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Notícia do Sapo24 de 24 de outubro de 2019.

Uma responsável por programas de leitura e bibliotecas da UNESCO considerou hoje o Plano Nacional de Leitura português “exemplo para todo o mundo”, mas lembrou as regiões onde os livros continuam inacessíveis e a escola é só para alguns.

“Vamos transferir este conhecimento para outros países”, afirmou Jeimy Hernández, responsável pela área de Leitura, Escrita e Bibliotecas do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e Caraíbas (CERLALC), um órgão da UNESCO que acompanha a situação de 21 países, incluindo Portugal e Espanha.

Jeimy Hernández falava hoje durante a III Conferência do Plano Nacional de Leitura 2027 (PNL2027) que está a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, sob o tema “Presente – Futuro: O Elogio da Leitura”.

“Estamos muito longe das bibliotecas escolares que vocês têm”, afirmou Jeimy Hernández, felicitando o Programa Rede de Bibliotecas Escolares (PRBE) criado há mais de 20 anos em Portugal e que permitiu a instalação de bibliotecas em todos os níveis de ensino.

Enquanto, em Portugal, uma das preocupações atuais passa por conseguir transmitir o prazer da leitura a mais pessoas, existem países onde o livro continua a estar inacessível.

As desigualdades entre regiões foi o foco da apresentação de Jeimy Hernández: “Existem muitas zonas onde não há bibliotecas locais”, onde “a maioria das famílias não tem livros em casa nem há acesso à internet”.

Nos sítios onde “o acesso à informação é nulo”, a solução poderia passar pelas escolas, mas a professora universitária lembrou que “em muitos países não existem bibliotecas escolares”.

Jeimy Hernandez gostaria de ver replicado o projeto das bibliotecas escolares, mas reconhece que existem países com problemas estruturais que podem obrigar a deixar para depois esse projeto.

“Existem 12 milhões de crianças que nunca vão entrar dentro de uma sala de aula”, lamentou, citando dados mundiais.

Jeimy Hernandez recordou que ainda existem 13 milhões de jovens sem habilitações básicas de alfabetização, dos quais mais de 60% são mulheres, e que mais de 15 milhões de crianças nunca vão receber qualquer atenção cognitiva ou sócio-emocional durante a infância.

Lembrando que a leitura e a escrita são armas importantes para combater as desigualdades, a especialista da UNESCO defendeu que o direito à leitura deve ser um assunto de política pública.

No “mapa mundial das desigualdades” destacam-se, precisamente, pela negativa vários países da América Latina, que fazem parte da CERLALC, organismo que Jeimy Hernández coordena.

A responsável pela rede Ibero-americana de políticas e planos nacionais de leitura revelou ainda que a maioria dos países da CERLALC não tem planos nacionais de leitura a funcionar.

Dos 21 países, “17 dizem ter planos nacionais de leitura, mas só 11 os têm ativos, os restantes têm documentos escritos, mas não são aplicados”, lamentou, acrescentando que “apenas três países se destacam e um deles é Portugal”.

Quem está a frente do Plano Nacional de Leitura português (PNL 2017) é Teresa Calçada, que também foi coordenadora da Rede de Bibliotecas Escolares entre 1996 e 2013 e atualmente é comissária do PNL2027.

Durante a sua intervenção, Teresa Calçada lembrou Júlio Verne que escreveu “nunca se fez nada grande sem uma esperança exagerada”.

“Temos o dever de proteger este bem”, que é a leitura, salientou a especialista, lembrando que “elogiar a leitura é um imperativo educacional”.

Na abertura da conferência, o administrador da Fundação Calouste Gulbenkian Guilherme d´Oliveira Martins não se esqueceu de saudar quem trabalha nas escolas e nas bibliotecas.

“Hoje as bibliotecas não são depositários de livros. São realidades vidas”, sublinhou Guilherme d´Oliveira Martins, para quem a leitura e a escrita devem ser vistas como património imaterial: “Um livro é um companheiro (…) é um apelo a compreender o outro”.

Plano Nacional de leitura

Empatia contra o ‘bullying’, um método “rápido e eficaz”

Outubro 30, 2019 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Expresso de 22 de outubro de 2019.

Fundada em 2016, a No Bully propõe formação às escolas, recorrendo a uma metodologia norte-americana que escolhe a empatia em vez de apontar um dedo acusador ao culpado. Três sessões chegam para unir vítimas e agressores, contando com a ajuda de colegas ‘positivos’ e ‘coaches’ empenhados, garante Inês Freire de Andrade, co-fundadora da associação .

O ponto de partida é tentador: resolver o bullying em poucas sessões (três são muitas vezes quanto basta), envolvendo a vítima e o ‘bullie’, seguindo uma metodologia que assenta na empatia e colaboração. Por mais que a proposta da associação No Bully pareça magia, escolas que já receberam formação e aplicam o método garantem que este não só funciona, como os resultados são extraordinariamente rápidos.

“Há casos em que após a intervenção o agressor se torna o maior protetor da vítima”, diz Inês Freire de Andrade, da No Bully Portugal. Pressente-se um sorriso do outro lado da linha telefónica, o que a vice-presidente da associação explica por antecipar uma reação de surpresa. “As pessoas ficam espantadas, mas é mesmo assim”, insiste. Daí a confiança da No Bully, que no seu site se apresenta com o ambicioso objetivo de “criar um país sem bullying, onde todas as crianças e jovens se possam sentir felizes e seguros”.

O método nasceu em São Francisco, nos Estados Unidos, país onde é aplicado há pelo menos 12 anos. O mais surpreendente é, talvez, desenvolver-se sem o foco na culpa ou nos castigos, explica Inês Freire de Andrade. “No fundo, trata-se de pegar na motivação por trás dos comportamentos dos bullies – o quererem mostrar-se líderes e quererem ser os mais fortes – mostrando-lhes que o poderão ser se assumirem esses comportamentos pela positiva”.

Por isso o responsável pelas situações de bullying é convidado a participar nas reuniões de solução, mas nunca é apontado como culpado ou acusado do que quer que seja. “É retirada a carga negativa”, que se substitui pelo foco na procura ativa de formas para ultrapassar o conflito, conclui Inês Freire de Andrade.

Na prática como funciona? Carla Marques, psicóloga na Escola Secundária Gama Barros, no Cacém, detalha as várias rondas de formação recebida pelos professores em 2018, até ser criada uma equipa com seis ‘coaches’, que ficam habilitados a intervir como mediadores nos casos detetados de bullying. Inês Andrade explica que esta equipa é geralmente multidisciplinar e que, nas escolas, fica com a missão de trabalhar as denúncias recebidas.

Carla Marques sublinha que “são os alunos que atuam”. Na Gama Barros, o passo seguinte foi o de divulgar a existência desta estrutura e incentivar os alunos a identificar situações que sofressem ou em que vissem os colegas ser alvo. “Fizeram-se cartazes com as mensagens de que ‘quebrar o silêncio é ajudar quem precisa’ ou que ‘denunciar é ajudar, não fazer queixinhas’, para os encorajar”, diz a psicóloga, acrescentando que foi também criada uma caixa de correio para receber as exposições dos alunos.

A estratégia funcionou. “Neste momento estamos a acompanhar dois casos”. O procedimento é começar por analisar as queixas, depois falar com o aluno em causa e com os diretores de turma, para identificar quer o autor ou autores do bullying, quer os colegas ‘positivos’ que possam funcionar como ajudantes, convidando-os a sugerir soluções. A vítima não está presente nas sessões que se promovem, mas a intervenção só avançará com a concordância das partes envolvidas, esclarece a psicóloga.

Na experiência de Carla Marques, o método funciona. “Numa das situações, três sessões chegaram para acabarem abraçados”, afirma. “É normal que o agressor assuma no início uma atitude receosa, talvez por estar sempre à espera de ser denunciado e poder ser castigado”, explica, “mas depois adere e colabora ativamente”. Nem sempre se assume publicamente como culpado, diz a psicóloga, mas nas descrições da No Bully há também casos de jovens que acabaram por pedir desculpa em privado.

Carla Marques recorda que já aconteceu o mais difícil ser ultrapassar “a intervenção inopinada das mães, fora da escola, o que implicou chamá-las para lhes explicar que era preciso dar autonomia aos filhos para que resolvessem eles a situação”.

Experiência pessoal

Inês Freire de Andrade conhece bem os terrenos que pisa e em diferentes papeis. Ao olhar para trás, e durante o ensino básico, identifica-se “mais como agressora”. Sem consciência do impacto que tinham no colega aquilo que via como brincadeiras, “gozava com ele, por ser diferente”. Mas “até o considerava um amigo”, recorda. Ao mudar de escola as coisas mudaram. Inês não tinha colegas conhecidos, não se integrou bem na turma, “ficou a sensação de estar sempre a mais”.

“Não correu bem”, relata “Sofri o que se chama bullying relacional, sendo frequente ouvir expressões do género ‘Não vamos com ela, que é uma chata…” Se parece pouco, nada como experimentar colocar-se nos pés de uma jovem do 5º ano.

As coisas pioraram. No 9º ano, ao transitar para uma turma onde existia um colega já com problemas disciplinares, Inês acabou por vê-lo chamar a si a iniciativa de influenciar todos os outros companheiros criando uma espécie de batalha “dos cool contra os cromos”. Quando arriscou tomar a defesa de outros colegas, Inês tornou-se o alvo favorito, o que a levou a receber desde ofensas a chamadas anónimas, passando por provocações várias.

Inês falou com os pais, sem nunca pedir para mudar de escola, partilhou a situação com quem tinha por amigas, “mas que não quiseram tomar partido” e falou também com alguns professores. Recorda a ausência de respostas e a dúvida permanente sobre como deveria atuar. “Enfrentar esse colega? Ignorar? Ninguém me ensinou”. Acabou por perceber que a melhor estratégia foi levá-lo a pensar que não a conseguia afetar, mas percebeu também que “é importante responsabilizar os adultos: pais, escolas, ministérios”.

Chamou a si a tarefa de fazer algo pelo problema, ao co-fundar, com a mãe e com o marido, a No Bully, em maio de 2016. Começou por se surpreender pelos números relativos ao problema situarem Portugal ao nível dos próprios Estados Unidos (cerca de 30% das crianças e adolescentes serão vítimas de bullying no nosso país, segundo o último estudo da Unicef), mas sente falta de dados mais sólidos, que permitam avaliar a gravidade dos casos. “Há muito pouca informação”, reconhece, e ainda existe “muita gente com vergonha ou medo de falar, porque às vezes os adultos também não ligam ou menosprezam as situações, de certa forma entrando em negação”. O sentimento não ajuda a passar a mensagem e a chegar a mais escolas. Por cá, há menos disponibilidade para se investir financeiramente num programa como o sugerido pela associação, desabafa.

Mas o método faz todo o sentido, na opinião de Sónia Seixas, psicóloga e docente na Escola Superior de Educação de Santarém, com uma tese desenvolvida sobre bullying. “O desenvolvimento de competências emocionais e da empatia” são armas poderosas neste domínio, essenciais em matéria de prevenção em qualquer intervenção em idade escolar”, sublinha, referindo o cyberbullying como o mais preocupante “pelo seu impacto e alcance, tornando as agressões algo permanente e constante”.

Inês Freire de Andrade sublinha também que há casos que fogem ao alcance de uma intervenção como a da No Bully. “Há situações que configuram crime” e essas devem sempre ser encaminhadas para as autoridades competentes, adverte.

AMPLOS lança guias para ajudar pais e educadores a compreenderem questões de género

Outubro 29, 2019 às 8:00 pm | Publicado em O IAC na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 24 de outubro de 2019.

Para a vice-presidente da associação, é preciso “explicar às crianças que elas não são culpadas de qualquer discriminação de que são alvo”. Guias foram apresentados nesta quinta-feira no âmbito do Dia Municipal para a Igualdade.

Lusa

A pior atitude perante uma criança com comportamentos diferentes dos esperados para o seu género é ignorar, alertou a Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual (AMPLOS), que apresentou nesta quinta-feira dois guias para ajudar pais e educadores.

Os guias, que foram apresentados publicamente numa cerimónia com a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, têm cada um 15 páginas com recomendações — tanto para os profissionais na área da educação, como para os pais — sobre a diversidade de expressões de género na infância e como lidar com a questão.

Em declarações à agência Lusa, a vice-presidente da Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual (AMPLOS) revelou algumas das recomendações feitas aos educadores e, no geral, a quem trabalha com crianças. “Explicar às crianças que elas não são culpadas de qualquer discriminação de que são alvo. A criança não pode ter culpa de nada, é a sociedade que não a aceita”, adiantou Manuela Ferreira.

O guia começa logo por apontar que, “por vezes, as crianças têm comportamentos e atitudes inesperados, que não correspondem aos papéis que normalmente se atribuem ao seu sexo” e que frequentemente há profissionais de educação que, quando são confrontados com estas expressões de diversidade de género, as consideram erradas e sentem-se na obrigação de corrigir esses comportamentos.

“O fundamental será então capacitar quem se relaciona com elas (no caso da escola essa informação deverá envolver toda a comunidade escolar), ajudando a compreendê-las, em vez de tentar que sejam as crianças a mudar os seus comportamentos”, lê-se no guia.

Aconselha-se, por exemplo, que sejam evitados “cantinhos”, como o cantinho das bonecas ou o cantinho dos carrinhos, frequentemente associados às meninas e aos meninos, respectivamente, e que é comum acontecer no pré-escolar. Recomenda também que seja permitido à criança expressar as suas preferências, nomeadamente no nome, e que se utilize o nome pelo qual a criança quer ser chamada mesmo que possa parecer desconforme com o seu género.

Manuela Ferreira apontou, por outro lado, que não se deve deixar que os casos de bullying aconteçam: educadores e outros profissionais devem intervir assim que tiverem conhecimento de uma situação do género, em que a criança é insultada ou discriminada. “E aproveitar até a situação para explicar as coisas e fazer disto uma lição para os restantes meninos”, defendeu, acrescentando que também se deve tentar abordar a família “para prevenir aquelas situações de silêncio”.

“O que não devem de todo fazer é ignorar. Esta é a mais importante das recomendações”, defendeu Manuela Ferreira.

Já em relação às famílias, a responsável da AMPLOS explicou que é importante, “antes de mais”, mostrar que “o amor incondicional existe”. “Só temos que aceitar os nossos filhos e continuar a amá-los. Isto é só uma característica, que pode ser esbatida com o tempo ou não, mas é uma característica e uma característica não pode ser um impedimento para que nós não continuemos a amar os nossos filhos”, apontou a responsável.

Manuela Ferreira salientou que também entre as famílias é importante não silenciar a questão, ressalvando que “o silêncio pode dar cabo de uma família inteira”. “O melhor que nós podemos fazer é falar das coisas, sem medos”, aconselhou.

De acordo com Manuela Ferreira, a ideia de construção destes guias surgiu há uns anos, depois de uma família ter procurado ajuda junto da AMPLOS por causa do filho, que tinha na altura entre seis e sete anos e era discriminado na escola porque tinha comportamentos e escolhas que fugiam ao que era socialmente esperado de um rapaz.

Os guias foram sendo elaborados com a ajuda do Instituto de Apoio à Criança (IAC) e foram apresentados ao início da tarde em Odivelas, num evento para assinalar o Dia Municipal pela Igualdade. A vice-presidente da AMPLOS adiantou que a partir de sexta-feira os guias vão estar disponíveis no site da associação e que o IAC terá também exemplares em papel para distribuir pelas escolas.

A cerimónia de apresentação conta também com a presença do presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos de Escolas, Filinto Lima, e do presidente da Confederação Nacional de Pais, Jorge Assunção.

 

Educação sexual: escolas confirmam que não cumprem lei com uma década

Outubro 29, 2019 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia da TSF de 23 de outubro de 2019.

Por Nuno Guedes

Em causa estão o pouco tempo dedicado ao tema e a falta de gabinetes de apoio à saúde e educação sexual.

Grande parte das escolas não está a cumprir a lei de 2009 que define como deve ser dada a educação sexual no ensino obrigatório, do 1.º ao 12.º ano de escolaridade. A conclusão é visível num relatório feito pelo Ministério da Educação, que deve fiscalizar se a legislação está a ser bem aplicada.

O documento lido pela TSF resulta de questionários a que responderam, no início do ano, 633 escolas ou agrupamentos de escolas (95% do total existente no país).

As maiores carências acontecem no ensino secundário, onde apenas 36% das escolas e agrupamentos de escolas dedicam as 12 horas de carga horária prevista, por ano, ao chamado Projeto de Educação Sexual na Turma, sendo que num terço das escolas esse projeto simplesmente não existe.

No 3.º ciclo do ensino básico, onde o limite mínimo também é de 12 horas, a percentagem sobe para 57%.

No 1.º ciclo, onde o limite desce para 6 horas, os valores de cumprimento da legislação sobem para 68%, chegando a um máximo de 74% no 2.º ciclo.

Quando questionadas sobre os constrangimentos que sentem, a esmagadora maioria das escolas não responde, mas aquelas que o fazem, 12%, apontam os condicionamentos nas horas que têm disponíveis e a extensão do currículo que não deixa tempo para este tipo de temas.

Um quarto sem gabinetes para a saúde e educação sexual

A lei também prevê que as escolas devem disponibilizar aos alunos um gabinete de informação e apoio para a educação para a saúde e educação sexual, mas o relatório revela que apenas 72% o têm, com 23% a confirmarem que ainda não o criaram.

Das 153 escolas ou agrupamentos que admitem não ter este gabinete, as principais razões são a falta de recursos humanos (63 casos), falta de crédito de horas (52) e falta de espaço físico adequado (49).

O relatório refere que o número de escolas sem este gabinete para a saúde e educação sexual surge como a situação “mais preocupante”.

Várias recomendações

Com números mais positivos, 94% das escolas têm designado um professor coordenador da educação para a saúde e educação sexual e 83% já criaram uma equipa multidisciplinar para esta área.

O documento do Ministério da Educação termina com uma série de recomendações, nomeadamente, entre outras, que se encontrem espaços para abrir os gabinetes de saúde e educação sexual nas escolas e que se identifiquem as necessidades de formação dos professores.

As escolas podem ainda apresentar candidaturas ao selo de escola saudável “cujo financiamento pode contribuir para colmatar dificuldades financeiras identificadas”.

“A lei está muito à frente das práticas institucionais”

O presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, admite constrangimentos e pede mais atenção por parte do Governo: “É preciso um apoio mais efetivo da tutela que permitisse aos professores, por exemplo, terem formação, as escolas terem espaços adequados a este tipo de situações, as escolas terem mais crédito para atribuir aos nossos professores.”

“A lei está bem concebida, está é muito à frente das práticas institucionais”, sublinha Filinto Lima, acrescentando que as próprias escolas estão a encontrar soluções para a falta de tempo e de meios.

“Nós não atiramos a toalha ao chão e colmatamos isso assegurando protocolos com os centros de saúde e é normal os médicos e os enfermeiros irem às escolas, realizarem palestras no âmbito da educação sexual”, remata.

Crianças devem comer fruta ao pequeno-almoço todos os dias, alertam nutricionistas

Outubro 29, 2019 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 23 de outubro de 2019.

Estudo que indica que 99,6% das crianças inquiridas tomam o pequeno-almoço em casa, a maior parte com leite e pão ou cereais com leite, e que apenas 17% come fruta nesta refeição.

A bastonária dos nutricionistas disse que as crianças devem fazer diariamente um pequeno-almoço que inclua fruta, que segundo um estudo, divulgado esta quarta-feira, apenas faz parte da primeira refeição de 17% dos mais pequenos.

Em declarações à agência Lusa a propósito de um estudo que indica que 99,6% das crianças inquiridas tomam o pequeno-almoço em casa, a maior parte com leite e pão ou cereais com leite, e que apenas 17% come fruta nesta refeição, Alexandra Bento sublinhou a importância de a fruta fazer sempre parte da primeira refeição do dia.

Salientando que os dados deste estudo contrariam informações disponíveis de outras investigações, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas afirmou: “Apesar destes dados, sabemos que há crianças mais carenciadas, provenientes de famílias com mais dificuldades económicas, que vão para a escola sem pequeno-almoço”. “O pequeno-almoço deve integrar vários grupos de alimentos (…) e a fruta deveria estar presente no pequeno-almoço de todas as crianças”, reforçou a responsável.

Segundo os dados recolhidos por este estudo, que incluiu inquéritos presenciais a 1.086 pais/cuidadores de crianças dos três aos 10 anos de idade em Portugal continental e na Madeira, mais de metade das crianças abrangidas (57,2%) bebe leite ao pequeno-almoço, 47,2% come pão e 31,3% cereais. O consumo de fruta é mais frequente nas crianças cujo pequeno-almoço habitual é apenas leite simples (22% dessas crianças come fruta).

Alexandra Bento sublinhou que “com mais literacia, os pais acabam por transmitir aos seus filhos que o leite, pão e fruta deverá ser a melhor solução para os seus pequenos-almoços sempre”.

Por outro lado, a responsável referiu que os casos em que a opção dos pequenos-almoços são os cereais (22,4% nas crianças dos 3 aos 5 anos e 36,3% dos 6 aos 10 anos), habitualmente mais rápidos de preparar, “exigem mais literacia dos pais”. “Isto exige mais atenção e mais literacia porque nos cereais há uma panóplia tão grande que é preciso os pais conhecerem o alimento. Temos cereais encharcados de açúcar e sal, como temos cereais de pequeno-almoço com pouco açúcar, sem sal e até com cereais integrais. É preciso saber olhar para o rótulo e saber escolher”, afirmou.

 Alexandra Bento lembrou que o pequeno-almoço é uma refeição muito importante, que deve rondar 20 a 25% do valor energético do dia da criança, com 300 a 400 calorias, num conjunto de alimentos dos diferentes grupos, e que para isso é preciso ter famílias conscientes e atentas a esta refeição.

O estudo, elaborado por uma empresa de consultoria científica na área da saúde entre Abril e Junho deste ano, indica que a maioria dos pais/cuidadores inquiridos atribui importância máxima, numa escala de 1 a 6, ao pequeno-almoço no que diz respeito à saúde (81%), crescimento (79%) e atenção/concentração da criança (74%). Esta última variante é mais valorizada nos pais de crianças entre os 6 e os 10 anos de idade.

Crianças expostas a espaços verdes têm menor risco de desenvolver doenças

Outubro 28, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 15 de outubro de 2019.

Trabalho do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto alerta para a necessidade de investimentos nestes espaços perto das escolas, onde as crianças passam a maior parte do tempo.

Lusa

As crianças que têm espaços verdes à volta das suas escolas e casas apresentam um “menor risco de desenvolver doenças no futuro”, concluiu um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP).

Em entrevista à agência Lusa, a investigadora Ana Isabel Ribeiro afirma que o objectivo do estudo, publicado na revista Environmental International, era “perceber se a exposição a espaços verdes tinha algum reflexo na saúde das crianças”.

Para “explorar o impacto desta exposição”, ainda pouco estudada internacionalmente, os investigadores analisaram os marcadores biológicos de 3100 crianças, com sete anos, da Área Metropolitana do Porto pertencentes à Geração XXI (um estudo longitudinal do ISPUP que acompanha, desde 2005, 8600 crianças).

“Estas crianças estão todas geo-referenciadas, ou seja, nós sabemos em que par de coordenadas é que elas vivem e em que escolas estudam. Com base nesta informação, cruzámos os dados de saúde da criança com a informação ambiental”, explicou.

No estudo foram incluídos 226 espaços verdes públicos e de livre acesso da Área Metropolitana do Porto que, posteriormente, foram correlacionados com dados de saúde de cada criança, tais como, a pressão arterial, relação cintura/anca, hemoglobina glicada, colesterol e proteína C-recativa.

Conseguimos medir a acessibilidade geográfica e, regra geral, vimos que as crianças que tinham espaços verdes no entorno da escola e de casa apresentavam níveis de biomarcadores mais favoráveis”, referiu.

No entanto, os investigadores afirmam que as “diferenças são relevantes” quando comparadas as exposições em redor das escolas.

“As crianças que dispunham de espaços verdes a 400 e 800 metros no entorno da escola, isto é, respectivamente, 20% e 40% das crianças tinham níveis de biomarcadores melhores, sobretudo, no que diz respeito aos marcadores relacionados com a saúde cardiovascular”, frisou.

Tendo em conta as evidências observadas com este estudo, Ana Isabel Ribeiro alertou para a necessidade de “não desprezar” estas áreas, sugerindo um “maior investimento na provisão destes espaços perto das escolas”, local onde as crianças passam a maioria do seu tempo.

“É fundamental que os governantes e planeadores locais assegurem que a população dispõe de áreas verdes a uma distância razoável dos seus locais de residência e dos parques escolares”, concluiu.

O estudo, desenvolvido por investigadores da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, integra o Exalar XXI, um projecto que estuda a relação entre o ambiente urbano e a saúde infantil.

mais informações na notícia da ISUP:

Crianças expostas a espaços verdes têm melhores marcadores biológicos

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