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Outubro 31, 2022 às 8:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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“A capacidade de os nossos filhos raciocinarem sobre a informação na internet resume-se a uma palavra: desoladora” – Michel Desmurget, neurocientista

Outubro 31, 2022 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Sapo Lifestyle de 7 de janeiro de 2022.

 Jorge Andrade

“Uma pandemia de corpos e cérebros” é como o neurocientista francês Michel Desmurget avalia os efeitos nefastos da excessiva exposição dos mais jovens aos ecrãs. Para o autor do livro “A Fábrica de Cretinos Digitais”, os nossos filhos “representam a primeira geração a ter um QI inferior ao dos pais”. Uma afirmação forte que o investigador aqui fundamenta em entrevista, ao discorrer sobre uma indústria global do digital que nos aprisiona e diminui. Desmurget é claro: “o défice é tão forte que parece representar, nada menos, do que uma ameaça à democracia”.

“Quando a minha filha digitou no Google a pergunta ‘o que aconteceu aos dinossauros?’, quatro, dos cinco primeiros links, apontavam para páginas criacionistas”. A resposta que a rede devolveu à filha do neurocientista francês Michel Desmurget conseguiu espantar o homem que, há décadas, pensa e pesquisa o efeito que a televisão e a exposição aos ecrãs de todo o tipo produzem na nossa saúde e no desenvolvimento cognitivo, em especial na infância e adolescência.

Para Desmurget, as novas gerações estão prisioneiras de um mundo dominado pelos novos oráculos do século XXI, os ecrãs e a realidade que constroem. No livro que lançou em Portugal no final de 2021, A Fábrica de Cretinos Digitais (edição Contraponto), Desmurget amplifica a frase que soou lapidar numa entrevista que concedeu à BBC: “os nativos digitais são os primeiros filhos a terem um QI inferior ao dos pais”.

De acordo com o também diretor de investigação do gaulês INSERM – Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica, o tempo que as novas gerações levam a interagir com smartphonestablets, computadores e televisão é elevadíssimo. Em média, três horas por dia no caso das crianças de dois anos, em países ocidentais. Seis horas em média, por dia, nos jovens entre os 13 e os 18 anos. O autor, nascido em 1965, traça um cenário doloroso a propósito dos efeitos que o consumo desmedido de ecrãs com o fim recreativo está a ter no cérebro dos nossos filhos.

Desmurget sublinha que ao contrário do que se pensava, a profusão de ecrãs a que as crianças e jovens estão expostos não lhes melhora as aptidões. Pelo contrário, acarreta efeitos nefastos na saúde física e intelectual.

Na entrevista ao SAPO Lifestyle, o neurocientista apresenta-nos os porquês para vivermos uma “pandemia de corpos e cérebros passivos”, aprisionados em ecrãs. O investigador aponta o dedo à indústria do entretenimento, às redes sociais, mas também à pseudociência e aos meios de comunicação social. A impulsionar a apatia digital está o dinheiro, como sublinha Desmurget. Para o francês, nascido em 1965, as principais vítimas do cenário que traça são os mais jovens. Sem rodeios compara a realidade que vivemos ao romance distópico de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo: “um grupo de zelosos executantes, entorpecidos pelo entretenimento pateta, privados da linguagem, incapazes de refletir sobre o mundo, mas felizes com a sua sorte”.

Uma conversa que recua aos anos de 1970, à meninice do neurocientista, para nos recordar uma sociedade diferente (a francesa) onde ver televisão era um exercício “doloroso”. Quando na década de 1990 a televisão se tornou sedutora, “já era tarde para mim”, confidencia Michel Desmurget.

A palavra Pandemia tornou-se familiar no nosso dia a dia. Usa-a no seu livro para se referir a uma pandemia de corpos e cérebros passivos e associa-a aos ecrãs. Não percebemos esta outra pandemia ou não temos interesse em combatê-la?

Exploremos a metáfora que usa com mais pormenor no que toca à saúde dos nossos filhos. Imagine uma “doença” que prejudica os aspetos cognitivos como a inteligência, a linguagem e a concentração; aspetos emocionais como a agressividade, ansiedade, depressão; e físicos, como a obesidade e a esperança de vida. Uma “doença” na qual os aspetos inerentes estão claramente identificados: uma diminuição na qualidade e quantidade de interações intrafamiliares, fundamentais para o desenvolvimento da linguagem emocional; uma diminuição na quantidade de tempo em atividades benéficas como a leitura, música, arte e desporto. Acrescente-lhe a degradação do sono, essencial para o desenvolvimento intelectual; uma estimulação sensorial excessiva, causadora de distúrbios de concentração e de aprendizagem; um défice de estimulação intelectual. Face a tudo o que acabei de referir, é óbvio que um exército de especialistas seria mobilizado para lutar contra esta “doença”. Mas, obviamente, este não é o caso e a pandemia de corpos e cérebros passivos permanece em silêncio.

“Os jovens de hoje são a primeira geração da história com um QI inferior ao dos pais”. É uma afirmação forte, retirada de uma entrevista que deu. Enquanto neurocientista, que dados sustentam esta afirmação?

Em primeiro lugar, vários estudos mostram que a utilização de ecrãs afeta a linguagem – e o QI verbal -, a concentração e o conhecimento prévio. Estes são três elementos essenciais da inteligência humana. Em segundo lugar, alguns estudos efetuados ao longo de anos revelam-nos que o um QI mais elevado de uma geração para a seguinte, sofreu uma reversão, o que acontece pela primeira vez na história. Claro, isso não é verdade em todo o mundo porque o QI aumenta quando a economia melhora e, em particular, quando a escola e os sistemas de saúde melhoram. No entanto, nos países onde os fatores económicos se mantêm estáveis ​​há décadas, observa-se uma diminuição significativa do QI. Dou como exemplo a Noruega, a Finlândia e os Países Baixos. Claro, os ecrãs são apenas um fator potencialmente envolvido nessa reversão. Os poluentes, por exemplo, também podem desempenhar um papel no que acabo de referir. Considerando, como mencionei anteriormente, o impacto dos ecrãs para uso recreativo em vários elementos-chave da nossa inteligência, como a linguagem e a concentração, o verdadeiro milagre seria não presenciarmos nenhum efeito negativo.

A INDÚSTRIA DO ENTRETENIMENTO DIGITAL QUE GERA TODOS OS ANOS BILIÕES DE DÓLARES DE LUCROS, TEM NOS NOSSOS FILHOS UM ALVO MUITO LUCRATIVO.

Ao trazer para o título do seu livro a palavra “fábrica”, subentende-se que estamos perante um processo pensado de produção de cretinos. Quem comanda esta operação e qual o objetivo?

Dinheiro. Não acho que haja uma conspiração voluntária e articulada para tornar as crianças estúpidas. O que suporto é que a indústria do entretenimento digital que gera todos os anos biliões de dólares de lucros, tem nos nossos filhos um alvo muito lucrativo. No passado recente, numerosos escândalos em torno da saúde revelaram que as principais empresas comerciais são mais motivadas pelo lucro do que pela saúde. Por outras palavras, muitos acionistas e executivos de empresas de tecnologia não se importam com os nossos filhos e o seu futuro, só estão interessados ​​no montante de dinheiro que ganharão findo o ano. Isso é exatamente o que a norte-americana Frances Haugen, ex-diretora de produto do Facebook, explicou recentemente durante uma audiência no Senado. Frances testemunhou que a empresa sabe que as suas plataformas são prejudiciais, mas coloca os lucros acima da saúde e da segurança. Em relação a este ponto, devemos ter em mente, conforme relatado em vários artigos do jornal The New York Times, que muitos executivos das indústrias digitais, incluindo Steve Jobs [fundador e ex-diretor executivo da Apple, falecido em 2011] protegiam e protegem os seus filhos das várias “ferramentas digitais” que vendem e comercializam. Conhece, por certo, o ditado: “faz o que eu digo, mas não faz faças o que eu faço”.

Tal como outras indústrias, como a do tabaco ou a da alimentação, a indústria digital manipula o consumidor? Pode dar-nos alguns exemplos?

A manipulação ocorre a vários níveis. O primeiro é informativo. Em relação aos impactos do uso do ecrã, a mensagem que chega ao público em geral é muitas vezes tendenciosa e injusta. Conforme explico no meu livro, os media estão cheios de afirmações infundadas e propaganda. Novamente, isto não é uma surpresa. Quando uma entidade vale biliões de dólares, não é difícil recrutar cientistas desonestos e lobistas fiéis. Tabaco, aquecimento global, pesticidas, açúcar, a lista de exemplos onde tal se aplica tem tanto de interminável quanto de deprimente.

O segundo aspeto, está associado à propaganda, tanto aberta quanto encoberta. Por exemplo, a obesidade pediátrica está intimamente relacionada à exposição face à propaganda de alimentos. Além disso, entre os adolescentes, a exposição repetida a cenas com tabaco em filmes, séries, videojogos, entre outros suportes, aumenta, dependendo dos estudos, o risco de iniciação ao tabagismo. Isso não é surpreendente. Na verdade, na esmagadora maioria dos conteúdos, fumar está associado a marcadores físicos, sociais e emocionais positivos: virilidade (Stallone, no filme Rambo), inteligência (Sigourney Weaver, no filme Avatar), sensualidade (Sharon Stone, no filme Instinto Fatal), espírito rebelde (James Dean, no filme Rebelde Sem Causa), poder, sexo e riqueza (Mad Men) e poderia continuar.

Por meio da repetição, a memória inconscientemente vincula o fumo a todos esses atributos positivos. Ou seja, crianças e adolescentes aprendem, sem se dar conta, que o fumador é desinibido, brilhante, inteligente, transgressor, criativo, viril, sexy, maduro, rico etc., o que aumenta a probabilidade de iniciação ao tabagismo. Obviamente, a abordagem também funciona para o álcool ou branding, como na Apple, Nike, Coca Cola, entre outras marcas.

Por fim, um terceiro processo mais recente de manipulação está vinculado ao big data. Ao arrecadar grandes quantidades de dados pessoais, as empresas de tecnologia, especialmente as redes sociais, podem manipular os nossos sentimentos, opiniões e comportamentos, conforme demonstrado por alguns escândalos repugnantes como aquele ligado à Cambridge Analytica e estudos experimentais surpreendentemente antiéticos, publicados, por exemplo, por cientistas do Facebook.

SE CONFIARMOS NO FAMOSO ESQUEMA ‘GOOGLE IT’, SEMPRE QUE PRECISARMOS DE ENTENDER ATÉ A MAIS SIMPLES AFIRMAÇÃO, A NOSSA VIDA SERÁ BEM DIFÍCIL.

Afirmar que os ecrãs abrem às crianças, nativos digitais, o caminho para uma inteligência superior é uma forma de sedução dos pais interessados em criar o novo humano?

Perdoe-me a linguagem, mas isso é pura idiotice de lobista. Não há realmente nada que nos deixe felizes quando uma criança é capaz de usar alguns aplicativos digitais ‘hiper-simplistas’. Conforme explicado por um funcionário técnico da Google [Andie Eagle] ao jornal The New York Times, esses aplicativos são “super fáceis. É como aprender a usar pasta de dentes”. De acordo com esta afirmação, inúmeros relatórios académicos e institucionais revelam que os nativos digitais são um mito, tão verossímeis quanto o monstro de Loch Ness.

Os nossos filhos não dominam, na sua maioria, as habilidades básicas de informática como a proteção da privacidade de dados, codificação, uso de software ou e-mails. Ouvimos frequentemente que as crianças e jovens apenas sabem “de forma diferente”. Mas, na realidade, o que eles sabem e as gerações anteriores ignoram é o uso do Instagram, descarregar séries da Netflix, citar todos os personagens dos últimos reality shows da TV. É a isso que chamamos progresso?

Também escutamos que o conhecimento factual é inútil, porque tudo o que as crianças precisam de fazer é “pesquisar no Google”. Quem é ingénuo o suficiente para acreditar nesta fábula? Considere a frase: “está a nevar pelo que se espera congestionamento no trânsito”. Para entender a frase, precisa de saber que a neve é ​​escorregadia, que dificulta a condução, que as pessoas conduzem mais devagar quando neva, que os acidentes são mais frequentes nessas condições, etc. O que é importante nesta frase não é o que está explicitamente formulado, mas o que permanece não contado. Se confiarmos no famoso esquema “Google it”, sempre que precisarmos de entender até a mais simples afirmação, a nossa vida será bem difícil. Isso aplica-se a qualquer disciplina, incluindo história, ciências e matemática. O que nos torna mais inteligentes não é o que o Google sabe; é o que nós sabemos.

Na sua perspetiva, não estamos a dotar as futuras gerações de mais competências técnicas, capacidade de lidar com grande volume de informação, de resolver problemas complexos.

A capacidade de processar, sintetizar e usar informações não é uma habilidade técnica, mas intelectual. Não se baseia em algumas “receitas”, mas em conhecimentos prévios. Qualquer pesquisa no Google retorna milhares de respostas. E essas respostas não são classificadas por relevância. Quando a minha filha digitou no Google a pergunta “o que aconteceu aos dinossauros?”, quatro, dos cinco primeiros links, apontavam para páginas criacionistas e o último falava do fim da Nortel, um “dinossauro” das telecomunicações. Seja qual for o tópico, uma base forte de conhecimento anterior é necessária para classificar e priorizar os dados que encontra na web. Ou seja, para qualquer indivíduo, a capacidade de processar o enorme volume de informação presente na internet é uma consequência, não uma fonte de conhecimento. Considere uma investigação recente da Universidade Stanford, na Califórnia, em concordância com estudos anteriores, revela que os chamados “nativos digitais” têm dificuldade em entender, processar e avaliar até mesmo as informações mais simples que encontram na internet. Dizem-nos os autores que a capacidade de os nossos filhos “raciocinarem sobre a informação na internet pode resumir-se a uma palavra: ‘desoladora’. O défice é tão forte que parece representar, nada menos, do que uma ameaça à democracia”.

DE QUE ADIANTA VIVER NUM OCEANO DE INFORMAÇÕES SE ACABA POR SE AFOGAR NELE? É A NOSSA CAPACIDADE DE PROCESSAR E COMPREENDER OS DADOS QUE IMPORTA.

Ou seja, termos acesso a mais informação na web não significa estarmos melhor informados?

De que adianta viver num oceano de informações se acaba por se afogar nele? É a nossa capacidade de processar e compreender os dados que importa. Quanto menos souber, mais suscetível se tornará a falsas notícias e manipulações cognitivas. Recentemente, a minha filha teve várias aulas de pensamento crítico. Isso é sintomático da negação absoluta dos nossos tempos. O pensamento crítico não é, e nunca será, uma habilidade geral. Está intimamente ligado ao conhecimento. Se não sei nada sobre as mudanças climáticas ou o impacto dos videojogos no desenvolvimento, como se espera que eu avalie e critique qualquer relatório, declaração ou artigo sobre esses assuntos? Eu sei que é isso o que muitos jornalistas fazem e, talvez, esse seja parte do problema.

Face ao que diz, podemos estar perante um retrocesso civilizacional?

Estudos desenvolvidos ao longo de vários anos demonstram que, na maioria dos países ocidentais, as habilidades intelectuais das crianças estão a diminuir. Há poucos anos, como parte do programa PISA [Programa Internacional de Avaliação de Alunos], a OCDE publicou um relatório sobre “resolução de problemas” e a capacidade dos alunos para enfrentarem os desafios da vida real. Os resultados foram muito bons. Em França, por exemplo, um investigador da OCDE declarou que “os adolescentes revelam que estão motivados, perfeitamente capazes de raciocínio lógico, de passar do concreto ao abstrato, implementar estratégias, explorar informações, reajustar em caso de erro”. Impressionante, até lermos as tarefas: ligar um leitor MP3 ou um aparelho de ar condicionado, comprar um bilhete de comboio através da internet. A meu ver, essas “habilidades notáveis” assemelham estes adolescentes a membros da Casta Gama descrita pelo escritor inglês Aldous Huxley no seu famoso romance distópico Admirável Mundo Novo. Um grupo de zelosos executantes, entorpecidos pelo entretenimento pateta, privados da linguagem, incapazes de refletir sobre o mundo, mas felizes com a sua sorte.

Pode dar-nos dois ou três exemplos de como o digital não robustece o cérebro da criança e do jovem?

Para se desenvolver adequadamente, o cérebro precisa de ser estimulado. Se o nível de estimulação for insuficiente, o desenvolvimento é prejudicado. Como revelam estudos recentes de neuroimagem, é o que acontece, por exemplo, com a linguagem. Como a rede neural que suporta a linguagem é pouco estimulada, como resultado do uso excessivo dos ecrãs, são encontradas anomalias na arquitetura física dessa rede. Da mesma forma, adolescentes expostos a muitos conteúdos violentos, apresentam anomalias anatómicas na região pré-frontal que medeiam a inibição comportamental. Mas a superestimulação também não é boa. Em animais, foi demonstrado que a estimulação visual e auditiva excessiva, como a veiculada pela televisão, leva à desorganização do sistema de recompensa, o que favorece o vício, as dificuldades de aprendizagem e a impulsividade. Observe que a plasticidade cerebral é intensa durante os primeiros anos de vida, o que implica um alto nível de vulnerabilidade de desenvolvimento. Portanto, é especialmente importante proteger as crianças dos ecrãs durante a fase inicial de seu desenvolvimento, pelo menos durante os primeiros cinco ou seis anos de vida.

ESTUDOS DESENVOLVIDOS AO LONGO DE VÁRIOS ANOS DEMONSTRAM QUE, NA MAIORIA DOS PAÍSES OCIDENTAIS, AS HABILIDADES INTELECTUAIS DAS CRIANÇAS ESTÃO A DIMINUIR.

Há especialistas de diferentes áreas a apoiar as teorias do novo humano. Estão mal informados ou venderam-se à indústria?

Já terá ouvido a expressão de que os nativos digitais são uma espécie de “mutantes”. Supostamente, os seus cérebros são diferentes. O cérebro humano evoluiu lentamente e a sua natureza íntima e fundamentos genéticos não mudarão no tempo de uma geração. No entanto, conforme ilustrei há pouco, o cérebro do nativo digital é diferente porque está exposto a um ambiente menos “nutritivo”. Claro, o cérebro é estrutural e funcionalmente “plástico”, ao adaptar-se e organizar-se de acordo com as experiências pelas quais passa. Mas essa plasticidade não é mágica. O cérebro não se vai desenvolver de maneira ideal em ambientes não ideais. Por exemplo, é óbvio que o nosso organismo se adapta à altitude. No entanto, não funciona tão bem a 7000 metros como a 200 metros. O padrão com os ecrãs é similar. O cérebro funciona e cresce, mas não com a eficiência que deveria devido à pobreza do ambiente digital no qual está imerso.

Há pouco referiu os jornalistas num contexto menos abonatório. A comunicação social também contribui para criar este mito de um novo cérebro?

Claro. Uma experiência realizada por John Bohannon [jornalista e cientista norte-americano] é muito interessante para destacar o processo que transforma alegações patetas de lobistas em manchetes chamativas. Bohannon, que possui um doutoramento em biologia molecular, realizou uma experiência absurda, ridiculamente frágil nos seus fundamentos e encontrou resultados sem sentido que publicou num jornal pseudocientífico [por 600 euros]. De seguida, o jornalista filiou-se numa instituição fictícia e preparou um comunicado à imprensa com uma mensagem sexy: “o chocolate ajuda a perder peso”. Foi um sucesso internacional, publicado na primeira página de vários meios de comunicação de renome e foi noticiado em mais de 20 países e em meia dúzia de idiomas. A chave, como explicou Bohannon, “é explorar a incrível preguiça dos jornalistas”. Os lobistas da indústria digital conhecem essa realidade muito bem.

Saber se os nossos filhos têm “novos cérebros” é um bom exemplo dentro daquilo que acabei de expor. Há poucos meses, manchetes empolgadas noticiavam, em todo o mundo, que “os videojogos podem aumentar a dimensão do cérebro e as suas conexões”. A informação baseou-se num estudo – bem conduzido – que mostrou algumas mudanças na arquitetura do cérebro em jovens adultos que jogaram Super Mario por, pelo menos, 30 minutos por dia, durante um período de dois meses. A descoberta foi bastante trivial: tudo o que fizer, altera o seu cérebro; isso é conhecido há décadas, mas qualquer coisa que sugira uma influência positiva do videojogo tende a ser apresentada como uma descoberta inovadora. As mudanças localizaram-se em três estruturas específicas envolvidas na memória espacial [armazenamento do mapa do jogo], controlo motor [uso do joystick] e comportamentos aditivos [prazer de jogar]. Esses resultados não têm relação com as incríveis alegações dos media. Este é apenas um exemplo entre dezenas.

Há quem advogue uma escola puramente digital, retirando-lhe o papel dos professores. O que lhe ocorre dizer perante este cenário?

Será que quem advoga esse cenário enviaria os seus filhos para essas escolas? Aparentemente não, se considerarmos o artigo que já citei do The New York Times que sublinha que executivos da indústria digital matriculam os seus filhos em escolas primárias libertas de computadores. Também gostaria de perguntar a esses “defensores” quais são os seus objetivos reais e se estes passam por dinheiro ou por pedagogia? Na verdade, para a maioria dos governos, a questão não é “devemos fornecer aos professores ferramentas educacionais potencialmente úteis?”, mas “podemos economizar dinheiro, substituindo o oneroso tempo humano qualificado por tempo mais barato associado à máquina?”.

Obviamente, muitos países enfrentam uma enorme escassez de professores qualificados. Nesse âmbito, o ensino digital é a melhor solução para resolver o problema. No entanto, conforme demonstrado por um grande número de estudos em grande escala, conduzidos em todo o mundo, incluindo avaliações do PISA, essa solução causa uma queda acentuada no desempenho educacional e um substancial aumento nas desigualdades sociais. Conforme observado recentemente num relatório do PISA, “os professores são o recurso mais importante nas escolas da atualidade”. A França é um exemplo perfeito. Na primavera de 2020, durante a primeira vaga da COVID-19, o governo optou pelo encerramento das escolas. Essa decisão foi anulada após poucas semanas, contra o conselho da maioria dos especialistas em saúde. O Primeiro-Ministro explicou que esta decisão devia ser tomada por se tratar de “um imperativo educacional e de justiça social”. Durante o período de escolaridade digital, a aprendizagem aproximou-se de zero para a maioria das crianças e o impacto foi particularmente lesivo nas crianças em meios desfavorecidos.

Os ecrãs não são boas ferramentas para o sucesso escolar?

Os alunos devem aprender habilidades digitais fundamentais na escola como codificação, uso de software, lidar com a segurança dos dados, etc. Além disso, ninguém argumenta que as tecnologias digitais não podem ser uma ferramenta educacional eficiente, quando usadas por um professor competente no contexto de um projeto educacional estruturado. Mas, esta não é a tendência real como já referi.

Não podemos negar a existência do digital no mundo em que vivemos. Como estabelecer limites à criança sem com isso comprometer a sua literacia digital?  

Ninguém discute que os ecrãs são todos malignos. Isso seria estúpido. No entanto, a possibilidade de utilizações positivas não devem mascarar a realidade sombria que já aqui analisei. Por outras palavras, o que importa não é como a nova geração poderia usar os ecrãs. O que importa é como realmente os usa. Não há absolutamente nenhuma evidência de que não ser exposto a ecrãs com fins recreativos tenha um impacto negativo mínimo. Dito isso, pode ser interessante olharmos para alguns números. Em média, o tempo passado frente a um ecrã recreativo, excluindo os trabalhos de casa e o uso académico, chega a quase três horas por dia em crianças de dois anos, quase cinco horas em crianças de oito anos e mais de sete horas em adolescentes. Isto é uma loucura. Antes dos cinco ou seis anos, a melhor prática é zero ecrãs. Isso não significa que não possa, ocasionalmente, assistir a um desenho animado com os seus filhos. Quanto mais cedo as crianças são expostas, maiores são os impactos negativos e maior o risco de consumo excessivo mais tarde. Após os cinco ou seis anos, se os conteúdos são adaptados, por exemplo não violentos, ansiogénicos e/ou pornográficos, e o sono é respeitado, meia hora por dia não me parece que tenha impacto negativo. Além desse limite, surgem resultados negativos significativos.

Por certo muitos pais que estão a ler esta entrevista concordarão consigo e pensarão: “há uma fórmula para ‘desintoxicar’ os meus filhos dos ecrãs”. O Michel Desmurget tem essa resposta?

Lamento, mas não há uma solução mágica. Porém, uma coisa é certa: as regras são necessárias e, como o provam inúmeros estudos, elas resultam. Mais exatamente, elas apresentam resultados quando são explicadas. Crianças e adolescentes têm de ouvir que os ecrãs recreativos prejudicam o desenvolvimento do cérebro, prejudicam o sono, interferem na aquisição da linguagem, enfraquecem o desempenho académico, prejudicam a concentração e aumentam o risco de obesidade. Em qualquer idade, é mais fácil seguir regras restritivas quando essas regras são explicadas antecipadamente. Entre as regras mais eficientes, podemos citar: estabelecer um limite de tempo diário, controlar os conteúdos e adaptá-los à idade e proibir os ecrãs pela manhã, antes de ir para a escola, também antes do deitar, em contextos sociais, por exemplo as refeições e, sobretudo, no quarto.

Nasceu em 1965, ainda longe de um tempo dominado pelos ecrãs, embora já com a televisão. Via muita televisão?

Nos anos de 1970, a televisão era realmente um meio de comunicação “doloroso” para as crianças, pelo menos em França. Havia apenas dois canais públicos terrivelmente enfadonhos. A transmissão começava por volta do meio-dia e terminava antes da meia-noite. Não havia programas específicos para crianças. Por volta dos anos de 1980, alguns desenhos-animados e séries começaram a aparecer, principalmente nas tardes de quarta-feira, um dia sem aulas, e durante o fim de semana. As coisas realmente dispararam na década de 1990 com a multiplicação dos canais de TV, mas acho que já era tarde para mim. Havia construído outros hábitos e interesses. A resposta à sua pergunta é: não, eu não assistia a muita televisão. Na verdade, quando tinha cinco anos, parti uma perna. O meu pai comprou-me uma televisão, enorme, a ocupar metade da sala de estar. Fiquei super empolgado. Contudo, quando o meu pai ligou o aparelho, tudo o que vi foi uma bandeira da França e uma igreja em homenagem a Charles de Gaulle, que acabara de morrer. Isso durou dias. Após algumas semanas, já ninguém via televisão lá em casa. Uma tia levou o aparelho.

Entrevista concedida por escrito em dezembro de 2021.

Alunos com necessidades educativas especiais: quais os direitos?

Outubro 31, 2022 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Texto da Deco de 18 de outubro de 2022.

Crianças e jovens portadores de deficiência ou problemas de autismo, dislexia, hiperatividade ou outras características que careçam de acompanhamento específico têm direito a apoio na escola. Veja em que consiste a ajuda dada a alunos com necessidades educativas especiais.

Especialista Magda Canas

Editor Alda Mota

Depois de detetados pela família, pela escola ou pelos serviços de Segurança Social, alguns problemas de saúde ou dificuldades de aprendizagem podem abrir portas a medidas de apoio para permitir a participação de todos na vida escolar e garantir, na medida do possível, o sucesso escolar. Veja em que consistem os apoios para alunos com necessidades educativas especiais e como ter acesso.

Quem são os alunos com necessidades educativas especiais?

Os alunos com necessidades educativas especiais (ou NEE) são alunos com algum tipo de dificuldade na aprendizagem ou no acompanhamento do currículo escolar. Não se trata apenas de alunos com deficiência. O conceito abrange também problemas como autismodislexiahiperatividade, entre outras. Estas situações carecem de avaliação precoce e especializada, tendo em conta as características de cada aluno.

De acordo com o relatório do Questionário à Educação Inclusiva 2020/2021, divulgado em junho deste ano, há em Portugal mais de 78 mil alunos com necessidades educativas especiais. A maioria (31,9%) frequenta o terceiro ciclo do ensino básico e apenas 4,4%, a educação pré-escolar.

Escola inclusiva: o que é?

Há muito que se falava em “necessidades educativas especiais”, mas só em 2018 foi publicado o diploma que veio substituir a regulamentação relativa à educação especial que se encontrava em vigor desde 2008. Este reconheceu, finalmente, a mais-valia da diversidade no ambiente escolar e criou mecanismos para ajudar as escolas a lidarem com a diferença e a proporcionar a participação de todos nos processos de aprendizagem, a chamada escola inclusiva.

O conceito de escola inclusiva prevê uma abordagem universal, de acordo com a qual os alunos devem cumprir a escolaridade obrigatória num patamar tão elevado quanto possível, mesmo que, para tal, tenha de haver um acompanhamento técnico e educativo personalizado e diferenciado.

Necessidades educativas especiais: quais as medidas de apoio?

Existem vários níveis de apoio, consoante a idade.

Dos 0 aos 6 anos

A estes alunos aplicam-se as regras do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI), que visa apoiar as famílias mal se deparam com o problema. Os apoios destinam-se às crianças que se encontrem naquela faixa etária, independentemente de estarem ou não a frequentar um estabelecimento de ensino.

O pedido de apoio ao SNIPI pode ser feito:

Quando uma criança acompanhada pela intervenção precoce transita para o ensino básico, os profissionais e a família devem garantir a transição em conjunto. No ato de matrícula, deve ser apresentada à escola toda a documentação relevante, que varia consoante os casos.

A partir dos 6 anos

As medidas variam em função das necessidades educativas definidas pelos professores, depois de ouvidos os encarregados de educação e os técnicos que acompanham o aluno.

Para todos os alunos, incluindo aqueles que carecem de medidas específicas ou adicionais, são adotadas medidas (ditas universais), que visam:

  • a diferenciação pedagógica;
  • a adaptação do material e o enriquecimento curricular;
  • a promoção da sociabilização;
  • promoção do foco académico ou comportamental.

Para cada aluno que revele precisar de um acompanhamento mais individual são delineados:

  • percursos curriculares diferenciados;
  • adaptações curriculares não significativas;
  • apoio psicopedagógico;
  • reforço das aprendizagens;
  • apoio tutorial.

As medidas específicas (chamadas seletivas) podem ser postas em prática com a ajuda de docentes de educação especial, técnicos especializados ou até assistentes operacionais e ainda recorrendo a materiais da própria escola. Em caso de necessidade, o diretor da escola pode requerer mais recursos ao Ministério da Educação.

Em casos excecionais, pode haver lugar a medidas adicionais, tais como:

  • frequência do ano por disciplinas;
  • adaptações curriculares significativas;
  • plano individual de transição;
  • metodologias de ensino estruturado;
  • desenvolvimento de competências de autonomia pessoal e social.

Antecipar ou adiar a matrícula

Uma das soluções que podem ser propostas é o ingresso antecipado em determinado ano ou o adiamento da matrícula. Cabe à equipa multidisciplinar que acompanha o aluno, com a concordância do encarregado de educação, propô-lo ao diretor da escola.

Mais tempo para os testes e adaptação de materiais e espaços

Destacamos algumas das possibilidades de adaptação para alunos com necessidades educativas especiais:

  • disponibilização de enunciados em formatos acessíveis (por exemplo, ampliados para pessoas com baixa visão ou em braille para alunos cegos);
  • tempo suplementar para a realização de provas;
  • leitura dos enunciados;
  • utilização de uma sala separada;
  • código de identificação de cores nos enunciados.

Relatório técnico-pedagógico: para que serve?

A decisão que sustenta a opção por um determinado conjunto de medidas tem por base a análise do relatório técnico-pedagógico que acompanha o aluno.

Cabe aos encarregados de educação, aos serviços de intervenção precoce, aos professores ou aos serviços em contacto com a situação expô-la ao diretor da escola, que tem três dias úteis para pedir o relatório técnico-pedagógico à equipa multidisciplinar que acompanha o aluno.

A escola tem dez dias úteis para pôr em prática as medidas universais, comunicando-as ao professor titular da turma ou ao respetivo diretor, para que a decisão seja comunicada aos encarregados de educação. No que diz respeito às medidas específicas para cada aluno, o prazo é de 30 dias.

Escolas privadas têm apoio?

Sim. As regras relativas aos apoios concedidos para os alunos com necessidades educativas especiais aplicam-se tanto aos agrupamentos de escolas, como às escolas não agrupadas, e ainda às escolas profissionais, à educação pré-escolar e aos ensinos básico e secundário das redes privada, cooperativa e solidária.

Subsídio de educação especial

A pessoa que exerce as responsabilidades parentais de uma criança ou jovem com idade inferior a 24 anos, com deficiência, ou que tenha essa criança ou jovem a cargo, pode requerer o subsídio de educação especial. Trata-se de uma prestação mensal, cujo objetivo é compensar os encarregados de educação pelos encargos relativos ao cidadão com deficiência por eles suportados.

Como pedir?

O pedido do subsídio de educação especial deve ser feito no mês anterior ao início do ano letivo, no caso de o visado frequentar a escola, ou posteriormente, quando a circunstância elegível for detetada.

O pedido pode ser feito nos serviços de atendimento da Segurança Social ou nas Lojas de Cidadão, mediante a apresentação do respetivo formulário, devidamente preenchido e assinado. Nele consta a documentação necessária para a abertura do processo.

A quem se destina?

Para ter acesso ao subsídio de educação especial, é preciso que as crianças ou os jovens cumpram um dos seguintes requisitos:

  • frequentem estabelecimentos de educação especial que impliquem o pagamento de mensalidade;
  • precisem, após a frequência de ensino especial, de ingressar em estabelecimento particular ou cooperativo de ensino regular, por não poderem ou deverem transitar para estabelecimentos públicos de ensino, ou, tendo transitado, necessitem de apoio individual por técnico especializado;
  • tenham uma deficiência que, embora não exigindo, por si, ensino especial, requeira apoio individual feito por técnico especializado;
  • frequentem a creche ou o jardim-de-infância regular como meio específico necessário de superar a deficiência e obter mais rapidamente a integração social.

O subsídio pode ser acumulado com o abono de família para crianças e jovens, a bonificação por deficiência, a prestação social para a inclusão ou a pensão de sobrevivência ou de orfandade. Termina, porém, se o jovem:

  • atingir os 24 anos;
  • deixar de ter deficiência;
  • deixar de frequentar o estabelecimento de ensino ou de receber o apoio do técnico especializado.

Qual o valor do subsídio de educação especial?

O valor do subsídio mensal tem em conta o custo real da educação especial por criança ou jovem com deficiência e pode variar consoante os rendimentos do agregado familiar:

  • corresponde à mensalidade dos estabelecimentos de educação especial fixada por portaria, deduzido o valor da comparticipação familiar, no caso de frequência de estabelecimento de educação especial;
  • é igual à diferença entre a mensalidade da escola e a comparticipação familiar, mas não pode exceder o valor máximo da mensalidade correspondente à modalidade de externato, no caso de apoio individual por técnico especializado. Em casos excecionais, o subsídio pode atingir este valor, se a situação da criança ou jovem exigir simultaneamente a frequência de estabelecimento de educação especial e normal, ou a frequência deste com apoio individual.

Eventuais falsas declarações ou falta de comunicação relativa à alteração da situação da criança ou jovem que levou ao pedido do subsídio podem ser sancionadas a título de contraordenação.

Papel da família na educação inclusiva

Há oito princípios subjacentes às regras do ensino especial:

  1. educabilidade universal. Todos os alunos têm capacidade de aprendizagem e de desenvolvimento educativo;
  2. equidade. Todos os alunos devem ter acesso aos apoios necessários;
  3. inclusão. Deve ser garantido o direito de acesso e participação na escola;
  4. personalização. O planeamento educativo deve ser centrado no aluno;
  5. flexibilidade. Há uma gestão flexível do currículo, dos espaços e dos tempos escolares;
  6. autodeterminação. Deve ser respeitada a autonomia pessoal;
  7. envolvimento parental. É defendido o direito de os encarregados de educação participarem na educação e serem informados;
  8. interferência mínima. A intervenção técnica e educativa deve ser implementada apenas pelas entidades cuja ação seja necessária, com respeito pela vida privada dos alunos.

papel da família passa por garantir o acesso à escola e aos recursos necessários para a frequentar, por estar presente e manter-se informada, bem como acompanhar o aluno no seu percurso escolar, tendo em conta a sua individualidade e a abordagem técnica e educativa escolhida. Compete também aos encarregados de educação transmitir aos professores e demais profissionais as necessidades do aluno, para que, em conjunto, se possa encontrar a melhor resposta.

Os encarregados de educação têm o direito e o dever de participar e cooperar ativamente em tudo o que se relacione com a educação do seu filho ou educando, bem como aceder a toda a informação do processo individual do aluno, designadamente no que diz respeito às medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão.

Necessidades de saúde especiais

Além das necessidades educativas especiais, também estão previstas necessidades de saúde especiais. Trata-se de um apoio, à partida sustentado por parecer médico, para os alunos que padeçam de problemas de saúde física e mental, com impacto na funcionalidade, que causem limitações acentuadas em qualquer órgão, e impliquem irregularidade na frequência escolar ou possam comprometer o processo de aprendizagem.

O apoio aos alunos com necessidades de saúde especiais visa assegurar o cumprimento do direito de acesso à educação. Pode, por exemplo, traduzir-se na atribuição de tecnologias de apoio (as chamadas ajudas técnicas), auxílio na alimentação escolar, adaptação dos espaços, transporte escolar, entre outros tipos de auxílio.

 

 

Mesa Redonda “PHDA da criança ao adulto” 4/5 novembro em Carcavelos

Outubro 30, 2022 às 4:00 pm | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário

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O seu filho sabe mesmo estar online em segurança? Ponha-o à prova num quiz

Outubro 29, 2022 às 4:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 24 de outubro de 2022.

Desafio: São várias as iniciativas que a Associação Portuguesa de Bancos vai ter em curso ao longo desta Semana de Formação Financeira, uma delas é um teste à literacia digital dos jovens portugueses.

Acha mesmo que os seus filhos são uns ases da navegação online e que os piratas não os apanham? Que criam passwords tão fortes que são à prova de qualquer hack e não vão ser tão ingénuos que sejam apanhados por links suspeitos de estranhos nas redes sociais? Ou que não descarregam conteúdos nos mails só porque lá diz “clica aqui”? Então deixe-os provar a sua mestria testando a sua literacia financeira num quiz sobre segurança online que a Associação Portuguesa de Bancos (APB) preparou para jovens portugueses. O desafio é apenas uma das iniciativas promovidas no âmbito da Semana da Formação Financeira que começa hoje e decorre até 31 de outubro, integrada no Plano Nacional de Formação Financeira, de que a APB é parceira.

A ideia foi aproveitar o facto de outubro ser também o Mês Europeu da Cibersegurança e “aliar a promoção da formação financeira e digital numa única iniciativa”, de acordo com Rita Machado, responsável pelo “Saber de Contas”, projeto de Educação Financeira da APB.

A campanha “Sabes estar online em segurança?” irá decorrer no Facebook Instagram do Saber de Contas, e os jovens internautas têm até à próxima segunda-feira para mostrarem o que valem. O quiz vai desafiá-los a testarem os seus conhecimentos de cibersegurança, com questões, como: o que é phishing? Que dados não devem colocar nas redes sociais? Que cuidados devem ter quando criam as suas passwords? Como identificar se um site é seguro?

Na quinta-feira, 27 de outubro, no entanto, este quiz vai ser especial para os alunos do 3.º ciclo do Agrupamento de Escolas Fernando Namora, na Amadora: assumirá um formato presencial, a partir das 14.30.

A ajudar neste quiz presencial vai estar decerto Fátima Rodrigues, Professora de Geografia do Agrupamento Fernando Namora e participante no projeto Educação Financeira da APB já vai para cinco anos. Quanto aos seus alunos das Escolas onde este ano está colocada, Fátima Rodrigues garante que relativamente à cibersegurança “há muita preocupação e, no geral, eles já estão muito predispostos para este tipo de cuidados de informação, ou seja, não é um tema desconhecido.”

“[A Literacia Financeira] é um tema que eu considero que é fundamental para a preparação da sociedade que vem a seguir.”

A docente conta que todos conhecem uma história de um familiar ou um amigo que já passou por um situação de fraude online e até têm cuidado, mas há uma situação de exceção. “Há uma prática péssima, que passamos a vida a lembrá-los que eles não devem ter: eles jogam entre eles e, muitas vezes, partilham os dados da conta com amigos, para os que têm teoricamente mais jeito fazerem com que eles subam nos níveis do jogo. A verdade é que, às tantas, várias pessoas têm acesso à mesma conta e depois eles dizem que as contas são hackeadas, acabam por perder as contas que tinham e alguns deles os pais até já tinham comprado lá o que eles chama as skins e umas coisas para o jogo.”

Fátima Rodrigues conta que muitas vezes é por aqui que começa a “educação” da cibersegurança, porque “é aqui que mais lhes dói”, diz.

Uma semana de atividades

Nem só de cibersegurança será feita a Semana da Formação Financeira que hoje começa. A iniciativa, que anualmente é promovida pelos supervisores financeiros (Banco de Portugal, Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) e pelos parceiros do Plano Nacional de Formação Financeira, entre os quais a APB, tem por objetivo sensibilizar a população para a importância da formação financeira.

Por isso, as atividades realizadas são dirigidas a diferentes públicos-alvo, nomeadamente alunos de todas idades, professores e outros formadores, gestores de micro e pequenas empresas, seniores, grupos vulneráveis, jogadores de futebol, psicólogos e população em geral.

A APB é parceira do Plano Nacional de Formação Financeira que, desde que foi criado, em 2011, constituiu um Grupo de Trabalho interno dedicado ao tema e que tem vindo a desenvolver um conjunto de iniciativas visando o aumento dos níveis de literacia financeira em Portugal. Um dos seus principais alvos tem sido os jovens em idade escolar.

“É um tema que eu considero que é fundamental para a preparação da sociedade que vem a seguir”, afirma Fátima Rodrigues. E conta histórias que se passaram consigo, enquanto professora de Cidadania e Geografia lecionando literacia financeira, que deram outra perspetiva aos alunos de todas as idades.

“É possível desenvolver atividades ligadas a simulação, fazer role play de situações de gestão de orçamentos”, diz, “até para eles se conseguirem colocar no papel dos pais e verem muitas vezes as dificuldades do que é a gestão do orçamento familiar, das quantidades: acham que compram uma caixa de cereais ou um frango e dá para o mês ou para uma semana para uma família inteira”.

Também é lançado o desafio de fazerem compras e irem ver quanto custa o quilo e não a unidade e, conta Fátima, é engraçado ver como os jovens, “depois de perceberem como funciona, já fazem escolhas diferentes das iniciais, porque afinal o que escolheram não era o mais económico ou o mais competitivo”.

Com o apoio e os materiais fornecidos pela APB, Fátima Rodrigues também costuma ajudá-los a compreender a inflação, a criar poupanças e, às tantas, já são eles que perguntam “o que é o salário bruto, o salário líquido, qual é a diferença?”

Por tudo isto, diz Fátima Rodrigues, “o projeto Educação Financeira da APB é fundamental pelas oportunidades que dá as crianças, pelos materiais que disponibiliza aos professores, pela oportunidade até de contacto entre várias escolas”.

 

ONU revela retrocessos na saúde de mulheres, crianças e adolescentes

Outubro 28, 2022 às 8:00 pm | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Notícia da ONU News de 18 de outubro de 2022.

Novos dados lançados na Cúpula Mundial da Saúde, em Berlim, mostram que Covid-19, conflito e crises climáticas pioram as perspectivas da infância e adolescência e nos direitos das mulheres; 10,5 milhões de crianças perderam um pai, mãe ou cuidador para a pandemia.

Um novo relatório da ONU mostra que, globalmente, a saúde de mulheres e crianças sofreu com os impactos do conflito, da pandemia de Covid-19 e das mudanças climáticas.

Os dados apresentados em “Protect the Promise”, ou “Proteja a Promessa” mostram uma regressão crítica em praticamente todas as principais medidas de bem-estar infantil e muitos indicadores-chave dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS.

Crianças sem vacina e fora da escola

Desde o último relatório publicado em 2020, insegurança alimentar, fome, casamento infantil, riscos de violência por parceiros íntimos, depressão e ansiedade na adolescência aumentaram.

No ano passado, cerca de 25 milhões de crianças não receberam vacinas, 6 milhões a mais do que em 2019, aumentando o risco de contrair doenças mortais e debilitantes.

Milhões de alunos perderam aulas durante a pandemia, muitos por mais de um ano. Cerca de 80% das crianças em 104 países e territórios tiveram perda de aprendizado devido ao fechamento das escolas. Desde o início da pandemia, 10,5 milhões de crianças perderam um pai, mãe ou cuidador para a Covid-19.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres disse, que no centro da “promessa não cumprida está o fracasso em abordar as enormes desigualdades na raiz das crises globais, da pandemia de Covid-19 aos conflitos e à emergência climática”.

Diferença de expectativa de vida por regiões

O estudo mostra que crianças e adolescentes enfrentam chances variadas de levar uma vida saudável simplesmente por causa de onde nasceram, a exposição a conflitos e a situação financeira de suas famílias.

Uma criança em um país de baixa renda, por exemplo, tem uma expectativa média de vida de cerca de 63 anos, já em um país de alta renda esse número sobe para 80. Essa grande lacuna de sobrevida de 17 anos mudou pouco nos últimos anos.

Em 2020, 5 milhões de crianças morreram antes de completar 5 anos, principalmente por causas evitáveis ​​ou tratáveis. Enquanto isso, a maioria das mortes maternas, infantis e de adolescentes e natimortos está concentrada em apenas duas regiões, África Subsaariana e Sul da Ásia.

Crianças de países de renda baixa são as que mais sofrem

Mais de 45 milhões de menores passaram por desnutrição aguda em 2020, que inclui risco de morte, atrasos no desenvolvimento e doenças. Quase três quartos dessas crianças vivem em países de renda média-baixa.

Um número impressionante de 149 milhões de crianças tiveram problemas de crescimento no ano da pandemia.  A África é a única região onde o número de crianças afetadas pelo atraso no crescimento aumentou nos últimos 20 anos, de 54,4 milhões em 2000 para 61,4 milhões em 2020.

Os seis países com o maior número de pessoas deslocadas internamente, Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Sudão, Síria e Iêmen também estão entre os 10 principais países com insegurança alimentar.

Saúde materna e conflitos

Uma mulher na África Subsaariana tem hoje cerca de 130 vezes mais risco de morrer durante a gravidez ou parto do que uma grávida na Europa ou na América do Norte.

A cobertura de cuidados pré-natais, assistência qualificada ao parto e cuidados pós-natais está longe de alcançar todas as mulheres em países de baixa e média rendas, deixando-as em alto risco de morte e invalidez.

Milhões de crianças e suas famílias estão passando por problemas de saúde física e mental devido aos recentes desastres humanitários no Afeganistão, Etiópia, Paquistão, Somália, Ucrânia e Iêmen.

Em 2021, um recorde de 89,3 milhões de pessoas em todo o mundo foram expulsas de suas casas por guerra, violência, perseguição e abuso de direitos humanos.

O relatório defende que os países continuem investindo em serviços de saúde para enfrentar todas as crises e insegurança alimentar e capacitar mulheres e jovens em todo o mundo.

O documento é publicado por parceiros globais, incluindo OMS, Unicef, Unfpa, Aliança para Saúde Materna do Recém-nascido e da Criança e a iniciativa Contagem Regressiva para 2030, como um resumo semestral do progresso em resposta à ONU Estratégia Global Cada Mulher Cada Criança do secretário-geral para a Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente.

 

Violência escolar tende a subir após pandemia

Outubro 28, 2022 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Correio da Manhã de 15 de outubro de 2022.

Fármaco para a hiperatividade foi o mais prescrito nos 10-14 anos

Outubro 28, 2022 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Jornal de Notícias de 13 de outubro de 2022.

Ondas de calor afetam 559 milhões de crianças em todo o mundo

Outubro 27, 2022 às 8:00 pm | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Notícia da ONU News de 25 de outubro de 2022.

Unicef adverte que a alta frequência destes episódios deve expor 2,02 bilhões de crianças ao problema até 2050; estudo que cita o Brasil pede ação urgente para aumentar o financiamento para adaptação; objetivo é proteger crianças e comunidades vulneráveis ​​do agravamento das ondas de calor e outros choques climáticos.

Cerca de 559 milhões de crianças em todo o mundo estão expostas a altas frequências de ondas de calor, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.

A agência alerta que, até 2050, todos os habitantes do planeta nessa faixa etária estarão expostos a ondas de calor mais constantes, duradouras e mais severas.

Diferentes cenários

Na preparação da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP27, no Egito, a agência lançou a análise com novos dados sobre o impacto até 2050. O estudo revela que todas as 2,02 bilhões de crianças estarão expostas a altas frequências de ondas de calor, independentemente do cenário a ser alcançado.

De acordo com o relatório O Ano mais frio do resto de suas vidas: Protegendo as crianças dos impactos crescentes das ondas de calor23% das crianças já estão afetadas pelas ondas de calor em todo o mundo. Mas em cenário de baixa emissão de gases de efeito estufa em 2050, com um aquecimento estimado de 1,7 graus, o total subirá para 1,6 bilhão de crianças.

Já em um “cenário de emissão de gases de efeito estufa muito alto”, com um aquecimento estimado de 2,4 graus em 2050, serão 1,9 bilhão de crianças.

O Brasil aparece nos exemplos globais de calor deste ano. Na região centro-oeste ocorreram temperaturas extremamente altas por vários dias em agosto. No estado de Mato Grosso, as altas atingiram 41°C, ou cerca de 7°C acima do normal. A situação causou 184 mil focos de incêndios florestais, 75 mil dos quais na Amazônia brasileira.

Na Ásia, Índia e Paquistão houve uma onda de calor extremo desde o final de março com temperaturas acima de 40°C. Além de vítimas humanas, ocorrem falhas de energia generalizadas, incêndios e perdas de colheitas.

Estados Unidos

No norte da África aumentam os incêndios florestais nos últimos anos devido às temperaturas extremamente elevadas. Um exemplo do efeito humanitário desses eventos ocorre na Argélia. Pelo menos 44 pessoas morreram,  mais de 250 ficaram feridas e 500 famílias foram deslocadas em agosto.

Nos Estados Unidos, quase todas as regiões tiveram temperaturas acima da média em 2022. Setembro começou com mais de 61 milhões de pessoas sob alertas, vigilâncias e avisos ativos de calor extremo. No país, as ondas de calor matam mais pessoas do que qualquer outro desastre relacionado ao clima.

O Unicef destaca como as ondas de calor afetam mais crianças do que adultos: bebês e crianças pequenas não são capazes de regular sua temperatura corporal como os adultos, ficando em maior perigo quando expostos a altas temperaturas.

O potencial de contrair lesões está mais presente nas crianças, por estas passarem mais tempo ao ar livre do que os adultos para brincar, praticar esportes e outras atividades, além dos riscos sociais e educacionais.

Casos de alergias

Entre as ameaças para a saúde física estão o aumento de doenças respiratórias crônicas, asma e doenças cardiovasculares, além do desenvolvimento de casos de alergias, diarreia, desnutrição, baixo peso de nascimento, insolação e estresse térmico.

Existe ainda um elevado índice de exposição a doenças transmitidas por mosquitos, incluindo a dengue.

Para o Unicef, essas descobertas ressaltam que é urgente adaptar os serviços essenciais para as crianças à medida que aumentam os impactos do aquecimento global.  O relatório defende a mitigação contínua, para evitar os efeitos de episódios de ondas de calor mais longas, quentes e temperaturas extremas mais elevadas.

A agência da ONU enfatiza a importância de medidas “urgentes e dramáticas” de mitigação de emissões para conter o aquecimento global e proteger vidas.

 

Curso (online) em Processo de Promoção e Proteção na CPCJ, 3 a 28 de novembro

Outubro 27, 2022 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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