Autismo: os desafios do brincar e de usar o corpo

Fevereiro 29, 2020 às 1:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Artigo de Milene Matos publicado no Público de 23 de feverteiro de 2020.

Nesta era tecnológica, a experiência motora tem vindo a ser desvalorizada e isso terá, com certeza, um impacto no desenvolvimento das crianças.

A Perturbação do Espetro do Autismo (PEA) é uma perturbação do sistema nervoso central que afeta o desenvolvimento da criança. É clinicamente caracterizada por dificuldades na comunicação e interação social e pela presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Para além destas características, muitas crianças com PEA experienciam dificuldades nos diferentes aspetos da práxis, associados a outros problemas sensoriais.

E o que é a práxis e para que serve?

A práxis é a capacidade de gerar uma ideia, formar um plano de ação e executar a tarefa motora, de forma a permitir uma interação efetiva e com significado com o meio. Envolve o processamento dos diferentes estímulos sensoriais de forma adequada, principalmente dos estímulos recebidos através do contacto com a pele, dos músculos, das articulações e do movimento. A observação, imitação e exploração com o corpo vão permitir que a criança fique com informações guardadas no cérebro sobre o próprio corpo e as suas possibilidades motoras, mas também sobre o ambiente. Estas informações que resultam da interação com o mundo são necessárias para desenvolver a aprendizagem de novas competências ao longo do desenvolvimento da criança.

A capacidade de conceptualizar e planear uma ação acontece quando o bebé começa a ter vontade de movimentar-se com uma intenção, que poderá ser agarrar a mãe, um brinquedo, descobrir as diferentes potencialidades dos objetos e brincar. Depois de ser criada a ideia, o planeamento das ações requer a noção da sequência das várias etapas, necessária para executar a nova tarefa motora. Nesta fase, a criança tem de saber onde, quando e como pode iniciar e realizar a tarefa, de forma a atingir o seu objetivo, produzindo uma resposta adaptativa. O feedback sensorial que vai tendo na experiência permite os ajustes do corpo e dos movimentos de forma a aprender uma nova sequência de movimentos. Quando existem problemas a este nível, as crianças podem apresentar mais dificuldades em ter novas ideias de brincadeiras/jogos, fazer construções, imitar ações, optando muitas vezes por brincadeiras que não são próprias para a idade ou são restritas e repetitivas.

Estudos mostram a existência de diferenças no funcionamento do cérebro em crianças com PEA. O processo da práxis acontece em várias estruturas cerebrais, tal como acontece na linguagem, podendo justificar as alterações sensoriais e motoras destas crianças. Reforçando esta ideia, a evidência científica sugere que os défices na práxis e nas competências do brincar também podem comprometer a participação nas ocupações diárias e as interações sociais.

Apesar de muitas vezes serem consideradas preguiçosas, distraídas, lentas, desorganizadas, desastradas, na verdade, estas crianças enfrentam verdadeiros desafios para realizar as suas ocupações diárias, tal como lavar as mãos, vestir, comer, utilizar o lápis, jogar em equipa, andar de bicicleta, comunicar. Na interação com o outro, pode observar-se dificuldade em antecipar ações, resolver problemas, adaptar novos comportamentos a situações inesperadas. Necessitam de um esforço acrescido e por vezes ajuda para iniciar e concluir as tarefas.

Crianças com problemas na práxis podem beneficiar do treino, com a repetição das ações, pistas visuais e verbais e de ajuda na execução dos movimentos. O adulto poderá dar nome às ações da criança, descrever a sequência das tarefas que realiza e promover a imaginação, perguntando à criança o que poderá fazer com os objetos.

É através das experiências sensoriais com toque, texturas, pressão, ritmo, movimento que a criança vai conhecendo melhor o seu corpo e novos padrões de movimento e isso permitirá maior sucesso nas interações com os outros e com os objetos.

Nesta era tecnológica, a experiência motora tem vindo a ser desvalorizada e isso terá, com certeza, um impacto no desenvolvimento das crianças.

Nesta era tecnológica, a experiência motora tem vindo a ser desvalorizada e isso terá, com certeza, um impacto no desenvolvimento das crianças.

Por isso, dedique tempo de qualidade e seja criativo nas brincadeiras com o seu filho.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico.

Terapeuta ocupacional no CADIn

Por que têm os filhos de mentir?

Fevereiro 28, 2020 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Artigo de opinião de Eva Delgado-Martins publicado no Público de 9 de fevereiro de 2020.

Os pais não gostam que os filhos mintam, o que está certo, mas devem lembrar-se que isso é uma defesa para a qual podem existir muitas razões.

As mentiras em excesso devem ser interpretadas como uma fuga de uma criança ou adolescente à resolução do problema com que é confrontado, nomeadamente quando sente que tem que agradar a adultos que têm expectativas demasiado altas sobre si e que a ameaçam com castigos severos no seu incumprimento.

Recebemos muitas vezes pedidos de ajuda dos pais, na tentativa de resolução de crises de desencontros na comunicação com os seus filhos. Isto sucede frequentemente em reação a situações de crise familiar, quando se tornam mais rígidas as regras do funcionamento do dia-a-dia, o que, quase sempre, leva também a tornar mais rígidos os comportamentos daqueles que afinal o pretendiam era a compreensão e disponibilidade dos pais.

Por exemplo, muitos pais concentram-se nos insucessos académicos em certas áreas, ignorando os sucessos noutras, ou em atividades extracurriculares, preocupando-se apenas com os atos e atitudes indesejáveis, e ignorando os comportamentos positivos.

Frequentemente, perante a mentira dos filhos, os pais, referem que “já tentei todos os castigos, tirei-lhe o telemóvel, proibi-o de jogar PlayStation, de usar o computador, de sair com os amigos, de ir aos treinos de futebol que ele adora, proibi… e ele, não deixa de mentir”.

Para possibilitar uma educação e relações familiares de sucesso, tem que se ter em atenção a forma como se realiza a comunicação entre pais e filhos, porque é que esta contribui para a construção de relações de confiança mútua.

Em vez de apontar ou atribuir culpas aos filhos, os pais devem fomentar estratégias preventivas e remediativas da mentira, promovendo um diálogo baseado numa comunicação constante e sincera, para que, nos momentos de crise, os filhos confiem neles e escolham partilhar a verdade. Se os pais conversarem sobre a honestidade e elogiarem os filhos por dizerem a verdade, especialmente quando a tentação de mentir é grande, torna-se muito mais fácil para os filhos serem verdadeiros e concentrarem-se em encontrar soluções objetivas para os seus problemas. Se os pais aceitarem os sentimentos que os filhos têm medo de revelar, eles considerá-los-ão como aliados e sentir-se-ão mais compreendidos e à vontade para contar a verdade.

Para isso é preciso promover a participação ativa das crianças e adolescentes, dando voz às suas opiniões e encorajá-los a exprimirem-nas e a proporem alternativas às nossas decisões. É necessário ouvir os pontos de vista dos filhos e dos pais e negociar, para encontrar soluções de compromisso. Se se sentirem escutadas e participarem na tomada de decisões, as crianças e jovens sentirão que são respeitadas e mostrar-se-ão, igualmente, mais respeitadoras connosco.

Os pais não gostam que os filhos mintam, o que está certo, mas devem lembrar-se que isso é uma defesa para a qual podem existir muitas razões.

Às vezes, os filhos mentem porque acham natural, por verem os seus pais mentir. O exemplo dos comportamentos dos pais vale mais do que qualquer coisa que digam. Cada mentira que os pais contam e, muitas vezes, incutem os seus filhos a contar, fica como modelo aceitável. (e.g. alguns pais pedem aos filhos para atenderem a porta ou o telefone e mentirem dizendo que não estão em casa, ou pedem que eles mintam sobre um qualquer fato que presenciaram).

Os filhos mentem por medo das consequências das suas ações, consoante o castigo ou a consequência a que serão sujeitos, para não ter que as enfrentar e escapar à responsabilidade de ter transgredido. Mentem, ou escolhem o silêncio (omitir) porque, em situações semelhantes anteriores, os pais reagiram mal, responderam de uma forma crítica e exagerada.

Mentem também para satisfazer as expectativas dos pais, professores ou amigos, para se sentirem aceites (e.g., é frequente os pais esperarem que os filhos tenham boas notas, o que os estimula a mentir quando isso não acontece). Podem mentir por insegurança ou baixa de autoestima, para serem o centro das atenções, se integrarem no grupo de pares, (e.g. dizendo que têm muitos de amigos nas redes sociais, que fizeram uma viagem inacreditável, ou que são amigos de pessoas famosas) exagerando as suas condições de relação com os amigos (até para os proteger) e da vida familiar. Mentem porque querem evitar ter que se envolver em atividades que não gostam de realizar.

No estabelecimento dos limites e das regras em relação às mentiras, os pais devem ter uma atitude firme, consistente e coerente, numa relação de diálogo. Por vezes, pensa-se que quem mais influencia as crianças e os jovens são os amigos, os professores, a Internet e as redes sociais, mas a grande influência e modelo vem dos pais.

Muitas vezes, os pais dizem que não tem tempo para os filhos. No entanto, o problema não é o tempo, mas a qualidade do tempo que têm, dos momentos que passam juntos com os seus filhos, no dia-a-dia. É preciso que cultivem uma relação de proximidade, se preocupem em conhecer os filhos, os seus amigos, e os acompanhem nas suas rotinas.

Psicóloga e terapeuta familiar

VII Encontro de Educação de Santa Cruz “O Saber e o Brincar” – 18 de março na Madeira

Fevereiro 28, 2020 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Mais informações no link:

https://www.jm-madeira.pt/regiao/ver/84247/VII_Encontro_de_Educacao_a_18_de_marco_em_Santa_Cruz

http://www.cm-santacruz.pt/

Mais autonomia e menos ansiedade são benefícios do pré-escolar ao ar livre

Fevereiro 28, 2020 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 15 de fevereiro de 2020.

Partilhar ou não partilhar: o que fazer com as fotos dos nossos filhos?

Fevereiro 27, 2020 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Texto do Notícias Magazine de 20 de fevereiro de 2020.

Alguns pais não se importam de partilhar fotos dos filhos. Outros não mostram a identidade dos descendentes nas redes sociais. Três famílias, três experiências.

Sofia Filipe

Há quatro meses, Filipa Salvaterra vivia os últimos dias da segunda gravidez. A 23 de outubro, véspera do nascimento de Duarte, assinalou o quinto aniversário de Maria partilhando com 295 amigos do Facebook uma fotografia do bolo e uma dedicatória à filha. A mensagem sobre a nova fase, “com o mano”, estava nas entrelinhas e só era entendida por familiares e amigos que privam com a engenheira química, de 37 anos, no Centro Nacional de Embalagem. “É uma questão de privacidade.” Moradora no Montijo, Filipa justifica assim o facto de não publicar nenhuma fotografia dos filhos nas redes sociais nem de avançar pormenores da vida privada.

O marido, Pedro Cruz, um ano mais novo, pensa da mesma forma. “É mais seguro. Também não indicamos locais nem moradas. É a nossa vida pessoal e ninguém tem de saber o que fazemos ou onde estamos”, declara o engenheiro de manutenção na Hovione, Loures. “Dos 571 amigos que tenho no Facebook, só devo falar com cerca de dez. Muitos andaram comigo na escola, outros são da mesma terra ou foram colegas. Não há grandes ligações com a maioria.”

Mostrar ou não mostrar os filhos nas redes sociais? Eis uma questão pouco dada a unanimidade. O poder de decisão, esse, nem sempre pertence aos pais. Em 2015, durante um processo de regulação de responsabilidades parentais, o Tribunal de Setúbal proibiu os pais de uma criança de 12 anos de partilharem fotografias da filha nas redes sociais. A mãe recorreu para a Relação e o Tribunal da Relação de Évora manteve a decisão. Vem referido no acórdão que, “na verdade, os filhos não são coisas ou objetos pertencentes aos pais e de que estes podem dispor a seu belo prazer. São pessoas e consequentemente titulares de direitos”.

Se existe o direito à imagem das crianças, por que motivo é atropelado com a constante divulgação nas redes sociais? “Orgulho e vontade de mostrar ao mundo a felicidade. Também algum exibicionismo, necessidade de reconhecimento e afirmação social”, responde Tito de Morais, fundador de MiúdosSegurosNa.Net, um projeto que ajuda famílias, escolas e comunidades a promover a segurança online. Ao ato de partilhar excessivamente fotografias e informações acerca dos filhos, sem consentimento, dá-se o nome de sharenting. O especialista compreende que os pais o façam, mas aconselha a evitar. “A necessidade de afirmação social dos pais não se pode sobrepor à segurança e proteção da privacidade dos filhos.”

Para a psicóloga especialista em adolescentes Bárbara Ramos Dias, “todas as pessoas têm direito à privacidade. Os filhos ainda mais. São crianças inocentes”. Sensibiliza para os riscos associados à partilha de fotografias a mostrar a cara, de dados pessoais ou de localização geográfica nas redes sociais e dá como exemplo situações de rapto.

“A necessidade de afirmação social dos pais não se pode sobrepor à segurança e proteção da privacidade dos filhos”
Tito de Morais
Fundador de MiúdosSegurosNa.Net

Filipa e Pedro têm consciência dos perigos associados à exposição de crianças na Internet, destacando o uso de fotos manipuladas em sites de pedofilia. O fundador de MiúdosSegurosNa.Net explica que “a manipulação digital das fotos através de montagens e a criação de deep fakes elevam a fasquia ao nível da sofisticação”. Por seu turno, defende que “basta mudar o contexto em que as imagens aparecem para adquirirem logo outro significado”.

A última fotografia partilhada pelos pais de Ódin, seis anos, e Aron, quatro, retrata uma brincadeira com água num campo. Estão de costas e afastados da objetiva. Para Carla Santos e Duarte Cera, ambos de 35 anos, partilhar momentos em que os filhos estão de costas, tapar-lhes o rosto, editar as fotografias ou usar imagens de baixa resolução são algumas estratégias para não exporem os descendentes nas redes sociais. Além disso, fazem a publicação depois da atividade em família e não referem local nem horário. Este casal de Cascais acredita que “existe o risco de serem identificadas rotinas da família e assim dar azo a situações perigosas”.

Carla é doula e usa o Facebook (conta pessoal com 791 amigos e página profissional com 465 seguidores) e o Instagram (conta pessoal com 200 seguidores e a profissional com 707). Duarte concilia a atividade de leitor de contador das águas com a de baterista dos Invoke e utiliza as redes sociais Facebook (790 amigos) e Instagram (185 seguidores). “O acesso às fotos é reservado a listas definidas por nós, por questões de segurança”, afirma Carla.

Em tempos, colocou uma fotografia sua, grávida, como foto de perfil, e recebeu “uma mensagem de um desconhecido a questionar se o bebé já tinha nascido, porque gostava muito de ver uma imagem. Foi assustador”. Duarte faz referência ao impacto negativo mencionando que “a imagem fica para sempre online, pode ser usada no futuro como ferramenta de bullying, por colegas ou pessoas das relações profissionais”. Carla sublinha: “É a privacidade dos nossos filhos, que não têm noção do que é a exposição. Quando tiverem, será algo unicamente gerido por eles. Não vamos interferir”.

Na net como no parque ou nos transportes públicos

Como a partir de uma certa idade os filhos ganham o sentido de individualização, os pais devem perguntar-lhes se podem fazer determinada publicação, segundo Bárbara Ramos Dias. “Há miúdos que não gostam de se expor. Deve-se respeitar a opinião e a vontade.” Exemplo: na pré-adolescência e adolescência, sobretudo as raparigas, têm preocupação com a imagem. “Consideram que estão gordas, feias ou com borbulhas. Não gostam quando os pais põem online fotos que não lhes agradam.” É uma fase da vida com inseguranças e fragilidades que a exposição “pode aumentar”. Dados do EU Kids Online Portugal, de 2018, mostram que 28% dos participantes, entre os nove e os 17 anos, indicaram que os pais publicaram textos, vídeos ou imagens sobre eles sem lhes perguntarem. Dos inquiridos, 14% pediram aos pais para retirar conteúdos, dos quais um quinto são raparigas entre os 13 e os 17 anos; e 13% disseram ter ficado incomodados com a partilha sem consentimento.

“Todas as pessoas têm direito à privacidade. Os filhos ainda mais. São crianças inocentes”
Bárbara Ramos Dias
Psicóloga especialista em adolescentes

Experiências que não foram vividas pelos irmãos Matilde e Samuel, de 13 e 11 anos, de Caneças. Os pais têm sempre o cuidado de perguntar se concordam com determinada publicação em que são visados. “São pessoas independentes. Não é por sermos pais que temos o direito de usar a imagem deles sem a sua autorização”, diz Miguel Campos, de 46 anos, motorista. “Desde que têm idade para manifestar opinião que lhes pergunto se posso publicar as fotos em que aparecem”, corrobora Sílvia Campos, 42 anos. Pelas respostas que recebe dos filhos, a angariadora imobiliária nota que estão mais interessados em perceber se “estão mais ou menos bonitos”.

Miguel usa o WhatsApp e o Facebook (452 amigos). Sílvia é mais ativa: 3 446 amigos nesta rede social, 777 seguidores no Instagram e 256 contactos no WhatsApp. Esta mãe nunca se coibiu de mostrar a cara dos filhos, com publicações esporádicas. É o orgulho que sente nos filhos que a motiva a partilhar o bom aproveitamento escolar, uma atividade especial, vivências durante as férias, momentos engraçados com familiares e amigos ou uma comemoração festiva. Com reservas. Usa definições de privacidade, as fotos de férias só são publicadas posteriormente e, por norma, não dá referências geográficas. Sílvia tem consciência de perigos mas ressalva que estes não existem apenas na Internet. “Também lhes podem tirar fotos na escola, no parque, na praia, nos restaurantes, nos transportes públicos”, enumera, referindo que é apologista das conversas educativas. “Alerto para os perigos, tiro dúvidas e estou atenta. Como pais, temos de os proteger e assegurar que as publicações não sejam prejudiciais no futuro. Não considero nenhuma das opções [mostrar ou não mostrar a cara dos filhos] certa ou errada. Sentirmo-nos bem e fazer com que os nossos filhos também se sintam bem deve ser a regra.”

Maria e Duarte são menores e não têm a noção dessa dinâmica. Os pais Filipa e Pedro decidiram salvaguardar os filhos para precaver eventuais problemas no futuro não mostrando nada. “São menores e um dia podem não querer ou não gostar de ter fotos deles online”, comenta a mãe, lembrando que as fotografias digitais estão guardadas no computador e/ou na nuvem. “Qualquer pessoa pode aceder. Se forem colocadas no Facebook, é abrir ainda mais a vida privada ao mundo.”

A mãe de Ódin e Aron acredita que “explorar a vida e a imagem de uma criança tira autenticidade às relações e às vivências”. “A mensagem que transmite não me deixa muito segura. Somos valorizados por seguidores/gostos/reações? Somos o que acham de nós? A opinião dos outros pesa assim tanto? Tenho receio da superficialidade.”

Cuidados a ter nas redes sociais

Tito de Morais, fundador de MiúdosSegurosNa.Net, aconselha a evitar:
• Partilhas públicas. Mesmo não mostrando a cara da criança, inadvertidamente podem ser revelados outros aspetos.
• Fotos que mostrem o corpo despido da criança. Há quem olhe para esse tipo de fotos como objeto de desejo sexual.
• Fotos potencialmente embaraçosas, tais como mudança da fralda, na sanita ou no banho. Na adolescência, envergonham com facilidade.
• Localizar a criança em sítios que frequenta (escola, ATL, etc.).
• Fotos com amigos, sobretudo se não tiverem autorização por escrito dos respetivos pais (ambos, pois no caso de pais divorciados pode haver opiniões discordantes).

“Os maus tratos são transversais a todas as classes sociais”

Fevereiro 27, 2020 às 12:00 pm | Publicado em Vídeos | Deixe um comentário
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Entrevista de Rosário Farmhouse ao Porto Canal no dia 20 de fevereiro de 2020.

“Os maus tratos são transversais a todas as classes sociais”, afirma Rosário Farmhouse, Presidente da Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens, que comenta os atuais números de negligência de crianças e jovens em Portugal.

Rosário Farmhouse indica ainda que de acordo com os estudos recentes “as crianças que foram vítimas de maus tratos e não conhecendo outro modelo e não tendo acompanhamento especializado que retire esse trauma tem uma maior probabilidade de reproduzir esse tipo de comportamento quando forem pais e mães”.

Visualizar a entrevista no link:

http://portocanal.sapo.pt/um_video/186TyjbEG21NtMIQB3Kr?fbclid=IwAR0_ZvFvK8QO-GvnLYlFYDmy44kRTb0oyWzhxiVEjCCoIEuOwhiTWKka0IY

Refeições em família. Têm sempre de ser um pesadelo?

Fevereiro 27, 2020 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Texto do Sapolifestyle de 15 de janeiro de 2020.

Ana Rita Lopes (Nutricionista)

Ter filhos implica fazer refeições só para eles? Será que as crianças têm sempre de odiar a hora de jantar? Ana Rita Lopes, responsável pela Unidade de Nutrição do Hospital Lusíadas Lisboa, esclarece estas e outras dúvidas.

Como é que se pode aumentar o interesse das crianças pelos alimentos?

As crianças podem ser introduzidas no mundo da alimentação desde muito pequenas e é importante que estejam familiarizadas com os diferentes alimentos, para que não rejeitem a sua ingestão.

As crianças podem participar na preparação de tarefas simples e sempre sob vigilância de um adulto, como lavar os legumes, ajudar a temperar a refeição… A criança terá muito mais gosto em consumir uma refeição que foi feita por ela. É importante deixá-las participar neste processo.

De que forma é que se podem confecionar refeições em família sem cozinhar em exclusivo para as crianças?

Os pais são um grande exemplo para o filhos. Não adianta promovermos o consumo de determinados alimentos junto das crianças se elas nunca viram os progenitores a ingerir esses alimentos. Por este motivo, torna-se importante a confeção e a partilha de refeições em família. Tal é conseguido através de refeições simples, apelativas, nutricionalmente ricas e que envolvam a participação de todos os membros da família.

As refeições em família são mais benéficas?

Fazer refeições em família estimula o planeamento de refeições saudáveis, uma vez que permite a partilha de gostos e emoções. Estudos recentes demonstraram que as refeições em família, mesmo que aconteçam só uma ou duas vezes por semana, aumentam o consumo de frutas e vegetais pelas crianças. Deste modo, é importante o envolvimento e o contributo de todos, assim como o seu reconhecimento para que de forma harmoniosa se confecione refeições saudáveis. Para além de benefícios para a saúde, são uma boa oportunidade para conversar em família e proporcionar um ambiente ideal para fortalecimento dos valores familiares.

Porque é que o pequeno-almoço é tão importante?

O pequeno-almoço é a primeira refeição do dia e quebra o jejum depois do período de sono. Durante o sono os nossos níveis energéticos baixam e são apenas utilizados para a manutenção das funções vitais, pelo que é de extrema importância nunca omitir esta refeição de modo a repor estes níveis e consequentemente melhorar o rendimento cognitivo e reduzir o apetite para o almoço, contribuindo para uma distribuição alimentar e calórica mais saudável e equilibrada ao longo do dia.

Como deve ser esse pequeno-almoço?

O pequeno-almoço não tem que ser necessariamente muito elaborado para repor os níveis energéticos. Poderá ser preparado de forma simples, porém não devem faltar determinados grupos alimentares como a fruta fresca da época, o pão escuro ou flocos de cereais pouco açucarados, o leite ou iogurte, sem esquecer a água ao iniciar o dia. São exemplos de pequenos-almoços rápidos:

– 1 iogurte + 1 pão integral (tipo bola) + creme vegetal + 1 peça fruta

– 1 taça com aveia + 1 iogurte + fruta aos pedaços + 1 colher de sementes

Quais são os principais erros das famílias portuguesas na alimentação?

Sair de casa sem tomar o pequeno-almoço; haver uma presença constante de sumos e refrigerantes durante as refeições; o recurso frequente a refeições pré-confecionadas; o baixo consumo de legumes e leguminosas nas refeições principais, por exemplo.

10 mandamentos básicos para uma alimentação saudável em família

  1. Planear refeições saudáveis em família
  2. Fazer uma alimentação variada, equilibrada e completa
  3. Fazer 5 a 6 refeições por dia
  4. Tomar o pequeno-almoço
  5. Comer devagar e mastigar bem os alimentos
  6. Não estar mais de 3 horas sem comer
  7. Ingerir água ao longo do dia
  8. Preferir os grelhados, cozidos, assados, estufados em substituição dos fritos
  9. Excluir os doces e produtos açucarados da rotina diária (só em ocasiões festivas)
  10. Privilegiar o azeite em detrimento de outras gorduras

Os conselhos são da nutricionista Ana Rita Lopes, do Hospital Lusíadas Lisboa

Internet segura com os conselhos deste pediatra

Fevereiro 26, 2020 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Texto do Sapolifestyle

As recomendações são do médico Hugo de Castro Faria, especialista em Pediatria. Hoje é o Dia Mundial da Internet Segura.

A atual geração de adolescentes cresceu numa realidade francamente diferente de outras gerações anteriores. Desde idades muito precoces habituaram-se à omnipresença da tecnologia (televisão, computadores, tablets, videojogos, telemóveis etc.). É natural e expectável que tenham uma relação com estes meios de comunicação e divertimento muito diferente da que têm e tiveram os seus pais. Apercebemo-nos, em consulta, que esta diferença origina muitos conflitos e incompreensões.

É fundamental que façamos um esforço de entendimento, tentando perceber o papel fundamental que estes meios têm na vida dos jovens, ao interpretar e avaliar determinados comportamentos. Ainda assim, precisamos de ter alguns cuidados pois a utilização excessiva e desregrada acarreta alguns riscos e consequências que importa ter em conta.

Vantagens das novas tecnologias

  • A familiaridade e facilidade de utilização da internet, redes sociais e novas tecnologias é fundamental enquanto ferramenta futura.
  • Permite um acesso ilimitado, fácil, rápido a uma quantidade inimaginável de informação.
  • É uma ferramenta importantíssima de literacia, cultura e educação.
  • Facilita o contacto social rápido e instantâneo. Tanto o contacto social com pessoas que já se conhecem (colegas de escola e amigos), como com pessoas distantes de culturas diferentes. Esta facilidade pode ser altamente enriquecedora ao promover o contacto com outras realidades.
  • A familiaridade e competência na utilização das ferramentas informáticas e de comunicação são uma enorme mais-valia no futuro académico e profissional dos jovens.

Riscos associados ao excesso de utilização das novas tecnologias

  • Sedentarismo
  • Obesidade e excesso de peso
  • Alterações do sono
  • Insucesso escolar
  • Depressão (Isolamento)
  • Dependência e vício
  • Cyberbullying
  • Violência, pornografia, pedofilia

Parece claro que a forma como as novas gerações sociabilizam é extremamente diferente daquela das gerações passadas. A sociabilização é atualmente independente da distância ou do isolamento físico e a presença nas redes sociais é cada vez mais indispensável para a inclusão nos grupos de jovens. É nelas que se organizam festas ou eventos, que se discutem trabalhos de grupo e que se acertam pormenores de organização na escola.

Devemos contudo estar alerta para alguns riscos e problemáticas que são emergentes e têm estado associadas ao crescimento das redes sociais.

Quando olhamos para a forma como os adolescentes utilizam as redes sociais, há um aspeto que impressiona particularmente: a ausência de períodos de sossego distante dos amigos. As redes sociais estão presentes constantemente, com notificações e mensagens a chegar a cada instante, a solicitação é permanente e há cada vez menos espaço para os momentos de solidão e quietude, que são fundamentais para processos de introspeção, estudo, leitura, sono, etc.

O sono é uma preocupação crescente, existe um défice de sono nos adolescentes das sociedades modernas, com graves consequências para a saúde, desenvolvimento e rendimento escolar. A presença do telemóvel no quarto, ligado e online nas redes sociais atrasa muito a hora a que os jovens adormecem. De pouco serve irem para a cama às 22 h, se estão a trocar mensagens ou comentar publicações nas redes sociais, no seu telemóvel, até à 1 ou 2 h da manhã.

Uma outra preocupação crescente é o cyberbullying. É um tipo de bullying particularmente grave e poderoso. O bullying online tem o potencial de chegar à totalidade dos amigos e/ou familiares da vítima, está ativo 24 h por dia e muitas vezes é extremamente difícil de apagar após publicação e partilha. É fácil perceber que as consequências podem ser desastrosas, podendo levar a isolamento social, absentismo escolar, depressão e, em raros casos extremos, ao suicídio.

O uso massivo da internet e redes sociais tem ainda o potencial de levar ao desinteresse por outras experiências tão fundamentais como as atividades sociais «ao vivo» ou o desporto, aumentando o sedentarismo e reduzindo a atividade física com as múltiplas consequências tão conhecidas para a saúde (obesidade, hipertensão arterial, risco cardiovascular, etc.).

Recentemente tem-se reconhecido a problemática da dependência destas novas tecnologias (videojogos ou internet e redes sociais), que constitui uma doença séria com múltiplas consequências, como o isolamento social, a depressão, as perturbações do sono ou o absentismo escolar.

É fundamental que os pais mantenham vigilância da utilização que os filhos fazem da internet e redes sociais. Estabelecendo regras quanto ao tempo de utilização, tipo de utilização e vigilância dos «amigos online», acompanhando a actividade on-line e explicando e ajudando a interpretar correctamente a informação acedida. Esta vigilância é um dever qualquer pai.

Regras de segurança online

  • Supervisão parental:
  • Regras bem definidas
  • Patilha
  • Ferramentas de “parenting”
  • Bloqueio de sites
  • Filtros
  • Consulta de Histórico

Ensinar sobre:

  • Evitar a partilha de dados pessoais
  • Desconfiar de desconhecidos
  • Denunciar
  • Reforçar que nem tudo o que está online é verdade

Um estudo recente realizado com crianças e adolescentes na consulta do Hospital CUF Descobertas, mostrou que os níveis de utilização dos novos meios de são extremamente altos, o que contrasta com níveis muito baixos de supervisão parental:

  • Entre os 0 e os 3 anos 67% utiliza estes meios e apenas 35 % dos pais exerce controlo parental
  • Entre os 4 e os 6 anos 89% utiliza e apenas 44% do pais exerce controlo parental
  • Entre os 7 e os 10 anos 98 % de utilização e 50 % controlo parental
  • Entre 11 e 14 anos 100 % utiliza e 57 % de controlo parental
  • Entre os 15 e os 18 anos 100 % utiliza e apenas 26 % controlo parental.

Nestes números impressiona sobretudo a baixa percentagem de controlo exercido pelos pais, o que revela uma grande falta de sensibilização para os riscos envolvidos.

As recomendações são do médico Hugo de Castro Faria, Pediatra no Centro da Criança e do Adolescente do Hospital CUF Descobertas.

Número de crianças obesas no mundo aumentou 11 vezes em quatro décadas

Fevereiro 26, 2020 às 12:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 19 de fevereiro de 2020.

Mais de 124 milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo eram obesas em 2016, o que significa 11 vezes mais do que há quatro décadas, segundo um relatório nesta  quarta-feira divulgado pelas Nações Unidas e pela revista The Lancet.

O número de crianças e adolescentes obesos aumentou de 11 milhões em todo o mundo em 1975 para 124 milhões em 2016.

A exposição das crianças a anúncios e comerciais sobre comida não saudável (junk food) e bebidas açucaradas está associado a escolhas alimentares inadequadas e ao excesso de peso ou obesidade.

No que respeita ao contributo do marketing para a obesidade infantil, o relatório sugere que nalguns países as crianças vêem cerca de 30 mil anúncios televisivos num único ano.

“A auto-regulação da indústria falhou”, refere Anthony Costello, um dos autores do documento, elaborado pela Organização Mundial da Saúde, pela UNICEF e pela revista científica The Lancet.

Os autores apontam o dedo ao que consideram ser as “práticas exploradoras” do marketing das indústrias que promovem a fast food ou as bebidas açucaradas.

Outra das preocupações expressas do documento é a exposição dos menores a publicidade e marketing sobre o consumo de álcool e de tabaco.

Por exemplo, na Austrália as crianças e adolescentes continuam a ser expostas a mais de 50 milhões de anúncios a bebidas alcoólicas ao longo de um ano durante a transmissão televisiva de desportos como o futebol, o cricket ou o rugby.

Também nos Estados Unidos tem crescido a exposição dos jovens a anúncios sobre cigarros electrónicos ou vaping, um aumento de 250% em dois anos, com a publicidade a chegar a mais de 24 milhões de menores.

Mais informações nos links:

https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(19)32540-1/fulltext

https://www.who.int/news-room/detail/19-02-2020-world-failing-to-provide-children-with-a-healthy-life-and-a-climate-fit-for-their-future-who-unicef-lancet

Namorar não é ser dono, Namorar é tratar bem

Fevereiro 26, 2020 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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