Mais de metade dos crimes sexuais contra menores em 2023 foram cometidos por familiares

Maio 9, 2024 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 6 de maio de 2024.

Os números chegam a cerca de 65% quando incluídas outras pessoas do círculo próximo das crianças, como vizinhos, professores ou treinadores, avança diretor nacional adjunto da PJ. Primeiro trimestre deste ano indicia um aumento de casos face ao ano anterior.

No que toca ao abuso sexual de crianças e jovens, o maior inimigo continua a estar “dentro de portas”. Mais de metade (cerca de 51%) dos crimes sexuais contra menores investigados pela Polícia Judiciária em 2023 foram cometidos no seio da família, segundo dados avançados ao Diário de Notícias pelo diretor nacional adjunto da PJ, Carlos Farinha. Se acrescentarmos a esses os casos a envolver vizinhos, professores, treinadores ou outras pessoas dos círculos habituais das crianças, constata-se que cerca de 65% da criminalidade sexual contra menores no ano passado aconteceu em contexto de proximidade.  

“Há uma percentagem muito elevada de crimes encetados em contexto de proximidade, seja familiar, geográfica ou funcional. Mais de metade dos crimes acontecem em contexto familiar, seja o contexto familiar direto, os próprios pais, ou indireto mas próximo, como sejam avós ou tios. Depois há o chamado grupo de proximidade geográfica, como vizinhos, e o grupo de proximidade funcional, onde se incluem professores, treinadores, orientadores, líderes de grupo, etc. Ou seja, na maior parte dos crimes existe uma relação prévia à situação abusiva”, descreve o diretor nacional adjunto da PJ, responsável pelo Observatório da Criminalidade Sexual, inserido no seio daquela polícia.

E se a criminalidade sexual, no seu todo (adultos e crianças), representa já cerca de 10% dos crimes investigados pela PJ, “65% a 70% desses casos dizem respeito a abusos sexuais de menores”, revela. Um tipo de crime que, admite, “tem uma dimensão preocupante, que nos envergonha e que gostávamos de ver reduzida substancialmente”.

Nos últimos dois anos, adianta, a média do número de menores vítimas de crimes sexuais “andou na ordem dos 2300 por ano” e, segundo informação disponibilizada pela Polícia Judiciária em relação ao primeiro trimestre de 2024, ainda sem dados oficiais consolidados, a tendência registada denota um aumento relativamente a período homólogo do ano passado.  

“A criminalidade sexual que investigámos andará muito próxima da criminalidade sexual total que está sinalizada pelo sistema, porque todos os crimes de natureza sexual são investigados pela PJ. Outra questão é saber se esta realidade compreende cifras negras muito acentuadas”, diz o diretor nacional adjunto da PJ. Por “cifras negras” entendam-se as “situações que não chegam ao sistema”. “Por exemplo, os crimes sexuais na Igreja estiveram durante muitos anos nas cifras negras, não estavam sinalizados”, ilustra.

Desde 2007, “quando houve alteração da natureza legal do crime de abuso sexual de menores e este passou a ser um crime público”, a investigação de crimes sexuais contra crianças e jovens não carece de queixa, apenas de sinalização pelo sistema. “E obrigatoriamente é aberto processo e investigação criminal”, lembra.

Isso permitiu que as sinalizações destes casos tenham origens cada vez mais diversificadas. “Antigamente, eram reportados sobretudo pelas mães das vítimas menores, por vezes pelos pais. Mas hoje as sinalizações estão muito mais pulverizadas, vêm de todas as partes do sistema”, vinca Carlos Farinha.

 “Desde família a escola, hospitais, vizinhança ou até de forma anónima”, o que alargou os canais de denúncia. A PJ, garante, está “atenta a todas as sinalizações, mesmo que indiquem apenas a possibilidade de crime e não probabilidade de crime. Essa prova depois decorrerá da investigação”. Para ajudar a gerir de forma mais eficiente e rápida as sinalizações recebidas, a PJ está “a desenvolver um instrumento que permita categorizar a perigosidade das sinalizações, uma tabela de risco para caracterizar as situações e as acompanhar melhor”, revela.

Perfil das vítimas e dos abusadores

Carlos Farinha alerta que neste domínio da criminalidade sexual contra menores estão incluídas “vítimas de grupos etários muito baixos”. Cerca de 3% a 5% dos casos dizem respeito a crimes cometidos contra bebés ou crianças até aos três anos. Mas a maioria dos casos ocorre com crianças entre os 8 e os 13 anos. “No perfil das vítimas, há duas características predominantes: o sexo feminino e essa faixa etária dos 8 aos 13.”

Já quanto aos agressores sexuais de menores, embora seja um leque que contempla vários perfis diferentes, o retrato tipo está também identificado: “Tipicamente do sexo masculino e entre os 31 e os 50 anos.” Quanto à estratificação social deste tipo de crime, o diretor nacional adjunto da PJ refere que “há um perfil transversal, não é exclusivo ou maioritário desta ou daquela classe”.

Aumento dos crimes online

Uma tendência evidente nos últimos anos – e que sofreu um aumento exponencial no primeiro ano da pandemia de covid-19, com os confinamentos a que obrigou – é o aumento dos crimes sexuais no ambiente virtual. “Se os abusos cometidos em contexto familiar continuam a ser os predominantes, os crimes no contexto digital têm vindo a ganhar muito terreno”, sublinha Carlos Farinha.

“Há alguns anos esse tipo de situações estava muito circunscrito a imagens de pornografia infantil. Aos poucos isso deixou de ser a ameaça exclusiva, ou principal, e hoje temos uma explosão de casos de partilha de intimidade online por parte dos jovens que podem gerar situações de coação e extorsão”, constata, realçando a massiva utilização das redes sociais por parte de menores que muitas vezes não estão cientes dos “cuidados de utilização a ter” e acabam por ser presas fáceis para “predadores sexuais online”. “Neste ambiente, há também o fenómeno de jogos onde os utilizadores vão sendo seduzidos a conquistar poderes através de partilhas de imagens. E do outro lado, muitas vezes, não está um mero jogador como eles, mas sim um predador sexual”, alerta, realçando a importância da cooperação internacional para detetar em ambiente virtual situações de conteúdos que possam ser considerados pedopornográficos: “Europol, FBI e Polícia brasileira, sobretudo, são parceiros importantes.”

Carlos Farinha apela a pais e educadores para “criarem o mais possível canais de diálogo com os menores, para não os deixar em situações de segredo e silêncio, em circunstâncias de isolamento online, sem acompanhamento vigilante ou atenção aos comportamentos do menor. Esse é o terreno onde se alimentam os casos de abusos”.

Submissão química: cuidado com as bebidas

Outro tipo de criminalidade sexual contra jovens a aumentar de incidência, adverte o diretor nacional da PJ, é “aquilo a que os espanhóis chamam submissão química”. Ocorre sobretudo em “ambientes de festas de jovens e envolve a utilização de substâncias químicas, geralmente colocadas nas bebidas das vítimas com intencionalidade e estratégia”, para deixar as vítimas “num estado de quase inconsciência, em que não têm controlo das suas ações nem da sua vontade”.

Sem avançar números, refere que “tem havido alguns casos e com ligeira tendência de aumento” neste tipo de criminalidade sexual. “É importante os jovens terem controlo constante sobre as bebidas que consomem”, acrescentando que estas situações têm um problema acrescido para investigação, “pois a janela para detetar a presença toxicológica é de apenas algumas horas”. “E com toda a evolução que tem existido na investigação e no contacto com as vítimas sabemos que quanto mais rápido for a sinalização das situações de criminalidade sexual melhor pode ser a investigação. A recolha de indícios e sinais biológicos é muito importante nas primeiras horas.”

Entrevista a Rute Agulhas, psicóloga

“A relação prévia de confiança torna mais difícil às crianças revelarem a agressão”

Nos abusos sexuais de menores, o facto de em grande parte dos casos o perigo estar dentro de portas, no ambiente familiar, leva a que seja mais difícil a vítima expor/denunciar o caso?

Sim, na maior parte das situações o agressor é uma pessoa próxima da criança, com quem esta mantém uma relação de confiança e familiaridade. A existência desta relação prévia de confiança acresce as dificuldades da vítima em revelar, na medida em que também potencia conflitos de lealdade. Para além dos sentimentos de culpa e de vergonha que são muito frequentes nestas situações, as vítimas também receiam eventuais consequências negativas para si mesmas, para terceiros e também para o agressor. 

Como podemos perceber que algum menor está a ser vítima de abuso sexual? A que sinais devemos estar atentos?

No que respeita à sintomatologia do trauma, são frequentes sinais e sintomas persistentes, disruptivos e patológicos, físicos, emocionais, cognitivos e comportamentais. No entanto, importa destacar que muitas crianças são assintomáticas, ou seja, não evidenciam alterações significativas no seu padrão de funcionamento.
A nível físico, destacam-se as alterações nos padrões de sono e alimentares, a inibição/lentidão de movimentos, náuseas, alterações gastrointestinais, arrepios, tensão muscular, tremores, dores no corpo, alterações na forma de respirar, alteração no ritmo cardíaco e tonturas.
A nível emocional surgem frequentemente sentimentos de tristeza, medo, preocupação, culpa, raiva, vergonha e ansiedade. Muitas crianças evidenciam ainda alterações de humor. Do ponto de vista cognitivo, observa-se com elevada frequência uma sensação de desesperança e confusão mental, pensamentos negativos, autocrítica e baixa perceção de controlo e eficácia, a par de dificuldades de atenção e concentração, alterações na memória, dificuldade em tomar decisões e distorções cognitivas. São especialmente frequentes e disruptivas as memórias recorrentes e intrusivas do evento traumático.
Por fim, a nível comportamental surgem frequentemente crises de choro, evitamento de atividades que antes geravam prazer e também de novas atividades, incapacidade em lidar com tarefas diárias, comportamentos de maior passividade ou agressividade, isolamento social e comportamentos autolesivos.

É um tipo de crime mais frequente em algum estratos social ou transversal a todas as camadas sociais?
É transversal às camadas sociais.

Que tipo de impactos/consequências são mais frequentes na vida de uma pessoa que foi abusada sexualmente em criança? 
A violência sexual em crianças tem frequentemente um impacto negativo, a curto, médio ou longo prazo, quer na vítima, quer na sua família e comunidade. As vítimas de violência sexual são, no entanto, um grupo muito heterogéneo, variando entre vítimas assintomáticas (estima-se que as vítimas assintomáticas na infância e adolescência variem entre 10% e 53%) e outras que evidenciam diferentes tipos de sequelas de severidade variável, que podem manifestar-se durante curtos períodos de tempo e resolver-se sem necessidade de intervenção ou, pelo contrário, persistir durante a adolescência e a fase de vida adulta. De uma forma geral, podemos afirmar que o trauma afeta a sensação de segurança, a estabilidade e a confiança, ao mesmo tempo que destrói a compreensão que a pessoa tem do seu meio ambiente. Algumas crianças que vivenciam um evento traumático apresentam apenas alguns sinais ou sintomas passageiros, enquanto outras preenchem critérios de perturbação pós-stresse traumático [PPST]. 

Como se recupera uma criança vítima desta situação?
A intervenção psicoterapêutica com crianças vítimas de violência sexual deve decorrer em paralelo com uma intervenção junto dos pais/cuidadores ou outros elementos do sistema familiar, não agressores, sendo que a capacidade parental em lidar eficazmente com a situação traumática é um forte preditor de resultados positivos após a exposição a um evento traumático. O envolvimento parental ativo é uma variável mediadora do processo de ajustamento das crianças e permite-lhes sentirem-se acreditadas, reconhecidas e apoiadas como vítimas, recuperando a confiança nos adultos e no meio envolvente. 

Crianças e jovens aliciados por “firmas” criminosas. Delinquência juvenil e grupal continua a subir

Maio 7, 2024 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 3 de abril de 2024.

Valentina Marcelino

O mais exaustivo retrato sobre a criminalidade jovem, concluído no âmbito da Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Violenta, revela uma realidade perturbadora sobre o que falha e é preciso mudar para prevenir este descaminho. 64 crianças com menos de 12 anos integraram gangues.

É nossa responsabilidade impedir que os nossos jovens sejam capturados pelos gangues” – estas palavras da ex-secretária de Estado da Administração Interna, Isabel Oneto, serviram tanto de inspiração, como de motor, para o trabalho sem precedentes desenvolvido pela Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Violenta (CAIDJCV), que Oneto coordenou, criada em reação à escalada de criminalidade a envolver gangues juvenis, um fenómeno que tem causado especial alarme público desde 2021. Em vez da simplista resposta securitária, o Governo escolheu juntar todas as entidades e especialistas, e ouvir até o que os jovens tinham a dizer sobre um sistema que não consegue impedir que sejam “capturados pelos gangues”.

Segundo o relatório final a que o DN teve acesso, e foi esta quarta-feira publicado na página da internet do Ministério da Administração Interna, foram feitas “audições setoriais que abrangeram 100 entidades distintas e 163 profissionais/especialistas e jovens, a realização de 12 entrevistas a jovens a cumprir medida de internamento em centro educativo, e seus familiares, oito audições em plenário envolvendo 17 especialistas, e, ainda, análises bibliográfica e estatística de dados provenientes de diversas fontes”.

O novo Governo vai ter uma base de trabalho que nenhum outro teve para enfrentar este fenómeno. Os problemas foram exaustivamente identificados em todas as áreas de intervenção, com base em testemunhos de todos os profissionais que conhecem e acompanham estes jovens e que, em nome do Estado, devem e querem cuidar de os colocar num caminho sem crimes. E não há tempo a perder.

As estatísticas, ainda provisórias (os números definitivos só vão estar  disponíveis no Relatório Anual de Segurança Interna, cuja publicação ainda não foi anunciada), indicam que em 2023 foram registadas pelas Forças de Segurança 18 406 ocorrências de Delinquência Juvenil – crimes cometidos por jovens com idades entre os 12 e os 16 anos – o que corresponde a um aumento de 8,2% face a 2022.

A Criminalidade Grupal – crimes praticados por três ou mais suspeitos, independentemente da idade – acompanhou esta tendência de crescimento: 6757 ocorrências, um quantitativo que corresponde a uma subida de 14,8% em relação ao ano anterior.

Menos homicídios consumados e tentados

Ainda assim, é salientado neste documento, “apesar dos aumentos verificados em 2019, 2022 e 2023 ao nível da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Grupal os quantitativos em 2023 são claramente inferiores” aos registados até 2015 (inclusive), no primeiro caso, e até 2012 (inclusive) no segundo.

Como atenuante desta escalada geral de casos, os números da Polícia Judiciária (PJ) indicam que, no que diz respeito aos crimes mais violentos, nomeadamente  homicídios tentados e consumados tendo jovens como autores, depois dos números assustadores de 2022 , os valores voltaram aos dos anos anteriores. Um levantamento da Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo – a maior da PJ – demonstra que em 2023 se  verificaram nove casos de homicídios tentados e nenhum consumado em contexto grupal/juvenil, enquanto em 2022 se haviam verificado 24 (21 tentados e 3 consumados). “Se em 2022 o peso dos homicídios tentados e consumados sucedidos no contexto grupal/juvenil no volume global de casos de  era de 18% , em 2023 o seu peso diminuiu para 6%”, é escrito.

A CAIDJCV conseguiu aprofundar a análise dos dados do ano de 2022, tendo concluído que nesse ano, cerca de 25% das ocorrências de Criminalidade Grupal “envolveram pelo menos uma criança/jovem com idades entre os 12 e os 20/21 anos, o que correspondeu a 2704 crianças/jovens envolvidos, dos quais 903 entre os 12 e 15/16 anos, e 29 com menos de 12 anos”.

Estes dados representam um aumento muito significativo das ocorrências em relação a 2019 (ano pré-pandemia), designadamente ao nível daquelas que envolveram menores entre os 12 e os 15/16 anos (+73% na GNR e +6,5% na PSP).

Também neste ano, os 7756 inquéritos tutelares educativos (ITE) – para menores de 16 anos – iniciados representaram um aumento de 9% face a 2019, representando o maior valor observado desde 2015. Em 2023 continuou a verificar-se um incremento no número de ITE (7333 até 13/11/2023, o que reflete um aumento de 11% face ao período homólogo de 2022).

Ainda em relação a 2022, os crimes pelos quais mais jovens entre os16 e 20 anos foram condenados foram: condução sem habilitação legal, roubo/violência, furto qualificado, ofensa à integridade física simples/qualificada e tráfico de quantidades diminutas/menor gravidade/consumo de drogas.

Uma caracterização/perfil feita aos jovens a cumprir pena em estabelecimentos prisionais revela, por exemplo, que em mais de metade das ocorrências houve “emprego de tortura física, psicológica ou financeira ou ameaças de morte à vítima ou familiares” e que foi “empregue violência de forma “gratuita” ou provocado dano deliberadamente à propriedade, além do que seria necessário para cometer o crime”.

“Quando são ‘apanhados’ já é tarde”

Mas este relatório não se resume a números e é nas descrições de testemunhos dos muitos profissionais no terreno que foram ouvidos que nos deparamos com a mais crua realidade.

“Foi abordada a existência das designadas ‘firmas’ (termo usado pelos jovens para indicar grupos criminosos coordenados por adultos que apresentam um nível de organização similar ao de uma ‘empresa’, fornecendo muitas vezes alojamento, alimentação aos jovens), e que se constituem como fortes componentes de aliciamento dos jovens (quer prévio, quer aquando da reintegração, após saída de um Centro Educativo)”, é escrito.

No relato, que surge anónimo, é sublinhado que “muitas vezes estas organizações estão associadas à Criminalidade Grupal e com recurso ao meio digital, fatores a ter em conta nas intervenções”.

Foi ainda reportado por especialistas o seguinte: “Os jovens estão atualmente mais ‘duros’, “quando são ‘apanhados’ já é tarde; poderia ser mais eficaz se os jovens fossem detetados mais cedo”; “firmas dão estatuto, existem papéis diferenciados”; “mais difícil atualmente ‘chegar’ aos jovens e trabalhar com eles, maior dificuldade de vinculação ao adulto, dificuldade de aceitação da autoridade, muito pouco disciplinados”; “jovens entregues a si próprios, mães trabalham muito, pares dão-lhes a relevância necessi tada”; “importante dar apoio às famílias e aos jovens para evitar-se chegar à sinalização”;  “maior parte vai à escola, mas não vai às aulas”; “chegam cada vez mais novos ao Centro Educativo exigem outras aptidões por parte dos técnicos”; “importante dar mais atenção ao meio digital”; “falta de afeto – situação base é esta, falta de afeto e carinho”; “jovens em Centro Educativo são os jovens em que tudo falhou… o que marca estes jovens no seu percurso é o abandono… múltiplas falhas, em múltiplos contextos…não existe uma intervenção sistémica e sistematizada sobre estes jovens…intervenção tardia… não há um diagnóstico global e integrado…”.

Mais suspeitos de crimes com menos de 12 anos

De salientar que, com os dados já  analisados de 10 meses de 2023, o número de crianças com menos de 12 anos envolvidas em criminalidade grupal, subiu de 29, no total do ano de 2022, para 64 (dados só diferenciados pela PSP e GNR). Para qualquer das faixas etárias, de janeiro a outubro de 2023 o número de ocorrências registadas “superou o respetivo valor para o ano completo de 2022,

Observando-se que 2023 apresenta os valores mais elevados desde 2019 (inclusive), o que indicia um aumento de ocorrências de Criminalidade Grupal envolvendo crianças e jovens, nomeadamente nos últimos quatro anos”.

Assinala a Comissão que “estes dados permitem refletir, de certo modo, a existência de uma “escalada” em termos de gravidade da violência, das ocorrências e de indicadores de vulnerabilidade social desde os jovens em AE, aos jovens em ICE, aos jovens acompanhados pelas Equipas de Reinserção Social (geralmente no contexto de uma pena de prisão suspensa na sua execução), até aos jovens em estabelecimento prisional ou com vigilância eletrónica”.

Salienta também que “a análise sobre estes diferentes grupos etários e sob medidas e penas diversas, reflete também a existência de diversos momentos no desenvolvimento dos jovens que podem constituir-se como oportunidades cruciais para a intervenção onde pode (ou não) ser efetivamente “feita a diferença”, de modo a prevenir que crianças e jovens evoluam em trajetórias desviantes e criminais”.

Algumas recomendações

Reforçar a capacidade de deteção, sinalização e intervenção ao nível de crianças e jovens em risco nas escolas;

> Adotar as medidas necessárias, nomeadamente ao nível de recursos humanos, de modo que decisões ao nível dos inquéritos tutelares educativos (ITE) sejam tomadas em data o mais próxima possível da ocorrência dos factos;

> Prever que as Forças de Segurança sejam notificadas das decisões respeitantes a jovens que tenham sido objeto de PTE que apresentem no seu histórico residência na sua área de responsabilidade;

Reforçar a sensibilização junto da magistratura judicial para que a suspensão de execução de pena de prisão seja cumprida recorrendo à frequência de programas que impliquem uma participação regular dos jovens condenados;

Reforçar a capacidade de deteção, sinalização e intervenção ao nível de crianças e jovens em risco nas escolas;

> Adotar as medidas necessárias, nomeadamente ao nível de recursos humanos, de modo que decisões ao nível dos inquéritos tutelares educativos (ITE) sejam tomadas em data o mais próxima possível da ocorrência dos factos;

> Prever que as Forças de Segurança sejam notificadas das decisões respeitantes a jovens que tenham sido objeto de PTE que apresentem no seu histórico residência na sua área de responsabilidade;

Reforçar a sensibilização junto da magistratura judicial para que a suspensão de execução de pena de prisão seja cumprida recorrendo à frequência de programas que impliquem uma participação regular dos jovens condenados;

Perfil jovens (16-21) condenados

95% são rapazes, sendo a idade média à data da ocorrência de 18 anos;

Pelo menos uma ocorrência de roubo estava presente em 56% dos casos e o homicídio voluntário em 11%;

> Em 36% dos casos não houve lesões para as vítimas ou verificaram-se ferimentos ligeiros, no entanto para 15% dos casos as consequências para as vítimas foram ferimentos graves ou a morte;

Cerca de 34% destes jovens tinham tido processo tutelar educativo (PTE) anterior;

> 53% destes jovens apresentam problemas relacionados com o consumo de droga, 15% problemas relativos ao consumo de álcool e que em quase um quinto dos casos estavam, aquando da ocorrência, sob efeito de alguma destas substâncias;

Para alguns jovens existia informação sobre pertença a gangues/grupos juvenis organizados e violentos; mais de 50% destes jovens estiveram envolvidos (em pelo menos) uma ocorrência em que a vítima se encontrava indefesa (geralmente por via da idade avançada), houve utilização de arma ou outro instrumento perigoso;

mais de metade das ocorrências houve “emprego de tortura física, psicológica ou financeira ou ameaças de morte à vítima ou familiares” e que foi “empregue violência de forma “gratuita” ou provocado dano deliberadamente à propriedade, além do que seria necessário para cometer o crime”. 

Recomendações da Auditoria “Abandono Escolar Precoce”

Abril 30, 2024 às 6:00 am | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Crimes cometidos por crianças duplicam num ano

Abril 17, 2024 às 6:00 am | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Notícia do Expresso de 3 de abril de 2024.

3 vítimas de violência doméstica por hora

Abril 16, 2024 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Correio da Manhã de 8 de abril de 2024.

Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e Criminalidade Violenta – Relatório Final

Abril 15, 2024 às 12:00 pm | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Indicadores das Desigualdades Sociais – Relatório do Grupo de Trabalho

Abril 4, 2024 às 8:00 pm | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Mortalidade Infantil atinge recorde de baixa de 4,9 milhões em 2022

Abril 3, 2024 às 8:00 pm | Publicado em Relatório | Deixe um comentário
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Notícia da ONU News de 18 de março de 2024.

Em relatório, ONU celebra queda mas alerta que desafios persistem; embora países como Camboja e Ruanda tenham reduzido em mais de 75%, milhões ainda morrem por causas evitáveis; desigualdades regionais e desafios socioeconômicos são destacados, exigindo investimentos em saúde e melhoria na qualidade dos serviços.

A ONU anunciou um marco histórico na luta contra a mortalidade infantil, com as últimas estimativas revelando que o número de crianças que morrem antes dos cinco anos caiu para 4,9 milhões em 2022. Os dados do Grupo Interagência da ONU para Estimativa da Mortalidade Infantil mostram uma queda de 51% na taxa global desde 2000.

Durante este período, países como Camboja, Malaui, Mongólia e Ruanda alcançaram uma redução na taxa de mortalidade infantil de mais de 75%. A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, elogiou o compromisso dedicado de parteiras, profissionais de saúde e agentes comunitários, fundamentais para esse notável declínio.

Sobrevivência infantil

Apesar desses ganhos, o relatório observou que ainda há um longo caminho a percorrer para acabar com todas as mortes evitáveis de crianças e adolescentes, pois milhões continuam falecendo de causas tratáveis, incluindo complicações de parto prematuro, pneumonia, diarreia e malária.

A maioria dessas mortes ocorre na África Subsaariana e no sul da Ásia, destacando as disparidades regionais no acesso à saúde de qualidade. O estudo também observou que a instabilidade econômica, conflitos, mudanças climáticas e impacto da pandemia da Covid-19 continuam a prejudicar o progresso e a exacerbar as disparidades existentes nas taxas de mortalidade.

O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, destacou que embora o progresso seja bem-vindo, milhões de famílias ainda sofrem com a perda de uma criança anualmente, muitas vezes nos primeiros dias após o nascimento. 

Para ele, o local onde uma criança nasce não deve determinar se ela viverá ou morrerá. “É fundamental melhorar o acesso a serviços de saúde de qualidade para todas as mulheres e crianças, inclusive durante emergências e em áreas remotas”, avalia o chefe da agência de saúde da ONU.

Profissionais essenciais na linha de frente

Para melhorar o acesso a serviços de saúde de qualidade e salvar a vida de crianças, é necessário investir em educação, empregos e condições de trabalho decentes para que os profissionais de saúde ofereçam cuidados primários, inclusive os agentes comunitários de saúde.

Juan Pablo Uribe, diretor global de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial, enfatizou a necessidade de acelerar o progresso. “Devemos garantir que todas as crianças tenham acesso aos mesmos cuidados de saúde e oportunidades, independentemente de onde nasceram”, adiciona.

O grupo de agências da ONU foi formado em 2004 para compartilhar dados e aprimorar métodos para estimativas de mortalidade infantil, acompanhando o progresso em direção às metas de sobrevivência infantil. Além da liderança do Unicef, participam a Organização Mundial da Saúde, OMS, o Grupo do Banco Mundial e a Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU.

Relatório aqui

Quanto maior a escolaridade dos pais, menor o risco de pobreza

Março 19, 2024 às 12:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Jornal de Notícias de 8 de março de 2024.

Probabilidade de ser pobre diminiu 7,8 pontos percentuais quando os pais têm um curso superior. Situação perante o mercado de trabalho continua a ser o grande preditor na variação do risco.

As estatísticas anuais dão-nos um retrato da pobreza há muito conhecido – “Nós sabemos quem são os pobres em Portugal”, citando Alfredo Bruto da Costa: feminino, desempregado, com baixas habilitações escolares, com menores a cargo e  monoparental. Com as crianças a serem o elo mais fraco. Porque a pobreza se transmite de geração em geração, num ciclo vicioso. E foi essa transmissão intergeracional que o Instituto Nacional de Estatística (INE) foi analisar, pondo a nu vantagens e desvantagens sociais. E se o risco de pobreza diminui em 7,8 pontos percentuais (pp) quando ambos os pais têm o ensino superior, o certo é que a condição perante o trabalho continua a ser mais preponderante para a variação dessa probabilidade de ser pobre. 

A análise do INE cinge-se à faixa 25-59 anos e tem como referência o contexto parental dos inquiridos quando estea tinham 14 anos de idade. E dizem-nos que, em 2022, o risco de pobreza era de 17,3% e 17,2%, respetivamente, para aqueles cujo pai ou mãe não não tinham completado mais do que o atual ensino básico. Caindo para os 6,8% ou 8,6% quando o pai ou a mãe tinham o ensino secundário ou superior, respetivamente

Inquérito esse que demonstrou, ainda, “que mais de 90% dos filhos de pais com níveis de escolaridade mais elevados (secundário ou superior) atingiram um nível educativo igual ou superior”. Mesmo assim, “para aqueles com pais que não tinham completado mais do que o atual 3.º ciclo do ensino básico, mais de 50% têm hoje um nível de escolaridade mais elevado”. De acordo com os cálculos do INE, filhos de pais com um curso superior veem a probabilidade de concluírem também aquele nível de ensino aumentar em 54,9 pp.

Condição perante o trabalho

No período em análise, aos 14 anos, o risco de pobreza era de 14% para as pessoas que viviam com um pai empregado, valor que subia para os 21,9% quando desempregado ou inativo. No caso de viverem com a mãe, a relação era de 13% e 17,6%, respetivamente. Por outro lado, também a nacionalidade pesa na probabilidade de ser pobre, com o risco de pobreza, em 2022, a ser superior quando o pai ou mãe tinham nacionalidade estrangeira: 25,1% e 25,5%, respetivamente, mais 11,4 pp e 11,7 pp do que se os pais fossem portugueses.

A composição dos agregados familiares é também uma variável a pesar, com o risco de pobreza a ser superior em 2,6 pontos percentuais nas pessoas que viviam apenas com um dos progenitores. Em Portugal, refira-se, são já 389 mil as famílias monoparentais, 88% das quais femininas. E, de acordo com os últimos dados, quase um terço estava em risco de pobreza. 

Destaque do INE:

O nível de escolaridade é maior, e o risco de pobreza menor, para aqueles que, aos 14 anos, viviam com progenitores que tinham concluído o ensino superior – 2023

Crimes nas escolas aumentaram no último ano letivo num total de 3824

Março 17, 2024 às 4:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 8 de março de 2024.

Ofensas corporais, injúrias e ameaças são os crimes que mais aumentaram e os mais predominantes.

As ocorrências criminais nas escolas aumentaram cerca de 9% no último ano letivo, totalizando 3.824, sendo as ofensas corporais, injúrias e ameaças os crimes que mais aumentaram e os mais predominantes, revelou esta sexta-feira a Polícia de Segurança Pública.

Num comunicado para divulgar o relatório da Escola Segura do ano letivo 2022/2023, a PSP dá conta que registou 3.824 ocorrências, sendo 2.708 de natureza criminal e 1.115 não criminais, tendo a maior parte ocorrido no interior das escolas, contra um total de 3.525 ocorrências, 2.444 das quais criminais e 1.081 de natureza não criminal no ano letivo 2021/2022.

“Se analisarmos os dados existentes desde o ano letivo de 2013/2014, verificamos que a média do número de ocorrências, em contexto escolar, na última década é de 4.570 (3.074 ocorrências criminais e 1.496 não criminais). Isto significa que, apesar do número de ocorrências ter aumentado no último ano letivo, continua a ser significativamente inferior à média dos últimos 10 anos”, realça aquela força de segurança.

A PSP esclarece que no último ano letivo foram contabilizados 3.110 crimes, uma vez que na mesma ocorrência pode verificar-se mais do que um crime, enquanto no ano letivo 2021/2022 registaram-se 2.852 crimes, um aumento de 9% das ocorrências criminais ocorridas no âmbito do Programa Escola Segura (PES).

A polícia sublinha que se manteve, no ano letivo 2022/2023, a tendência de predominância dos crimes de ofensas corporais e de injúrias e ameaças, que representam um aumento de 5,5% e 9,6% em comparação com o ano letivo anterior.

Segundo a PSP, foram registados no último ano letivo 1.237 crimes de ofensas corporais, 825 de injúrias e ameaças, 368 de furto, 137 de vandalismo e dano, 87 de ofensas sexuais, 82 de roubo, 34 de posse e uso de arma e 28 de tráfico de droga.

Esta força de segurança indica que as 34 ocorrências de posse e uso de arma envolveram 35 armas, designadamente uma com arma de fogo e 27 com armas brancas e sete com armas “de outras tipologias”, traduzindo-se num decréscimo de 55,8% em comparação com o ano letivo 2021/2022, quando foram registados 77 crimes deste tipo que envolveram 80 armas.

A PSP refere ainda que no ano letivo 2022/2023 realizou 9.942 ações de sensibilização que contaram com a participação de 385.163 alunos, tendo sido abordados temas como bullying e cyberbullying, prevenção e segurança rodoviária, segurança infantil, utilização segura das novas tecnologias, violência doméstica e no namoro, álcool e drogas.

O Programa Escola Segura tem como principal objetivo garantir a segurança do meio escolar e da sua envolvente, prevenir comportamentos de risco e reduzir atos potenciadores de insegurança em ambiente escolar. No ano letivo de 2022/2023, a PSP foi responsável, nos centros urbanos, pela segurança de 3.149 estabelecimentos de ensino, 150.000 pessoas do pessoal docente e não docente e cerca de 862.700 alunos.

Atualmente existem 361 polícias afetos às Equipas do Programa Escola Segura.

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