Nicolly Rocha, de 6 anos, mora em uma fazenda na zona rural de Biritinga. Ela gravou um vídeo para avisar a novidade a tia e já ganhou o primeiro livro.Por TV Subaé e g1 BA
Uma garotinha baiana de 6 anos que adora ler, sonha em ter uma biblioteca e, este ano, preferiu ter um espaço coletivo para leitura do que a festa de aniversário. Nicolly Rocha mora na fazenda Bebedouro, na zona rural de Biritinga, cidade a cerca de 200 quilômetros de Salvador.
Com a ajuda da mãe, Edcarla Oliveira, ela gravou um vídeo, para avisar a uma de suas tias que não teria festa em comemoração a mais um ano de vida. No entanto, ela não abriu mão do presente, que este ano não será só dela, a pequena decidiu por algo coletivo: pediu livros de presente para que possa montar a própria biblioteca.
De acordo com a mãe de Nicolly, Edcarla Oliveira, a família não tem condições de fazer uma biblioteca para a filha. Por isso, teve a ideia de gravar o vídeo e, após enviá-lo para a tia Geo, já ganhou o primeiro livro de presente .
“Olha tia Geo, esse ano não vai ter aniversário meu não, viu? Eu escolhi uma biblioteca aqui no cantinho [do quarto]”, disse a menina no vídeo.
Segundo Nicolly, seus livros favoritos são: O Patinho Feio, Chapeuzinho Vermelho, A Bela e a Fera, Peter Pan e O Gato de Botas. Ela tem o sonho de ser professora e cirurgiã, mas não detalhou a área de atuação.
“Por isso que eu já leio um bocado”, disse Nicolly ao detalhar sobre o desejo das atividades profissionais no futuro. Para a pequena, a leitura a ajudará a alcançar o conhecimento e será ponte para a carreira que escolher trilhar.
A professora dela, Maria Elizângela Brito, conta que tem orgulho da aluna e disse que, mesmo com as aulas virtuais durante a pandemia da Covid-19, a menina apresentou bons resultados além de ter aprendido a ler.
“Ela é uma criança muito inteligente e participativa. Todos os dias ela traz um livro de história que ela tem e pede: ‘professora, conta uma história’. Às vezes eu trago outra história, mas ela quer que leia também a que ela trouxe”, disse.
Quem quiser doar um livro para a biblioteca de Nicolly pode entregar o exemplar pessoalmente ou enviar pelo Correios no seguinte endereço: na Rua Régis Pacheco, nº 275, no bairro Ginário, em Serrinha. CEP: 48700-000. O envio deve ser em nome de Edcarla Oliveira dos Anjos, mãe da criança.
Ler para quem (ainda) não sabe ler
Julho 31, 2023 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Crianças, Leitura, Promoção do Livro e da Leitura
Texto do Sapo Lifestyle
Vivemos numa era digital onde tablets, telemóveis, computadores, consolas que, sendo apelidados de brinquedos, se tornam bastante apelativos e atrativos para as crianças. Desta forma, os livros foram perdendo o seu lugar de destaque.
A leitura deverá continuar a ser uma atividade presente no dia a dia das famílias, que contribui para despertar o prazer pelo conhecimento e para enriquecer os tempos livres da criança.
O contacto precoce com os livros
Ler histórias para as crianças não-leitoras, num ambiente lúdico e aconchegante, cria uma familiaridade com os livros e com o processo da leitura, associando-os a momentos de prazer e afeto, predispondo, assim, a criança para a aprendizagem (formal) da leitura.
Contar aventuras, descobrir as imagens e conversar sobre os livros ou outro material escrito, mostra à criança a importância e a funcionalidade da díade leitura/escrita no quotidiano e motiva-a para aprender a ler.
Para além disso, quando ouvem ler uma história, as crianças aprendem novas palavras e novas expressões que irão enriquecer o seu vocabulário, desenvolvem a imaginação e a criatividade, num mundo de fantasia que simbolicamente recria a realidade, medos e desejos.
Quando ouvem os adultos lerem bem e com expressividade, as crianças experimentam emoções e ficam motivadas para aprender a ler e a contar histórias também.
Torne os livros atraentes
Incentivar para a leitura infantil será uma tarefa fácil se ela estiver sempre associada a momentos de prazer. Para as crianças gostarem dos livros, não é preciso saberem ler. As crianças deverão ser estimuladas a contactar com a leitura desde muito cedo. É necessário que os pais dediquem tempo a ler para a criança. É a leitura entusiasta dos pais que contagia as crianças e as desperta para as suas leituras futuras.
A escolha do livro
A escolha do livro é essencial para o sucesso da atividade leitora. O livro deve ser adequado à idade da criança, mas, fundamentalmente, corresponder aos seus interesses. Ao abordar um tema que a criança gosta, estimula a procura autónoma de conhecimento. Pouco a pouco, deveremos encorajar a procura de outras temáticas, mas respeitando, sempre, o gosto da criança. Não devemos forçar uma criança a ler um determinado livro, pois, assim, já estará a iniciar a atividade da leitura com desagrado. Os livros com imagens e ilustrações são boas opções pois estimulam a criatividade, fazendo com que a leitura “ganhe vida”.
Seja um exemplo
A presença de livros, revistas e jornais em casa e a sua utilização frequente incentiva a criança para a leitura. A sua existência em vários locais da casa estimula a curiosidade em abri-los, explorá-los e familiarizarem-se com diferentes tipos de escrita. A leitura deverá ser um hábito familiar. Se o seu filho o vir a ler, vai com certeza imitar esse comportamento. Procure ler com o seu filho todos os dias, conversando com ele sobre as imagens e sobre o desenrolar das histórias. É importante ir estimulando a compreensão do que está a ser lido.
Um artigo da técnica superior de educação Iolanda Anunciação Tribuzi.
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Sugestões de leitura para férias do Plano Nacional de Leitura
Julho 28, 2023 às 8:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Adolescentes, Crianças, Férias de Verão, Jovens, Leitura, Literatura infanto-juvenil, livro Infantil, Livros, Plano Nacional de Leitura, Promoção do Livro e da Leitura
Texto e imagem do PNL
Esta semana, a equipa do PNL sugere leituras para todos.
Nas listas de sugestões para diferentes públicos e gostos, incluem-se propostas para
Aprender uma coisa diferente
Esquecer o mundo
Encontrar uma preocupação nova
Acalmar o coração
Descobrir o culpado
Revisitar clássicos
Entre outras…
Sugestões de leitura aqui
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Dicas para facilitar a aprendizagem da leitura
Março 30, 2023 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Alunos, Aprendizagem da leitura, Crianças, Leitura
Texto do Público de 10 de março de 2023.
Para que uma criança consiga ter sucesso na aprendizagem da leitura precisa de adquirir uma série de competências linguísticas que se influenciam reciprocamente. E podem fazê-lo de forma lúdica.
Inês Ferraz
Quando uma criança apresenta dificuldades no início do ensino formal da leitura, e por algum motivo não as consegue superar, estas tendem a ser cada vez maiores, chegando a extravasar para outros processos, com consequências que vão muito para além do plano cognitivo.
Sabemos que as crianças que se deparam com insucesso escolar ficam afetadas a nível emocional, o que leva à perda de autoestima e motivação para aprender, tendo como consequência o abandono do ensino prematuramente.
Para que uma criança consiga ter sucesso na aprendizagem da leitura precisa de adquirir uma série de competências linguísticas que se influenciam reciprocamente, nomeadamente: o conhecimento da linguagem oral; o conhecimento lexical; o conhecimento morfossintático; a consciência fonológica; o conhecimento das letras (in Ferraz, 2020, Aprender a Ler, Novas Edições Académicas).
Estas competências não são adquiridas de forma natural pelas crianças, o que implica que todos os envolvidos neste processo (pais, professores, psicólogos, terapeutas, técnicos) utilizem estratégias para ajudar a criança a adquiri-las.
Em relação ao conhecimento da linguagem oral, proponho que se utilizem as seguintes estratégias: incentivar todas as formas de comunicação; corrigir as incorreções realizadas pelas crianças no discurso; evitar a utilização de uma linguagem simplificada; ter um tempo e um espaço dedicados à leitura de histórias; apresentar diversos tipos de literatura; promover momentos de leitura e escrita espontânea e em contexto.
No que diz respeito ao conhecimento lexical é, fundamental, que as crianças usufruam de atividades diversificadas, pois quanto mais alargado for o vocabulário dominado pela criança mais facilidade terá na aprendizagem da leitura. Para alargar o vocabulário, proponho: nomeação de categorias (“Cão e gato são?”); identificação de semelhanças (“O que é que o carro e a mota têm em comum?”); reconhecimento de antónimos (“Qual é o contrário de grande?”); reconhecimento de sinónimos (“Lindo é o mesmo que …”).
Quanto à consciência morfológica, posso salientar que as relações que se estabelecem entre os elementos da frase são fundamentais para que possamos produzir um discurso coerente. Por isso, a criança deve ser convidada a realizar atividades que a permita corrigir erros frequentes, como por exemplo: a concordância de género “A bola é redonda, o balão é …”; a formação do plural de nomes irregulares, como por exemplo “Um caracol, dois…”.
A consciência fonológica — capacidade de refletir sobre a língua — não se desenvolve espontaneamente e, como tal, devem ser realizados exercícios que promovam a sua promoção, tais como: dividir palavras em sílabas; identificar o número de sílabas de uma palavra; formar uma palavra a partir de sílabas isoladas; produzir palavras a partir de uma determinada sílaba inicial; inverter a ordem das sílabas de uma palavra; adicionar ou omitir sílabas de uma palavra; identificar sílabas semelhantes.
O conhecimento das letras é crucial para a aprendizagem da leitura e vai permitir à criança a decifração do material impresso, contudo há que ter em atenção que na língua portuguesa as correspondências entre os sons e as letras não são de um para um. Este conhecimento deve iniciar-se na fase Pré-Escolar oralmente e, mais tarde, com o ensino formal da leitura, passa a ser auxiliado pela escrita.
Proponho as seguintes atividades: identificar palavras que possuam um determinado som; nomear objetos cujo nome comece por um determinado som; formar uma palavra a partir de sons isolados; dividir palavras nos sons que as compõem e identificar o número de sons de uma palavra.
Todas as atividades lúdicas aqui propostas vão contribuir para facilitar a aprendizagem da leitura e desta forma, a criança poderá Ler para Aprender, sendo que este é o principal propósito da leitura.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990
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Formação online” Aprender a Ler – Estratégias de Intervenção para quando o resto falha”28 de janeiro
Janeiro 25, 2023 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Aprendizagem da leitura, CADIN - Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil, Formação On-Line, Leitura, Sílvia Lapa
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Não são só os jovens a dar pontapés na gramática. “Cada vez se escreve pior, porque as pessoas leem cada vez menos”
Janeiro 23, 2023 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Adolescentes, Alunos, Crianças, Escrita, Gramática, Leitura
Notícia do MAGG de 18 de setembro de 2019.
Lúcia Vaz Pedro é professora há mais de 25 anos e lançou um livro cheio de humor para ensinar os jovens a ler e a escrever em bom português.
Numa das centenas de aulas que Lúcia Vaz Pedro deu ao longo dos últimos 25 anos, enquanto professora de Língua Portuguesa, foi confrontada com uma resposta caricata de um aluno. À questão “qual a função do apóstrofo?”, um dos miúdos respondeu prontamente: “Os apóstrofos são os discípulos de Deus e andavam sempre com ele”.
Apesar de ser complicado conter os risos com esta resposta, a mesma é elucidativa do quão mal as crianças, jovens e até adultos escrevem, falam, e compreendem o português nos dias de hoje. E embora existam muitas distrações na sociedade atual, das redes sociais às apps e jogos, a professora de 51 anos encontra uma razão para tal infeliz fenómeno.
“Cada vez se escreve pior, porque as pessoas leem cada vez menos”, diz Lúcia Vaz Pedro à MAGG, numa conversa a propósito do lançamento de “Camões Conseguiu Escrever Muito para Quem Tinha Só um Olho…”, um novo livro pedagógico e prático, mas recheado de humor, que chega às livrarias esta quarta-feira, 18 de setembro.
Com mais de 30 livros publicados, entre romances, livros infantis e escolares, a professora de Língua Portuguesa, que leciona na Escola Inês de Castro, em Vila Nova de Gaia, utiliza o humor para chegar aos alunos.
E o humor está presente não só no tom descontraído deste livro, onde relata os pontapés na gramática e os erros dos mais novos, com a devida explicação, mas também dentro da sala de aula — até porque acredita que é possível rir enquanto se ensina a falar e a escrever em bom português.
“À semelhança de Gil Vicente, gosto muito da lógica de utilizar o cómico para ensinar os outros, a tal história do ‘a rir se criticam os costumes’. Acho que utilizando o humor é mais fácil conseguir atingir determinados objetivos pedagógicos”, salienta a professora, que também acredita que o humor pode ser uma ferramenta para recuperar nos jovens o gosto pela leitura e pela língua.
ara Lúcia Vaz Pedro, que leciona alunos do 7.º ao 12.º ano de escolaridade, “atualmente, é muito difícil ensinar e fazer com que os alunos aprendam. Eles não têm noção do que estão a responder porque nem leem a questão, fazem-no superficialmente e com dificuldades em aprofundar o sentido do texto e perceber aquilo que lhes é pedido. Respondem a primeira coisa de que se lembram”.
Assim, a professora acredita que têm de ser usadas “estratégias e metodologias diferentes” para chegar aos alunos. Lúcia Vaz Pedro assume que o facto de estes se rirem de si próprios, ao verem no livro muitas das respostas que já deram ou ao identificarem-se com as mesmas, pode fazer com que a informação correta, que está obviamente presente nas mesmas páginas, chegue “de uma forma lúdica, mais leve e solta”.
Os livros estão fora de moda?
Apesar de a oferta literária em Portugal ser vasta e de grande qualidade, os miúdos leem cada vez menos. Mas porquê? “Cada vez temos mais livros, com muita qualidade, muitos escritores, mas as crianças e os jovens têm outros veículos de informação e entretenimento mais apetecíveis”, salienta Lúcia Vaz Pedro.
Para a professora, os computadores, os telemóveis, os jogos de consola e tablets, entre outros, “são veículos de distração”, e longe de serem os melhores: “É que não estamos a falar de brincadeiras de rua ou de brincar às casinhas, que são atividades que os ajudam a socializar, a falar uns com os outros. Estas distrações atuais fazem com que os miúdos fiquem cada vez mais isolados no mundo deles, e nem sequer aprendam a comunicar”.
Mas as plataformas digitais e os ecrãs não são os únicos culpados para este distanciamento dos mais jovens com a leitura. “Os filhos imitam os pais. Quando eu era criança e adolescente, estava ansiosa por chegar a casa e ler, e muito porque esse hábito me foi incutido pelos meus pais. Ambos liam muito, e o meu pai chegava a dizer-me que livros eu devia ler primeiro, por grau de dificuldade, e fazia-me sempre perguntas detalhadas depois de eu terminar, para ter a certeza que eu tinha mesmo lido”, recorda a professora.
E os benefícios da leitura vão muito além do entretenimento. “São muitas as vantagens”, salienta a educadora. “Conseguimos ter mais reconhecimento do mundo, de outras culturas. É possível desenvolver a expressão oral, escrita, a compreensão, para além de enriquecermos o nosso vocabulário. Mesmo a nível profissional, os livros são uma forma de desenvolver conhecimentos em áreas especificas, desenvolver competências linguísticas.”
Lúcia Vaz Pedro acredita que o facto de os adultos também lerem cada vez menos faz com que, por consequência, as crianças também não o façam: “É verdade que os tempos são outros, que hoje em dia há muita corrida, que os pais não têm tempo e que chegam a casa sempre aflitos para dar banhos, fazer o jantar, etc.. Mas mesmo quando têm esse tempo, preferem outras coisas que não os livros e claro que os miúdos vão fazer o mesmo”.
Para além de tentarem incutir este hábito nos filhos, a professora também acha que os pais têm de ter mais tempo para as crianças. “As famílias têm de falar, conversar, fazer refeições sem uma televisão ou telemóveis. Perdeu-se o hábito de conversar”, lamenta.
“A Língua Portuguesa é transversal e a disciplina mais importante do currículo”
Para além de um bom português, falado e escrito, ser extremamente importante para a disciplina de Língua Portuguesa, as possíveis dificuldades das crianças e jovens com esta matéria pode afetar outras aulas. “A Língua Portuguesa é transversal e a disciplina mais importante do currículo, pois é através desta que se veicula toda a informação”, refere Lúcia Vaz Pedro.
Apesar de sempre dividirmos as pessoas como “as de letras e as de números”, ser mau nas aulas de Português pode levar exatamente ao mesmo resultado nas de Matemática, por exemplo.
A autora salienta que os alunos “não compreendem os sentidos das questões, não sabem o que é enumerar, por exemplo” e, muitas vezes, Lúcia Vaz Pedro acaba por se articular com a professora de Matemática para explicar aos alunos o sentido de determinadas coisas. “O mau português afeta muitas outras áreas.”
No livro que acaba de lançar, a professora de Língua Portuguesa refere muitos exemplos destas dificuldades. Num dos capítulos, Lúcia Vaz Pedro recorda a resposta de um aluno a uma questão matemática: colocada a pergunta “a altura de um jogador de basquetebol é de 180 centímetros. Qual é a sua altura em metros?”, o jovem respondeu “a minha é 1,72 metros”.
Dando outro exemplo ilustrativo das dificuldades dos alunos em compreender o que lhes é pedido, uma outra criança não percebeu uma questão geométrica. No enunciado, podia ver-se a representação das figuras geométricas de um triângulo, um quadrado e um retângulo. “Observe as figuras geométricas e dê-lhes nomes”, pedia o exercício. “Paulo, Pedro e Patrícia” foi a resposta do aluno.
Lúcia Vaz Pedro também recusa a ideia de que o Novo Acordo Ortográfico seja o culpado das dificuldades dos alunos, ou de um pobre português: “Isso não tem nada que ver, cada vez se escreve pior porque as pessoas não leem. E não são só as crianças, os adultos também escrevem mal. São as mensagens escritas sem cuidado, as redes sociais. Se fizermos uma breve pesquisa nestas redes, vemos coisas muito graves, que me deixam com os cabelos em pé. Não há o mínimo de preocupação em escrever bem, é assustador”.
Para a professora, o veredito é simples: “Entramos num restaurante e vemos um grupo de pessoas à mesa todas em silêncio, com o telemóvel nas mãos. As pessoas não sabem falar, não se sabem exprimir bem, sabe porquê? Porque não se conversa”.
(artigo publicado em 2019)
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Biblioteca Municipal de Viana do Castelo lança “Kit de Leitura” para sensibilizar mais novos para importância do livro
Janeiro 18, 2023 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, Crianças, Jovens, Leitura, Promoção do Livro e da Leitura
Notícia do site A Nação de 5 de janeiro de 2023.
No arranque do novo ano, a Biblioteca Municipal de Viana do Castelo acaba de lançar um “Kit de Leitura” para sensibilizar os mais novos para a importância do livro e da leitura. A iniciativa destina-se a crianças e jovens entre os 0 e os 14 anos e consiste numa caixa que contém até dois livros, um guia de leitura para pais e também de atividades para as diferentes faixas etárias, propostos pela biblioteca vianense.
“Considerando que a leitura, na educação, desde cedo, é um importante hábito a ser desenvolvido porque gera grandes benefícios no desenvolvimento do indivíduo”, a Biblioteca Municipal “pretende transformar a hora da leitura num momento especial e despertar para a vontade de ler, surpreendendo os leitores com novas aventuras, de modo a tornar esta prática numa rotina presente no quotidiano das famílias”, sublinha.
“Pretende-se que este Kit seja um instrumento pedagógico de apoio aos adultos que servem de mediadores entre as crianças, o livro e a leitura, contendo, para além do guia de leitura, informação que auxilia a leitura autónoma para as crianças alfabetizadas e para os mais jovens”, continua.
O acesso ao Kit é feito por requisição na Biblioteca Municipal e mais informações podem ser solicitadas pelo email biblioteca@cm-viana-castelo.pt .
De salientar que todos os livros propostos são surpresa e selecionados pela biblioteca de forma a dar a conhecer os diferentes géneros literários, do lírico ao narrativo, passando pelo dramático e científico, entre outros.
Assim sendo, a Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, deseja “dar resposta às necessidades da população, em especial dos pequenos leitores e suas famílias, no que diz respeito à criação de hábitos de leitura e de novos leitores”.
Foto: CMVC.
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Métodos, dificuldades e outras questões em torno da aprendizagem da leitura
Dezembro 30, 2022 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Alunos, Aprendizagem de Português, Dificuldades de Aprendizagem, Leitura
Texto da Escola Virtual
Não há registo de algum estudo em Portugal que tenha procurado perceber se a maneira como os professores ensinam as crianças a ler na escola tem mudado. Pelo contrário, o que realmente mudou – e muito – foi o conhecimento científico sobre como se aprende a ler.
Um P e um a, Pa, um P e um e, Pe, um P e um i, Pi… poucos não saberão a cantilena. Com ela se vão juntando consoantes e vogais. São os primeiros passos na aprendizagem da leitura. Até ao Natal, as crianças aprendem o P. Mais uns meses e na Páscoa a maioria saberá ler. “O ensino da leitura segue uma ordem”, começa por explicar Cristina Pereira, professora do 1.º Ciclo. Aprendem-se as letras começando pelas vogais. Depois os ditongos: um a e um i, ai; um u e um i, ui. A seguir, faz-se a junção da consoante com as vogais e com os ditongos. Começam a surgir as palavras. Um P e um ai, Pai. E com elas as frases. Parece simples. Mas não é.
Ana Paula Vale estuda na área da psicologia comportamental as questões da aprendizagem e das dificuldades da leitura. “A maneira como se aprende a ler está intimamente ligada ao tipo de linguagem, de língua e de ortografia que temos de aprender a ler.” Aprender a ler no sistema alfabético, como o nosso, é diferente de aprender a ler nos sistemas silabários ou logográficos, como os do Japão e China.
“A maneira como a nossa mente processa a informação, que está codificada no sistema alfabético, exige que aprendamos de uma determinada maneira”, esclarece a investigadora que é também coordenadora científica e fundadora da Unidade de Dislexia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. “Os sistemas alfabéticos representam a fala, aquilo que dizemos, ao nível dos fonemas. Fonemas são ideias abstratas que fazemos sobre os sons, mas para facilitar vamos dizer que são os sons mais pequenos que existem nas palavras. Por exemplo, mar tem três fonemas, m/ a/ r. Cada fonema é representado por um grafema, a unidade da ortografia, que pode ser uma letra ou duas. Quando escrevemos nh, temos duas letras, mas um grafema.” O que a ciência tem mostrado, sublinha Ana Paula Vale “é que existem condições essenciais que as crianças têm de dominar para poderem ler e escrever num sistema alfabético e estas condições são postas em prática com métodos de ensino fónicos.”
O melhor método
Existem várias formas de ensinar a ler, mas há cada vez mais consenso científico de que os métodos fónicos são os mais adequados. Pelo menos no caso português. “Porque servem a aprendizagem do mecanismo que envolve o funcionamento dos sistemas alfabéticos e dão uma grande autonomia às crianças”, defende Ana Paula Vale.
“Se uma criança aprende a associar um certo número de letras a fonemas ou de fonemas a letras (sete ou oito associações) consegue ler palavras que nunca viu, mas sejam compostas por essas letras e esses fonemas. E até é capaz de ler algumas palavras com letras ou fonemas novos. Às vezes falta só um bocadinho da palavra para a criança ler tudo, mas como conhece o resto é capaz de ler.”
Ana Paula Vale recorda o dia em que o filho conseguiu ler a palavra “tranquilo” sem nunca a ter visto antes. A mãe desvenda as razões científicas da proeza: “Ele sabia decodificar uma parte da palavra e, depois, uma outra coisa muito importante, essa palavra já existia no seu vocabulário. Por isso, ele conseguiu ligar as duas informações e ler uma palavra nova.” Fazer com que as crianças consigam semelhante “proeza”, continua a investigadora, “só é possível usando métodos fónicos no ensino da leitura. Se as crianças não tiverem esse instrumento da aprendizagem das relações entre os fonemas e os grafemas, que lhes dá grande autonomia, não conseguem fazer isso.”
Na teoria, aos métodos fónicos contrapõem-se os métodos globais. “Partem das palavras inteiras e assentam na ideia de que as crianças devem primeiro aprender palavras cujo significado conhecem para depois, a pouco e pouco, começarem a aprender as unidades pequenas que fazem parte dessas palavras”, elucida Ana Paula Vale, sem poupar nas críticas à sua utilização: “Não dão autonomia à criança no início da aprendizagem, porque na realidade as crianças reconhecem as palavras que memorizaram, mas a memória tem um limite.”
Mesmo que na sala de aula o método pareça surtir efeito, Ana Paula Vale garante que os métodos globais “são completamente não recomendados”. “A investigação mostrou muito claramente que as crianças que não têm tanto jeito para a leitura e aquelas que têm dificuldades não vão conseguir aprender a ler com estes métodos.” Ora, no cenário do ensino da leitura, contam-se muitos outros métodos, com muitas designações. “Mas são apenas variações destes dois”, resume Ana Paula Vale.
Da teoria à prática
Na sala de aula, os professores do 1.º Ciclo dizem não fazer uso “exclusivo” de um só método para ensinar as primeiras letras. Sobretudo, por causa da diversidade de alunos que têm pela frente, aponta a professora Cristina Pereira. “Com a inclusão na escola de vários alunos, seja com dificuldades de aprendizagem, autismo ou trissomia, os professores começam por utilizar o mesmo método para todos, mas depois acabam por experimentar outros métodos quando os alunos não progridem.” O método mais comum é o analítico-sintético que se inclui nos métodos fónicos. Como recurso, a professora refere o método das 28 palavras que faz parte dos métodos globais.
De uma maneira ou de outra, o ensino da leitura não é um ato isolado. Não implica apenas o professor titular, ou seja, o que está mais tempo letivo com a turma. Como faz questão de frisar Cristina Pereira: “Agora, existem equipas educativas, professores titulares, professores do ensino especial que estão na escola para todos os alunos, professores de apoio, centros de apoio à aprendizagem e vários projetos também direcionados às dificuldades na leitura.”
Ainda assim, elas existem.Rui Lima, professor do 1.º Ciclo e diretor pedagógico de um colégio privado, na região de Lisboa, não consegue dizer se os alunos têm mais ou menos dificuldades na aprendizagem da leitura. “Agora, tal como há 20 anos tenho alunos que chegam ao primeiro ano a saber a ler e outros que têm muitas dificuldades…” O professor tem, todavia, outra perceção sobre o problema. “Sinto que a tarefa de ler para os alunos é menos prazerosa.” E avança com uma explicação: “Os alunos estão muito focados na visualização de imagens e ler torna-se uma tarefa menos motivadora para eles.”
No colégio onde leciona, tal como na escola onde dá aulas Cristina Pereira, o ensino da leitura não obedece a um método específico. “Usamos uma abordagem mais tradicional, partindo de uma história, depois de uma frase, depois de algumas palavras acabando na letra. Pretende-se sempre que os alunos identifiquem as palavras e não a identificação letra a letra.” Estratégias que Rui Lima identifica como tendo por base o método fonomímico que associa palavras e gestos.
Aqui, o recurso a outros métodos também só acontece quando os alunos não aprendem com o método mais usado. “Em crianças com muitas dificuldades, por vezes, usamos o método das 28 palavras, mas podemos usar outros. Acabamos por fazer uma mistura de vários métodos, não sendo fiéis a um único, até porque as crianças são bem diferentes umas das outras.”
Eduardo Gonçalves, professor destacado no âmbito do Centro de Investigação e Intervenção da Leitura, da Escola Superior de Saúde do Porto, admite que “os professores vão tomando mais consciência dos próprios métodos de ensino da leitura quando têm crianças com dificuldades”. No dia a dia, tem por missão avaliar e intervir em crianças em risco de dificuldades na leitura.
O projeto está direcionado a crianças do primeiro ano e do pré-escolar, que podem ter cinco ou seis anos. Com elas, Eduardo Gonçalves trabalha, precisamente, a consciência fonológica. Ou seja: o conhecimento que a criança tem do som da letra e a associação fonema-grafema. “O objetivo não é pôr a criança a ler, é prevenir o insucesso”, explica. São incluídas no projeto apenas crianças com níveis de consciência fonológica abaixo dos que são expectáveis para a idade. Mas há cada vez mais.
Duas décadas de ensino fazem Eduardo Gonçalves concluir que na base das dificuldades para a aprendizagem da leitura está, essencialmente, “a falta de tempo”. Seja “a falta de tempo, dos pais para estimular as crianças, a falta de tempo para os professores aprofundarem questões relacionadas com os métodos e, por fim, falta de tempo curricular para investir mais nas crianças com dificuldades”.
Aprender a ler e a escrever é uma atividade não natural, dizem os investigadores. Ana Paula Vale, explica a razão desta evidência: “O nosso cérebro está biologicamente preparado para a linguagem oral, mas não está biologicamente preparado para ler e escrever. Aprender a ler e a escrever não tem nada de intuitivo tem que ser tudo treinado, tudo muito consciente e muito laborioso.”
O que diz a ciência?
Existem três condições que têm de ocorrer em simultâneo para que as crianças aprendam a ler no sistema alfabético. Explicações retiradas do depoimento de Ana Paula Vale coordenadora científica e fundadora da Unidade de Dislexia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
“A primeira condição é que a criança compreenda a mecânica do funcionamento do sistema alfabético. Isto é, compreenda o princípio alfabético que é a ideia de que a cada fonema corresponde um grafema.
A segunda condição é que a criança aprenda a decodificar e a codificar. Ou seja, aprenda a estabelecer associações de fonemas e letras, aprenda que uma certa letra tem um certo som e vice-versa. Aprender a decodificar envolve a aprendizagem de dois componentes essenciais: a consciência fonética e a aprendizagem das letras e dos sons das letras.
A terceira condição é que as crianças aprendam a decodificar de tal maneira com exatidão e prontidão que este processo se torne automático. E que passado algum tempo do início da aprendizagem, aproximadamente um ano, as crianças sejam capazes de ler muitas palavras de forma automática.”
Andreia Lobo
Artigo originalmente publicado no Educare.pt
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Apenas um terço das crianças de 10 anos sabem ler, alerta Unicef
Outubro 13, 2022 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Analfabetismo, Crianças, Crianças em Risco, Exclusão Escolar, Leitura, Mundo, UNICEF
Notícia da ONU News de 16 de setembro de 2022.
Número caiu pela metade em relação as estatísticas pré-pandemia; chefe do Fundo da ONU para a Infância alerta que crise na educação deve afetar gerações futuras; agência inaugura obra na entrada da sede das Nações Unidas para destacar vulnerabilidade das crianças sem acesso a habilidades básicas.
Com o início da Cúpula da Educação Transformadora nesta sexta-feira, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, alertou que apenas um terço das crianças de 10 anos em todo o mundo são capazes de ler e entender uma história escrita. Segundo a agência, essa estatística representa uma redução de 50% em relação às estimativas pré-pandemia.
Consequências futura
A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, avalia que escolas com poucos recursos, professores mal pagos e qualificados, salas de aula superlotadas e currículos arcaicos estão minando a capacidade das crianças de atingir seu pleno potencial.
Ela acrescenta que a trajetória dos sistemas de ensino é, por definição, a trajetória do futuro. Segundo a chefe do Unicef, é necessário reverter as tendências atuais ou enfrentar as consequências de não educar uma geração inteira.
Para Russell, os baixos níveis de aprendizado hoje significam menos oportunidades amanhã.
Efeitos Covid-19
Um ponto importante levantado pelo evento e pelo estudo do Unicef são os impactos da pandemia de Covid-19. O fechamento prolongado das escolas e a falta de acesso ao aprendizado de qualidade ampliaram a crise já existente no setor, deixando milhões de crianças em idade escolar sem habilidades básicas em matemática e sem alfabetização.
Para chamar a atenção para a crise educacional e a necessidade de transformar o aprendizado em todo o mundo, o Unicef criou a “Aula de Crise de Aprendizagem”, uma sala de aula modelo que representa a escala de crianças que não tem acesso ao conteúdo fundamental crítico.
A instalação será exibida na entrada de visitantes da sede da ONU em Nova Iorque entre 16 e 26 de setembro. O modelo servirá como um lembrete para funcionários de governos, chefes de Estado e visitantes da necessidade urgente de investimento global em massa em educação.
Na obra, apenas um terço das carteiras possuem a mochila do Unicef colocada na cadeira da escola atrás dela. A intenção é destacar a pequena quantidade de crianças de 10 anos em todo o mundo que são capazes de ler e entender uma história escrita simples.
As demais carteiras são feitas de material transparente, mostrando que essas crianças se tornam praticamente invisíveis, ainda que representem 64% das crianças de 10 anos.
Segundo o Unicef, as cadeiras vazias também significam as contribuições cívicas que serão perdidas se não forem tomadas medidas urgentes para dar a todos os alunos educação apropriada.
Alunos e professores de Portugal
A ONU News conversou com estudantes e professores de Portugal, que estiveram no primeiro dia do evento, nesta sexta-feira.
A estudante Mariana Antunes destacou que apoia que as transformações sejam feitas pelos jovens, já que são eles que estão tendo a experiência nas salas de aula. Sua colega, Margarida Dinis, complementa dizendo que por conta de sua vivência diária nas salas de aulas, são os melhores para dizer o que funciona e o que precisa mudar.
“Eu acho que é importante sermos nós a tentar mudar essa educação que já dura anos e anos e que nunca mudou até agora”, disse Mariana.
“Como somos nós que vivemos diariamente e somos nós que temos todas as experiências. Acho que nós, melhor que ninguém, sabemos o que está bem e o que está mal, o que funciona para nós”, completou Margarida.
A professora Catarina Esmenio afirmou que enxerga no evento uma oportunidade de impulsionar o setor e construir um novo momento para a educação.
“Sinto verdadeiramente que estamos num momento de viragem importante, em que estou a fazer parte de um movimento global para transformar a educação e, portanto, é que gosto muito grande, pra já, passar também uma confiança grande aos meus pares e a todos os jovens que aqui estão, porque é efetivamente possível esta mudança”.
O Dia de Mobilização foi liderado e organizado por jovens e contou com a participação de diversas partes interessadas. O evento tem a intenção de transmitir as recomendações dos jovens sobre a transformação da educação para os tomadores de decisão e formuladores de políticas.
A reunião também busca mobilizar a sociedade civil, jovens e professores para apoiar a transformação da educação em todo o mundo.
A Cúpula da Educação Transformadora segue até a próxima segunda-feira, 19.
Encontro de líderes
Durante a reunião de líderes na Cúpula da Educação Transformadora, o Unicef deve pedir aos governos que se comprometam a alcançar todas as crianças com educação de qualidade.
A agência ainda incentiva novos esforços e investimentos para reinscrever e reter todas os jovens na escola, aumentar o acesso à aprendizagem corretiva e de recuperação, apoiar os professores e disponibilizar as ferramentas necessárias, bem como garantir que as escolas ofereçam um ambiente seguro e de apoio para que todas as crianças estejam prontas para aprender.
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Menina pede biblioteca de presente no lugar de festa de aniversário no interior da Bahia
Outubro 3, 2022 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Brasil, Crianças, Leitura, Livros, Meninas
Notícia da Globo de 1 de setembro de 2022.
Vídeo da reportagem aqui
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Há uma única medida que vai pôr o seu filho a ler (e mais 9 que ajudam)
Setembro 28, 2022 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Crianças, Leitura, Leitura em casa, Livros, Promoção do Livro e da Leitura, Relação Pais-Filhos
Texto da Activa de 31 de agosto de 2022.
Pôr as crianças a ler é mais fácil do que se pensa
Há anos que ouvimos dizer que as crianças leem pouco e, agora, com o domínio dos telemóveis, o pouco passou a quase nada. Mas será que está mesmo tudo perdido? Agora que está aí a Feira do Livro, perceba como os livros podem voltar à nossa vida.
1. Não dar a batalha como perdida – Falo com professoras e todas me dizem a mesma coisa: nada está a funcionar, os miúdos não leem, o mundo vai acabar. É verdade que todos nós, adultos e crianças, andamos a ler menos. O mundo mudou para todos. Mas também é verdade é que, quando encontramos um livro que nos entusiasma, a paixão regressa. Por isso, vamos à procura dele? A Feira do Livro está aí: investigue, fale com amigos, peça sugestões. Para que os livros voltem à vida das crianças, temos primeiro que os deixar voltar à nossa.
2. Perceber porque lemos – Primeira pergunta: afinal, lemos para quê? Porque é tão importante? Eu também não gosto de surf e ninguém me chateia para fazer surf. Porque hei de ler? Primeira resposta: lemos porque a ficção é o que distingue a nossa espécie (isso e rir de piadas parvas). Falo com a Cíntia Palmeira, formadora de educadoras e criadora das Bebetecas em casa, um projeto de literacia familiar para incentivar os pais a lerem aos filhos. Pergunto: para que serve ler? Ela devolve a pergunta: “Qual é a qualidade de vida de uma pessoa que não lê? Nenhuma. A pessoa que não lê não tem investimento simbólico. Sai, vai às compras, vive para consumir. Mas não é capaz de desfrutar um filme, um passeio ao ar livre, um bom livro. Porque o seu mundo interno não se desenvolveu, não tem psiquismo.” Isso é também o que sempre interessou a quem nos governa. Partilhamos ficções comuns, sim, mas não devemos ler tanto que resolvamos, por exemplo, pô-las em causa. “Desde o tempo da caverna de Platão que os homens do poder criam filmes onde as pessoas acorrentadas no fundo das cavernas veem apenas sombras e ficam presas a elas”, explica Cíntia. Era o tablet da altura? (risos) “Sim, era o tablet da altura. Não tenho nada contra redes sociais porque há coisas muito boas, aproximam as pessoas e permitem lançar projetos interessantes. Mas também há coisas muito tolas. Ser leitora permite escolher o que você quer ver, em vez de ficar perdida nos tik toks da vida.”
3. Mostrar-lhes que ler ensina a pensar – Sigo para a minha segunda guru, a professora e escritora Ana Cristina Silva, que há trinta anos ensina futuras professoras e investiga o processo de aprendizagem da leitura e da escrita. “Ler ensina a pensar”, resume. Ou seja, como nós pensamos com palavras, quanto mais palavras tivermos, melhor pensamos, é isto? “Claro. O livro constrói para nós um software mais sofisticado em termos de capacidades cognitivas. A minha capacidade para me pensar a mim e ao outro de uma forma complexa, a empatia, o facto de termos acesso a um registo emocional, ajuda-nos a construir um pensamento mais sólido sobre nós próprios e sobre os outros.” Os livros dão-nos uma riqueza que no dia a dia não temos: “Repara: no nosso quotidiano, temos uma comunicação com os outros relativamente superficial. ‘Vai buscar os miúdos, foste ao supermercado, trouxe uvas’, e é isto. Usamos poucas palavras, comunicamos sobre factos e não sobre emoções e não temos muitas vezes um espaço para refletir sobre as nossas emoções. Ora a boa literatura ajuda-nos a fazer isto.”
4. Perceber o que se passa no país – Segundo um famoso inquérito recente conduzido pela Gulbenkian e pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, no último ano, 61% dos inquiridos não leu um único livro. Além disto, 71% afirma que na infância ou adolescência nunca foram levados a uma livraria, a uma biblioteca (77%) ou a uma feira do livro (75%). Quase metade nunca recebeu um livro e mais de metade nunca ouviu ler uma história em criança. Quando vemos estes números, é preciso lembrar que um livro em Portugal custa 20 euros. Um quarto dos trabalhadores ganha o salário mínimo (e somos dos países da UE com o salário mínimo mais baixo), e em poder de compra estamos na 12.ª posição, atrás de países como a Roménia ou a Lituânia. Há quem diga ‘toda a gente se queixa do preço dos livros mas ninguém se queixa do preço dos bilhetes de futebol’. Mas isso é ser-se profundamente desempático e não perceber que pobreza factual gera pobreza cultural. Seria de esperar que a democratização do ensino significasse mais do que levar mais crianças à escola? “Sim. Mas o que nós vemos em Portugal é que a escola não está a ser um fator de ascensão social, acabando por deixar para trás muitos meninos que serão analfabetos funcionais. E depois tudo isto tem consequências no futuro. Não se pode fixar os bons cérebros, que apesar de tudo sobrevivem, com empregos precários de mil euros e casas com rendas de mil euros, portanto até os bons alunos nós vamos perder.”
5. Passar o entusiasmo pelos livros – É o mais importante mas é aí que, muitas vezes, em casa ou na escola, a missão emperra. “O entusiasmo é altamente contagiante. O problema é que muitas vezes os adultos não gostam de ler. E não podemos dar uma coisa que não temos”, explica Ana Cristina Silva.
6. Escolher bem – É preciso saber escolher livros cativantes para cada idade sem ficar demasiado preso aos clássicos. “A regra é, se os miúdos não estão motivados, temos de motivá-los. Mas eu tenho de gostar de ler para conseguir passar essa paixão! E só depois ir ao registo analítico e ao estudo! Isso atualmente não é pensado, diz-se mal mas não se faz nada para ir buscar os não leitores. Fazem-se muitos projetos mas tudo aquilo acaba por se perder no tempo, por não ser consistente nem integrado em nenhuma rotina.”
7 – Ler em voz alta – Quer os pais quer os professores: porque o ouvido treina-se antes dos olhos. Em vez de mandarem os miúdos fazer fichas, os professores podiam criar de forma sistemática a leitura em voz alta. “Isso aumenta a fluência leitora, o entusiasmo e a compreensão, e não acho muito complicado de pôr em prática. Outra ideia é formar clubes de leitura, que os miúdos também adoram.” Os pais podiam recuperar o momento da leitura ao ir para a cama. Se eu não gosto de ler, raramente pego num livro e o meu filho nunca me ouviu falar de um autor, é pouco provável que lhe passe qualquer tipo de vontade de ir ler. Mas mesmo que eu não seja dada à literatura, há uma coisa que todos os pais e mães podem fazer: todos podem tirar dez minutos à noite para ler aos miúdos. “Eu sou adepta desses momentos antes de dormir, em que o livro une pais e filhos”, explica Ana Cristina Silva. “E essa ocasião de afeto e de intimidade deve continuar mesmo até aos 10 anos, porque leva tempo até que uma criança consiga ler bem. Isto cria leitores e cria laços. Os livros em casa devem ser separados da escola e dos trabalhos de casa, e devem ser vistos como um prazer e não como uma obrigação.”
8 – Frequentar as bibliotecas – Falámos há pouco no preço dos livros, mas para resolver o drama dos livros caros existem as bibliotecas. Problema: muitas pessoas simplesmente não têm por hábito frequentá-las. Por isso, sugere Ana Cristina Silva, se as pessoas não vão às bibliotecas, as bibliotecas deviam ir às pessoas. “Seria uma boa ideia saírem mais para a rua, irem atrás dos pais, estarem presentes nos mercados, por exemplo. Se as coisas que fizemos até agora não estão a funcionar, é preciso sair da caixa e pensar em alternativas. Mas como tudo isto sai da rotina burocrática, tudo continua como está.”
9 – Aceitar sugestões – Também é democrático que, em vez de a leitura ser uma caminho de sentido único, seja uma troca e uma partilha. Se partilhou com o seu filho um livro que gostou de ler, porque não pedir-lhe uma sugestão de volta? Depois claro: convém lê-la…
10 – Não abandonar a luta – E é só? “Repara, só falei em duas ou três medidas”, lembra Ana Cristina Silva. “Nada disto dá trabalho, não é revolucionário, e são coisas estudadas que têm impacto. Os professores devem começar a aula com 10 minutos de leitura em voz alta, pô-los a ler a mesma história depois, continuar a ler para os miúdos mais crescidos, e os pais podem ler para eles à noite. Sei que mesmo esta única medida para alguns pais é cansativo. Mas experimentem. E lembrem-se: não posso mudar tudo ao mesmo tempo, mas posso mudar pequenas coisas cuja probabilidade de sucesso é elevada.” Eu tenho outras ideias, como uma família que eu conheço onde todos os dias durante 20 minutos toda a gente pára o que está a fazer e cada um lê um livro à sua escolha. Não é uma boa ideia?
Silêncio.
“Não compliques.”
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