Alunos querem educação sexual menos vaga e mais interessante

Março 31, 2019 às 1:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 17 de março de 2019.

Obrigatória nas escolas desde há dez anos, a educação sexual continua a estar refém de tabus e dos meios ao dispor nas escolas. Quando é a sério faz a diferença.

Clara Viana

Renato tem 18 anos, está no ensino secundário e diz que durante todos os anos que já passou na escola só teve uma aula de educação sexual. “Foi com uma enfermeira”, especifica. É por estas e por outras que ele e outros colegas seus da Escola Secundária de Albufeira chegam a esta proposta após uma troca de opiniões na redacção do PÚBLICO: criar uma disciplina de Educação Sexual, com um estatuto igual ao das outras e com presença semanal no horário dos alunos.

Dizem que seria uma forma de se tentar pôr fim ao “faz-de-conta” que ainda muitas vezes marca a abordagem à sexualidade promovida pelas escolas, apesar de a educação sexual ser uma área obrigatória em todos os estabelecimentos escolares desde 2009. O médico de Psiquiatria da Infância e da Adolescência Rui Carvalho, 26 anos, aponta uma razão para que tal aconteça: “Temos uma tradição de punição e repressão da abordagem à sexualidade, que ainda tem grande peso, e que pode estar na base da opção de apresentar os tópicos que devem ser abordados de uma forma muito vaga”.

Por exemplo, no último Referencial da Educação para a Saúde, aprovado em 2017, que inclui os temas a ser abordadas em Educação Sexual, a questão da identidade de género, considerada uma das mais sensíveis, está expressa assim: “Compreender e respeitar a diversidade na sexualidade e na orientação sexual.” Destinatários: os alunos do 1.º ciclo do ensino básico ao secundário.

“A impressão que tenho é que se aborda tudo muito pela rama”, comenta o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção. O dirigente da Associação de Estudantes da Escola Secundária Camões, em Lisboa, Samuel Oliveira, diz mais: “A educação sexual tem sido útil, mas os temas tabus continuam a não ser falados na escola”. Acrescenta que é o que se passa, por exemplo, com as questões ligadas aos “comportamentos sexuais”.

De volta à proposta dos alunos de Albufeira, a psicóloga Margarida Gaspar de Matos, que fez parte do grupo de trabalho que esteve na origem da lei da educação sexual de 2009, assinala que chegou então a ser equacionada a criação de uma disciplina específica para esta temática. “Seria uma opção muito válida e era até a de mais fácil implementação, mas que corria dois perigos: por um lado “deixar de fora” outras áreas transversais de maior importância, como a educação para a equidade, diversidade ou cidadania; e por outro levar a que os alunos ficassem com uma carga de aulas ainda maior”.

Por essas razões, optou-se antes por “deslocar” estas temáticas para as chamadas Áreas Curriculares Não Disciplinares, como Formação Cívica ou Área de Projecto, que no anterior Governo foram suprimidas do currículo, o que ainda veio baralhar mais as coisas, embora se tivesse mantido em vigor a lei de 2009 em que se estipula que a carga horária dedicada à Educação Sexual não deve ser inferior a seis horas para o 1.º e 2.º ciclos do básico, nem a 12 no que toca ao 3.º ciclo e ao ensino secundário.

“E agora, Rosa?”

Esta lei não foi, entretanto, revogada, apesar da Educação Sexual ter transitado este ano lectivo para a nova disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, que em muitas escolas tem apenas 45 minutos por semana e um longo painel de temas a abordar, que passam entre outros pela igualdade de género, desenvolvimento sustentável, saúde ou literacia financeira.

Em resposta ao PÚBLICO, o Ministério da Educação indicou que esta transferência para a Cidadania e Desenvolvimento “continua a permitir promover uma abordagem transdisciplinar da educação sexual, nomeadamente no ensino secundário”. Ou seja, ser tratada em várias disciplinas.

A última avaliação sobre a aplicação da lei de 2009 diz respeito ao ano lectivo 2015/2016, está actualmente outra em curso, e confirma uma velha tendência: na grande maioria dos casos, é nas disciplinas de Ciências Naturais e de Biologia que se dá conta desta tarefa.

Aires Alexandre é professor destas duas disciplinas. Diz que “tem feito o que é normal fazer nesta matéria”, mas que o problema é o tempo ou melhor a falta dele, “porque há todo um programa que é preciso cumprir”. “Felizmente contamos com a colaboração do centro de saúde, que é muito importante, e com uma equipa de psicólogos escolares, que geralmente tratam dos temas mais delicados, como por exemplo, a identidade sexual”, comenta.

“Os alunos sentem-se mais à vontade para falar connosco do que com os professores e estes também muito frequentemente não se sentem bem a abordar estas temáticas da sexualidade com os seus estudantes e inconscientemente acabam por as enquadrar nas suas próprias ideias de como se deve pensar ou agir”, testemunha Rosa Franco, enfermeira, que há uma década trabalha na área da Saúde Escolar no Centro de Cuidados na Comunidade do Agrupamento de Centros de Saúde de Oeiras. Ela e outra colega sua “respondem” por cerca de dois mil alunos.

Rosa Franco defende que é, por isso, tão importante que os chamados Gabinetes de Informação ao Aluno, previstos na lei de 2009, estejam a funcionar nas escolas, para que os estudantes saibam que estão ali técnicos que os podem ouvir e ajudar: “A nossa função não é estarmos ali para criticar comportamentos, mas sim para apoiar os jovens que muitas vezes precisam de respostas rápidas para resolver situações complicadas em que se encontram”. Que podem passar por serem confrontados com uma gravidez ou por terem contraído infecções sexualmente transmissíveis. Neste tempo todo, tem tentado não falhar quando lhe perguntam: “E agora, Rosa?”. O problema, mais um, é que em muitas escolas estes gabinetes não estão em funcionamento ou se estão os alunos não sabem da sua existência, como se alertou numa outra avaliação feita à aplicação da Educação Sexual.

Quando lhe chegam, muitos destes alunos já andaram num ricochete “do pai para a mãe e da mãe para o pai para tentar ter respostas que muitas vezes não são dadas”. “Acabam por estar muito sozinhos”, constata Rosa Franco. Dos sete alunos de Albufeira com quem o PÚBLICO se encontrou, a três aconteceu o mesmo. E é por isso, por os pais nunca terem falado com ele sobre estas questões, que Eric, de 19 anos, diz que aquilo que aprendeu nas aulas de educação sexual  tem sido “muito útil” na sua vida: “Levei os avisos que fizerem a sério e apliquei os cuidados que me transmitiram. Só quando me viram mais crescido e responsável é que os meus pais tentaram falar comigo, mas então eu já sabia”.

Através de questionários anónimos dirigidos a alunos, o projecto SexEd tem constatado que é a actividade sexual propriamente dita que levanta mais dúvidas aos jovens. A orientação sexual aparece em sexto lugar.

Sempre o mesmo?

“Partimos do princípio que os alunos já vêm com alguns conhecimentos sobre a sexualidade, mas isso não acontece com os mais novos. Muitos pais não abordam estes assuntos e eles também ainda não têm idade para entender o que vão encontrando na Internet”, refere Glória Ramalho, professora de Biologia e responsável pelo Programa de Educação para a Saúde na Escola Básica e Secundária Quinta das Flores, em Coimbra.

Foi por essa razão que, neste ano lectivo, voltaram a centrar-se também nos conteúdos da educação sexual no 7.º ano de escolaridade. “Tínhamos optado por uma abordagem mais ampla, mas constatámos que pura e simplesmente se tinha deixado de falar de educação sexual à entrada do 3.º ciclo por se assumir que já tinha sido abordado no 5.º e 6.º ano”, explicita.

Num estudo realizado em 2014 também para avaliar a aplicação da lei de 2009, em que Margarida Gaspar Matos participou, uma das queixas recorrentes transmitidas pelos alunos era a de os temas “serem apresentados anualmente de forma idêntica e sem progressão”. Os alunos da Secundária de Albufeira corroboram e acrescentam o seguinte: “o problema é também que a escola aborda estas coisas de um modo que não nos desperta suficientemente o interesse. E isto pode resolver-se se fossem apresentando exemplos concretos com os quais nos possamos identificar”, resume Paulo, 17 anos.

Cativar é possível

Margarida Gaspar de Matos refere que, embora com algumas especificidades, os problemas com a Educação Sexual são idênticos ao “problema da escola em geral”. “Programas intermitentes, ministrados por professores desmotivados, stressados, desvalorizados, e pouco formados nestas áreas são desmotivantes e os alunos tendem a achá-los repetitivos, estéreis e pouco ligados a algo que os interesse”.

A professora do ensino básico Anabela Diogo, com investigação na área da educação sexual, considera que os alunos também se queixam de lacunas por entenderem que “conteúdos que abordem a diversidade, o respeito ou questões de género não são entendidos como parte da educação Eexual”. E os manuais em vigor ajudam pouco nesta matéria como comprovou na investigação que fez para o seu doutoramento em 2011. Desde então, adianta, “tem havido alguma evolução, mas muito há ainda a realizar na promoção da igualdade de género e na prevenção da violência a partir dos manuais”.

Guilherme, de 17 anos, do grupo de alunos de Albufeira tem mais uma sugestão a fazer: “Em vez de terem sempre um mesmo papel para segurar nas aulas, seja qual for a turma, os professores podiam primeiro recolher quis são as nossas dúvidas e os temas que nos interessam ou preocupam para depois adaptarem as suas aulas. Isso sim, podia cativar-nos”. É precisamente esta a metodologia seguida pelo projeto SexEd, conta o médico Rui Carvalho. Mais concretamente, têm guiões elaborados com os temas a abordar consoante a faixa etária, mas que vão sendo adaptados às dúvidas colocadas pelos alunos nos questionários que promovem. Com uma condição à partida: os tópicos escolhidos pelo projeto não são negociáveis.

 

 

Entrevista. “As crianças precisam de ficar de cabeça para baixo e andar à roda para terem equilíbrio”

Março 30, 2019 às 1:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Entrevista de Angela J. Hanscom ao Observador de 16 de março de 2019.

Ana Kotowicz

Terapeuta ocupacional, autora do livro “Descalços e Felizes”, Angela J. Hanscom explica que nenhuma criança terá um desenvolvimento saudável se não puder andar à roda ou rebolar na relva livremente.

Acontece todos os dias em qualquer parque infantil: as crianças correm para os pequenos carrosséis de ferro e giram, giram, giram, sem parar. Cá fora, os adultos contorcem-se com o estômago às voltas e começam os avisos. “Pára de girar, vais ficar maldisposta, vais acabar a vomitar.” Só que não: as crianças nunca vomitam, nem nunca ficam agoniadas.

O que a maioria dos pais não sabe é que girar é fundamental para os miúdos crescerem saudáveis. Palavra da terapeuta ocupacional Angela J. Hanscom, em entrevista ao Observador. Isso e rebolar na relva, ficar de cabeça para baixo e mexer-se em todos os sentidos sem restrições, por muito que isso deixe os adultos maldispostos. Quando o fazem, o líquido do ouvido interno está a andar de um lado para o outro, como é suposto, e só assim a criança vai ganhar sentido de equilíbrio — desenvolvendo o chamado sistema vestibular, explica a norte-americana.

Se este não estiver saudável, os miúdos vão cair mais, tropeçar com frequência, ter muito mais acidentes, e terão grandes dificuldades em concentrar-se na sala de aulas. “Uma criança irrequieta é sinal de que tem falta de movimento livre”, argumenta a fundadora do TimberNook, uma espécie de campo de férias onde “não são as crianças que aprendem o que podem fazer pelo ambiente, é antes o ambiente que ajuda as crianças a desenvolverem-se”.

No TimberNook, que começou nos EUA e que já tem campos em diversos países, a brincadeira na natureza é vista como uma forma de “medicina preventiva”, ficando as crianças mais capazes de serem bem sucedidas (na escola e na vida) se passarem tempo suficiente ao ar livre, brincando sem restrições e correndo riscos aceitáveis.

Riscos que nem todos os pais estão disponíveis para correr. E é por isso mesmo que Angela J. Hanscom diz que “o medo dos adultos é o maior entrave para que as crianças passem todo o tempo que precisam a brincar ao ar livre”. Nos Estados Unidos, por exemplo, os pequenos carrosséis começaram a desaparecer dos parques infantis por serem considerados pouco seguros. “É importante encararmos cada um desses medos e encontrar uma forma de lhes dar a volta. Se as crianças tiverem mais oportunidade de brincar ao ar livre, acredito que muitos dos problemas a que estamos a assistir irão dissipar-se.”

Os problemas de que fala Angela J. Hanscom estão descritos no seu livro “Descalços e Felizes” (ed. Livros Horizonte), uma espécie de guia que nos explica porquê e para que é que devemos levar os miúdos para a rua. Nos Estados Unidos, as crianças passam, em média, 9 horas sentadas por dia, estão mais fracas do que nas gerações anteriores, têm maior dificuldade em controlar as emoções e passam a vida a ter pequenos acidentes porque não têm sentido de equilíbrio e não reconhecem a própria força. Tudo, acredita a terapeuta ocupacional, porque têm falta de movimento. “Eles precisam de horas a escavar a terra, a rebolar por ribanceiras abaixo, a construir fortes com os amigos e a brincar na lama, de forma a integrar todos os sentidos e a desenvolver mentes e corpos mais fortes.”

A falta de movimento livre e sem restrições tem mais um senão: porque o sistema vestibular alimenta o límbico, responsável pelas nossas emoções, uma criança que tenha falta de movimento vai chorar por tudo e por nada e vai frustar-se com muita facilidade. “Os pais têm de deixar os filhos estar de cabeça para baixo, girar, rebolar e rodopiar com frequência”, defende a terapeuta. Até porque, “para andarem seguras na rua, é preciso que as crianças tenham liberdade total, com frequência, para se mexerem sem restrições.”

No livro, fala várias vezes sobre sistema vestibular e nem todos os pais saberão o que é. Como é que se explica aos adultos que é importante deixar as crianças estar de cabeça para baixo, para pôr este sistema a funcionar?
O problema é que estamos a restringir as crianças mais do que nunca. Aqui na América, os estudos mostram-nos que, por dia, os miúdos passam, em média, 9 horas sentados. Para organizar os sentidos, as crianças precisam de mexer o corpo de formas tão variadas que farão engasgar qualquer adulto — ficar de cabeça para baixo, andar à roda, dar cambalhotas, etc. E têm de fazê-lo com frequência para desenvolver a consciência corporal, para melhorar o foco e a atenção e para serem capazes de regular as suas emoções de forma conveniente. Também precisam de um certo tipo de “trabalho pesado” que só se consegue na natureza — cavar, subir às árvores e carregar pedras pesadas. Isto ajuda as crianças a desenvolverem os sentidos nas articulações e nos músculos, o que vai fazer com que sejam capazes de regular a força que têm em diversas situações, seja ao usar um lápis para escrever ou, por exemplo, quando estão a brincar com outras crianças.

Quais são os riscos de não desenvolver um bom sentido de equilíbrio? No livro levanta muito esta questão e de como as crianças de agora estão mais fracas e menos coordenadas do que as das gerações anteriores.
Quando uma criança não tem sentido de equilíbrio, tem dificuldade em saber onde é que o seu corpo se encontra no espaço. Isto faz com que haja maior probabilidade de se magoar e de ter acidentes. Para um miúdo poder navegar em segurança em diferentes ambientes, para as crianças andarem seguras na rua, é preciso que tenham liberdade total, com frequência, para se mexerem sem restrições. Para além disso, muito movimento ajuda-os a ter mais atenção na sala de aula. Esta é uma das razões por que os miúdos ficam irrequietos: estão a balançar-se para a frente e para trás para ligarem o cérebro. O que estão a fazer é a tentar ligar o sistema ativador reticular [a formação reticular é uma parte do tronco cerebral que distingue os estímulos relevantes dos irrelevantes e a sua principal função é ativar o córtex cerebral].

Ou seja, os miúdos de hoje estão a passar demasiado tempo sentados?
Sem dúvida. Passam demasiado tempo numa posição vertical. E eles precisam de se mexer em diferentes direções para que o fluido do ouvido interno ande para a frente e para trás, só assim conseguem desenvolver um forte sentido de equilíbrio (o sistema vestibular). Este sentido é a chave de todos os outros sentidos. Se estiver enfraquecido, pode afetar a integração de todos os outros sentidos.

Para além dos problemas físicos, a falta de movimento leva-nos a ver com maior frequência crianças que choram facilmente e que ficam frustradas por tudo e por nada?
Claro. O sistema vestibular também alimenta o sistema límbico [responsável pelas emoções e comportamentos sociais]. Os professores deparam-se cada vez mais com crianças que têm problemas de autoregulação, os miúdos choram sem se saber bem porquê e ficam frustrados muito, muito facilmente. Repito: eles precisam de muito movimento, que é a base de uma regulação emocional saudável.

A verdade é que, enquanto mães e pais, se tivermos um filho a balançar-se à mesa do jantar, o mais provável é pedirmos que pare com isso. E, nas salas de aulas, os professores também não lidam bem com miúdos irrequietos. O que devíamos, então, fazer?
Se as crianças estão irrequietas é um ótimo indicador de que precisam de se mexer mais. O que devíamos fazer, e isto é muito importante, é dar-lhes mais oportunidades para brincarem em grande escala ao ar livre. É nesses momentos que eles conseguem, de facto, mexer-se livremente e com frequência.

Devíamos repensar o tipo de modelo de escola que temos, os tempos de recreio, as horas que as crianças passam sentadas?
Sim, devíamos repensar tudo isso. É fundamental, como já disse, dar-lhes mais oportunidades de brincadeiras ao ar livre porque é nesses momentos que os sentidos estão todos ligados, a trabalhar juntos, e é aí que as crianças aprendem através de experiências práticas, porque estão a pôr as mãos nas coisas, a desafiar a mente, o corpo e os sentidos. Os miúdos não foram feitos para estarem sentados horas a fio, ou para apenas fazerem tarefas com papel e lápis — essas desafiam-nos muito pouco e têm até pouco sentido para os miúdos. Eles precisam de experiências de aprendizagem maiores, melhores e mais ricas.

Já percebemos que ver crianças irrequietas, que tropeçam muito e que não param de se mexer são sinais de alerta. O que podemos fazer?
Volto a repetir: precisam de oportunidades para se mexer. E é isso que os pais têm de fazer: dar-lhes oportunidade de estarem de cabeça para baixo, de andar à roda, de girar, de rebolar, de rodopiar…

De que é que uma criança precisa para desenvolver uma mente sã em corpo são?
Precisa de muito tempo e espaço para brincar com outras crianças ao ar livre, em atividades que as desafiem e as inspirem. Também precisam de adultos bem-intencionados, capazes de dar um passo atrás e capacitar as crianças para desenvolverem os seus próprios planos, ideias e esquemas de brincadeira. Esta é a única maneira de as crianças conseguirem aprender a pensar e a brincar de forma mais avançada.

Então, o movimento é apenas uma peça do puzzle?
Claro, eles precisam de ar livre, boa nutrição, muitas horas de sono e adultos que os amem.

Mas porquê a brincadeira ao ar livre? Não podemos substituí-la pela prática de desporto, por exemplo?
A brincadeira ao ar livre é semelhante ao cross training [treino funcional que combina vários exercícios para trabalhar diferentes partes do corpo]. Desafia as crianças de uma forma que um exercício concebido por um adulto bem-intencionado nunca conseguirá desafiar. Por exemplo: de cada vez que uma criança se pendura numa árvore, usando diferentes membros do seu corpo, está a estimular diferentes músculos e a desenvolver uma musculatura mais arredondada. Por outro lado, brincar ao ar livre inspira a criatividade e a imaginação, algo que não acontece quando se está simplesmente a repetir exercícios físicos.

Uma das coisas que os miúdos adoram nos parques infantis é andar nos pequenos carrosséis de metal. Quando vemos isto, normalmente há sempre um pai a dizer: pára com isso, vais ficar enjoado. Mas andar à roda é extremamente importante, correto?
Sim, andar à roda ajuda as crianças a saber onde é que está o corpo delas no espaço. O movimento do carrossel é um pouco diferente. Cria uma força centrífuga no ouvido interno que ajuda a desenvolver a atenção sustentada e o “grounding”. É muito terapêutico para as crianças. [Atenção sustentada é, segundo a psicologia, um dos quatro tipos de atenção e caracteriza-se por sermos capazes de nos focar numa atividade contínua e repetitiva. O grounding não tem um termo equivalente em português, mas significa estar com os pés assentes na terra, em contacto com a realidade e com a própria existência.]

Também defende que as brincadeiras ao ar livre não podem passar só por idas a parques infantis. Têm de ser na natureza, de pés descalços na terra?
Brincar na natureza é o que enriquece a experiência sensorial das crianças. Por exemplo, o simples facto de estarem a ouvir o chilrear de um pássaro ajuda-as a saberem orientar o seu corpo de acordo com o sítio de onde vem aquele som — e isto é o básico dos básicos para se ter uma boa consciência corporal.

Ainda assim, e apesar das vantagens que aponta, alguns pais terão sempre algum receio e estarão preocupados com questões de segurança, evitando deixar os filhos andar livremente na natureza. Que conselho daria aos adultos?
O medo dos adultos é, de longe, a maior barreira para deixarmos as nossas crianças brincar todo o tempo que precisam ao ar livre e na natureza. Não devemos deixar os nossos medos interferirem numa coisa que é um direito humano básico e que é também uma necessidade dos miúdos. É importante encararmos cada um desses medos e encontrarmos uma forma de lhes dar a volta. Se as crianças tiverem mais oportunidade de brincar ao ar livre, acredito que muitos dos problemas a que estamos a assistir irão dissipar-se. Eles precisam de horas a escavar a terra, a rebolar por ribanceiras abaixo, a construir fortes com os amigos e a brincar na lama de forma a integrar todos os sentidos e a desenvolver mentes e corpos mais fortes.

Alguma hipótese de a TimberNook chegar a Portugal?
Adorava levar a TimberNook a todos os cantos do mundo.

 

 

Meninas Privadas de Educação – Documentário RTP

Março 29, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Vídeos | Deixe um comentário
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Em todo o mundo, mais de cem milhões de raparigas são privadas de frequentar as salas de aula e ter acesso à Educação escolar. Um documentário que revela uma verdade chocante em pleno século 21.

Visualizar a reportagem no link:

https://www.rtp.pt/programa/tv/p35892

Sozinhos entre milhares de “amigos”. Estudo associa redes sociais a solidão nos jovens

Março 29, 2019 às 6:00 am | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 13 de março de 2019.

Investigação em Portugal indica que passar muito tempo online faz os jovens sentirem-se sozinhos, mesmo quando não deixam de falar com os amigos frente a frente. É a natureza da comunicação online que provoca a solidão? Investigadores dizem que há uma conexão.

Karla Pequenino

Num mundo em que é cada vez mais normal usar o Facebook, o Twitter, o Instagram, ou o YouTube para comunicar com outras pessoas – a qualquer hora, em qualquer lugar –, são vários os trabalhos que começam a encontrar uma relação entre usar Internet e sentir mais solidão. Particularmente, nos jovens.

Um estudo do Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida (ISPA), em Lisboa, mostra que os jovens portugueses que passam muito tempo nas redes sociais se sentem mais sozinhos. É uma conclusão comum na área da solidão digital: em 2016, um inquérito a utilizadores portugueses do Facebook, feito na Universidade Lusófona do Porto, mostrou que quem passa mais tempo na rede social se sente mais só. Em 2017, outro estudo, desta vez focado nos EUA, mostrou que passar mais de duas horas por dia em redes como Facebook, Snapchat e Twitter duplicava a probabilidade de alguém se sentir isolado.

Só que os investigadores do ISPA descobriram que o sentimento de solidão entre os jovens portugueses mantém-se, mesmo quando o tempo que passam online não interfere com o tempo que passam a falar com amigos fora da Internet, frente a frente. Em causa pode estar a falta de riqueza sensorial das conversas online.

“O nosso estudo sustenta que há qualquer coisa na comunicação online que causa a solidão, que é a forma como a comunicação acontece online que cria esse sentimento”, resume ao PÚBLICO o investigador do ISPA Rui Costa. “Nas raparigas, em particular, o sentimento de solidão não se explicava por passarem menos tempo com os amigos. Foi uma das questões que nos chamou a atenção.”

As conclusões foram publicadas na revista académica International Journal of Psychiatry in Clinical Practice. O estudo, em que foram inquiridos 548 jovens em Portugal (dos 16 aos 26 anos) entre 2015 e 2016, mostra que as redes sociais eram de longe a actividade preferida dos jovens quando estão na Internet. Os participantes foram avaliados quanto à percepção de solidão, ao ambiente familiar, e se têm um “uso problemático da Internet”. Foi questionado o grau de identificação com afirmações como “A interacção social online é mais confortável do que frente-a-frente”, e “Faltei a compromissos sociais devido ao meu uso da Internet”.

Inicialmente, o objectivo do estudo era avaliar a relação entre o uso problemático, ou vício, da Internet e o grau de interacção social. “A Internet começa a ser um problema quando há problemas de privação”, explica Costa. “Quando não dormimos, quando deixamos de fazer o trabalho, ou quando usamos o telemóvel para resolver problemas como a ansiedade ou a depressão. Se nos sentimos ansiosos e agarramos o telemóvel, estamos a ignorar o problema subjacente.”

No caso dos rapazes que participaram, como já se tem visto noutros estudos sobre o tema, um uso problemático da Internet estava associado a menos tempo para os amigos ou parceiros fora da Internet. Mas com as raparigas, embora o tempo online interferisse com algumas relações familiares, não interferia com o tempo que passavam a falar com os amigos em pessoa. Só que, mesmo assim, elas reportavam sentimentos de solidão.

“E mesmo com os rapazes, que passavam menos tempo com os amigos, não havia uma conexão directa ao maior sentimento de solidão”, diz Costa. “E isto foi muito interessante. Até agora pensava-se que a Internet levava as pessoas a passar menos tempo a falar com amigos e que isso levava à solidão. Mas agora podemos ver que é a própria Internet que causa a solidão.”

Hormonas, evolução, ou facilidade em apagar amigos?

Para os investigadores do ISPA, o motivo pode estar associado à evolução da espécie humana, durante a qual a vida em sociedade foi necessária para a sobrevivência. Como tal, os mecanismos cerebrais aprenderam a reconhecer a satisfação em interacções sociais apenas quando há informação sensorial suficiente a acompanhar.

“A hipótese que colocamos agora é que a comunicação online não tem a mesma riqueza sensorial que a comunicação offline”, explica Rui Costa. “Quando falamos da Internet, não há informação a nível do olfacto, por exemplo, e a forma das pessoas falam é diferente.”

É uma opinião partilhada pela psicóloga clínica Raquel Carvalho, que trabalha com adolescentes e crianças na Oficina da Psicologia, em Lisboa. Diz que é comum os jovens que acompanha (especialmente, a partir dos 13 anos) falarem em sentimentos de solidão, mesmo que não seja o motivo principal que os leva às consultas. Um dos motivos é que é nesta idade que se começam a afastar da família e a “tentar criar vínculos afectivos com os pares”.

“Nota-se que com o mundo digital os jovens se refugiam muito na tecnologia e, por isso, as interacções com os pares são mais pobres. É com relacionamentos cara a cara que se desenvolvem capacidades como a empatia e a cooperação”, diz Raquel Carvalho. “Depois ao nível das neurociências há hormonas que são produzidas como resposta à sensação de toque. É o caso da oxitocina.”

Conhecida como a “hormona do amor” ou a “hormona do abraço”, nos humanos a oxitocina é libertada durante o toque com outros humanos. No cérebro, o neurotransmissor está relacionado com fenómenos como a criação de laços afectivos, empatia, desenvolvimento de confiança com outras pessoas, e diminuição da agressividade.

“O refúgio na Internet da adolescência pode ser visto como normal, porque actualmente é uma forma de se criarem ligações aos pares”, ressalva Raquel Carvalho. “Mas é preciso garantir que não se estão a substituir encontros reais.”

O aumento da solidão entre os jovens é uma realidade observada também no Observatório da Solidão, do Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo (ISCET), no Porto. “A solidão digital é um facto”, diz ao PÚBLICO o coordenador do observatório, o investigador Adalberto Dias de Carvalho. “Muitas vezes tem-se a percepção de que a solidão surge principalmente na população mais idosa. Não é bem assim. As vivências de solidão surgem com mais frequência nos jovens. A diferença é que os mais jovens têm mais facilidade em sair do estado de solidão.”

Adalberto Dias diz que as redes sociais são vistas como um “veículo para superar a solidão”, tanto pelos mais jovens como por outras faixas etárias. Mas – tal como a psicóloga Raquel Carvalho o estudo do ISPA notam – “as relações mediadas pelas redes sociais têm uma natureza diferente”.

Um dos problemas refere Adalberto Dias, é que “as redes sociais criam um estado ilusório de conexão” que se nota, por exemplo, com a facilidade com que se elimina um amigo. “Na Internet basta carregar num botão e uma relação desaparece. A gestão de conflitos é diferente das relações interpessoais”, nota o investigador.

Travar o aumento da solidão

Para a psicóloga Raquel Carvalho é importante travar comportamentos que podem levar à solidão digital cedo. “É cada vez mais normal ver bebés agarrados aos tablets. Nos adolescentes são as redes sociais e também os jogos online. É bom começar a introduzir limites nos mais novos. A propor alternativas ao tempo online, por exemplo, com outros colegas, frente a frente.”

Os efeitos negativos da solidão na saúde estão bem documentados. Um estudo da Universidade de Harvard ao longo de 75 anos mostrou que a sensação pode ser tóxica: quanto mais isoladas as pessoas estão, mais rapidamente se deteriora a sua saúde física e mental.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) nota que boas redes de suporte social são um factor determinante para o bem-estar. Em Janeiro, o Reino Unido nomeou um ministro para a Solidão (o primeiro do mundo), que é um problema que afecta mais de nove milhões de britânicos. O objectivo é impedir a proliferação de um fenómeno que pode dar azo a demência, ansiedade, e aumentar a mortalidade precoce.

Em 2019, os mais jovens são entre aqueles que mais sozinhos se sentem em todo o mundo: numa investigação da estação britânica BBC sobre a solidão – em que foram inquiridas 55 mil pessoas em todo o mundo – 40% dos jovens entre os 16 e os 24 anos admitiram sentirem-se frequentemente sozinhos. A percentagem foi superior à de outras faixas etárias. Além disso, os inquiridos que mais reportaram sentimentos de solidão eram aqueles que tinham mais “amigos online” no Facebook.

A equipa do ISPA quer continuar a estudar o fenómeno da solidão digital em Portugal. “No futuro, queremos analisar o uso problemático do smartphone com o phubbing”, avança Costa. A expressão phubbing (uma amálgama das palavras inglesas phone e snubbing) designa o acto de ignorar alguém, numa ocasião social, ao olhar para o telemóvel em vez de prestar atenção a essa pessoa.

Um estudo recente das universidades de Oxford e Warwick, no Reino Unido, revelou que embora as crianças e jovens passem 30 minutos a mais em casa com os pais do que em 2000, esse tempo não é dedicado a mais interacções familiares. Os dispositivos móveis, como consolas portáteis e tablets, são particularmente usados nestes períodos.

“Queremos perceber o impacto que há nos sentimentos de solidão em Portugal quando se utiliza o telemóvel quando se está com os amigos ou com a família”, diz Rui Costa.

“Qualquer pessoa pode encontrar benefícios em usar redes sociais”, observa a psicóloga Raquel Carvalho. “Só que têm de manter relações reais. Não se podem limitar às relações virtuais. A tecnologia tem de ser um complemento, caso contrário há riscos de – nos jovens, em particular – não se desenvolverem competências fundamentais.”

 

Publicidade está a promover produtos perigosos para as crianças

Março 28, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Notícia do Lifestyle Sapo  de 14 de março de 2019.

Jovens e crianças estão cada vez mais expostos a produtos nefastos para a saúde através das redes sociais devido à falta de regulamentação da publicidade digital, alerta hoje um relatório da divisão europeia da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Apesar das políticas e compromissos existentes para limitar a promoção de produtos nocivos à saúde junto de menores, como bebidas com alto teor de gordura, açúcar e sal, bebidas alcoólicas ou tabaco, incluindo novos produtos como cigarros eletrónicos, a OMS Europa considera existirem provas de que as crianças continuam expostas a este tipo de produtos através dos canais digitais.

O documento, intitulado “Supervisão e restrição do marketing digital de produtos nocivos para crianças”, defende uma maior monitorização da publicidade digital deste tipo de produtos pelos países, mas também pelos pais das crianças.

Os autores do relatório acreditam que o controlo da publicidade digital de alimentos nocivos dirigida a crianças e jovens pode ser fundamental para reduzir o impacto negativo de problemas de saúde como doenças cardíacas, cancro, obesidade e doenças respiratórias crónicas, que representam 86% das mortes e 77% dos encargos com cuidados de saúda na Europa.

O relatório é o resultado de uma reunião com especialistas feita em junho em Moscovo, sendo o português João Breda o coordenador da direção para a prevenção e controlo de doenças crónicas não transmissíveis da OMS da Europa, que abrange 53 países, incluindo Portugal.

A reunião quis discutir os desafios da publicidade digital de produtos nocivos para a saúde tendo presente que as crianças passam cada vez mais tempo na Internet, nomeadamente em plataformas e redes sociais como Instagram, Facebook, YouTube ou Snapchat, e que a exposição à publicidade digital aumentou.

Algumas organizações, como agências de publicidade, estão a usar técnicas sofisticadas, aproveitando que o uso crescente de telemóveis e redes sociais permitem a transmissão de mensagens personalizadas e direcionadas e “cada vez mais persuasivas”, referem os autores.

Os especialistas concluíram também que “as estratégias de regulação e auto regulação que existam para a televisão e outros meios de comunicação social tradicionais estão obsoletas”, afirmou Breda à Lusa, após a apresentação do estudo em Londres.

Uma consequência foi o desenvolvimento de uma ferramenta chamada CLICK para monitorizar a exposição das crianças à publicidade digital, que será testada inicialmente por alguns países, e cujos resultados deverão ser divulgados no final do ano.

“É necessária uma atitude mais musculada por partes das entidades públicas, mas os países não podem trabalhar sozinhos, por isso queremos desenvolver ferramentas e estratégias comuns”, afirmou João Breda.

O relatório citado na notícia “Monitoring and restricting the digital marketing of unhealthy products to children and adolescents” pode ser descarregado no link:

http://www.euro.who.int/en/health-topics/disease-prevention/nutrition/news/news/2019/3/new-who-study-shows-more-action-needed-to-monitor-and-limit-digital-marketing-of-unhealthy-products-to-children

 

Seminário “Olhares com sentido : As mãos não são para bater” com a participação de Cláudia Manata do Outeiro do IAC,12 abril em Coimbra

Março 28, 2019 às 3:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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No âmbito da 9ª Campanha Regional de Prevenção de Maus Tratos a Crianças e Jovens: SILÊNCIO??? Não!!!, promovida pela Rede de Parceiros da ARS Centro, à qual pertence o Instituto de Apoio à Criança, irá decorrer o Seminário do Mês da Prevenção dos Maus Tratos na Infância, a realizar no Hospital Pediátrico de Coimbra, no dia 12 de abril de 2019 e que irá contar com a presença da Profª Claudia Manata do Outeiro IAC-CEDI (Centro de Documentação e Informação sobre a Criança).

Mais informações no link:

https://caritascoimbra.pt/2019/noticias/caritas-coimbra-promove-9a-campanha-de-prevencao-de-maus-tratos-a-criancas-e-jovens/

 

Em Itália, as crianças não vacinadas estão proibidas de ir à escola. E em Portugal?

Março 28, 2019 às 10:30 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do MAGG de 14 de março de 2019.

por Catarina da Eira Ballestero

“Sem vacinas, não há escola”, disse a ministra da saúde italiana. Será a obrigatoriedade uma estratégia eficaz para prevenir doenças?

Na passada segunda-feira, 11 de março, entrou em vigor em Itália uma lei que impede as crianças com menos de 6 anos de frequentarem a escola. “Sem vacinas, não há escola”, afirmou Giulia Grillo, ministra da saúde italiana, citada pelo jornal “La Repubblica”.

Depois de meses de debate, a lei já está em vigor: para além de permitir que as escolas e infantários recusem a matrícula de crianças não vacinadas nos primeiros anos de vida, a mesma regulamentação dita que, embora a frequência escolar não seja impedida às crianças e jovens sem as vacinas obrigatórias (sarampo, rubéola, poliomielite, difteria, tétano, hepatite B, tosse convulsa, meningite de tipo B, varicela e papeira) entre os 6 e os 16 anos, os pais destas podem ser obrigados a pagar multas até 500€.

A medida italiana, considerada desesperada por alguns, surge no seguimento de um aumento de casos de sarampo e meningite no país, algo que também não é inédito em Portugal. Em janeiro deste ano, a Direção-Geral da Saúde confirmou a existência de 37 casos de sarampo no País, sendo que, de acordo com um relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde em novembro do ano passado, os casos de sarampo em todo o mundo aumentaram no ano de 2017, e provocaram 110 mil mortes.

Dando o exemplo do sarampo, é inegável que existe uma relação direta entre o aumento de casos desta patologia e a não vacinação. No site da DGS, pode ler-se que a “ocorrência de surtos de sarampo em alguns países europeus, devido à existência de comunidades não vacinadas, colocou Portugal em elevado risco”.

No mesmo documento da DGS, é ainda salientado que a “vacinação é a principal medida de prevenção contra esta doença e é gratuita”, mas basta estarmos atentos para perceber que, nos últimos anos, as correntes anti-vacinação têm crescido, existindo cada vez mais casos de doenças desaparecidas há anos do nosso País, como é o exemplo do sarampo.

Mas porque é que há pais que escolhem não vacinar os seus filhos, não só em Portugal, mas também em outros países da Europa, que obrigou os italianos a tomarem medidas drásticas, como impedir a frequência escolar das crianças não vacinadas?

“Em países onde a maioria das doenças que as vacinas previnem se tornaram raras, o medo dos efeitos secundários das vacinas sobrepõe-se ao medo das sequelas potencialmente graves e fatais dessas doenças”, explica à MAGG a pediatra Carolina Prelhaz.

Tal como refere a especialista da Clínica de Santo António, “existem muitos mitos, relacionados não só com a segurança das vacinas, mas também com o papel da indústria farmacêutica, que importa esclarecer na comunidade para que as vacinas, que são um direito das crianças, não lhes sejam negadas”.

Carolina Prelhaz salienta ainda que “as crianças têm direito a um desenvolvimento saudável e a serem protegidas de doenças graves para as quais, atualmente, temos uma resposta eficaz” e garante que “as vacinas são bem estudadas e a sua eficácia e segurança estão comprovadas”, e a decisão de vacinar “não deveria suscitar dúvidas ou desconfiança entre os pais”.

O que se passa em Portugal

Apesar de a apresentação dos boletins de vacinas ser exigida na grande maioria dos estabelecimentos de ensino portugueses, não existe um impedimento legal a que as crianças não vacinadas frequentem os infantários, creches e escolas no nosso País.

Em declarações à MAGG, uma fonte do gabinete do ministro da Educação garantiu que “em Portugal, todas as crianças têm acesso à escola pública e nenhuma pode ser impedida de a frequentar”. Quanto à necessidade da apresentação do boletim de vacinas no momento da matrícula na escola, a mesma fonte explica que, “caso a criança não tenha uma ou mais vacinas do Programa Nacional e Vacinação, a escola informa o centro de saúde local”. No caso do ensino privado, “esta matéria está dentro da autonomia administrativa desses estabelecimentos”.

Mas será a obrigação da vacinação para que as crianças possam frequentar as escolas, à imagem do que aconteceu em Itália, uma estratégia eficaz para prevenir doenças? “A implementação desta medida é protetora para as doenças potencialmente graves que as vacinas previnem, não só nas escolas, mas em todo os lugares onde as pessoas circulam”, refere Carolina Prelhaz, que salienta também que, “num cenário de obrigatoriedade em vacinar, nunca se atingirão taxas elevadas de crianças não vacinadas e assim poderá manter-se não só a proteção individual, mas também a proteção conferida pela imunidade de grupo”.

O desespero italiano

A pediatra Carolina Prelhaz refere que a obrigatoriedade em vacinar, “não sendo o cenário ideal, mantém independente de opiniões pessoais o direito de todas crianças à saúde” — mas não deixa de considerar a medida italiana uma ação desesperada.

“O facto de, em Itália, se ter tornado obrigatória a vacinação como forma de se poder cumprir o direito da criança à educação, é uma medida desesperada numa sociedade que manifesta uma desconfiança crescente com as vacinas, apesar dos esforços da comunidade científica”, conta Carolina Prelhaz, que considera o acontecimento revelador da dificuldade dos profissionais de saúde em chegar aos grupos anti-vacinação e desmistificar dúvidas.

A especialista continua: “Compreendo que a obrigatoriedade de vacinar seja um caminho possível para que não se coloque em risco o direito das crianças e de toda a sociedade à saúde, mas revela uma falha da medicina em mostrar o quão importantes as vacinas são e pode, por outro lado, dar força a alguns argumentos dos grupos anti-vacinação. A obrigatoriedade não deverá ser o caminho e não deverá ser motivo para esquecer o nosso dever de agir na sociedade”.

 

 

 

ONU: 75% das crianças com deficiência não têm acesso à educação inclusiva e de qualidade

Março 28, 2019 às 6:00 am | Publicado em Vídeos | Deixe um comentário
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Notícia da ONU News de 7 de março de 2019.

Estimativa do Unicef é para regiões da Europa Oriental e Central e Ásia Central; melhor acesso a tecnologias pode aumentar drasticamente número de crianças com deficiência na escola; agência emite recomendações a parceiros.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, estima que pelo menos 75% dos 5,1 milhões de crianças com deficiência estejam excluídas de uma educação inclusiva de qualidade nas regiões da Europa Central e Oriental e da Ásia Central.

Em nota, a agência adianta que centenas de milhares de crianças com deficiência na região permanecem em escolas “especiais”, segregadas dos seus pares e comunidades.

Apelo

Para a diretora regional do Unicef para a Europa e Ásia Central, Afshan Khan, esta realidade “é um trágico desperdício de potencial para estas crianças, economias nacionais e sociedade”, pedindo, por isso, “investimentos na qualidade e acessibilidade às tecnologias de assistência, já que esses produtos têm o potencial de aumentar drasticamente o número de crianças com deficiência que poderão ter acesso a educação.”

Entre estas tecnologias estão leitores e tablets especiais e cadeiras de rodas leves que ajudam as crianças com deficiência a ganhar mais independência e, por isso, a frequentar a escola, conseguindo ter uma participação ativa nas suas comunidades.

Estas tecnologias estão em exibição numa exposição especial de dois dias, inaugurada esta quarta-feira no Palácio das Nações, em Genebra.

Acesso

Khan considera que para uma criança que vive com deficiência, “o acesso a esta tecnologia pode significar a diferença entre uma vida de exclusão e isolamento ou obter uma educação e atingir seu pleno potencial.”

O Unicef adianta que a proporção exata de crianças com acesso a estas tecnologias e produtos é desconhecida, mas em países de rendimento baixo, estima-se que varia entre os 5% e os 15%.

O desconhecimento sobre a existência destas tecnologias, a falta de produção e manutenção, os escassos recursos humanos e os elevados custos são algumas das barreiras existentes.

O Unicef recorda que a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência apela os governos a fornecer tecnologias de assistência acessíveis a todas as pessoas que possam beneficiar delas.

Para ajudar as crianças com deficiência a ter acesso a tecnologias e produtos assistenciais, a agência estabeleceu algumas recomendações para os governos, o sector privado e outras partes interessadas.

As sugestões incluem a adoção de legislação e políticas que ajudem a garantir que todas as crianças possam ter acesso a estas tecnologias e fornecer financiamento e subsídios para tornar esta tecnologia mais barata e acessível a todas as crianças, especialmente as mais vulneráveis.

 

 

IV Seminário: Os Direitos da Criança, 5 abril em Vila do Bispo, com a participação de Melanie Tavares do IAC

Março 27, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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A Dra. Melanie Tavares, Coordenadora dos Sectores da Actividade Lúdica e da Humanização dos Serviços de Atendimento à Criança do Instituto de Apoio à Criança,irá participar no encontro com a comunicação “Mediação Escolar na Promoção dos Direitos da Criança”.

A participação é gratuita, mas sujeita a inscrição, até dia 1 de Abril, podendo ser feita aqui ou enviando um e-mail para seminario.cpcj.vb@gmail.com.

mais informações no link:

https://www.facebook.com/events/2156059081115717/

“O impacto do divórcio no contexto escolar” 3 abril em Lisboa

Março 27, 2019 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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mais informações no link:

http://red-apple.pt/workshops-redapple/item/211-conversa_mf

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