Quanto maior a escolaridade dos pais, menor o risco de pobreza

Março 19, 2024 às 12:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Jornal de Notícias de 8 de março de 2024.

Probabilidade de ser pobre diminiu 7,8 pontos percentuais quando os pais têm um curso superior. Situação perante o mercado de trabalho continua a ser o grande preditor na variação do risco.

As estatísticas anuais dão-nos um retrato da pobreza há muito conhecido – “Nós sabemos quem são os pobres em Portugal”, citando Alfredo Bruto da Costa: feminino, desempregado, com baixas habilitações escolares, com menores a cargo e  monoparental. Com as crianças a serem o elo mais fraco. Porque a pobreza se transmite de geração em geração, num ciclo vicioso. E foi essa transmissão intergeracional que o Instituto Nacional de Estatística (INE) foi analisar, pondo a nu vantagens e desvantagens sociais. E se o risco de pobreza diminui em 7,8 pontos percentuais (pp) quando ambos os pais têm o ensino superior, o certo é que a condição perante o trabalho continua a ser mais preponderante para a variação dessa probabilidade de ser pobre. 

A análise do INE cinge-se à faixa 25-59 anos e tem como referência o contexto parental dos inquiridos quando estea tinham 14 anos de idade. E dizem-nos que, em 2022, o risco de pobreza era de 17,3% e 17,2%, respetivamente, para aqueles cujo pai ou mãe não não tinham completado mais do que o atual ensino básico. Caindo para os 6,8% ou 8,6% quando o pai ou a mãe tinham o ensino secundário ou superior, respetivamente

Inquérito esse que demonstrou, ainda, “que mais de 90% dos filhos de pais com níveis de escolaridade mais elevados (secundário ou superior) atingiram um nível educativo igual ou superior”. Mesmo assim, “para aqueles com pais que não tinham completado mais do que o atual 3.º ciclo do ensino básico, mais de 50% têm hoje um nível de escolaridade mais elevado”. De acordo com os cálculos do INE, filhos de pais com um curso superior veem a probabilidade de concluírem também aquele nível de ensino aumentar em 54,9 pp.

Condição perante o trabalho

No período em análise, aos 14 anos, o risco de pobreza era de 14% para as pessoas que viviam com um pai empregado, valor que subia para os 21,9% quando desempregado ou inativo. No caso de viverem com a mãe, a relação era de 13% e 17,6%, respetivamente. Por outro lado, também a nacionalidade pesa na probabilidade de ser pobre, com o risco de pobreza, em 2022, a ser superior quando o pai ou mãe tinham nacionalidade estrangeira: 25,1% e 25,5%, respetivamente, mais 11,4 pp e 11,7 pp do que se os pais fossem portugueses.

A composição dos agregados familiares é também uma variável a pesar, com o risco de pobreza a ser superior em 2,6 pontos percentuais nas pessoas que viviam apenas com um dos progenitores. Em Portugal, refira-se, são já 389 mil as famílias monoparentais, 88% das quais femininas. E, de acordo com os últimos dados, quase um terço estava em risco de pobreza. 

Destaque do INE:

O nível de escolaridade é maior, e o risco de pobreza menor, para aqueles que, aos 14 anos, viviam com progenitores que tinham concluído o ensino superior – 2023

Infografia – Marvila – Uma “Ilha” dentro de Lisboa

Novembro 28, 2023 às 8:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Descarregar a infografia completa aqui

Sucesso educativo dos alunos europeus permanece associado ao contexto socioeconómico

Setembro 15, 2023 às 6:00 am | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Texto da Escola Virtual

Nenhum sistema educativo é capaz de dissociar o desempenho escolar dos alunos do seu estatuto socioeconómico, constata a Comissão Europeia. Aos 15 anos, os jovens europeus mais carenciados têm uma probabilidade seis vezes maior de insucesso, por comparação aos colegas privilegiados.

O abandono escolar precoce é um dos sinais de falta de equidade nos sistemas educativos da União Europeia (UE), apesar de continuar a descer. Em 2021, a média europeia situava-se nos 9,7%, o que, segundo os autores do estudo, coloca os países no bom caminho para atingirem os 9% até 2030. A Comissão Europeia destaca ainda que os alunos cujos pais têm um baixo nível de escolaridade e que têm nove vezes mais probabilidade de estar fora da escola. Por comparação aos jovens cujos pais têm níveis mais elevados de instrução.

De acordo com a Comissão Europeia (CE), são já vários os estudos nacionais que mostram uma correlação positiva entre o conhecimento sobre a disciplina, por parte dos professores, e as notas obtidas pelos alunos. Todavia, em vários países é iminente o uso de uma força de trabalho não qualificada. Os autores do último relatório “Education and Training Monitor 2022” (traduzido por Monitor da Educação e da Formação), defendem, no entanto, que os países devem recentrar as suas ações no combate ao abandono precoce “dos jovens desfavorecidos e mais difíceis de alcançar”.

Origem migrante

O aumento de alunos estrangeiros, que requerem atenção especial para se integrarem, contam-se entre os múltiplos fatores que, de acordo com vários estudos nacionais, explicam o abandono escolar em Malta. A taxa de abandono permanece acima da média da UE (10,7%, face a 9,7% em 2021). Mas teve uma das maiores descidas entre os países-membros: caiu 10,7 pontos percentuais desde 2010. A elevada percentagem de alunos de 15 anos com fraco aproveitamento, baixos níveis de bem-estar e o bullying são outras das causas.

Apesar de em Itália estar a cair, a taxa de abandono escolar precoce permanece uma das mais altas da UE. Sobretudo na região sul e entre a população migrante. Em 2021, 12,7% dos jovens entre os 18 e os 24 anos não estudavam, abaixo dos 13,1% que no ano anterior e seguindo a tendência de descida da última década. A resposta do Governo italiano tem sido o reforço do sistema de orientação vocacional na transição do 3.º ciclo para o ensino secundário.

Cerca de 15,3% dos jovens romenos, entre os 18 e os 24 anos, não tinham em 2021 o ensino secundário completo e estavam fora da educação e formação. A percentagem era igual à registada em 2019 e muito acima da média da UE. O abandono escolar precoce é “particularmente elevado entre os alunos Roma”. Apenas 22% dos jovens nesta faixa etária completaram o ensino secundário, contra 83,3% entre a população total. As disparidades regionais são substanciais: abandonam a escola antes do tempo 4,5% dos alunos que vivem em meios urbanos e 23,2% dos meios rurais.

Diferenças de género

O género é um fator determinante sobre quem completa e abandona os estudos. No Chipre, o abandono precoce de educação e formação está a subir desde 2015. Entre os jovens nascidos no estrangeiro a taxa é de 27,9% (21,5%, na UE), entre os nativos é de 3,9% (8,5% na UE), dados de 2021. O país tem uma das maiores taxas de pedido de asilo por habitante da UE. Entre os requerentes, a proporção de jovens dos 18 aos 34 anos é elevada, 62%, em 2018. Dois terços dos alunos que abandonam a escola são rapazes.

Na Estónia, os rapazes deixam de estudar, de forma precoce, duas vezes mais do que as raparigas. O baixo desempenho, no final do 3.º ciclo, é muito maior entre os rapazes. Os percursos educativos também diferem. Os rapazes escolhem com mais frequência o ensino profissional, enquanto as raparigas continuam no ensino secundário geral. Por essa razão, suplantam os rapazes entre os diplomados do ensino superior. A diferença entre géneros é das mais altas da UE (21,2%, face 11,1% da média da UE, em 2021).

Escolaridade dos pais

Em França, os resultados escolares dos alunos dependem em grande medida da situação socioeconómica dos pais. Muito mais do que em qualquer outro sistema educativo europeu, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). O contexto social e económico da família condiciona o acesso à educação e cuidados na primeira infância antes dos 3 anos. Também prediz o desempenho, na medida em que explica 17,5% da variação nas pontuações de leitura entre alunos favorecidos e desfavorecidos.

Há duas décadas que, na Alemanha, o contexto familiar e a origem migrante, impactam não só as notas, como a escolhas do percurso escolar dos alunos. Em 2022, uma análise nacional identificava três fatores de risco socioeconómico para o sucesso escolar: pais pouco qualificados, desemprego e pobreza familiar. Entre as crianças sem histórico migratório, 16% são afetadas por pelo menos um fator de risco e 1% pelos três. Entre as de origem migrante, as percentagens sobem para 48% e 8%, respetivamente. Em 2020, mais de 40% das crianças menores de 6 anos eram migrantes.

Diferenciação de percursos

O encaminhamento precoce para diferentes vias de ensino, a escolha da escola, a repetição de ano e o acesso limitado a professores experientes têm um efeito negativo sobre a equidade educativa na Bélgica. A diferenciação de percursos inicia-se aos 12 anos nas escolas germanófonas e flamengas. Cerca de 23% dos alunos repetem pelo menos 1 ano no ensino básico ou secundário na comunidade flamenga, 43% na comunidade francesa. O desempenho escolar e o contexto socioeconómico determinam a escolha da escola no 3.º ciclo e secundário.

A localização da escola é um dos fatores que influencia fortemente os resultados dos alunos, na República Checa. A elevada eletividade do sistema educativo faz com que os alunos desfavorecidos e com baixo desempenho se concentram em certas escolas. Os alunos privilegiados superam os colegas desfavorecidos em 148 pontos no PISA, o equivalente a cerca de 3 anos de escolaridade (130 pontos é a média da UE). O encaminhamento precoce de 10 a 25% dos alunos – normalmente de nível socioeconómico mais elevado – para escolas secundárias com vários anos de escolaridade (do 7.º ao 12.º ano) contribui para o agravar das diferenças entre escolas.

Na Suécia, os estudos mais recentes sugerem que a escolha da escola leva a uma segregação crescente dos alunos com base no país de nascimento e no nível de educação dos pais. Os alunos mais privilegiados (também entre os alunos de origem migrante) estão a ser matriculados com mais frequência nas escolas independentes. Um inquérito, de 2021, realizado a 690 diretores de escolas de 3.º ciclo confirmou a crescente segregação das escolas. Em 2022, a Inspeção Escolar Sueca, descobriu, na maioria das escolas independentes critérios de candidatura adicionais não declarados.

Na Polónia, uma elevada percentagem de alunos com deficiência continua em contextos educativos segregados, apesar de a legislação consagrar a escola inclusiva. Entre 2010 e 2018, aumentou o número de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) nas escolas regulares, mas o nível de segregação e as disparidades no desempenho educativo permanecem elevados. Cerca de 46% dos alunos com NEE no ensino primário frequentavam o ensino regular, 19% estavam em classes inclusivas e 33% em escolas primárias especiais.

Cuidados de infância

As desigualdades não surgem, nem se esgotam na adolescência. Os cuidados de infância e a educação pré-escolar são, no entanto, “um dos principais fatores que contribuem para a equidade se abrangerem as crianças provenientes de meios socioeconómicos desfavorecidos”, lê-se no relatório da rede Eurydice.

Na Áustria, a frequência de creches abaixo e acima dos 3 anos de idade é inferior à média europeia. E piora entre as crianças mais desfavorecidas ou de origem migrante. Proporcionar a estas crianças a aprendizagem da língua alemã, o mais cedo possível, é crucial, diz a CE. E também beneficiaria 16% das crianças cujo alemão é a sua primeira língua. A participação na educação e cuidados na primeira infância, sobretudo entre as crianças desfavorecidas com menos de 4 anos, é baixa na Grécia.

Disparidades regionais

Em Portugal, os dados disponíveis indicam que os alunos de contextos socioeconómicos desfavorecidos, que recebem Ação Social Escolar, têm mais dificuldades que os seus pares. No entanto, a CE, diz que as desigualdades educativas são menos acentuadas do que nos restantes países da UE. Mas as disparidades regionais e os elevados níveis de reprovação, são desafios. “Portugal tem um quadro abrangente de educação inclusiva, mas a inclusão continua orientada principalmente para os alunos com necessidades educativas especiais”, lê-se no relatório.

O sistema educativo da Lituânia é marcado por uma divisão regional. A participação nos cuidados para a infância tende a ser menor nas áreas rurais, e os resultados dos alunos são marcados por um fosso urbano-rural significativo. A taxa de abandono escolar precoce é quase quatro vezes superior nas zonas rurais (8,2%, em 2021) do que nas zonas urbanas (2,2%). Também a taxa de conclusão do ensino superior para pessoas com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos é muito inferior: 43,6%, nas zonas rurais face a 70,6%, nas zonas urbanas, de acordo com dados de 2021.

Fracas competências básicas

No PISA de 2018, mais de 50% dos jovens desfavorecidos, da Eslováquia, mostraram não ter competências básicas (51,9%), face a 1% dos mais favorecidos. A percentagem de alunos do 3.º ciclo e ensino secundário com baixos níveis de competências básicas está significativamente acima da média da UE (31% vs. 22,5% em leitura, 29% vs. 22,3% em ciências e 25% vs. 22,9% em matemática). Além disso, os alunos com fraco desempenho e desfavorecidos estão, muitas vezes, concentrados nas mesmas escolas.

Na Finlândia, a falta de equidade vê-se na descida do número de alunos que concluem o ensino secundário no tempo esperado. No ano letivo 2019/2020, 6,8% dos alunos dos cursos profissionais descontinuaram os estudos e não os retomaram. Essa proporção era de 3,6% para os alunos do ensino secundário geral. 21% dos estudantes não concluem o ensino secundário geral nos 3 anos e meio previstos. E, após 4,5 anos, 11% ainda não concluiu. Espera-se que o aumento da escolaridade obrigatória de 16 para 18 anos, em 2021, tenha um impacto positivo neste aspeto.

Falta de professores qualificados

A crescente escassez de professores qualificados no pré-escolar, ensino básico e secundário, pode prejudicar a qualidade da educação na Dinamarca. Até 2030 são precisos 13.100 professores. A CE sublinha que os resultados escolares “são altamente dependentes da disponibilidade de uma força de trabalho docente bem treinada e motivada”. No entanto, 16% do pessoal docente no 1.º, 2.º e 3.º ciclos carece de formação de professor e o mesmo acontece a 33% dos educadores em funções.

Também a Hungria está a braços com a escassez de professores sobretudo às disciplinas de Matemática, Ciências, Línguas Estrangeiras, mas também para lecionar no ensino profissional e em escolas localizadas em territórios desfavorecidos. Em 2020, 46% dos professores tinham 50 anos ou mais. A escassez de auxiliares aumenta a carga dos professores que precisam de lidar com alunos com necessidades educativas especiais, problemas psicológicos ou socioeconómicos. Em média, há 1 assistente operacional para 17 professores, enquanto a média da OCDE é de 1 para 12.


ANDREIA LOBO
É jornalista especializada em educação desde 2007, e nos últimos anos tem colaborado na produção de conteúdos do EDULOG, o think tank para a educação da Fundação Belmiro de Azevedo. Integrou projetos de investigação e divulgação científica nas áreas da educação para os media e da aprendizagem da leitura e da escrita. Antes, trabalhou em meios de comunicação social como o jornal A Página da Educação e o portal EDUCARE.PT.

Education and Training Monitor 2022

Como posso eu apoiar a escolaridade dos meus filhos?

Maio 6, 2019 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Artigo de opinião de Lourdes Mata publicado no Público de dia 29 de abril de 2019.

Todos os pais* desejam que os seus filhos gostem da escola, trabalhem, se esforcem, aprendam, passem de ano e ganhem competências que lhes permitam ser bem-sucedidos nas suas vidas pessoais e profissionais. Todos querem o melhor para os seus filhos e também conseguir contribuir da melhor forma para esse sucesso. No entanto, os múltiplos constrangimentos diários que sobrecarregam o quotidiano não são sempre fáceis de ultrapassar. Tudo isto pode levar a um maior distanciamento e até a assumirem que a responsabilidade de ensinar é da escola e dos professores e que eles pouco podem fazer.

Sabe-se hoje em dia que a participação e envolvimento das famílias na educação e no apoio à escolaridade é altamente benéfico para as crianças e jovens e pode mesmo fazer a diferença no seu desenvolvimento ao nível académico e profissional. A educação é uma responsabilidade partilhada entre profissionais e famílias, em que cada um tem um papel específico, não sendo os pais ‘ajudantes’ dos professores, nem estando estes sozinhos na responsabilidade de ensinar e promover o sucesso dos alunos. É nesta especificidade de papéis que se baseiam as parcerias entre profissionais e famílias, onde não têm todos que fazer o mesmo nem assumir as mesmas responsabilidades.

Assim, a participação dos pais vai muito além do apoio às tarefas escolares, do estudarem com os filhos, de ensinarem uma matéria que não foi percebida ou de estarem presentes nas reuniões. Esta vertente da participação, direcionada para a monitorização da escolaridade, passa pelo criar condições para o estudo, organizar rotinas ajustadas com equilíbrio entre momentos de trabalho e de lazer, pela comunicação com a escola, manterem-se informados e colaborarem no que for necessário. Contudo, o papel dos pais vai além em aspetos e momentos mais informais, onde se assumem como centrais tanto a comunicação com os filhos, como a valorização do saber numa perspetiva social e cultural.

No que se refere à comunicação com os filhos, é essencial o interesse que os pais demonstram pelo trabalho, esforço, aprendizagens e saberes destes. As conversas informais sobre as conquistas, as dificuldades, as novidades e as vitórias devem fazer parte das vivências quotidianas sem serem sentidas como rotineiras. Estes momentos podem permitir identificar não só problemas que de outro modo não seriam visíveis, mas também apoiar e monitorizar o processo de aprendizagem e criar relações mais sólidas. Não podem ser momentos conflituosos nem sentidos pelos filhos como de controlo — devem ser momentos de partilha e, para isso, é necessário haver confiança, não se sentir julgado nem que se está a defraudar expetativas. Tem assim de existir uma disponibilidade pessoal e um interesse genuíno que, com a pressão e ritmo do dia-a-dia, muitas vezes nos esquecemos de mostrar, mas que felizmente não precisa de horário ou formalismo e que pode ocorrer tanto à hora da refeição como ao deitar, num percurso casa-escola ou simplesmente num momento em que estamos ali, juntos. Só temos de o descobrir e aproveitar!

Importante também é a valorização do saber: isto envolve a participação em eventos culturais e sociais, aproveitando as infraestruturas, recursos e oportunidades existentes à nossa volta. Muitas estruturas comunitárias, como as bibliotecas municipais, associações recreativas e/ou culturais, museus ou associações desportivas, desenvolvem ações disponibilizando ocasiões não só de convívio, mas para um tempo de lazer de qualidade e que podem ter um impacto positivo na educação das crianças e dos jovens. Muitas vezes focamo-nos demasiado nas aprendizagens e conteúdos escolares, esquecendo-nos de que eles só fazem sentido se estiverem ligados à vida, se fizerem sentido para quem os aprende. Neste aspeto, a família desempenha um papel crucial, devendo aproveitar sempre que possível para partilhar e diversificar saberes.

Assim, da próxima vez que for com os seus filhos a um espetáculo, a um concerto, a uma exposição ou a outra iniciativa cultural, não se esqueça o quão importante ela pode ser e de que modo pode ser uma mais-valia, um elemento importante para o seu crescimento. Sinta-se bem, partilhem esse momento e esteja certo de que esteve a apoiá-los na sua escolaridade.

O termo “pais” será usado em sentido lato, referindo-se ao responsável legal ou a um familiar ou outra pessoa que acompanhe a criança/jovem e tenha um papel significativo na sua vida.

Professora auxiliar do ISPA – Instituto Universitário

 

 

A escolaridade das mulheres é inimiga da natalidade? Os números mostram que não

Julho 20, 2018 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 11 de julho de 2018.

Pordata compilou indicadores que espelham um Portugal em perda no contexto europeu, apesar do regresso a um saldo migratório positivo, e que mostram, por exemplo, que 68% dos nascidos têm mães com o ensino secundário ou superior.

Natália Faria

Os percursos escolares mais longos – e a subsequente aposta na carreira profissional – são frequentemente apontados como um dos motivos pelos quais as mulheres portuguesas têm menos filhos. E em idades mais tardias. Mas o facto de 68% das crianças nascidas no ano passado em Portugal serem de mães com o ensino secundário ou superior desmentem esta ideia, segundo Maria João Valente Rosa, directora do Pordata: “Estudar não é inimigo da natalidade. É notória a prevalência de mulheres escolarizadas quando olhamos para os nascimentos na óptica da escolaridade das mães”.

O retrato estatístico de Portugal divulgado esta quarta-feira, Dia da População, pelo portal estatístico da Fundação Francisco Manuel dos Santos precisa que, dos 86.154 bebés nascidos em 2017, 26.750 tinham mães com o secundário (31%) e 31.749 (36,9%) com diploma universitário. Dá o total arredondado de 68%, o que, para Valente Rosa, legitima a conclusão de que “a escolaridade não inibe os nascimentos”. Se recuarmos a 1997, a percentagem era de 18,2% para os filhos de mães com o secundário e de 13% com o superior, o que perfaz 31,2% de bebés nascidos de mães com aqueles níveis de escolaridade. De resto, como reforça a directora do Pordata, “é nos países mais escolarizados, com a França e a Suécia, por exemplo, que os níveis de fecundidade são superiores”.

Do mesmo modo, “a família tradicional já não é a melhor aliada da natalidade”, acrescenta a demógrafa, numa conclusão assente no facto de 55% dos nascimentos registados no ano passado serem referentes a crianças cujos pais não estavam casados. E refira-se, a propósito, que daquela percentagem, 18,1%, reportavam-se a bebés cujos pais não só não eram casados como não coabitavam.

“O casamento deixou de ser um pressuposto para ter filhos”, reforça a demógrafa, para recordar que, se recuarmos a 1960, as crianças nascidas fora do casamento eram uns residuais 9%.

E porque o conceito de família tradicional assente no casamento, “não é tão aliado da fecundidade quanto nós pensamos”, mais valia, segundo Valente Rosa, que as medidas de apoio à natalidade se despissem das componentes mais “familiaristas” – o PSD apresentou em Junho a sua “política para a infância” que prevê, entre outras medidas, creches gratuitas para as crianças a partir dos seis meses de vida e o pagamento de 10 mil euros por cada filho. O PCP, por seu turno, também tem em discussão na especialidade na Assembleia da República uma proposta de reforço das licenças de parentalidade. São medidas que procuram responder a um cenário em que são mais as mortes do que os nascimentos (-23,4 mil habitantes, em 2017), o que torna Portugal no 3º país com índice de envelhecimento mais elevado.

A generalidade dos indicadores sobre os comportamentos dos portugueses mostra, de resto, que o país comportou mudanças bruscas a uma velocidade de corrida que o faz aproximar-se dos países do Norte da Europa mais do que dos da Europa do Sul. Na Grécia, por exemplo, apenas 9,4% dos bebés nasceram fora do casamento em 2016 – último ano disponível. E em Itália eram 28%.

Esta caminhada em direcção ao Norte também se traduziu numa quebra abrupta dos casamentos católicos. Em 2017, os casamentos não-católicos representavam 66% do total dos casamentos, o que compara com os 32,4% de há 20 anos atrás, em 1997, isto num cenário em que o número total de casamentos – civis e religiosos – sofre quebras consecutivas desde há várias décadas: foram 33.111 em 2017 (523 entre pessoas do mesmo sexo) e eram 78.864 há meio século, em 1960.

Imigrantes são a vitamina D 

Esta crescente secularização na conjugalidade e na natalidade não colam muito bem com um país que se declara maioritariamente católico (um estudo sobre identidades religiosas feito em 2011 pela Universidade Católica – e o mais recente, até agora – mostrou que 79,5% dos portugueses se identificavam como católicos). “Há uma ambivalência muito grande entre os que dizemos que somos e o modo como nos comportamos”, nota Maria João Valente Rosa, para quem estes ziguezagues entre comportamentos tradicionais e outros mais modernos resultam da brusquidão com que se operaram muitas destas mudanças: “Os saltos deram-se quase todos em passo de corrida”.

Sem surpresas, as estatísticas confirmam que Portugal está a perder população desde 2001 – 10.325.452 habitantes em 2016 -, num cenário em que a União Europeia a 28 registou um aumento de cerca de 23 milhões de residentes, entre 2000 e 2016. O que os números mostram assim é que Portugal tem vindo a perder protagonismo no contexto de uma União Europeia que, por seu turno, vem perdendo peso num contexto mundial cuja população continua a aumentar: “Em 1960, a população mundial andava à volta dos três milhares de milhão e actualmente são 7,5 milhares de milhão”, precisa Valente Rosa, para acrescentar que as estimativas para 2050 mostram uma União Europeia com um peso de apenas 5% da população mundial. “Estamos muito preocupados em crescer demograficamente mas crescer para quê se o mundo como um todo está a crescer? O que está implícito é que precisamos de crescer para não perdermos protagonismo no mundo”, raciocina, para concluir que o remédio para esta sangria populacional à escala europeia está nas migrações que são “a vitamina D da demografia actual”.

Idade mediana é de 44 anos

E é no tocante às migrações que Portugal apresenta uma novidade. Em 2017, o saldo migratório voltou aos valores positivos, o que não acontecia desde 2010. Depois de um decréscimo acentuado que perdurava desde o virar da década, 2016 e 2017 voltaram a registar um aumento da população estrangeira com estatuto legal de residente em Portugal: 421.711. Ainda assim, são menos cerca de 35 mil estrangeiros em relação ao valor de 2009 (451.742). Por outro lado, em 2017, emigraram cerca de 81 mil portugueses, dos quais 39% saíram por um período igual ou superior a um ano, num fenómeno que foi a grande válvula de escape durante a crise mas que o Governo se propõe agora inverter com incentivos no Orçamento de Estado para 2019.

Tudo conjugado, o saldo migratório que em 2016 estava nos 8,3 mil negativos (-24,3 em 2011) escalou para os 4,9 mil positivos do ano passado. E se considerarmos que 55% dos imigrantes entrados em 2017 tinham entre 20 e 44 anos de idade poder-se-á concluir que se trata “de uma imigração laboral”, mais do que reformados a beneficiar da abertura de portas ao abrigo dos vistos gold.

Este regresso ao saldo migratório positivo (e note-se que Portugal é o 8º país da UE28 com mais baixas percentagens de estrangeiros residentes) não bastou, porém, para inverter o progressivo envelhecimento da população. Em 2017, a idade mediana era de 44 anos. O que significa que metade da população tem abaixo dessa idade e outra metade acima. Isto faz com que Portugal seja o 3º país com a idade mediana mais alta, só ultrapassado pela Alemanha e Itália (45,9 anos). Se recuarmos a 1990, a idade mediana dos portugueses era de 34 anos. Em 1960, era de 28 anos. O lado positivo disto é que um português nascido hoje tem uma esperança média de vida de 81 anos, contra os 68 anos de 1964.

 

Estudo conclui que filhos de mães pouco escolarizadas tendem a ser obesos

Março 19, 2016 às 6:34 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 11 de março de 2016.

O estudo citado na notícia é o seguinte:

Impact of Low Maternal Education on Early Childhood Overweight and Obesity in Europe

LUSA

Em Portugal, 21% das crianças têm excesso de peso e 6,5% são obesas.

Dois investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) participaram num estudo internacional que conclui que os filhos de mães com baixa escolaridade apresentam um risco maior de terem excesso de peso e obesidade.

De acordo com um comunicado sobre o estudo enviado pelo ISPUP, no qual participam os investigadores Henrique Barros e Sofia Correia, da Unidade de Pesquisa de Epidemiologia daquele instituto, em Portugal registaram-se “percentagens elevadas e excesso de peso e de obesidade e uma percentagem elevada de mães pouco escolarizadas”.

Apesar das desigualdades de género terem sido semelhantes às observadas em outros países europeus, a diferença absoluta na proporção de excesso de peso entre os extremos de escolaridade foi “particularmente elevada nas raparigas”, acrescenta.

Portugal apresentou uma percentagem de 21% de crianças com excesso de peso (resultado parecido com o observado em Espanha e Reino Unido), variando entre 9% na Holanda e 24% na Grécia e em Itália, lê-se na nota informativa. Em relação à obesidade, o estudo mostrou variações entre 1% em França e 6.5% em Portugal.

Para a investigação Impacto da Baixa Escolaridade Materna no Excesso de Peso e Obesidade na Primeira Infância na Europa foram recolhidos dados de 11 estudos europeus de coorte – projectos prospectivos em que os participantes são avaliados ao longo do tempo.

Esses estudos, iniciados em fases “muito precoces”, levaram a num total de 45 413 crianças entre os 4 e os 7 anos, tendo os dados nacionais sido recolhidos no âmbito do projecto Geração XXI, coorte que segue mais de 8500 crianças desde o nascimento (em 2005-2006).

“Independentemente de outras características, o risco de excesso de peso em crianças de mães pouco escolarizadas foi cerca 1.6 vezes superior ao daquelas no topo da hierarquia”, valor que aumentou para 2.6 quando avaliado o risco de obesidade, explicou Sofia Correia. “Em termos absolutos, verifica-se uma diferença média entre os extremos de escolaridade na proporção de excesso de peso e de obesidade de quase 8% e 4%, respectivamente”, acrescentou.

Durante o estudo foram também observadas diferenças sociais na composição corporal das crianças em diferentes países europeus, o que pode contribuir para “perpetuar a desvantagem social” em saúde nos próximos anos, informa ainda o comunicado.

Os autores do estudo concluem que estes resultados “reforçam a urgência de uma intervenção precoce, mesmo antes do nascimento, no sentido de alcançar equidade em saúde”.

Escolaridade dos pais ainda é determinante no percurso dos filhos

Outubro 31, 2015 às 8:00 am | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 21 de outubro de 29015.

adriano miranda

 

Romana Borja-Santos

Estudo acompanhou jovens nascidos na década de 1990 e entrevistou-os em vários momentos. Percurso escolar ainda é muito influenciado pelos anos de escolaridade que os próprios pais conseguiram e pelo rendimento das famílias.

É jovem, tem 21 anos e 15 ou mais anos de escolaridade. Quem serão os seus pais? A pergunta, aparentemente, pode não fazer sentido. Mas a resposta mais comum, encontrada por um estudo que será apresentado nesta sexta-feira, ainda aponta para que este rapaz ou rapariga seja filho de um casal com um nível de escolaridade idêntico. Caso os pais tenham menos habilitações, então o mais provável é que este jovem tenha conseguido contrariar esse determinante social com mais leitura, estudo e desporto durante a adolescência. É também mais verosímil que seja uma rapariga.

“A classe social de origem e a educação dos pais ainda têm muito peso no percurso escolar dos filhos. A origem social ainda pesa muito, apesar de os filhos com ensino superior terem triplicado em relação aos pais que tinham chegado a esse nível”, resume ao PÚBLICO a socióloga Anália Torres, coordenadora do estudo Reproduzir ou Contrariar o Destino Social?. O trabalho será apresentado nesta sexta-feira na Fundação Champalimaud, em Lisboa, e faz parte do projecto Epiteen24 (Epidemiological Health Investigation of Teenagers in Porto).

A investigação da também professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa contou com uma amostra de 2942 pessoas nascidas na década de 1900 e que em 2003/2004 frequentavam as escolas públicas e privadas do Porto. O grupo tem sido acompanhado e inquirido aos 13 anos, 17, 21 e agora 24 anos, com os investigadores a publicarem vários trabalhos ao longo deste período. Os dados recolhidos aos 21 anos já estão totalmente fechados e a equipa está a trabalhar os resultados obtidos aos 24 anos.

As conclusões do estudo antecipado ao PÚBLICO apontam, de forma clara, para que “uma parte substancial das diferenças no desempenho educacional está associada à escolaridade dos pais, o que sugere a continuidade de mecanismos de desigualdade de oportunidades num quadro geral de democratização da educação”. Anália Torres destaca que, independentemente da escolaridade, os rendimentos do agregado familiar também pesam, com as famílias com menos habilitações mas com mais orçamento a conseguirem levar os filhos mais longe na escola.

A propósito do peso dos pais nas diferenças encontradas, a investigadora exemplifica que a taxa de chumbos alcançou os 78% entre os jovens com menos anos de escolaridade e filhos de pessoas com menos habilitações. Entre os jovens com pelo menos 15 anos de escolaridade e filhos de pais com os mesmos anos de estudos a taxa de reprovação em algum momento do percurso escolar ficou-se pelos 1,6%. De destacar que nos inquiridos que conseguiram ultrapassar os pais com menos habilitações a taxa de chumbos cai para 12,9%.

Apesar disso, Anália Torres ressalva que há situações positivas e tendências que contrariam esta realidade maioritária. “Há casos que mostram que há também hipótese de as pessoas, através da educação, poderem melhorar a sua situação. É muito mais fácil para os que têm pais com escolaridade elevada chegarem eles próprios a uma escolaridade elevada, mas a escola também pode correr bem aos jovens com pais com escolaridade mais baixa, desde que se foquem”, diz.

A investigadora dá como exemplo que os jovens que aos 13 anos tinham hábitos de leitura, de estudo e de desporto chegaram mais longe nos estudos, independentemente do percurso dos pais. “É como se o esforço da leitura, do estudo e do desporto acabasse por poder compensar o nível de educação”, afirma. Paradoxalmente, estes adolescentes viam tanta televisão e jogavam tanto computador como os que obtiveram piores resultados.

A socióloga adianta que nas entrevistas que fizeram agora aos jovens com 24 anos que estão a tentar perceber em que medida é que foram os próprios alunos a fazer este esforço ou os pais a incentivar – tentando distinguir, por exemplo, os casos em que pais e filhos estudavam juntos. Porém, avança que os resultados preliminares apontam para que a crise tenha “acentuado algumas diferenças”, com mais jovens a deixarem os estudos não por insucesso mas por “necessidade de trabalharem devido a situações de desemprego dos pais”.

Outra tendência interessante identificada está nas diferenças entre rapazes e raparigas. “No grupo de jovens com pais pouco escolarizados são as raparigas que atingem maior nível de escolaridade”, representando dois terços do total. Também “no grupo de jovens cujos pais têm licenciatura ou mais, são os rapazes que encontram maior dificuldade em atingir o mesmo nível de escolaridade”, acrescenta-se. Mas Anália Torres ressalva que na chegada ao mercado de trabalho a realidade inverte-se. “No mercado de trabalho parece que as vantagens das raparigas desaparecem. Estão mais desempregadas e com trabalho a tempo parcial. É como se pudessem vir a ser mães e isso as prejudicasse, o que é uma contradição em relação ao mérito”, lamenta a socióloga.

A este propósito, sublinha que encontraram algumas explicações numa parte em que avaliaram o chamado capital social dos jovens e em que se percebe que as redes de apoio dos rapazes são mais públicas e as das raparigas mais familiares. “Uma das interrogações que fizemos foi ‘onde é que os rapazes compensam se elas estudam mais e se apresentam mais cedo no mercado de trabalho e com mais habilitações?’”, explica, concluindo que “uma das coisas que é muito interessante verificar é que eles fazem o que se chama de mais bridging, ou seja, através do desporto e de redes de conhecimento mais públicas mobilizam contactos de emprego e compensam as falhas em termos de estudo”.

 

 

Consumo de haxixe é mais frequente nos jovens com mais escolaridade

Outubro 24, 2015 às 6:48 pm | Publicado em A criança na comunicação social, Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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texto do http://p3.publico.pt de 22 de outubro de 2015.

Mario Anzuoni Reuters

Estudo comparou comportamentos de risco com nível de escolaridade de um grupo de jovens. Os maiores problemas ainda se encontram em quem tem menos estudos

Texto de Romana Borja-Santos

Os chamados comportamentos de risco, como suspensões na escola, pertença a um gangue, envolvimento em lutas físicas ou condenações, são em geral mais frequentes entre os jovens com menor escolaridade e que são filhos de pais que concluíram também poucos anos de estudo. No entanto, há um caso em que os jovens com mais anos de estudo e filhos de pais com mais habilitações se destacam: no consumo de haxixe ou marijuana. Aos 21 anos, quase 49% destes jovens inquiridos para um trabalho assumiram que tinham já consumido este tipo de substâncias, quando só 29% dos com menos escolaridade o tinham feito.

As conclusões fazem parte do estudo “Reproduzir ou Contrariar o Destino Social?”, que será apresentado nesta sexta-feira, 23 de Outubro, na Fundação Champalimaud, em Lisboa, e que faz parte do projecto Epiteen24 (“Epidemiological Health Investigation of Teenagers in Porto”). A investigação conta com uma amostra de 2942 pessoas nascidas na década de 1990 e que em 2003/2004 frequentavam as escolas públicas e privadas do Porto. O grupo tem sido acompanhado e inquirido aos 13 anos, 17, 21 e 24 anos, com os investigadores a publicarem vários trabalhos ao longo dos anos.

“Estamos habituados a associar os níveis educacionais baixos a comportamentos de risco nos nossos estereótipos, mas isso nem sempre acontece assim”, adiantou ao PÚBLICO a socióloga Anália Torres, coordenadora do projecto e professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. De acordo com a investigadora, os dados recolhidos permitem perceber que também “a experimentação do álcool aos 13 anos acontece mais nas classes médias e altas, por causa das redes de interconhecimento”, como estes jovens, em geral, “frequentaram mais festas e terem mais dinheiro”. “Nota-se que são os grupos mais escolarizados que tendem a ter mais prática de consumos”, reitera.

No caso do haxixe, 49% dos jovens com mais escolaridade já experimentaram esta substância. O valor mais baixo, de 29%, é encontrado nos participantes com menos estudos. Ainda assim, a maior percentagem (56%) encontra-se nos filhos de pessoas com mais escolaridade mas que acabaram por conseguir completar menos anos do que os pais. No entanto, Anália Torres ressalva que a esmagadora maioria dos comportamentos de risco ainda estão, de facto, associados a níveis de escolaridade mais baixos, tanto nos jovens que os praticam como nos seus pais.

Já nos casos de níveis educacionais mais altos, o estudo sublinha que a “a incidência de comportamentos de risco” está associada a “estilos de vida que podem ser apelidados de ‘recreativos’, como o consumo de haxixe ou marijuana aos 21 anos (ou, mais precocemente, aos 13 anos, na experimentação do consumo de álcool)”. O trabalho destaca, ainda, que os jovens que atingem uma menor escolaridade que os pais também “apresentam ao longo da adolescência uma incidência comparativamente maior de comportamentos de risco, pelo que parece relevante uma análise mais focalizada no enquadramento familiar ou em variáveis individuais de saúde – como a saúde mental”.

 

 

 

 

Quanto mais tempo o bebé for amamentado, mais sucesso terá na vida

Março 19, 2015 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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notícia do http://lifestyle.publico.pt  de 18 de março de 2015.

O estudo citado na notícia é o seguinte:

Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age: a prospective birth cohort study from Brazil

Enric Vives-Rubio

Estudo brasileiro de longa duração encontrou uma ligação entre o tempo de amamentação e a inteligência das crianças.

A investigação realizada no Brasil envolveu 6000 bebés desde 1982 até à idade adulta, de várias classes sociais e ambientes, e descobriu que aqueles que foram amamentados durante mais tempo provaram ser mais inteligentes, passaram mais tempo na escola e ganharam mais do que os que tiveram um período menor de amamentação.

Da amostra inicial, 3500 indivíduos aceitaram ser entrevistados e submetidos a um teste de QI 30 anos depois da primeira análise. Embora vários estudos demonstrem os benefícios da amamentação na saúde da mãe e do bebé – e a Organização Mundial de Saúde recomendar a amamentação exclusiva durante, pelo menos seis meses – o médico Bernardo Lessa Horta, da Universidade Federal de Pelotas, no Brasil, quis perceber se o aumento ligeiro da capacidade cognitiva causado pela amamentação era suficiente para alterar as perspectivas do bebé quando chegava a adulto.

“O nosso estudo fornece a primeira evidência de que o prolongamento da amamentação não só aumenta a inteligência pelo menos até à idade de 30 anos, como também tem um impacto a nível individual e social, melhorando o nível de escolaridade e as capacidades“, explicou Lessa Horta ao jornal britânico Guardian.

Para o médico brasileiro, a investigação oferece uma visão única porque a amamentação está distribuída de igual forma entre a população estudada – tanto as mães mais ricas e de classes mais altas como as menos abastadas e de classes baixas amamentavam em igual número no Brasil, em 1982. A única diferença era que algumas amamentavam apenas durante um mês e outras amamentavam durante um ano inteiro.

Aqueles que beberam leite materno durante 12 meses, tiveram mais quatro pontos do que aqueles que foram amamentados durante menos tempo, tinham pelo menos mais um ano de escolaridade no currículo e ganhavam um ordenado mais elevado.

“Algumas pessoas dizem que não é a amamentação que influencia o desenvolvimento do bebé mas sim a motivação e habilidade de cada mãe em estimular a criança”, disse o médico, citando ainda outros estudos que dizem que bebés com um genótipo em particular têm maior tendência para tirar vantagem da amamentação. Lessa Horta revelou, no entanto, que os resultados do estudo estão em conformidade com as informações conseguidas em análises nutricionais, que mostram que o leite materno é rico em ácidos gordos saturados, responsáveis pelo desenvolvimento cerebral.

Publicado na revista científica The Lancet Global Health, o estudo realça que pode haver outros factores além da amamentação que tenham um impacto directo na inteligência, embora os investigadores responsáveis tenham medido de igual forma a influência da educação da mãe, o rendimento familiar e o peso à nascença.

“É importante notar que a amamentação é um dos muitos factores que podem contribuir para o sucesso de uma criança. Mas o que este estudo mostra é que é necessário uma promoção continuada e melhorada da amamentação”, acrescentou.

 

 

 

 

 

 

Filhos de pais com baixa escolaridade tendem a manter o mesmo nível

Dezembro 13, 2013 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social, Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia da SIC Notícias de 11 de Dezembro de 2013.

O estudo da Eurostat mencionado na notícia é o seguinte:

Educational attainment: persistence or movement through the generations?

SIC

Portugal apresenta dos piores resultados a nível da União Europeia (UE) no que respeita à transmissão intergeracional de pais com baixo nível de escolaridade para os filhos, segundo dados hoje divulgados pelo Eurostat.

Segundo o gabinete oficial de estatísticas da UE – que compara o nível  de educação em pessoas entre os 25 e os 59 anos em 2011 com o dos seus pais  – em Portugal, a grande maioria dos inquiridos (68%) não conseguiu ir além  do baixo nível de escolaridade dos pais.

Apenas 19% dos portugueses filhos de pais com baixa escolaridade chegaram  a um nível médio e 13% a um alto nível de escolaridade.

A média europeia é de 34% de filhos a manterem a baixa escolaridade  dos pais, 48% a chegarem a um nível médio e 18% a um alto nível de escolaridade.

Partindo de pais com escolaridade média, 20% dos portugueses ficaram  por um nível baixo, 39% atingiram o médio e 41% conseguiram chegar ao alto  nível de escolaridade (UE 8%, 59% e 33%, respetivamente).

Com pais que concluíram um nível alto de ensino, apenas 8% dos portugueses  ficaram num nível baixo, 23% com médio e 70% atingiram o alto (UE 3%, 33%  e 63%).

O Eurostat salienta ainda que os números mostram, na UE, uma persistência  do nível de ensino entre gerações, mas destaca um movimento para subir a  um nível médio nos filhos de pais com baixa escolaridade.

 

 

 


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