Uma criança que lê será um adulto que pensa

Junho 30, 2019 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Texto e imagem do site Up to Kids

Uma criança que lê será um adulto que pensa, porque não há um domínio mais amplo de conhecimento do que aquele que os livros nos oferecem.

Uma criança que lê será um adulto que pensa

Fomentar a leitura em qualquer idade é sempre sinónimo de enriquecimento, mas incentivar este hábito entre os mais jovens da sociedade é uma garantia total de um futuro melhor. Uma criança que lê será um adulto com ideias próprias e mentalidade firme. Será capaz de questionar e de compreender mais facilmente o seu lugar no mundo.

Uma criança que lê será um adulto que pensa, porque não há um domínio mais amplo de conhecimento do que aquele que os livros nos oferecem. Quando lemos estimulamos o raciocínio e desenvolvemos a imaginação. Somos mais receptivos a tudo: as crianças, por não terem preconceitos, são capazes de depositar toda a criatividade na leitura.

Uma criança que lê será livre para sempre

Ler ajuda-nos a pensar. Pensar liberta-nos. Assim, se o seu filho gosta de passar tempo a ler, é um ótimo sinal. Na verdade, essa será a forma mais eficaz que terá para explorar sozinho o desconhecido, opiniões e condutas que a vida oferece. Isto ajudará a formar a tolerância da criança, a empatia, o respeito e a solidariedade.

Muitas vezes os adultos surpreendem-se ou sentem-se incomodados quando se deparam com opiniões diferentes das suas. Estes “conflitos” advêm sobretudo, por acreditarem que somente as suas ideias são válidas. Felizmente, este tipo de pensamento deriva sobretudo da ignorância.

Ler é como viajar

Ler é como viajar, em todos os sentidos. Ajuda-nos a abrir a mente. Uma criança que lê descobrirá outras culturas, outros modos de vida, outros costumes e saberá que existem outras coisas além do que conhece no seu dia-a-dia. Ter esta consciência fará com que se torne num adulto que não fará juízos de valor gratuitos. Um adulto mais tolerante, compreensivo e bem resolvido.

O refúgio contra as misérias da vida

Por sorte ou azar, o mundo dá vida plena aos que acreditam ser loucos. Já dizia Dom Quixote: lia e lia até que encontrou a forma de viver baseado nas suas crenças e ilusões. Isto permitia-lhe ser feliz, enquanto que à sua volta continuava preso a uma realidade convencional que julgava a sua maneira de viver.

Os “loucos” que leem são capazes de encontrar refúgio das misérias da vida. Os restantes vivem-nas sem sequer terem consciência disso. É preciso deixar uma criança chorar e rir ao ler um livro. Permitir que se apaixone por uma história e apoiá-la se decidir “ir com tudo” no campo da imaginação que está ao seu alcance..

Unamuno empregou as palavras corretas ao pedir que as crianças cresçam a ler porque assim serão adultos menos vulneráveis, menos indefesos e mais humanos.

Leitura é a fábrica da imaginação

Existem diversas actividades que ajudam a desenvolver e melhorar a imaginação independentemente da idade que tenhamos. A leitura é uma fábrica inteira onde é forjada e recolhida toda criatividade dos seres humanos.

Uma criança que lê será uma criança que pensa, afirmou algum pensador genial, e não estava enganado. Ler é brincar, é entretenimento, é construir sonhos, é refletir, é um estado de ânimo, é isolamento e companhia, é prazer. Ler é brindar às lembranças do que já fizemos um dia e ao que ainda queremos fazer. Move as incertezas mais internas para depois nos aproximarmos delas.

Uma crianças que lê, é uma criança feliz.

“Ler é como pensar, como rezar, como conversar com um amigo, como apresentar ideias, como ouvir as ideias dos outros, como ouvir música, como contemplar uma paisagem, como dar um passeio no praia” -Roberto Bolaño

Publicado em La mente es maravilhosa, adaptado por Up To Kids®

 

 

Abuso sexual de crianças e adolescentes: o perigo dos falsos negativos e dos falsos positivos

Junho 30, 2019 às 6:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Artigo de Rute Agulhas publicado no Observador de 27 de maio de 2019.

Há um perigo claro de emissão de pareceres que podem encerrar em si erros de falsos negativos ou falsos positivos. Como minimizar isso?

O abuso sexual de crianças e adolescentes é uma realidade inegável que, embora com maior incidência no sexo feminino e na idade escolar/início da adolescência, abrange ambos os sexos e todas as faixas etárias. Os efeitos negativos do abuso sexual manifestam-se a curto, médio e/ou longo prazo e envolvem alterações a nível físico (e.g., lesões físicas, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis), emocional (e.g., medo, tristeza, desconfiança), comportamental (e.g., maior agressividade ou passividade, alterações nos padrões de sono ou alimentação, comportamentos regressivos, comportamentos sexuais inadequados para a idade, auto-mutilação, tentativas de suicídio), e/ou social (e.g., isolamento, alterações nos padrões relacionais, sentimentos de estigmatização). Contrariamente ao que se possa pensar, o abuso sexual não afecta apenas a vítima directa, mas também a sua família e comunidade envolvente.

O abuso sexual é um crime e qualquer suspeita que se revele consistente deve ser sinalizada às entidades competentes, para que estas possam iniciar um processo de investigação e avaliação.

É sobre o processo de avaliação psicológica forense que se exige uma reflexão, Em Portugal, este processo nem sempre decorre de forma célere ou linear, o que obriga as crianças a relatar por diversas vezes aquilo que alegadamente vivenciaram. Muitas crianças chegam a relatar sete ou oito vezes, em serviços diferentes, junto de profissionais diferentes, o que se constitui, sem sombra de dúvida, um processo de revitimização secundária.

Temos disponíveis directrizes internacionais muito claras e objectivas sobre a forma como devem decorrer estes processos — quais os princípios éticos que devem ser tido em conta, quem deve ser envolvido no processo de avaliação, quais os conteúdos específicos que devem ser explorados nas entrevistas de avaliação, que metodologias podem auxiliar a avaliação de crianças mais pequenas, nomeadamente, crianças em idade pré-escolar. A par destas directrizes internacionais, salienta-se ainda toda a investigação já efectuada em Portugal, com diversas publicações que sistematizam protocolos de avaliação.

A existência destas directrizes e protocolos é importante, mas não suficiente, para uma avaliação que se exige rigorosa e isenta de enviesamentos e juízos à priori, por parte do psicólogo. De acordo com a literatura, as variáveis dos próprios entrevistadores exercem uma forte influência sobre os pareceres finais, pelo que devem ser alvo de um processo de reflexão.

Pois vejamos.

A literatura aponta três aspectos que podem contribuir para situações de desacordo nos pareceres dados pelos técnicos, nomeadamente: (a) a sensibilidade, que minimiza os erros de falsos negativos (concluir que é pouco provável que o abuso tenha corrido, quando, na realidade, ocorreu); (b) a especificidade, que minimiza os erros de falsos positivos (concluir que é muito provável que o abuso tenha corrido, quando, na realidade, não ocorreu), e o cepticismo face às revelações de abuso sexual (crenças do entrevistador sobre a possível veracidade do relato).

É desejável que o psicólogo possua elevada sensibilidade e elevada especificidade, embora, muitas vezes, este equilíbrio não se observe. O psicólogo pode ser influenciado por crenças de base (nem sempre conscientes) como, por exemplo, “as crianças não mentem”, “os padrastos são quase sempre os abusadores sexuais”, “uma mãe/mulher nunca abusaria sexualmente de uma criança”, “se os pais estão em conflito devido ao divórcio e às responsabilidades parentais dos filhos, então a alegação de abuso sexual deve ser falsa”. Estas e outras crenças de base podem enviesar todo o processo de avaliação, diminuindo, quer a sensibilidade, quer a especificidade.

Por outro lado, profissionais com um elevado cepticismo irão abordar os casos em que existe uma suspeita de abuso sexual com a crença de que a maioria das revelações é falsa. A este respeito refira-se que, de acordo com estudos internacionais, aproximadamente 1 em cada 4 profissionais acredita que a maioria dos adolescentes que revela uma situação de abuso sexual está a mentir.

Estamos, então, perante um perigo claro de emissão de pareceres que podem encerrar em si erros de falsos negativos ou falsos positivos.

O psicólogo deve ainda ter formação específica nesta área forense e actualizar continuamente os seus conhecimentos. Os desenhos das crianças, por exemplo. Sem dúvida que o desenho é um facilitador da comunicação, especialmente importante com crianças mais novas, e pode ser conceptualizado como uma metodologia auxiliar de avaliação. No entanto, a interpretação do desenho infantil exige conhecimentos específicos, sob pena de se assistir a interpretações, diríamos, selvagens. “O fumo que sai da chaminé sugere a existência de um conflito sexual”, “as mãos da figura humana X são muito grandes, o que indica agressividade”, “a criança desenha cenouras, que têm uma forma fálica, o que remete para o órgão sexual” são exemplos deste tipo de interpretações.

Como minimizar a probabilidade destes erros? Penso que a resposta pode ser apenas uma: com uma adequada articulação interdisciplinar, um processo de avaliação forense que se exige rigoroso e que cumpra as directrizes que a investigação aponta, e uma constante formação, actualização e supervisão dos psicólogos que intervêm nesta área específica.

Referências:

Ackerman, M. (2010). Essentials of Forensic Psychological Assessment. (2.nd Edition). Wiley.

Agulhas, R. & Anciães, A. (2015). Casos práticos em psicologia forense. Enquadramento legal e avaliação pericial. (2.ª ed.). Lisboa: Editora Sílabo.

Ceci, S. & Bruck, M. (1995). Jeopardy in the courtroom – a scientific analysis of children’s testimony. Washington, DC: American Pychological Association.

Cheung, M. & Boutté-Queen, N. (2010). Assessing the relative importance of the child sexual abuse interview protocol items to assist child victims in abuse disclosure. Journal of Family Violence, 25, 11-22.

Lamb, M., Hershkowitz, I., Orbach, Y., & Esplin, P. (2008). Tell me what happened: Structured investigative interviews of child victims and witnesses. New York: Wiley.

London, K., Bruck, M., Ceci, S., & Shuman, D. (2005). Disclosure of child sexual
abuse: what does the research tell us about the ways children tell? Psychology, Public Policy, and Law, 11 (1), 194-226.
Mart, E. (2010). Common errors in the assessment of allegations of child sexual abuse. The Journal of Psychiatry & Law, 38, 325-343.

Montesinos, I. & Checa, M. (2010). Evaluación psicológica en el contexto forense. In M. Checa. Manual Prático de Psiquiatria Forense. Barcelona: Elsevier Masson.

Rute Agulhas é psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Perita em Psicologia Forense. Professora assistente convidada no ISCTE-IUL. Investigadora no CIS-IUL.

Pela Estrada Fascinante” 1º Encontro Internacional de Literatura, Ilustração e Edição para a Infância do Município de Aveiro – 6 de julho

Junho 30, 2019 às 5:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Mais informações no link:

https://www.cm-aveiro.pt/visitantes/agenda-aveiro/evento/pela-estrada-fascinante

O que as crianças perdem quando não há ogros, bruxas e princesas nas histórias infantis?

Junho 30, 2019 às 1:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia e imagem do El País Brasil de 7 de junho de 2019.

Eva Carnero

As narrativas para os pequenos estão mudando; como eles e a sociedade são afetados pelo processo?

O pai, trabalhando / mãe, no lar/ tudo já está em seu posto / tudo já em seu lugar. Não parecem versos com os quais alguém gostaria de educar seus filhos, mas muitos pais que hoje defendem com firmeza os postulados feministas, para não dizer todos, provavelmente elogiaram a autora alguma vez. Sim, certamente todos eles o fizeram, pois a autora não é outra senão Gloria Fuertes, uma poetisa que se caracterizou pela identidade feminista e escreveu essas letras nos anos setenta, no livro El Hada Acamarelada. Cuentos em Verso (A Fada Melosa. Contos em Verso). São os mesmos versos que, curiosamente, faltavam em algumas versões publicadas em 2017, quando se comemorou seu centenário de nascimento. Segundo conta a professora de Educação Primária e Infantil da Universidade Internacional de La Rioja, Concepción María Jiménez, a estrofe não figurava em todas as novas edições, e poucas crianças lerão esses versos.

O caso exposto pela professora universitária dá uma medida de até que ponto existe um temor, uma atitude preventiva em relação ao conteúdo das histórias e — por uma justificável extensão — em relação a toda obra literária destinada às crianças. Para as tenras mentes infantis, as histórias podem se tornar exemplos perversos a imitar, podem ensinar modelos com os quais perpetuem atitudes inadequadas, prejudiciais à sociedade, quase imperdoáveis em casos extremos… Talvez seja assim, talvez não, mas não há dúvida de que as histórias exercem um efeito inegável na ideia da realidade desenvolvida pelas crianças. “São o caminho mais eficaz para responder ao que cada um sente, em que calçamos os sapatos do outro e que nos ajudam não apenas a nos conhecer e nos entender, mas também a reconhecer o mundo”, explica Jiménez.

As histórias devem ser realistas?

Quando você lê ao seu filho Chapeuzinho Vermelho, Cinderela ou Os Três Porquinhos não está apenas transmitindo uma história com a qual a criança se entretém, desfruta e viaja com imaginação. Além disso, e aqui está o mais interessante, você está mostrando a ele “o reflexo da vida, com a crueldade, a inveja, o egoísmo, a coragem, a generosidade e tudo que caracteriza o ser humano”, diz Jiménez. Tudo que é bom e tudo que é mau. “Talvez por isso, nas histórias, os personagens não sejam ambivalentes, isto é, não sejam bons e maus ao mesmo tempo como realmente são os seres humanos, o que ajuda as crianças a compreender mais facilmente a diferença entre a maldade e a bondade” reflete Jiménez.

E assim pensa a professora que as histórias deveriam ser, pois se não mostram a realidade como ela é perdem a capacidade de responder às perguntas que sempre acompanharam o ser humano, aquelas que giram em torno da tristeza, do amor, da inveja… Neste sentido, ela defende com firmeza os contos de fadas e sua linguagem simbólica, e contraria a opinião de que “esse tipo de relato narra histórias simplórias, onde não existem problemas e tudo é idealizado”. Segundo ela, “se olharmos para os contos de Andersen ou dos irmãos Grimm veremos muitas coisas que seriam perversas: bruxas, ogros, atrocidades, crimes… Existe muito drama e muito conflito, algo de que as crianças tendem a gostar”.

Mas o enfoque próprio dos contos tradicionais não costuma ser visto em muitas histórias infantis modernas nas quais, de acordo com Jiménez, “o que encontramos são instruções para administrar as emoções, para controlar os estereótipos e os gêneros, e para trabalhar os valores, quando, na verdade, o conto é algo íntimo, que cada pessoa interpreta de seu próprio interior”. A professora diz que direcionar esses sentimentos através da literatura é como fornecer uma receita para a vida. De acordo com ela, e por muito boas intenções que se tenham ao fazê-lo, algumas das histórias que se contam agora tratam sobre como devemos instruir a criança para que veja a vida de “forma bonita”, ou seja, como um lugar onde não existem decepções, conflitos ou dor: “Uma mentira que faz parte dessa nova política de não incomodar. Uma tarefa que fazem suprimindo o que é característico do conto tradicional, a transgressão, o simbolismo, a emoção, a ambiguidade…”

Uma maneira de entender que os outros pensam diferente

Além de mostrar à criança como é o mundo que a rodeia, cada história encerra uma mensagem única, “de forma simbólica, ensina a criança como lidar com as vicissitudes do dia a dia, aliviar os medos e enfrentar as ansiedades que certas incertezas podem provocar”, diz a professora. Neste caso é preciso levar em conta que o ensinamento que cada criança tira não é sempre o mesmo, pois cada um interpreta a história à sua maneira.

“O cérebro de cada criança se forma a partir de suas próprias experiências, mas também observando os exemplos da vida dos adultos, assim como as histórias que lhe contam. Estas têm um peso muito importante, embora não chegue a ser determinante”, esclarece Moisés de la Serna, doutor em Psicologia, escritor e mestre em Neurociência. Outra função que a Neurologia atribui às histórias é ajudar a criança a entender as dimensões do tempo e do espaço. Através da estrutura sequencial do relato, o cérebro cria lembranças que registra em ordem cronológica, o que, em última instância, pressupõe a existência de um passado, um presente e um futuro. É uma estrutura simples, mas básica para a vida social.

Segundo de la Serna, as histórias oferecem outra qualidade interessante para o desenvolvimento emocional das crianças. O especialista vê nesse tipo de histórias “uma maneira de aprender a entender que os outros podem ter diferentes formas de pensar, intenções e motivações”. Assim, o psicólogo diz que “a criança aumenta suas habilidades sociais desenvolvendo o que é conhecido como teoria da mente, isto é, a capacidade de saber que os outros têm pensamentos diferentes dos que ela tem”. Muito próxima dessa ideia, a professora Jiménez relaciona outra capacidade mais com a leitura de histórias, a de ensinar a se colocar na pele do outro (algo que nem sempre é benéfico), “essa empatia tão necessária em nossos dias”. Todas essas qualidades podem ser encontradas em maior ou menor grau nas histórias de todas as épocas, embora seja verdade que com nuances significativas que variam com o momento histórico.

O que existe de ‘tóxico’ nas histórias?

Jiménez descreve uma evolução interessante desse tipo de histórias, com ênfase em alguns aspectos particularmente relevantes. Para começar, temos as “histórias com moral de Perrault, nas quais se percebe a crueldade e há inclusive finais dramáticos. Mais tarde, no século XIX, os irmãos Grimm publicaram essas mesmas histórias suavizando o final para evitar tanta ‘crueldade’. E no século XX, a Disney também transformou várias dessas histórias para levá-las ao cinema”, diz. E as mulheres sabem bem que o cinema nem sempre conta as coisas como são. Finalmente, a especialista acredita que, desde a década passada, muitas dessas histórias primigênias foram manipuladas ou adaptadas para responder a necessidades diferentes, para se adequarem à época atual.

A doutora em Pedagogia, professora da Universidade Rovira i Virgili, escritora e contadora de histórias Maria Concepción Torres acredita que “os elementos do conto tradicional ainda aparecem em muitas narrativas atuais, enquanto muitos deles tentam apresentar situações reais próximas do menino ou da menina, ou do jovem ao qual se dirige a história: suas vivências, suas preocupações… que não são as mesmas de 10 ou 20 anos atrás”. Daí a mudança de enfoque, que desafia a tradição e tem um reflexo tangível fora das páginas das histórias para crianças.

Por exemplo, uma escola em Barcelona decidiu retirar de sua biblioteca Chapeuzinho Vermelho e A Bela Adormecida, junto com outros 200 títulos (30% dos livros do jardim da infância) por conterem histórias “tóxicas” do ponto de vista de gênero. É uma decisão que convida os pais a considerar se devem ler essas histórias para seus filhos ou se isso ajudaria a perpetuar o machismo na sociedade. Em outras palavras, uma notícia que mostra a enorme importância atribuída aos contos infantis na formação da sociedade.

Mas os contos, como qualquer mensagem, não devem ser tirados do contexto. “As mensagens dessas histórias devem ser situadas no momento de sua criação para poder compreendê-las. Quando as transferimos para a nossa realidade é quando se faz essa análise de estereótipos sexistas”. Torres defende os contos tradicionais e considera que devem continuar sendo transmitidos para poder contrastar a história com a realidade e, assim, gerar um pensamento crítico. E isso, ironias da literatura, certamente ajuda a ser mais livre no mundo real.

 

Novos ossos estão a crescer nos crânios dos jovens devido ao uso excessivo do telemóvel

Junho 29, 2019 às 8:20 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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David Shahar e Mark Sayers – Scientific Reports

Notícia da RTP Notícias de 21 de junho de 2019.

As novas tecnologias mudaram, indubitavelmente, a nossa forma de vida. Sabemos que os novos dispositivos eletrónicos alteraram a forma como comunicamos, como trabalhamos, como vivemos. Revolucionou a forma como aprendemos, assim como expandiu a quantidade de informação disponível, anteriormente mais limitada.

Hoje, não nos imaginamos a viver sem elas. Mas sabemos também agora que estas novas tecnologias, em particular os telemóveis, estão também a transformar o corpo humano.

Era já conhecido que os telemóveis afetam a saúde ocular. Também a coluna e até o cérebro. Mas não sabíamos que poderia afetar o nosso crânio, nem se imaginava que novos ossos poderiam crescer com a utlização em excesso destes aparelhos.

Um estudo feito pelos investigadores australianos David Shahar e Mark Sayers, da Universidade de Queensland, analisou os crânios de mais de mil pessoas, com idades compreendidas entre os 18 e os 86 anos. Concluíram que 400 pessoas, sobretudo os mais jovens, tinham tido um crescimento de ossos na base dos crânios, o que dizem ser uma mudança corporal provocada pelo uso crescente da tecnologia moderna.

A investigação concluiu que as pessoas (sobretudo os jovens) estão a desenvolver “uma exostose proeminente, que emana da protuberância occipital externa”. Ou seja, esporões ósseos estão a formar-se na parte de trás do crânio. São pequenos crescimentos ósseos que podem formar-se na extremidade dos ossos e que ocorrem quando uma inflamação danifica a cartilagem e o corpo tenta reparar o dano, fazendo crescer mais osso. Durante o estudo, os autores encontraram esporões ósseos cujo tamanho variava entre os 10 e os 31 milímetros.

Os investigadores afirmam que a inclinação frontal da cabeça, ao deslocar o peso da coluna para os músculos da cabeça, provoca um crescimento ósseo nas ligações dos tendões e ligamentos. Assim, acreditam que os dispositivos eletrónicos, em particular os telemóveis, estão na origem do problema.

Quais são as possíveis consequências?

O que reserva o futuro para os jovens adultos que desenvolvem, como referem os autores, “um processo degenerativo (…) num estágio tão inicial das suas vidas”?

Shahar acredita que esta formação óssea pode conduzir a uma deformidade grave na postura, que, por sua vez, pode provocar dores no pescoço, nas costas, e dores de cabeça crónicas. Alguns esporões ósseos podem também requerer tratamento, conforme o tamanho e a gravidade.

O cirurgião ortopédico David Geier afirma no entanto que este problema pode ser prevenido. “As pessoas que estão preocupadas com isto podem começar a trabalhar com um fisioterapeuta para aprender exercícios para fortalecer os músculos que ajudam com a sua postura”, disse à NBC News.

E acrescenta que há pequenas mudanças que podem ajudar, como “colocar almofadas por baixo dos computadores e segurar no telemóvel ou no tablet um pouco mais acima”.

Estudo levanta dúvidas

Este estudo tem recebido críticas distintas, tendo sido apoiado por vários especialistas e rejeitado por outros.

Alguns afirmam que o trabalho é baseado em raios-x antigos, não tem um grupo de controlo, e não consegue provar a causalidade. Além disso, as pessoas que participaram no estudo tinham-se especificamente queixado de dores no pescoço e procuraram um médico, o que significa que não é claro como os resultados se aplicam ao resto da população.

David Langer, diretor de neurocirurgia no Hospital Lenox Hill, disse ao The New York Times que “é mais provável ter uma doença degenerativa dos discos ou desalinhamento do pescoço do que um esporão ósseo a crescer no crânio”.

O bairro onde vivemos influencia o peso dos filhos

Junho 29, 2019 às 1:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia da TSF de 12 de junho de 2019.

Por  Nuno Guedes

A investigação descreve uma organização urbana que parece proteger as crianças da obesidade.

O bairro onde vivemos influencia a obesidade dos filhos? A pergunta, que pode à primeira vista parecer estranha, deu origem a um estudo que avaliou o peso das crianças em vários bairros de Lisboa.

A investigação, coordenada pelo Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra e financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), conclui que há uma organização urbana que parece “proteger” as crianças do excesso de peso: bairros mais recentes, com espaços verdes e menos carros nas ruas.

Ou seja, diz Margarida Pereira, uma da autoras, à TSF, “ambientes mais pensados para as pessoas e menos para os carros”.

Pelo contrário, nos bairros de Lisboa de construção mais antiga, com edifícios que incluem comércio, serviços e habitação, a proporção de crianças com obesidade ou excesso de peso tende a ser bem mais elevada.

Os efeitos anteriores foram visíveis mesmo quando os investigadores tiveram em conta na análise e nas contas o peso dos pais e o respetivo estatuto socioeconómico da família, fatores que se sabe que também afetam o excesso de peso infantil.

Porquê?

O estudo publicado na revista científica American Journal of Human Biology admite que as razões para esta influência do bairro onde se vive sobre a obesidade podem ser várias, nomeadamente a menor poluição dos bairros com menos carros, num ambiente “mais agradável, menos stressante e menos perigoso”.

Margarida Pereira acrescenta, contudo, que um dos fatores mais importantes talvez seja a possibilidade que estes bairros dão às crianças de brincarem ao ar livre, aumentando os níveis de atividade física.

Nas conclusões os investigadores pedem aos políticos que tenham em conta estes resultados pensando mais num “planeamento urbano saudável” que possa “propiciar estilos de vida mais saudáveis com impacto bastante positivo na saúde pública”.

O estudo citado na notícia é o seguinte:

The role of urban design in childhood obesity: A case study in Lisbon, Portugal

Migrações: Mais de 1.600 crianças morreram ou desapareceram em cinco anos

Junho 28, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Notícia do site Notícias ao Minuto de 28 de junho de 2019.

LUSA

As crianças fazem parte dos 32 mil migrantes mortos ou desaparecidos registados no mesmo período, embora a OIM alerte que os dados estejam incompletos e que o número real de vítimas seja certamente maior, em particular entre menores, cujos casos são menos relatados do que os de adultos.

Todos estes dados são recolhidos pelo Projeto de Migrantes Desaparecidos da OIM, que divulga um relatório anual desde 2014 e que este ano conta pela primeira vez com a colaboração do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Ambas as agências das Nações Unidas (ONU) manifestaram a sua vontade de reforçar esta colaboração para melhorar os dados sobre as crianças migrantes, incluindo aquelas que permanecem na estrada.

Segundo as estatísticas, o maior número de vítimas ocorre no Mediterrâneo, com 17.900 vítimas registadas (2014-2018), havendo ainda 12.000 casos em que se desconhece o paradeiro ou não foram recuperados os corpos.

Em 2018, houve uma redução de 26% nas mortes no Mediterrâneo (2.299 face a 3.239 em 2017), embora a OIM alerte que foi acompanhada por uma redução acentuada – de dois terços – no número de migrantes que tentam atravessá-lo (de 144.301 há dois anos para 45.648 em 2018).

O relatório assinala que “o perigo de morrer” no Mediterrâneo “aumentou em 2018”, uma vez que até as estatísticas mais conservadoras estimam que 3% dos migrantes que tentaram atravessar o Mediterrâneo no ano passado acabaram por morrer, face a 2% em 2017.

No ano passado, houve também um forte aumento de vítimas na rota ocidental do Mediterrâneo, que correspondem àquela que os migrantes tomam para tentar chegar à costa de Espanha, com registo de 811 mortes, em comparação com 224 um ano antes.

A rota central, para os migrantes que tentam chegar a Itália ou a Malta desde a Líbia, continua a ser a mais perigosa, com 1.314 mortes e desaparecimentos, embora o número significasse uma redução de mais da metade em relação a 2017.

Outra rota arriscada para os migrantes é a fronteira entre o México e os Estados Unidos, onde 1.907 pessoas morreram nos últimos cinco anos, incluindo 26 crianças, embora apenas no primeiro semestre deste ano tenha aumentado para outros 13.

A imagem dos corpos de um pai e da sua filha, que morreram afogados quando tentavam atravessar clandestinamente a fronteira México-Estados Unidos, suscitou a indignação internacional ao mostrar o drama migratório vivido naquela região.

A fotografia divulgada na quarta-feira, e reproduzida por vários ‘media’ internacionais, mostra os cadáveres de Oscar Martinez Ramirez, um cozinheiro de 25 anos de El Salvador, e da sua filha de 23 meses, posicionados de barriga para baixo a flutuar na margem do rio Bravo (ou rio Grande na terminologia norte-americana).

O relatório Fatal Journeys Volume 4: Missing Migrant Children pode ser descarregado na notícia da IOM:

One Child Every Day: Lack of Data Leaves Most Vulnerable Group at Risk – UN Migration Report

Vídeo da participação de Ana Lourenço do IAC no programa da RTP1 “A Nossa Tarde”

Junho 28, 2019 às 2:00 pm | Publicado em O IAC na comunicação social, Vídeos | Deixe um comentário
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A Drª Ana Lourenço do Sector da Actividade Lúdica do Instituto de Apoio à Criança, participou no programa da RTP1 “A Nossa Tarde” do dia 26 de junho. O tema da sua participação foi “Como brincam as nossas criança?”.

Visualizar o vídeo no link:

https://www.rtp.pt/play/p5720/e415088/a-nossa-tarde/753919

 

À procura de likes, menores expõem intimidade nas redes sociais

Junho 28, 2019 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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DN Life

Notícia e imagem do DN Life de 7 de junho de 2019.

Numa sociedade altamente sexualizada, crianças e adolescentes partilham fotos de momentos íntimos para gerar mais interação nas redes sociais.

Texto de Joana Capucho

Mais de 110 menores foram identificados recentemente em Espanha pela partilha de conteúdos com teor sexual nas redes sociais. Em causa estão vídeos de momentos de intimidade publicados em plataformas como Instagram, Twitter ou YouTube. Segundo a Polícia espanhola, há casos em que as imagens de crianças nuas ou seminuas foram partilhadas pela família, mas existem outros em que foram os próprios menores a publicar as imagens. O objetivo, diz o comunicado das autoridades, era “conseguir novos seguidores para os seus canais do Youtube ou mais likes nas suas publicações”.

Tito Morais, fundador do MiudosSegurosNa.Net, confessa que ficou “surpreendido” quando leu a notícia, mas, após alguma análise, considera que “faz sentido” tendo em conta a sociedade em que vivemos. “Vários estudos indicam que cada vez mais as redes sociais são um mecanismo de afirmação social perante os pares, sendo conhecidos vários efeitos negativos das mesmas ao nível da saúde mental”, diz à DN Life.

Na opinião do promotor do projeto de segurança online, estas plataformas “promovem cada vez mais a superficialidade em detrimento da profundidade”. O que vale atualmente é sobretudo “o parecer”, o que se “traduz na procura do like”.

Por cá, não são conhecidos casos de crianças ou adolescentes que partilhem conteúdo sexual com o objetivo de gerar mais interação nas redes sociais. “De forma deliberada, para ter mais likes ou seguidores, não tenho noção que aconteça”, diz a psicóloga Vânia Beliz, que tem participado em várias sessões sobre os perigos da internet nas escolas. Na opinião da sexóloga, estes são “comportamentos típicos da adolescência, de pisar o risco, mas que nesta altura têm consequências mais graves”.

O facto de as crianças e adolescentes viverem “num ambiente altamente sexualizado e de saberem que o sexo e a transgressão atraem” pode ajudar a explicar o fenómeno. “Os miúdos fazem o que veem fazer. Os videoclips são altamente erotizados, assistem a filmes que não são adequados para a idade”, explica a psicóloga. Ao mesmo tempo, “estão num processo de experimentação, de transgressão, de testar os limites”. O grande problema, frisa, “é que se colocam num cenário perigoso, porque a internet tem uma capacidade de divulgação dos conteúdos brutal”.

A necessidade de reconhecimento e de dar nas vistas sempre existiu, lembra a sexóloga, “mas agora surge de uma forma mais perigosa”, porque acontece no meio digital. “Há necessidade de ser aceite, de fazer alguma coisa que suscite a atenção dos outros. Estão numa altura em que é importante ter aprovação”, refere a psicóloga, destacando que “o sexo vende, chama a atenção”.

Daniel Cardoso, professor na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias e membro do projeto EU Kids Online, também não tem conhecimento de casos como aqueles que foram relatados em Espanha. “Mas, do que tenho visto, os jovens e as jovens, como quaisquer outras pessoas com vida sexual, sexualidade, interesses íntimos e que vivem numa sociedade que sobrevaloriza a sexualidade e a experiência sexual, acabam por mobilizar as suas próprias representações, às vezes por questões motivadas pela sua própria vontade, outras vezes para fins mais instrumentais, como parece ser o caso”, refere o investigador.

A serem reais, destaca Daniel Cardoso, “este tipo de ações têm de ser lidas no contexto de uma sociedade e cultura que sobrevaloriza a questão da nudez, da sexualidade e da sexualização dos corpos”. Como estão em causa menores, o docente universitário diz que se levanta outra problemática: “Tecnicamente, o que produzem pode ser considerado pornografia infantil, o que mostra o quão pouco adaptadas à realidade as nossas leis estão”. Há um caso, recorda, de uma adolescente americana que foi detida por posse e distribuição de pornografia infantil, depois de ter enviado uma foto sua ao namorado. Em causa, frisa, estão também “questões relacionadas com a autonomia sexual”.

“Vivemos numa sociedade que hiperssexualiza os jovens e, quando estes começam a testar os seus limites, achamos que é problemático, mas não problematizamos o contexto”, diz Daniel Cardoso, que prefere colocar a questão de uma outra forma. “Que sociedade é esta que faz com que este tipo de ações faça sentido? Se fazem isto, é porque têm resultados. Que cultura é esta que incentiva e mobiliza este tipo de práticas?”.

Nem a GNR nem a PSP têm registo de casos de menores que publicam fotos ou vídeos nus. Nas escolas, conta Vânia Beliz, o mais frequente é ler testemunhos de crianças e adolescentes “que já partilharam conteúdo erótico ou íntimo, que se filmaram ou que receberam ameaças” relacionadas com o sexting. Segundo a psicóloga, os promotores das ações de sensibilização leem “coisas horríveis” quando pedem relatos escritos, como casos em que as raparigas tinham enviados nudes aos namorados que os mostraram aos amigos ou que tinham ido a festas, consumido bebidas alcoólicas e filmado situações íntimas.

Tito de Morais, que há vários anos tem vindo a alertar para esta problemática, diz que, em Portugal, o que se sabe é que “há jovens que praticam sexting e que são coagidos a fazê-lo por namorados ou namoradas”. Daí “resulta muitas vezes sextortion (para extorsão de dinheiro ou favores sexuais)” e, em alguns casos, revenge porn, ou seja, publicação de vídeos ou imagens de cariz sexual sem o consentimento do outro.

Conselhos:

  • Nunca partilhar imagens ou vídeos de cariz íntimo na internet pois, quando disponibilizados na web, perde o controlo sobre a sua utilização e partilha.
  • Acompanhar a atividade das crianças na internet e a utilização das redes sociais.
  • Informar-se de forma a aumentar a literacia digital.
  • Só permitir o acesso ao telemóvel às crianças que mostrem maturidade para trabalhar com o dispositivo.
  • Se necessário, investir em programas de supervisão para controlar a atividade dos menores online.
  • Liderar pelo exemplo: não fazer uma utilização excessiva dos smartphones e das redes sociais.
  • Criar zonas livres da utilização de dispositivos eletrónicos, nomeadamente o local da refeição e os quartos.
  • É aconselhável ter um perfil nas redes sociais onde os menores estão inscritos, mas resista à tentação de fazer comentários sem o seu consentimento.
  • Não adicionar desconhecidos.
  • Incluir os menores no processo de definição de regras, uma vez que a imposição tende a não funcionar.
  • Ter atenção a comportamentos das crianças relacionados com o isolamento, nervosismo, falta de auto estima, insegurança, absentismo escolar, perda de apetite ou apresentação de lesões físicas.

 

 

Quando os pais se separam, não deixam de ser “pai” e “mãe”

Junho 28, 2019 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Artigo de opinião de Eva Delgado-Martins publicado no Público de 9 de junho de 2019.

O divórcio ou separação é o segundo acontecimento da vida dos filhos mais gerador de tensões difíceis de gerir.

A separação e o divórcio correspondem à assunção formal, por parte do casal, do fim do seu casamento ou união. O casamento ou união é uma estrutura social que evolui no tempo, baseado em rotinas e compromissos numerosos e complexos, sobretudo quando há filhos, que vão ter de ser substituídos depois da separação, através da negociação entre os pais. Estas negociações devem conduzir a um verdadeiro plano parental, escrito e assinado por ambos, que otimize a comunicação entre ambos, evite o desenvolvimento de conflitos posteriores e que, nos casos mais graves, possa ser um elemento positivo a utilizar em tribunal, por ocasião do acordo da regulação das responsabilidades parentais.

O divórcio ou separação é o segundo acontecimento da vida dos filhos mais gerador de tensões difíceis de gerir. Os filhos sofrem sempre quando há separação. Este sofrimento pode ser diminuído, se a separação for bem orientada, assegurando que as crianças vivem num clima de confiança, ao longo da separação/divórcio dos pais, favorecedor do seu equilíbrio emocional.

Quando os pais se divorciam, nem sempre têm a possibilidade de prever refletidamente que vão ser confrontados, no futuro imediato, com a necessidade de tomarem um grande número de decisões importantes que os afetarão a si e aos seus filhos.

Um envolvimento empenhado dos dois pais que se separam, garantindo uma boa relação de ambos com os filhos, caracterizada por um bom apoio emocional, uma comunicação frequente, clara e aberta e uma definição de papéis adequada é um importante fator protetor dos filhos na adaptação à separação parental (Tein & Sandler, 2011).

A coparentalidade e a relação dos pais depois da separação, embora apareçam mais associadas aos fatores de risco, são definidas na literatura como protetoras, quando há uma diminuição do conflito depois da separação e quando a relação entre os pais é de cooperação, consistência, apoio, divisão de responsabilidades e paz (Vélez, Wolchik, Tein & Sandler, 2011).

Tendo em conta os benefícios a longo prazo, a partilha dos cuidados, responsabilidades e convívio deve ser regra nos casos de pós-separação com crianças de todas as idades, desde a primeira infância e adolescência (Kruk, 2014).

A forma como os pais se relacionam um com o outro após a separação é crucial. Os filhos precisam que eles interajam de forma construtiva, vivam ou não na mesma casa. Os pais divorciados/separados têm a responsabilidade e o dever de contribuir autonomamente para a educação dos filhos, sem uma interferência mútua despropositada. Tanto um como outro são a família dos filhos, agora em duas casas, independentemente da forma como o tempo é dividido entre ambos. Para crescerem saudavelmente, os filhos devem sentir-se livres de amarem ambos os pais, sem conflitos de lealdade, sem medo de perderem um deles. Para os filhos, o divórcio/separação é sempre sentido como uma perda. A rutura do casal não deve resultar numa perda de parentalidade. É-se pai e mãe para toda a vida.

No divórcio/separação amigável, a separação ocorre por acordo entre os pais, o que não significa que ambos o desejem igualmente, ou que ambos concordem inicialmente com todas as condições da separação. Numa parentalidade cooperativa, os pais procuram isolar os conflitos conjugais ou interpessoais das suas funções parentais. Discutem planos para os filhos, procurando um apoio mútuo e esforço comum na partilha de responsabilidades parentais, bem como a disponibilidade física e emocional para satisfazerem as necessidades evidenciadas pelos filhos (Margolin et al.,2001). É fundamental que, apesar do di­vórcio/separação, ambos os pais continuem a assumir funções educativas e a participar nas diversas atividades do dia-a-dia dos seus filhos, promovendo desta forma o seu saudável desenvolvimento.

O divórcio/separação representa um momento de elevada exigência, em termos de adaptação social e psicológica dos diferentes elementos da família. A principal tarefa dos psicólogos mediadores é ajudar os pais a atuarem diretamente no processo de melhoria da qualidade da parentalidade, corresponsabilizando-os pela mudança desejada. A mediação é pedagógica e preventiva, porque ensina os pais não apenas a resolver os conflitos atuais, como a evitar os futuros. A mediação representa assim um mecanismo de transformação construtiva de conflitos na tentativa de encontrar meios e práticas alternativas de transformação construtiva de conflitos que promovam o diálogo e o envolvimento efetivo de ambos os pais para solucionarem/transformarem os seus conflitos, de maneira consensual, e realizarem mudanças positivas com ganhos mútuos para a reorganização.

A mediação familiar tem, frequentemente, a vantagem de promover um desenvolvimento positivo, de prevenção do agravamento do conflito. Através da mediação, é primordial alcançar uma transformação positiva da relação e a manutenção ou a restabelecimento dos laços de relação (Six, 2001).

A autora segue o novo acordo ortográfico

 

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