Crianças que mais usam ‘smartphones’ têm pior desenvolvimento de linguagem

Maio 11, 2024 às 4:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia da SIC Notícias de 4 de abril de 2024.

A conclusão é da Universidade de Aveiro, que sugere que quanto maior é o tempo de utilização de dispositivos digitais por crianças em idade pré-escolar, piores são os resultados no desenvolvimento da linguagem.

Investigadores da Universidade de Aveiro concluíram que quanto maior é o tempo de utilização de dispositivos digitais por crianças em idade pré-escolar, piores são os resultados no desenvolvimento da linguagem, foi revelado esta quinta-feira.

Em comunicado, a Universidade de Aveiro esclarece que a investigação, publicada na revista CoDAS, envolveu 93 famílias portuguesas, com crianças com uma média de idades entre os 4 e 5 anos.

A investigação, desenvolvida por Maria Inês Gomes, Marisa Lousada e Daniela Figueiredo, do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS.UA@RISE), procurou analisar a relação entre a utilização de dispositivos digitais, as dinâmicas familiares e o desenvolvimento da linguagem em crianças.

Citada no comunicado, Daniela Figueiredo destaca que os principais resultados do estudo mostram que “a maioria das famílias tem um funcionamento familiar equilibrado e que, em média, as crianças apresentam um desenvolvimento normal da linguagem”.

No entanto, em famílias em que foi observada “menor coesão, flexibilidade e satisfação familiar, há um aumento do tempo de utilização do ‘smartphone’ ou do ‘tablet’ por parte das crianças”.

“Quanto maior é o tempo de utilização de ‘smartphone’, ‘tablet’ e/ou computador por parte das crianças, os resultados em termos de desenvolvimento de linguagem, avaliados por provas de expressão verbal oral e compreensão auditiva, também foram piores”, refere a investigadora.

A investigação mostrou também existir “uma associação muito significativa” entre o tempo de utilização de dispositivos digitais por parte dos pais fora do horário de trabalho e o tempo de uso destes ecrãs pelas crianças.

“A mais tempo de horas de utilização de ‘smartphones’ e ‘tablets’ por parte dos pais, se associa também mais tempo de uso destes dispositivos por parte das crianças, durante a semana e ao fim de semana”, acrescenta.

O estudo aponta assim para o impacto da utilização dos dispositivos e o papel do funcionamento familiar no desenvolvimento da linguagem das crianças em idade pré-escolar.

“Os resultados mostram que uma utilização mais excessiva destes dispositivos pode estar associada a dimensões menos equilibradas do sistema familiar e comprometer o desenvolvimento da linguagem”, avisa Daniela Figueiredo.

Para as investigadoras, uma utilização moderada dos ecrãs, até um máximo de uma hora por dia até aos cinco anos, como recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e um ambiente familiar saudável, “são fundamentais para promover um desenvolvimento linguístico adequado das crianças”.

Utilização de dispositivos digitais, funcionamento familiar e desenvolvimento da linguagem em crianças de idade pré-escolar: um estudo transversal

Pai: larga o telemóvel e brinca comigo!

Abril 4, 2024 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Artigo de opinião de Carlos Neto publicado na Sábado de 15 de março de 2024.

Os pais são habitualmente maus exemplos para os seus filhos quando em momentos decisivos não evitam o uso da tecnologia, estando agarrados aos telemóveis em todo o lado.

A frequência e intensidade com que as crianças e jovens estão a ficar capturados, seduzidos e dependentes pelos écrans (vários dispositivos eletrónicos), está cada vez mais a provocar estados emocionais devastadores e um grande aumento de estilos de vida sedentários. Falamos em especial no uso do envolvimento eletrónico com finalidades lúdicas, na qual a existência do corpo é vivido na ponta dos dedos ao alcance de narrativas simbólicas poderosas, numa violência invisível exercida pelos grandes interesses financeiros das grandes multinacionais digitais.

Este bombardeamento sensorial e percetivo do cérebro num corpo passivo e hipnotizado, provoca uma diminuição significativa de amplitude neurológica por não existir a possibilidade de experimentar outras experiências em contacto com o mundo real. Esta subjugação ao poder dos écrans, é muito prejudicial, principalmente nas primeiras idades, em que o brincar livre e ser ativo em vários contextos (familiar, escolar e comunitário) é fundamental para a estruturação motora, percetiva, emocional, mental e social do desenvolvimento infantil, em experiências de conquista de maior autonomia de mobilidade, confronto com o risco, e contacto com espaços naturais e construídos.

No fascinante livro da autoria do neurocientista Michel Desmurget “A Fábrica dos Cretinos Digitais – o perigo dos écrans para os nossos filhos” publicado pela Contraponto (Bertrand), em que tive a honra de prefaciar, são identificados os principais aspetos negativos no uso dos dispositivos digitais (principalmente lúdicos): promovem uma diminuição da qualidade das interações intrafamiliares; diminuem o tempo para outras atividades mais enriquecedoras (leitura, arte, música, etc.); podem provocar perturbações do sono e super-estimulação da atenção (distúrbios de concentração, aprendizagem e impulsividade); falta de estimulação intelectual que impede o cérebro de desenvolver o seu potencial, e ainda, o sedentarismo excessivo e sua influência na maturação cerebral (falta de mobilidade, enfraquecimento de competências motoras, ausência de contacto com a natureza, jogo e desporto). Refere ainda que “o excesso de utilização do écran lúdico atrasa a maturação anatómica e funcional do cérebro em várias redes cognitivas relacionadas à linguagem e à atenção” e que “o potencial para a plasticidade cerebral é extremo durante a infância e a adolescência”.

De facto, nas primeiras idades o cérebro assemelha-se a uma esponja (massa de modelar) em que ao princípio é fácil de modelar, mas com o tempo vai ficando mais seca e mais difícil de esculpir. Por exemplo, os dados são ainda muito imprecisos sobre os efeitos destas atividades nos resultados académicos, mas já se sabe das suas consequências no padrão de sono e na memorização. Na maior parte dos casos, não existe consciência adulta de como estas “culturas de écrans” estão a tomar conta da vida das nossas crianças e jovens em todos os contextos de vida. Trata-se de uma tragédia silenciosa em que são híper-estimuladas com objetos materiais, mas por outro lado, privadas de aquisição de conceitos básicos de condições mais saudáveis de vida.

A educação equilibrada entre a qualidade de atividades de jogo e movimento do corpo de natureza formal e informal, qualidade do sono, alimentação saudável e utilização de dispositivos digitais na infância e adolescência, deveria constituir uma preocupação central na educação familiar e escolar. As atividades que ficam por fazer e experienciar devido a esta “pandemia digital” de corpos intelectualmente ativos de uma forma superficial em corpos sentados e passivos, promove uma verdadeira hecatombe morfológica, muscular, orgânica e mental, com enormes prejuízos para um desenvolvimento saudável ao longo da vida.

O tempo passado a ver televisão e vídeo, utilizar consolas, telemóveis, smartphones, tablets, jogar jogos eletrónicos, utilizar o computador, consultar a internet, contacto com as redes sociais, jogos e apostas online, etc., envolvem uma grande parte da vida diária de crianças e jovens, criando estados de dependência e de intoxicação digital (um novo ópio mental).

Será que os pais conhecem e estão conscientes dos efeitos negativos do tempo excessivo passado pelos filhos face aos écrans? A resposta a esta questão apresenta-se com grande variabilidade, em função do nível de formação, extrato social e contexto de vida. Mas sabemos que na maior parte dos casos assistimos a uma informação mais opinativa do que científica. Mas também é preocupante verificar a existência de muitos pais distraídos digitalmente em relação à vida diária dos seus filhos, muitas vezes indulgentes e permissivos em deixarem que eles se deixem envolver nestas formas de gratificação imediata e sem terem tempo para viverem momentos de tédio e frustração fundamentais ao desenvolvimento do poder de adaptação, capacidade de relação com a adversidade e regulação e controlo emocional.

Os pais são habitualmente maus exemplos para os seus filhos (as crianças são esponjas) quando em momentos decisivos não evitam o uso da tecnologia, estando agarrados aos telemóveis em todo o lado (à porta da escola em conjunto com os seus automóveis, no restaurante ou hipermercado e em casa durante as refeições ou até mesmo nos tempos livres escolares ou em férias quer dentro ou fora de casa). Em muitas situações da vida real, o sentimento das crianças ao observarem esta ausência de atenção dos pais por estarem agarrados aos écrans, será: “pai podes largar o telemóvel e brincar comigo?”.

As crianças desejariam pais digitalmente atentos e que pudessem oferecer oportunidades de tempo e espaço para brincarem com mais regularidade em casa (ajudar nas tarefas domésticas, cozinhar, contar estórias, ler livros, pintar, desenhar, dançar, ouvir música, aprender um instrumento musical, jogar às escondidas, jogos de luta, jogos de tabuleiro, jogos de construção, puzzles, etc.) ou vir para o espaço público (ar livre) próximo ou distante da habitação, fazendo em conjunto várias atividades (passear, caminhar, correr, andar de bicicleta, jogar à bola, subindo às árvores, observar a natureza, visitar os elementos da paisagem física, artística, cultural do local onde vivem, etc.). É bom permitir que as crianças possam dar ideias e negociar com os pais uma agenda de atividades a realizar durante o dia ou ao fim de semana.

Interessará envolver os filhos na implementação de algumas regras fundamentais de organização de rotinas, com responsabilidade e ao mesmo tempo, de transmitir a possibilidade de conquista de autonomia, não os protegendo em excesso por qualquer insuficiência ou existência de erros. É através dos erros que os seres humanos sempre foram capazes de aprender e a superarem-se na vida, ganhando resiliência e adaptação a situações de dificuldade em todas as dimensões da nossa existência pessoal e coletiva. Neste sentido, os pais devem evitar o uso abusivo da tecnologia como uma cura para o tédio dos filhos ou para o comodismo de encontrar tempo para si e para os seus interesses pessoais. É necessário ganhar consciência sobre esta nova realidade da vida humana, para estar disponível para se conectar, vincular afetivamente e emocionalmente, criando empatia suficiente com os filhos ensinando-lhe dinâmicas de regulação (auto) e habilidades sócio emocionais. Também importa tomar algumas decisões importantes em conjunto, como não existir tecnologias ao acordar, durante as refeições, antes de adormecer e eliminar esses dispositivos nos quartos, no sentido de evitar a distração digital. Importa de igual modo, que as crianças e jovens possam aprender a gerir as suas frustrações pela ausência dos dispositivos digitais, implementando no contexto familiar, um clima positivo, alegre, divertido e lúdico. 

Na verdade, é claro para todos, que a revolução (transição) digital veio para ficar num mundo em grande mudança. Como estamos a preparar estas novas gerações para um futuro que é incerto, imprevisível e ainda desconhecido? Cidadãos cultos, com “fome de conhecimento”, ativos e criativos ou sujeitos dependentes, viciados e prisioneiros da sua própria servidão? As novas ferramentas tecnológicas não são nem más nem boas: depende como decidimos utilizá-las. Esta relação entre a cultura digital e cultura motora (lúdica, desportiva e artística), deveria merecer mais reflexão no contexto familiar, educativo e comunitário. Os pais devem largar sempre que possível os dispositivos digitais e brincarem com os seus filhos. Estes estão desejosos de uma relação corporal envolvente, entusiasmante e emocional dos pais, que seja intensa, regular e sistemática. Não há evidência científica que relacione a qualidade educativa com o uso de tecnologia. A abundância de informação que hoje surge através dos dispositivos digitais, impede-nos de ter capacidade de selecionar de forma criteriosa o mais importante para as nossas vidas, e por outro lado não aumenta em profundidade a nossa sabedoria.

Adolescentes se sentem mais felizes quando estão sem redes sociais, diz pesquisa

Março 25, 2024 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Correio Braziliense de 12 de março de 2024.

No estudo publicado na segunda-feira (11/3), o Pew Research Center também descobriu que, apesar das associações positivas com o fato de ficar sem telefone, a maioria dos adolescentes não limita o uso do telefone ou das redes sociais

Quase três quartos dos adolescentes americanos dizem que se sentem mais felizes ou tranquilos quando não estão com seus telefones, de acordo com um novo relatório da instituição de pesquisa Pew Research Center.

No estudo publicado na segunda-feira (11/3), o Pew Research Center também descobriu que, apesar das associações positivas com o fato de ficar sem telefone, a maioria dos adolescentes não limita o uso do telefone ou das redes sociais.

A pesquisa surge no momento em que os legisladores e os defensores de direitos infantis estão cada vez mais preocupados com o relacionamento dos adolescentes com seus telefones e redes sociais.

No final do ano passado, dezenas de estados americanos, incluindo Califórnia e Nova York, processaram a Meta, proprietária do Instagram e do Facebook, por prejudicar os jovens e contribuir para a crise de saúde mental dos jovens ao projetar, consciente e deliberadamente, recursos que viciam as crianças.

Em janeiro, os CEOs da Meta, TikTok, X e outras empresas de redes sociais compareceram ao Comitê Judiciário do Senado para testemunhar sobre os danos causados por suas plataformas aos jovens.

Apesar das crescentes preocupações, a maioria dos adolescentes afirma que os smartphones facilitam a criatividade e a busca por hobbies, enquanto 45% afirmam que eles os ajudam a ir bem na escola. A maioria dos adolescentes disse que os benefícios de ter um smartphone superam os danos para pessoas de sua idade. Quase todos os adolescentes dos EUA (95%) têm acesso a um smartphone, de acordo com o Pew Research Center.

A maioria dos adolescentes afirma que os smartphones facilitam um pouco ou muito a busca de hobbies e interesses (69%) e a criatividade (65%) das pessoas de sua idade. Quase a metade (45%) afirma que esses dispositivos facilitaram o desempenho escolar dos jovens.

A pesquisa foi realizada de 26 de setembro a 23 de outubro de 2023, em uma amostra de 1.453 pares de adolescentes com um dos pais e tem uma margem de erro de mais ou menos 3,2 pontos porcentuais.

O estudo ainda revelou que cerca de metade dos pais (47%) afirma limitar o tempo que o adolescente pode ficar no celular, enquanto uma parcela semelhante (48%) não faz isso.

Aproximadamente 4 em cada 10 pais e adolescentes (38% cada) afirmam que, pelo menos às vezes, discutem entre si sobre o tempo que o adolescente passa ao telefone. Dez por cento de cada grupo disseram que isso acontece com frequência, sendo que os hispano-americanos são os mais propensos a dizer que discutem com frequência sobre o uso do telefone.

Quase dois terços (64%) dos pais de adolescentes de 13 a 14 anos afirmam que olham o smartphone de seus filhos, em comparação com 41% dos pais de adolescentes de 15 a 17 anos.

Quarenta e dois por cento dos adolescentes dizem que os smartphones dificultam o aprendizado de boas habilidades sociais, enquanto 30% dizem que facilitam.

Cerca de metade dos pais disse que passa muito tempo no celular. Os pais com renda mais alta têm maior probabilidade de dizer isso do que os pais com renda mais baixa, e os pais brancos têm maior probabilidade de relatar que passam muito tempo no celular do que os pais hispânicos ou negros.

Mais informações na notícia:

How Teens and Parents Approach Screen Time

Reino Unido reforça proibição de telemóveis nas escolas com novas medidas mais “apertadas”

Fevereiro 29, 2024 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do TEK Sapo de 20 de fevereiro de 2024.

Francisca Andrade

O Reino Unido avançou novas orientações para proibir o uso de smartphones nas escolas. A iniciativa, que se junta a medidas de proibição já tomadas por algumas instituições de ensino, faz parte de um plano para reduzir as distrações e melhorar o comportamento nas salas de aula. 

Como detalhado em comunicado oficial, as orientações agora emitidas apoiam a proibição, por parte das escolas, do uso de smartphones ao longo de todo o período escolar, incluindo nos intervalos entre as aulas.

O governo britânico afirma que as medidas que já estão a ser tomadas pelas escolas estão a ter bons resultados e que o novo conjunto de orientações vai permitir uma abordagem mais consistente entre instituições de ensino.

A decisão fará com que o Reino Unido esteja em linha com outros países que já avançaram com medidas para limitar o uso de smartphones nas escolas, como FrançaItália ou Portugal, realça o governo britânico. As orientações contam com várias abordagens que as instituições de ensino podem seguir.

Aqui incluem-se, por exemplo, proibições totais de smartphones, mas também abordagens em que é exigido aos alunos que entreguem os seus telemóveis no início do dia, com os equipamentos a serem devolvidos no final das aulas. As escolas poderão também optar por permitir que os estudantes fiquem com os telemóveis, mas sob a condição de não os utilizarem.

Os alunos não são os únicos com restrições no uso de smartphones e há também orientações relativas aos professores. Os pais terão de ser informados acerca das medidas tomadas, de modo a que contactem os seus filhos através das secretarias das escolas.

No entanto, em declarações à imprensa britânica, Geoff Barton, secretário-geral da Association of School and College Leaders (ASCL) afirma que a mais recente iniciativa do governo não fará grande diferença, porque não trata do cerne da questão, isto é, o acesso dos mais novos a plataformas online onde encontram conteúdo extremo e perturbador.

Citado pela BBC, o responsável relembra que a maioria das escolas já proíbem ou restringem o uso de telemóveis, defendendo que o governo atuaria de uma melhor forma se reunisse esforços para responsabilizar as plataformas online.

Em linha com Geoff Barton, ativistas como Ian Russell e Beeban Kidron defendem que a proibição do uso de telemóveis nas escolas não fará nada para tornar as redes sociais e plataformas online mais seguras para as crianças e jovens, avança o The Guardian.

Recorde-se que, no final do ano passado, o Online Safety Act tornou-se oficialmente lei, no Reino Unido. A lei traz novas regras com um foco em particular no combate aos conteúdos ilegais, às fraudes online e à partilha de fotos íntimas sem consentimento.

O 2.º período já começou, mas ainda vamos a tempo de resolver o que não esteve bem no 1.º. E este é o primeiro alerta: “Algumas crianças têm uma agenda equivalente à de um CEO”

Janeiro 26, 2024 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia da CNN Portugal de 20 de janeiro de 2024.

Manuela Micael

Nem tudo passa pelas classificações. O tempo letivo interfere com as rotinas familiares e é importante aproveitar as interrupções escolares e as mudanças de ciclo ou de período letivo para analisar o que correu menos bem e encontrar estratégias para facilitar a vida de pais e filhos

Acordar, lavar os dentes, lavar a cara… “Despacha-te! Estamos atrasados!”. O pequeno-almoço, vestir, calçar… “Não te esqueças da lancheira!”. E, até à noite, o Inglês, a Música, o Karaté, o Futebol e a Natação, dependendo dos dias, os TPC, o banho, rever a matéria do teste do dia seguinte, jantar… “Como é que já são 21:30?!”

Identifica-se com esta rotina? A descrição parece-se com as manhãs e os fins de dia lá de casa? Na verdade, é o cenário que se vive em muitas casas portuguesas em período de aulas. E depois há ainda a relação com a escola, as reuniões de pais e as notas… as notas deles que nem sempre correspondem ao trabalho desempenhado e muitas vezes ficam aquém das expectativas dos próprios e dos pais. É importante aprender e adaptar rotinas para que as famílias não se ressintam e as crianças sejam felizes na escola. Do primeiro período letivo é importante tirar lições, para melhorar o que está menos bem e encontrar o caminho certo para prosseguir no segundo período.

Este ano, a família Cardoso Sardinha teve uma adaptação mais drástica a fazer. Tomás, de 11 anos, está agora no 5.º ano e a escola é muito diferente da escola primária. Apesar de olhar para o primeiro trimestre do ano letivo e achar que, “contrariamente ao expectável, até correu bem”, Sónia Cardoso Sardinha reconhece que a rotina da família mudou muito e todos tiveram de se adaptar.

“Há uma exigência muito maior até de nós, pais. Ele é um menino covid, fez grande parte da escola primária em confinamento. Mas era uma criança muito autónoma. Agora, com a pré-adolescência, tornam-se mais preguiçosos. Tenho de o acompanhar nos trabalhos. Tenho de lhe ir ver os cadernos, coisa que não era necessária até aqui, que ele era muito responsável”, conta à CNN Portugal.

“As classificações foram boas, mas muito por causa desse acompanhamento em casa. Está nos ‘bons’ e ‘muito bons’. No final do semestre até acredito que vá subir a algumas disciplinas. Felizmente, tenho um filho com autoestima elevada, que acha que não precisa de estudar [risos]. Mas acho que eles nesta idade têm de ter uma rotina de estudo e não têm”, reconhece.

“Imensos trabalhos de casa”

Patrícia Rafael é mãe solo de duas raparigas de 16 e nove anos. Idades bastante díspares que dificultam a rotina desta administrativa de 43 anos, que vive no Algarve. “Não é fácil ir buscar, ir levar… os transportes não são fáceis. Os horários de saída não são amigos dos pais que trabalham. A mais velha vai de autocarro para a escola ou com a madrinha. A mais nova depende de mim. Ela só começa as aulas às 09:00, mas tenho de a deixar às 08:30. No inverno é muito difícil. Já tive discussões com as funcionárias, porque não querem o pavilhão sujo, então deixam andar os miúdos lá fora ao frio”, descreve.

Sozinha, tem dificuldade em acompanhar os estudos das duas. Teve de recorrer a explicações. “Por causa dos transportes e dos horários, tive de optar por explicações online, porque é complicado gerir tudo. A mais nova tem explicações duas vezes por semana, quando não tem explicações tem atividades”, relata.

Mas a filha mais nova traz “imensos trabalhos de casa todos os dias” e, no meio da apertada rotina, o cansaço apodera-se dela e a vontade de trabalhar, depois de um dia intenso, a vontade de estudar já é pouca: “Na explicação, ela faz tudo e é super educada. Mas, em casa, não quer ter rotina de estudo. Tenho de a obrigar e é muito desgastante.”

Para o segundo período escolar que agora arrancou, Patrícia não hesita nos desejos: “Gostava que não houvesse TPC ou pelo menos esta quantidade que a professora manda. É um absurdo! E gostava que os horários de trabalho fossem mais compatíveis com os da escola ou o contrário.”

“A escola é um momento de interrupção daquilo que é prazeroso”

A motivação das crianças é um aspeto delicado da gestão das rotinas familiares. A psicóloga Tânia Correia e mentora do blogue 3 M’s Menina, Mulher, Mãe lembra que a escola devia ser “um processo leve e não aversivo”. “A escola é um momento de interrupção daquilo que é prazeroso. O nosso cérebro está programado para nos afastarmos daquilo que é uma obrigação e aproximar-nos daquilo que é prazeroso. Nós, adultos, temos a outra parte do cérebro que nos diz que tem de ser. Mas eles não têm essa parte do cérebro ainda desenvolvida”, explica.

“Há crianças que estão exaustas. A quantidade de atividades extracurriculares que algumas crianças têm é equivalente à agenda do CEO de uma empresa”, acrescenta.

Por isso, no momento de estudar em casa, é importante apostar no prazer que a criança possa tirar desses momentos. “Queremos forçar a criança a estar sentada a uma secretária a estudar. Eles já fazem isso a semana toda. Ao fim de semana, não há mal nenhum em deixá-los estudar onde eles quiserem. Há miúdos que gostam de estudar em pé, e dão saltos e fazem rodas… e isso não tem mal nenhum!”, defende Tânia Correia.

Depois, é fundamental a escolha da pessoa que acompanha habitualmente a criança nos estudos. A psicóloga sublinha que é importante “perceber se essa pessoa é a que tem o melhor perfil para fazer esse apoio”. “Uma pessoa que tem um gatilho mais reativo ao estudo não é a pessoa mais indicada para essa tarefa”, exemplifica.

O tempo com os pais e a gestão das emoções

A psicóloga Tânia Correia defende que, acima de tudo, é fundamental não esquecer as emoções, de pais e filhos. E encontrar tempo para estarem uns com os outros. “Estar com os pais também precisa de ser encarado como uma atividade extracurricular. E até de enriquecimento curricular!”, sublinha.

A psicóloga considera que as pausas letivas devem ser aproveitadas para “fazer um ponto de situação emocional da criança e nosso também” e ter em conta o excesso de estímulos. “É como a gestão da embraiagem e do acelerador. Se tivermos uma criança muito estimulada emocionalmente, temos uma criança com poucos recursos para a aprendizagem ou para traduzir as aprendizagens”, alerta.

“É imprescindível que falemos das nossas emoções aos nossos filhos. Estou triste, estou zangada, tenho medo… Com isso, estou a pôr-me vulnerável. E isso é altamente benéfico para os nossos filhos. É um canal emocional que nos liga aos nossos filhos para sempre. Outras ligações vão-se perdendo, mas a ligação emocional não se perde nunca”, sublinha.

“E temos de ser nós a abrir este canal emocional. Não podemos ser nós a esperar que eles se exponham. E temos de ter a consciência que ‘cansada’, ‘stressada’… não são emoções. São guarda-chuva da tristeza, da zanga, do medo… Vamos sempre a tempo de trabalhar emoções com as crianças. Elas estão ávidas de partilhar emoções connosco. Tendem a escutar-nos muito nesses momentos”, acrescenta.

E a psicóloga, que também é mãe de duas crianças, dá um exemplo da aplicação desta ligação emocional: “Pode ser usado no dia a dia, como estratégia. Dizer ‘eu sei que não te apetece estudar, eu sei que estás zangado, quando tinha a tua idade também não me apetecia estudar’. É meio caminho andado para desbloquear.”

A falta de tempo e o excesso de tecnologia

Em casa de Sónia Cardoso Sardinha há uma luta extra: o combate ao excesso de tecnologia. A comercial de 50 anos lamenta a dependência que os jovens têm dos ecrãs. Ela e o marido optaram por não deixar o filho levar telemóvel para a escola e houve mesmo um tempo em que o incentivaram a levar a bola de futebol. “Numa altura em que não teve professor, ele levava uma bola de futebol, mas não tinha com quem jogar porque os outros estavam todos ao telemóvel”, lamenta.

“Já tive uma questãozinha com os professores que incentivavam o uso de telefone na sala de aula. A meu ver isso podia ser um complemento, mas não A ferramenta”, defende.

Na análise do decurso do primeiro período, Patrícia Rafael encontra o cansaço e a falta de tempo como um entrave à tranquilidade familiar. “Tenho plena consciência de que mudei de emprego e o acompanhamento não é o mesmo. Estou mais cansada. Não tenho a mesma paciência… Acaba ela [a filha mais nova] a chorar e eu também… facilito muito mais. Não faço o acompanhamento que gostaria e que acho necessário”, admite a administrativa.

Oito conselhos para um resto de ano letivo sem percalços

Tânia Correia lembra que cada família é uma família. As rotinas e os processos têm de ser adaptados. Ainda assim, é possível reunir alguns conselhos que podem ser úteis a qualquer família e ajudar a melhorar rotinas e, porque não, também resultados escolares dos mais novos.

  • Fazer uma avaliação emocional de cada criança e dos pais. “Enquanto mãe, posso parar para pensar: ‘tenho falado sobre o que sinto?’, ‘a minha criança tem falado sobre o que sente?’. Não? É uma boa altura para começar. Eventualmente, procurar a ajuda de um profissional”, diz a psicóloga.
  • Avaliar e ajustar expectativas. “O que é que eu espero em termos de sucesso desta criança? A maior parte das pessoas encara como sucesso ter 5 a tudo. E a maioria das vezes não é por aí que passa o sucesso escolar de uma criança”, sublinha.
  • Avaliar as áreas de interesse da criança. “A criança é um ser humano e nenhum ser humano gosta de tudo. Cada criança tem o direito de gostar mais de uma matéria do que de outra e a ser melhor a uma disciplina do que a outra”, observa.
  • Perceber qual é a via pela qual a criança aprende. “Há crianças mais visuais, que aprendem mais a partir de estímulos visuais, ilustrações, filmes… outras são mais auditivas. Ajustar estratégias de estudo com a criança à forma dela se conectar ao mundo. Se calhar, se inventarmos uma canção sobre a matéria, uma criança mais auditiva vai ter mais facilidade. As visuais não. As cinestésicas precisam de algo palpável, manuseável. Muitas vezes precisam de estar a fazer rabiscos no caderno. Não estão distraídas, estão a processar o conhecimento”, explica.
  • O problema pode estar na escola. “Neste momento, há muitos estabelecimentos escolares que não estão a funcionar da melhor forma. Há muitos professores em burnout, os currículos estão muito desajustados àquilo que são as reais competências das crianças. Não é que não consigam acompanhar. Infelizmente, a maior parte vai fazê-lo, mas vai fazê-lo abdicando de um funcionamento saudável. Há muitas crianças a trazerem um excesso de trabalhos de casa, depois de já terem passado o dia inteiro concentradas. Há muitas crianças que não têm um dia a dia de criança”, lamenta Tânia Correia.
  • Autoavaliação dos pais. “Se estivermos num ponto de desequilíbrio, não podemos esperar que a criança não esteja. Há muitos pais que também estão em situação de burnout, de depressão de ansiedade… e isto não é benéfico para os nossos filhos. Lembro-me sempre do conselho das assistentes de bordo para, em caso de despressurização, primeiro colocarmos a nossa máscara de oxigénio e só depois a das crianças. Se não estivermos bem, não as podemos ajudar”, exemplifica.
  • Avaliar as rotinas familiares. “Como está a criança em termos de liberdade, de lazer… Como está a ser para estes pais, em termos de carga emocional… Quase sempre aquilo que está a incomodar as crianças, está a incomodar os pais. A maioria dos pais consegue identificar na gestão familiar aquilo que não está a resultar”, garante.
  • Proteger sempre a essência da criança. “Não tornemos a criança nos seus resultados. A criança não é as suas notas e tem uma série de características que são dela e isso precisa de estar protegido, independentemente do que acontece na escola”, finaliza a especialista.

Qual a idade mínima para ter um smartphone?

Outubro 23, 2023 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Artigo de opinião publicado no Diário de Coimbra de 14 outubro de 2023.

Escola de Barcelos proíbe telemóveis: “Ambiente completamente diferente. Os alunos convivem”

Outubro 21, 2023 às 4:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do O Minho de 9 de outubro de 2023

POR PEDRO LUÍS SILVA

A Escola Básica Integrada (EBI) de Fragoso, no concelho de Barcelos, proibiu, este ano letivo, os alunos de utilizaram o telemóvel no recinto escolar. A medida foi aplaudida pelos pais e acatada pelos estudantes, do 1.º ao 9.º ano de escolaridade. Um mês volvido, o diretor, Manuel Amorim, faz um balanço muito positivo: “Sente-se um ambiente completamente diferente. Os alunos convivem”.

A iniciativa de proibir totalmente os telemóveis na EBI de Fragoso surgiu devido à “quantidade de ocorrências que houve durante o ano letivo transato”, como “miúdos que tiravam fotografias nos balneários e publicavam” e “ameaças nas redes sociais”, conta Manuel Amorim a O MINHO, salientando que algumas das situações acabaram mesmo com “queixas no Ministério Público”.

Por isso, a escola decidiu, no início deste ano letivo, “fazer a experiência e ver qual seria a recetividade por parte dos encarregados de educação”.

Da parte dos pais, “a recetividade foi a melhor possível e, do lado dos alunos, até agora não tem havido problema absolutamente nenhum”, garante o diretor da EBI de Fragoso, que incluem os três ciclos do ensino básico, com crianças entre os seis e os 14 anos.

Não há controlo, mas alunos cumprem

Manuel Amorim nota que a vivência no recinto escolar mudou radicalmente, para melhor: “Sente-se um ambiente completamente diferente. Os alunos convivem, estão sentados nas mesas do bufete a conversar, a jogar, a brincar, coisas que não se viam até agora. [Antes] cada um estava no seu telemóvel, a pensar nas suas coisas. Logo no primeiro dia, após a receção, estavam todos sentados nas escadas a conversar uns com os outros, o que não se verificava em anos letivos anteriores”.

E há algum controlo à entrada? “Não fazemos controlo absolutamente nenhum”, apenas “foi pedido aos alunos que não tragam os telemóveis”, responde Manuel Amorim, garantindo que todos têm cumprido a regra.

No entanto, há punições: “Se forem apanhados dentro do recinto escolar com o telemóvel, da primeira vez, vão ficar sem ele e só será entregue aos encarregados de educação; da segunda vez que sejam apanhados, não será mais entregue até ao final do ano letivo”.

Pais aplaudiram de pé

Estes procedimentos foram colocados no regulamento interno e têm sido cumpridos. “Até agora nenhum aluno foi apanhado com o telemóvel”, garante o diretor, acrescentando que a escola até tem “posto música nos intervalos para os miúdos poderem conviver”.

“Está a correr muito bem. Estávamos um bocado apreensivos, mas foi completamente pacífico”, observa Manuel Amorim, salientando a importância de os encarregados de educação terem concordado com a medida.

“No dia da receção com os encarregados de educação, quando anunciámos [a medida], pensávamos que íamos ter bastante reclamação, mas, pelo contrário, toda a gente se pôs a pé a bater palmas. E os alunos aceitaram perfeitamente, mesmo os que eram completamente viciados no telemóvel agora convivem com os colegas, sem problema absolutamente nenhum”, vinca o diretor.

Na sala de aulas, “todos os alunos agora têm computador oferecido pelo Ministério da Educação, pelo que não se justifica a utilização do telemóvel”. E no caso de alguma urgência, os pais podem contactar os filhos através do telefone fixo da escola.

“A única coisa que queremos é que os alunos sejam crianças. Para serem crianças, têm que conviver, têm que brincar e não estarem amarrados um dia inteiro ao telemóvel em todos os intervalos, porque não é assim que vão conviver. Têm que conviver e cada vez conviviam menos”, conclui Manuel Amorim.

Ministro da Educação pediu parecer

“Acho que é um tema complexo e porque é complexo nós precisamos do saber de quem sabe, em particular dos professores e das direções [das escolas] que estão no terreno e, por isso, é que pedi este parecer ao Conselho das Escolas para não decidir por achismo ou de alguma forma intempestiva”, afirmou João Costa no VIII Encontro Internacional sobre Inovação Pedagógica SUPERTABI 2023, na Maia, distrito do Porto.

Assumindo não ter uma “posição definida” sobre o assunto, o governante vincou, contudo, não ser “adepto da proibição, mas mais adepto da promoção de hábitos saudáveis”.

João Costa considerou que o telemóvel é também um recurso didático, preocupando-o, no entanto, o aumento de “algumas questões de segurança e de `cyberbullying´”.

“Aquilo que me preocupa, dizendo assim, é quando estou em escolas e vejo às vezes nos intervalos que os alunos não falam uns com os outros, estão todos com os olhos postos no ecrã”, frisou.

E acrescentou: “Preocupam-me algumas questões de segurança e de ‘cyberbullying’ que tem aumentado”.

Escola sem telemóveis: “Ó sra. diretora podia dar uma chance… Nem que seja um minuto ou dois”

Outubro 8, 2023 às 4:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia da TSF de 25 de setembro de 2023.

Ouvir a reportagem aqui

Pelo sétimo ano letivo consecutivo, o uso de telemóveis é proibido na Escola Básica 2/3 António Alves Amorim, em Lourosa, no concelho de Santa Maria da Feira. A direção refere que os resultados estão à vista, mas os alunos dividem-se.

Por Sónia Santos Silva

É muito difícil… assim não podemos falar com as miúdas!

SalvadorLaraDiogoDiego e João são cinco dos mais de 600 alunos da Escola Básica António Alves Amorim, em Lourosa. Aproveitam o intervalo para fazer um pedido à diretora que, há seis anos, decidiu proibir o uso de telemóvel no recinto.
“Ó sra. Diretora podia dar uma chance… nem que seja um minuto ou dois”.

Sem aparelhos, o grupo dedica-se a outros afazeres nos intervalos. “Jogamos futebol… às vezes só comemos… outras vezes vamos para trás da escola caminhar”.

Francisca é caso raro. Não tem telemóvel, mas gostava, “e vou ter no Natal. Vai ser bom para mandar mensagens às minhas amigas”.

Mais velho, Mateus Teixeira ouve os alunos do 6º ano. Ele – que anda no 8º ano – diz que até passa bem sem o telemóvel. Agora não o traz para a escola, porque está de castigo.

“Eu consigo conviver muito bem com os meus amigos. Só precisava do telemóvel, um pouco, nos intervalos… podíamos ter mais momentos… tirar umas fotos…”.

O intervalo de quinze minutos é barulhento. Inês aproveita para pôr a conversa em dia com as amigas. “Eu gosto de fofocar com as minhas amigas e de chatear os rapazes”.

Joana Santos frequenta o 9º ano. Desde o 5º ano, conhece e cumpre o regulamento interno. No grupo de amigos de outras escolas é questionada. “Dizem que deve ser estranho e que deve ser muito difícil, mas não é”.

Dinis Pereira e o grupo de amigos da mesma turma do 6º ano não tiveram uma aula. Ocupam bem o tempo livre. “Nós estamos com os nossos amigos e quando não está a chover vamos jogar futebol”.

O Diego e o Guilherme têm telemóvel. Nem o trazem para a escola. Quando saem da escola têm muito para fazer, ainda longe do ecrã. “Eu tenho uma lista de tarefas… tenho de fazer a cama, arrumar a sala, dar a comida aos animais…”, remata Diego.

Práticas Online Seguras e Saudáveis

Outubro 5, 2023 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Texto da SeguraNet

A Direção-Geral da Educação, através do Centro de Sensibilização SeguraNet, divulga o folheto de sensibilização “Práticas Online Seguras e Saudáveis”, que visa alertar crianças e jovens para o uso seguro e saudável dos dispositivos móveis, em particular, dos computadores portáteis distribuídos pelo Programa Escola Digital. Estes dispositivos constituem um instrumento valioso para a aprendizagem, mas é imprescindível adotar práticas que promovam uma utilização saudável e produtiva dos mesmos.

versão de impressão do folheto (PDF) está disponível para download e pode ser descarregada e divulgada junto dos alunos e das famílias, tanto no formato digital como no formato papel.

Aconselha-se ainda os pais, os encarregados de educação e as famílias a:

– Definir limites de tempo de utilização e determinar horários específicos para o uso de portáteis e de outros dispositivos, como depois da escola ou durante o tempo de estudo. Evitar o seu uso antes de dormir, de forma a promover um bom descanso;

– Promover a Educação para a Cidadania Digital: sensibilizar as crianças e os jovens para os comportamentos de risco online, como o ciberbullying, a partilha inadequada de informações pessoais e a interação com estranhos;

– Equilibrar o tempo despendido online com atividades offline, como o desporto, a leitura, as brincadeiras ao ar livre e interações sociais em presença;

– Incentivar o uso do portátil para fins educacionais, como pesquisa, projetos escolares e aprendizagem online;

– Realçar a importância de uma postura adequada ao usar os dispositivos e incentivar pausas regulares para evitar problemas físicos;

– Alertar sobre a partilha responsável de informações e imagens online, tendo sempre presente a importância do respeito à privacidade;

– Ser um modelo positivo de comportamento online, demonstrando uso responsável e respeitador da tecnologia;

– Manter um diálogo com o educando para que se sinta à vontade para relatar qualquer problema ou desconforto online;

– Encorajar a utilização do portátil numa área comum da casa, onde se possa monitorizar o que está a acontecer mais facilmente;

– Incentivar para que o tempo gasto online seja de qualidade, com atividades educacionais e construtivas;

– Usar os serviços de apoio, como a Linha Internet Segura.

Vamos criar um ambiente seguro e saudável, equilibrando o benefício da tecnologia com a responsabilidade digital!

Há cada vez mais pais a vigiar os filhos com GPS. Insegurança ou controlo?

Outubro 3, 2023 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Texto do Notícias Magazine de 23 de agosto de 2023.

por SARA SOFIA GONÇALVES 

Ainda que a funcionalidade de partilha de localização esteja há muito disponível em smartphones e relógios inteligentes, foi com o lançamento da AirTag, um pequeno dispositivo da Apple para localizar objetos, em 2021, que se começou a ouvir falar do controlo de localização dos mais novos. A moda, tal como outras que lhe antecederam, não fica livre de críticas. Psicólogos parecem ser unânimes sobre evitar o seu uso, mas há ainda a pesar a questão ética e legal.

Segundo episódio. Quarta temporada. Série “Black Mirror”. A trama conta a história de uma mãe e de uma filha, mas o foco é a nova tecnologia que promete revolucionar a parentalidade. Através de um chip, colocado na criança, os pais conseguem monitorizar onde esta se encontra, o que está a ver e até censurar o que observa e sente. “Arkangel” é uma distopia que parece não deixar dúvidas quanto à ética e que, provavelmente, repulsa qualquer um que a assista. Mas estamos assim tão longe de uma realidade em que o controlo parental é absoluto? Pelo menos temos dado alguns passos nessa direção.

Ainda que o seu uso original não seja para esse fim, os AirTag (ou outros semelhantes de outras marcas), um pequeno dispositivo redondo, do tamanho de uma moeda de dois euros, que permite, através do smartphone, detetar a sua localização, têm sido utilizados para, presas à mochila, à carteira ou à própria roupa da criança, fazer uma monitorização parental dos mais novos. O uso é tão comum que é cada vez mais normal encontrar, tanto na Internet como em lojas generalistas, alfinetes ou braceletes próprias para estes dispositivos com cores ou desenhos infantis.

Se esta utilização dos dispositivos de localização é usada para casos esporádicos, por exemplo, apenas consultada a localização quando a criança está efetivamente perdida, ou se o controlo é feito de forma regular, para vigiar o caminho para casa, por exemplo, não se sabe. Em fóruns, principalmente norte-americanos, há quem admita usá-lo para ambos os fins. A nível académico, pouco se sabe, uma vez que se trata de um fenómeno recente. A ética deste tipo de controlo ficará a cargo de cada um. Ainda assim, há diversos especialistas que têm proferido sobre o tema.

Comecemos pelo lado legal. Uma vez que as Nações Unidas preveem um rol de direitos das crianças, estaremos a infringi-los ao utilizar métodos de controlo como este? “Quando pensamos no seu uso para questões de segurança, pensamos em crianças pequenas, que não têm idade para ter um telemóvel ou um relógio inteligente”, começa por esclarecer Cristina Dias. A presidente da Escola de Direito da Universidade do Minho e especialista em Direito da Família entende desta forma que o uso deste controlo de localização tem sido adotado no caso de crianças pequenas, que não têm ainda consciência de situações de perigo, de como se defender ou entendimento suficiente para dar consentimento sobre aquele (ou outro) controlo.

Utilização consentida

No caso de uma criança de seis a oito anos, quer pela utilização deste aparelho quer pelo controlo através do telemóvel, é preciso o consentimento da criança? “Não me parece”, afirma Dias, que considera não estarem em causa, nestes casos, os direitos da criança, “desde que tudo isto seja exclusivamente utilizado no âmbito das atividades parentais”.

Se pelo lado legal não parece haver dúvidas, o mesmo não se poderá dizer da Psicologia. Natália Fernandes, investigadora no Centro de Investigação em Estudos da Criança, começa por definir o “direito à privacidade como essencial para construir a confiança”. “Se as crianças se sentirem vigiadas, podem estar criadas condições para que a relação com os pais fique minada.” A especialista realça que não se tratam, na maioria, de consequências a curto prazo, mas que o controlo excessivo pode ter uma influência ao longo do crescimento.

“É algo que na Psicologia da Infância se tem vindo a discutir, principalmente desde a década de 1990, que é o modo como a criança, sujeito de direitos, tem formas de participar na sua própria proteção.” Natália Fernandes acredita que os mais novos devem ter uma participação ativa no seu desenvolvimento, incluindo no que concerne à proteção. “Se incutirmos a criança com a noção dos riscos e de como enfrentá-los, ela será capaz de se adaptar às situações menos agradáveis e que, muitas vezes, os pais prefeririam que não acontecessem.” A realidade, realça, é que são os riscos, de forma mediada, que contribuem também para a formação de caráter.

“Parece-me muito mais importante, até em termos civilizacionais, investirmos em relações de diálogo, em que os mais novos percebem quais os perigos e como reagir, são dotados de estratégias para se proteger, e que sabem que podem e devem partilhar qualquer situação desconfortável com um adulto, sejam pais, professores ou outros.” Em suma, Fernandes acredita ser “muito mais eficaz e respeitador dos seus direitos” optar pela educação para os riscos e estratégias do que preferir o controlo absoluto.

Pais inseguros. Filhos inseguros

Paulo Dias, neuropsicólogo com trabalho dedicado à infância, corrobora as ideias da investigadora. “Defendo cada vez mais que os pais têm de entender que os filhos não são propriedade deles.” Um dos papéis da parentalidade, continua, “é de educação dos próprios filhos e de ajudá-los no crescimento e desenvolvimento”. Não de controlo obsessivo. “Quando olhamos para o uso destes dispositivos, e já trabalhei na questão das trelas, também elas polémicas, estamos perante uma parentalidade insegura.” E, conclui, “pais inseguros constroem insegurança nos filhos”.

E porque é que tem crescido a parentalidade insegura e a necessidade de controlo? Por diversas razões, aponta Paulo Dias, entre elas as redes sociais (que abordaremos adiante), mas, principalmente, por “vivermos, fruto da sociedade, numa parentalidade imatura, em que há dificuldade dos próprios pais em definir quais são os objetivos da sua educação, uma vez que procuram incessantemente colmatar todo o tipo de falhas de forma a preencher a própria insegurança e falta de confiança em ser bons pais”.

Ainda que o seu uso continuado e como “regra” esteja associado a diversas falhas no desenvolvimento emocional da criança, Paulo Dias não descarta totalmente o seu uso, acreditando que podem ser interessantes em casos excecionais. “Pense-se na recente enchente de milhões de pessoas na Jornada Mundial da Juventude ou das praias repletas de turistas no Algarve – esta localização pode ajudar a evitar situações de pânico quando a criança é perdida de vista.” Ainda assim, o profissional acredita que é benéfico apostar, antes, em sistemas como o criado pela Polícia de Segurança Pública, com a distribuição de pulseiras para as crianças com informações sobre os pais. Evita-se a parte do controlo excessivo, mantendo a questão da segurança. “O problema é fazerem da exceção uma regra, monitorizando os filhos a toda a hora, tendo acesso aos filhos a qualquer momento.”

Efeito contrário

Este controlo pode ainda ter um efeito contraproducente, uma vez que a criança acredita estar protegida constantemente pelos pais, negligenciando a sua própria ação. Poderá começar a ser comum o pensamento: “Os meus pais vão aparecer se me acontecer algo, por isso não preciso de fazer nada”. Natália Fernandes considera que “é mais eficaz confrontarmos as crianças com os perigos, consoante a sua faixa etária, e dotando-as de mecanismos para os enfrentar”. “Acho que poderemos estar a abandonar esta necessidade de diálogo e de ensino através da passagem de conhecimento quando confiamos na omnipresença das tecnologias.”

Acrescendo a todas as consequências negativas já relatadas, Natália Fernandes nota ainda um perigo: o facto de as crianças serem cada vez mais competentes com as tecnologias e poderem ter conhecimentos para as desligar.

Mas voltemos à questão legal. Ainda que Cristina Dias, do Direito da Família, não veja problemas na utilização destes mecanismos, realça que assim é no caso de uma família em ambiente materno-filial normal, com o puro intuito de vigilância parental. “É evidente que a resposta não pode ser linear quando estamos perante um caso de divórcio, rutura da relação ou até litígio entre os pais, onde se faz utilização do controlo para outros fins que não o educacional.”

Se no caso dos mais novos este controlo pode ter implicações no desenvolvimento emocional, a médio e longo prazo, quando se fala de idades mais avançadas, como a pré-adolescência ou a adolescência, mais complicações se podem somar. “Nestas fases há sentimentos de ressentimento e este tipo de controlo será lido como uma invasão à liberdade e privacidade, deixando a relação com os pais comprometida e, acima de tudo, ser perigosa por poder incitar à raiva e à revolta, levando efetivamente a comportamentos perigosos”, entende Paulo Dias, neuropsicólogo especialista em crianças e adolescentes das Clínicas Dr. Alberto Lopes.

Consequências de futuro

A longo prazo, o especialista em Psicologia da Infância alerta que não são ainda conhecidas as consequências que advirão deste tipo de comportamento. “Não há estudos que nos falem deste tipo de comportamento de modulagem mas, sabendo a Psicologia que as crianças se vão moldando pelos comportamentos dos pais, temo que podemos estar a criar a ideia de que controlar o outro é fácil.” Ou seja, crianças que crescem habituadas a ser monitorizadas poderão, no futuro, ser adultos que, além de replicar esse comportamento nos seus filhos, banalizarão a monitorização entre adultos.

Cristina Dias, à parte da questão legal, alerta que a própria marca criadora do modelo mais conhecido destes dispositivos, a Apple, veio, aquando do início desta moda, realçar em comunicado que o seu uso não se destina a animais ou crianças. Um dos fatores a ponderar é o tamanho do objeto, que representa um risco para os mais novos, uma vez que pode ser facilmente engolido.

Para Paulo Dias, “esta moda” (e outras semelhantes) é fruto da Internet e das redes sociais. “Há muitos pais que utilizam estes dispositivos sem necessidade, não avaliando o contexto em que vivem.” É diferente educar uma criança em Portugal ou num país em que a taxa de raptos ou de violência é elevadíssima. “O meu filho nunca me deu razões, mas vou usar porque alguém me recomendou ou porque li na Internet que previne isto e aquilo.” Parece ser este, na opinião do psicólogo, o pensamento dos pais que utilizam estes métodos. “A comparação social trazida pelas redes sociais não afeta só a questão da autoestima física ou o desenvolvimento dos nossos adolescentes, tem também impacto no comportamento dos adultos, muitas vezes sem estes terem essa consciência.”

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