Portuguesa desenvolve rastreio para identificar perturbações de linguagem em crianças
Julho 17, 2020 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentárioEtiquetas: Crianças, Desenvolvimento da Linguagem, Deteção, Idade Pré-Escolar, Perturbações do Desenvolvimento da Linguagem, Tânia Roçadas, Unidade de Dislexia UTAD, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)
Notícia da TVI 24 de 24 de junho de 2020.
Uma investigadora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) está a desenvolver um protocolo de rastreio para a deteção precoce de perturbações do desenvolvimento da linguagem em crianças em idade pré-escolar.
A investigação está a ser desenvolvido por Tânia Roçadas, do Centro de Estudos em Letras da UTAD, em conjunto com a Unidade de Dislexia daquela academia localizada em Vila Real.
O desenvolvimento adequado das capacidades de linguagem é crucial para o desenvolvimento das habilidades cognitivas, afetivas e de interação social”, salientou Tânia Roçadas, num comunicado divulgado pela universidade transmontana.
As perturbações do desenvolvimento da linguagem (PDL) são alterações do desenvolvimento da linguagem associadas a causa desconhecida.
De acordo com o comunicado, estudos já realizados estimam que, em idade pré-escolar, existe uma prevalência de PDL entre os 3% e os 7%.
A investigadora explicou que as “PDL influenciam negativamente as trajetórias académicas, as interações sociais, o desenvolvimento profissional e o bem-estar individual”.
Por isso é crucial detetar tão cedo, quanto possível numa idade que permita o diagnóstico, a presença dessas perturbações de modo a que estas crianças possam ter acesso a ajuda e a serviços especializados para colmatar e/ou atenuar os efeitos nefastos desta condição”, acrescentou Ana Paula Vale, diretora da Unidade de Dislexia da UTAD.
De acordo com Tânia Roçadas, os dados obtidos e a metodologia utilizada nesta investigação “serão usados para a criação de um protocolo de rastreio que possa vir a ser utilizado para a deteção precoce de PDL em crianças em idade pré-escolar”.
No estudo que está a ser desenvolvido pela investigadora estão em análise dois grupos de crianças com idades compreendidas entre os 4 e os 6 anos, equiparados em termos de faixa etária, condição socioeconómica e sem problemas auditivos: um grupo de crianças com níveis normativos relativamente às competências da linguagem e outro grupo com níveis considerados indicadores de PDL.
Até ao momento, foram testadas 107 crianças, em quatro jardins de infância do distrito de Vila Real e na consulta de desenvolvimento do serviço de pediatria do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), através do protocolo de colaboração estabelecido no âmbito da investigação.
Na avaliação, explicou, foram usados dois testes padronizados que avaliam o desenvolvimento da linguagem, uma prova de capacidades cognitivas gerais não verbais, uma prova de repetição de frases, desenhada para avaliar as competências gramaticais, e uma prova de repetição de palavras e pseudopalavras.
Os dados obtidos até à data revelam que as crianças com perturbação de linguagem apresentam desempenhos muito abaixo dos das crianças com desenvolvimento normativo nas tarefas de repetição de frases”, afirmou Tânia Roçadas.
A investigação é financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia por 48 meses.
Mais informações na notícia da UTAD:
Crianças do pré-escolar passam mais de hora e meia por dia em frente a ecrãs
Julho 2, 2020 às 6:00 am | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentárioEtiquetas: Artigo, Augusto Gama, BMC Public Health, crianças em Idade Pré-Escolar, Cristina Padez, Daniela Rodrigues, Desenvolvimento Cognitivo, Desenvolvimento da Linguagem, Ecrã Táctil, Ecrãs, Estatuto socioeconómico, Estudo, Jogos Eletrónicos, Obesidade infantil, Perturbação do Sono, Portugal, Sedentarismo infantil, Smartphones, Tablets, Televisão, Videojogos
Notícia do Expresso de 19 de junho de 2020.
Foram avaliados os hábitos de 8.430 crianças, com idades compreendidas entre os três e os 10 anos, a residir nas cidades de Coimbra, de Lisboa e do Porto
Um estudo concluiu que as crianças do ensino pré-escolar (até aos cinco anos) passam, em média, mais de uma hora e meia (154 minutos) por dia em frente à televisão e outros dispositivos, anunciou esta sexta-feira a Universidade de Coimbra (UC).
Publicado na revista científica BMC Public Health, o estudo, intitulado “Social inequalities in traditional and emerging screen devices among Portuguese children: a cross-sectional study”, foi realizado por uma equipa de investigadores do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC).
O estudo, refere a UC, teve como objetivo avaliar o tempo de ecrã das crianças portuguesas em diferentes equipamentos eletrónicos — os tradicionais (como a televisão, o computador e as consolas de jogos) e os modernos, incluindo os ‘tablets’ e os ‘smartphones’ –, bem como “determinar as diferenças no uso de acordo com o sexo e a idade das crianças e a posição socioeconómica das famílias”.
Foram avaliados os hábitos de 8.430 crianças, com idades compreendidas entre os três e os 10 anos, a residir nas cidades de Coimbra, de Lisboa e do Porto.
Os dados foram recolhidos em 118 escolas públicas e privadas, e as taxas de participação foram de 58% em Coimbra, 67% em Lisboa e 60% no Porto.
De acordo com os resultados do estudo, nas crianças mais velhas o tempo em frente ao ecrã é maior, sobretudo devido ao maior tempo gasto em dispositivos eletrónicos, como computadores, videojogos e ‘tablets’: aproximadamente 201 minutos por dia.
“Concluímos que a maior parte das crianças, principalmente entre os meninos, excede as recomendações de tempo de ecrã indicadas pela Organização Mundial da Saúde e pela Associação Americana de Pediatria, em que o tempo de ecrã deve ser limitado a uma hora (em crianças até aos cinco anos) ou a duas horas por dia (em crianças acima dos seis anos)”, afirma, citada pela UC, Daniela Rodrigues, primeira autora do artigo agora publicado.
Embora a televisão continue a ser o equipamento mais utilizado, “o uso de ‘tablets’ está generalizado e o tempo gasto neste equipamento é elevado, incluindo em crianças com três anos de idade”, nota a investigadora.
O tempo de ecrã “é sempre mais elevado em crianças de famílias de menor posição socioeconómica, independentemente da idade, sexo, ou do tipo de equipamento”, sublinha ainda Daniela Rodrigues.
De acordo com a investigadora, tendo em conta que o tempo de ecrã está associado a um impacto negativo na saúde das crianças, por exemplo, menor tempo e qualidade do sono, maior atraso no desenvolvimento cognitivo e da linguagem, excesso de peso, etc., estes resultados “indicam que é necessário um maior controlo por parte dos pais no acesso que as crianças têm aos equipamentos eletrónicos”.
Este panorama é “ainda mais preocupante numa altura em que, devido à pandemia de covid-19, as crianças estão obrigadas a passar mais tempo em casa, e precisam de recorrer a alguns destes equipamentos para aceder à telescola”, adverte.
“É fundamental identificar os subgrupos de risco e identificar como cada dispositivo é usado de acordo com a idade, para permitir futuras intervenções apropriadas”, sustenta a investigadora da FCTUC.
Os pais, conclui Daniela Rodrigues, “devem ter em mente que as crianças passam a maior parte do tempo a ver televisão, mas os dispositivos móveis estão a tornar-se extremamente populares a partir de tenra idade”.
O estudo citado na notícia é o seguinte:
Mais de metade das crianças até aos três anos utiliza em excesso as novas tecnologias
Outubro 9, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentárioEtiquetas: Artigo, crianças em Idade Pré-Escolar, Desenvolvimento da Linguagem, Ecrã Táctil, Ecrãs, Estudo, Gazeta Médica, Obesidade infantil, Smartphones, Tablets
Notícia e foto do DN Life de 2 de outubro de 2019.
67% das crianças em idade pré-escolar usa um ecrã para ver vídeos, ouvir música, jogar. Em geral, passam mais tempo do que o recomendado em contacto com as novas tecnologias, muitas vezes criando dependência antes ainda dos três anos, o que contribui para um atraso na linguagem e no desenvolvimento emocional das crianças.
Texto de Rita Rato Nunes | Fotografia de Shutterstock
Tiago tem três anos e gosta de comboios e aviões. É isso que procura no YouTube quando os pais lhe emprestam o telemóvel, “ainda não sabe pesquisar, mas vai pelo histórico”, explica o pai, Miguel Gonçalves. “Já tem aquela sensibilidade para tocar no ecrã, sabe minimizar e maximizar as janelas, aumentar o som, carregar no YouTube e pouco mais do que isso”.
“As crianças hoje estão mais viradas para a tecnologia, dominam mais facilmente um telemóvel do que pessoas com 60 anos. É muito intuitivo. Mas uma criança de três anos não percebe muito, basicamente quer ver bonecos”, diz Miguel.
67% das crianças até aos três anos utilizam as novas tecnologias. A maioria em excesso, recorrendo aos aparelhos eletrónicos durante mais de uma hora e meia por dia com risco de dependência associado. Estes dados foram divulgados na revista Gazeta Médica, do Hospital CUF, num estudo sobre os Hábitos de Utilização das Novas Tecnologias em Crianças e Jovens, publicado no final do ano passado e apresentado esta terça-feira.
“Nós [pediatras] vemos os pais a utilizarem os seus telemóveis para porem um vídeo para os acalmar. É uma estratégia usual para quando vem ao médico, dão de comer ou há uma birra.”
“É muito frequente apercebermo-nos na consulta normal de pediatria, que a criança em idade precoce está demasiado exposta a ecrãs. Recentemente, tive na minha consulta um bebé com seis meses que a mãe só lhe conseguia dar comida com um tablet à frente com um vídeo do YouTube“, diz o pediatra Hugo Faria, um dos autores do estudo.
Segundo o médico, por volta dos dois anos, as crianças passam por uma fase em que os pais têm dificuldade em acalmá-las, principalmente em momentos de maior tensão, como podem ser as idas ao médico. “Nós [pediatras] vemos os pais a utilizarem os seus telemóveis para porem um vídeo para os acalmar. É uma estratégia usual para quando vem ao médico, para quando colocam a colher com a comida na boca dos filhos ou quando há uma birra. Os pais estão pressionados pela vida atual, que é uma vida atarefada, difícil, e isto é uma forma rápida e fácil de entreter e facilitar tarefas em casa. Eu compreendo isto, mas pode ter consequências”, indica Hugo Faria.
O Tiago “não é de muito boa boca e às vezes ao ver os bonecos no YouTube consigo distraí-lo para comer”, diz Miguel Gonçalves. O filho passa cerca de uma hora por dia com o telemóvel nas mãos: “Também gosta de ver um bocadinho antes de dormir ou quando está sentado no sofá, mas também brinca: gosta de jogar à bola, brincar com carrinhos”.
Há indícios claros de que o uso das novas tecnologias nos primeiros anos de vida pode contribuir para atrasar o início da linguagem e o desenvolvimento emocional das crianças.
Embora ainda não existam estudos suficientes sobre o impacto das novas tecnologias nos primeiros anos de vida, há indícios claros de que estas podem contribuir para atrasar o início da linguagem e o desenvolvimento emocional das crianças.
O estudo alerta ainda para “o aumento da probabilidade de excesso de peso e obesidade futura. O hábito de comer enquanto se utilizam estes meios de comunicação e a exposição regular à publicidade de produtos alimentares são fatores de maior risco”, pode ler-se no relatório.
Fica por clarificar o motivo exato pelo qual as novas tecnologias devem ser evitadas em idade pré-escolar: “Não sabemos ainda se isto acontece por efeito direto do estimulo que os ecrãs dão ou se acontece porque estamos a substituir tempo com os adultos, os pais, que são a principal fonte de estimulo para as crianças dessas idades”, refere o pediatra.
Vídeos, música e jogos é o que atrai mais as crianças
Ver vídeos, ouvir música e jogar: é assim que a maioria destas crianças passa mais de uma hora e meia com os aparelhos eletrónicos. Para a Academia Americana de Pediatria (APP), que tem emitido várias recomendações sobre o tema, os pais não devem permitir que crianças com menos de 18 meses tenham contacto com os meios digitais, com exceção feita para as videochamadas. Depois desta idade, devem escolher aplicações ou programas didáticos para assistir com os filhos, descodificando o seu conteúdo. Entre os dois e os cinco anos, a APP recomenda que o uso das novas tecnologias não ultrapasse os 60 minutos.
O estudo revela ainda que o aparelho tecnológico mais usado pelas crianças até ao três anos é o tablet, depois o telemóvel, o computador e a consola.
“Estes novos meios de comunicação são importantes, são o futuro, mas têm de ser limitados. É preciso deixar espaço para que haja outras atividades e é preciso deixar um espaço livre de estimulo para outras atividades, nomeadamente, o estudar, o dormir, o brincar, o convívio com a família. A internet deve abrir janelas de comunicação e não fechar outras”, diz Hugo Faria.
O artigo citado na notícia é o seguinte:
Efeitos da Exposição a Dispositivos Digitais no Desenvolvimento da Linguagem em Idade Pré-Escolar
Em Lisboa, há um laboratório a estudar o desenvolvimento da fala de bebés com trissomia 21
Junho 21, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Bebés, Crianças, Desenvolvimento da Linguagem, Neurodesenvolvimento, Trissomia 21
Notícia do Público de 23 de maio de 2019.
O projecto Horizonte 21 pretende encontrar elementos cruciais nas perturbações da fala nos bebés com trissomia 21 e contribuir assim para o acompanhamento clínico destas crianças ao nível da linguagem.
No Laboratório do Bebé de Lisboa (Lisbon Baby Lab), 42 bebés com trissomia 21 entre os cinco e os 30 meses estão a ser estudados. Neste laboratório da Universidade de Lisboa quer saber-se quais são os sinais precoces no desenvolvimento da linguagem destes bebés. Até agora, percebeu-se que as suas competências para segmentar as palavras se desenvolvem mais tarde do que nos bebés sem perturbações no neurodesenvolvimento.
“Surpreendentemente, os défices linguísticos na síndrome de Down [trissomia 21] estão entre os menos estudados, em particular no que respeita ao desenvolvimento inicial da linguagem e comunicação, isto é, as capacidades de percepção e linguagem”, diz ao PÚBLICO Sónia Frota, directora do Laboratório do Bebé de Lisboa.
Desta forma, em Abril de 2016 iniciou-se o projecto Horizonte 21 para colmatar essa falha. Ao fazer um estudo longitudinal em bebés com trissomia 21, o grande objectivo deste trabalho é obter dados sobre a percepção da linguagem nestas crianças. Espera-se assim conseguir elementos crucias para a compreensão das perturbações da linguagem e de como estão relacionadas com as capacidades cognitivas. No final, pretende-se ainda que este estudo tenha implicações nos planos de intervenção e acompanhamento clínico destes bebés ao nível da linguagem e comunicação.
E como se chegará até aí? Ao longo do estudo, os bebés com trissomia 21 realizam as mesmas experiências que foram usadas para analisar o desenvolvimento de bebés sem risco de perturbações de linguagem e comunicação. “Essas tarefas visam estudar as competências dos bebés para a percepção de melodias e outras características prosódicas [melodia e ritmo] da linguagem determinantes para a comunicação, para a segmentação de palavras no contínuo da fala ou para a aprendizagem de palavras”, especifica Sónia Frota, que falou deste projecto nas 2.ª Jornadas do Centro de Estudos do Bebé e da Criança do Hospital Dona Estefânia esta semana em Lisboa.
Por exemplo, uma das tarefas da aprendizagem de palavras é observar a distribuição do olhar do bebé por uma imagem durante a exposição a estímulos sonoros. Essa observação é feita através de eye-tracking, aparelho de registo do movimento de olhos.
Até agora, já se obtiveram dois tipos de resultados. Primeiro, percebeu-se que as competências para segmentar palavras (sequências de sons que os bebés captam como sendo palavras) no contínuo da fala desenvolvem-se mais tardiamente nos bebés com trissomia 21. “No segundo ano de vida, os bebés com síndrome de Down começam a mostrar competências de segmentar palavras semelhantes às verificadas a partir dos cinco ou seis meses nos bebés de desenvolvimento típico”, indica a cientista.
Depois, os bebés com trissomia 21 também seguem um padrão diferente a segmentar palavras daquele que se registou em bebés sem perturbações no neurodesenvolvimento. Este padrão diverge de outros bebés porque “não têm facilidade em reconhecer as palavras em posições proeminentes do enunciado, que são posições mais salientes e perceptíveis”, esclarece Sónia Frota, acrescentando que vai apresentar este estudo recente na Conferência do Desenvolvimento Inicial de Bebés e Crianças, em Lancaster, no Reino Unido, em Agosto.
Sugere-se assim que os bebés com melhor desempenho em tarefas de segmentação de palavras têm também um melhor desenvolvimento da linguagem, particularmente a nível expressivo. “Estes resultados levantam a hipótese de intervenções vocacionadas para promover a percepção e segmentação da palavra no contínuo da fala poderem contribuir para favorecer o desenvolvimento da linguagem e da comunicação em crianças com síndrome de Down”, diz ainda a investigadora.
Este projecto termina em Dezembro de 2019, mas ainda se pretende descrever e compreender como se processa o desenvolvimento inicial da linguagem na síndrome de Down e estabelecer quais são os marcadores precoces de desenvolvimento da linguagem na trissomia 21. Isto é: quais são os sinais indicadores no primeiro e no segundo ano de vida no desenvolvimento futuro da linguagem?
Em Novembro, antes de o projecto terminar, o Laboratório do Bebé de Lisboa organizará um workshop internacional sobre o desenvolvimento da linguagem em perturbações do desenvolvimento, o “NeuroD-Well – Linguagem Precoce nas Perturbações do Neurodesenvolvimento”. Numa das sessões serão apresentados alguns resultados do Horizonte 21.
Há mais mundo quando as histórias são contadas em voz alta
Março 16, 2019 às 1:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentárioEtiquetas: Aquisição da Linguagem, Contos, Crianças, Desenvolvimento da Linguagem, Estudo, Histórias, Leitura, leitura em voz alta, Scholastic, Vocabulário
Texto e imagem do site Educare de 1 de março de 2019.
As crianças entram no texto e viajam pelo mundo. Aprendem e questionam. E a imaginação, a curiosidade, o vocabulário, e a aprendizagem saem reforçados. Ler em voz alta aos mais pequenos estará em vias de extinção?
Sara R. Oliveira
Há novidades do outro lado do Atlântico que revelam que a leitura em voz alta para os mais novos está a aumentar desde 2014. Nos Estados Unidos da América, há cada vez mais crianças, entre os seis e os oito anos, que escutam histórias em voz alta pelo menos cinco dias por semana. É um momento especial em família e as boas notícias estão no estudo da Scholastic “Kids & Family Reading Report – The Rise of Read-Aloud”. Mais de 80% dos pais e filhos inquiridos confessaram apreciar bastante essa experiência e esta partilha em família.
Susana Almeida é mãe de dois filhos e blogger (sersupermaeeumatreta). Os seus filhos têm cinco e três anos e todas as noites há histórias para contar lá em casa. Muito cedo, habituaram-se a olhar para um livro como um brinquedo. Ler em voz alta tem várias virtudes e benefícios para as crianças. “Além de fomentar o contacto com os livros, estimula a imaginação, aumenta e diversifica o vocabulário e desperta a curiosidade para mais leituras”, refere a blogger ao EDUCARE.PT.
“A leitura deve ser incentivada”, defende. Susana Almeida não tem dúvidas. Ler em voz alta para os seus filhos “é um momento único de partilha, de conversa e de descoberta de mundos novos”. “A imaginação de uma criança é um terreno fértil, mas precisa de ser regado. Em famílias em que não existem hábitos de leitura enraizados, a escola tem um papel muito importante de levar os livros até às crianças e de fazer esse intercâmbio entre a escola e a casa. Nem todas as crianças vão ser futuros leitores, mas o papel dos pais e da escola é tentar que o sejam”, sublinha.
Em seu entender, não será apenas a leitura em voz alta que está em vias de extinção, a leitura no geral também não respira saúde. “Lemos cada vez menos, seja jornais, revistas ou livros em papel, que têm vindo a ser substituídos pelo que vamos lendo superficialmente na Internet. E acredito que os pais que não têm hábitos de leitura dificilmente vão criar esse hábito nos filhos”.
Mikaela Öven, especialista em parentalidade positiva, vê imensos benefícios na leitura em voz alta aos mais pequenos, seja na aprendizagem, seja no desenvolvimento da linguagem, no raciocínio, entre outras capacidades e competências. “É um excelente momento de conexão e de possibilidade de aprendizagens”, afirma ao EDUCARE.PT. Mas tudo depende dos livros que se escolhem. Uma coisa é ler “A Bela Adormecida”, outra coisa é ler “O Monstro das Cores”. “Depende também se nos limitarmos apenas ao ler, ou se também conversamos sobre o que estamos a ler”, diz.
“Dependendo dos livros que escolhemos é um excelente momento para elaborar e refletir sobre questões emocionais, sobre medos, sobre relações, sobre consentimento, sobre igualdade de género, sobre imensas coisas”. Os benefícios, na sua opinião, dependem muito do género de livro que se escolhe para ler e acredita que uma escolha consciente de livros é muito importante.
Para a especialista em parentalidade positiva, contar as histórias dos livros em voz alta para os mais pequenos não é uma prática em extinção. “Não tenho essa ideia. Acho que as pessoas são muito mais conscientes em relação às suas escolhas de livros infantis. Pelo menos quem se interessa pela parentalidade consciente”. Pais e escolas não devem esquecer que essa prática estimula a aprendizagem. “Certamente! Nas escolas acho que se deveria principalmente estimular a reflexão e a crítica em relação àquilo que estamos a ler. Sejam livros ou coisas online”, refere.
Imaginar, comentar, duvidar
Os benefícios de ler em voz alta para quem está a crescer e a aprender são variados. A criança entra no texto e viaja pelo mundo. Aprende e questiona. “O momento da leitura de uma história, em família ou na escola, é um momento muito especial, uma oportunidade de conexão e de comunicação entre o adulto e a criança”, afirma Tânia Reis, terapeuta da fala. “A literatura infantil desenvolve a imaginação, promove a criatividade, facilita o entendimento do mundo e constitui uma excelente forma de potenciar o desenvolvimento linguístico, e não só, da criança”, realça.Explorar uma história é conhecer mais mundo. Conhecer animais, plantas, flores, números, letras. “A exploração de histórias permite ampliar o conhecimento do mundo! A leitura de histórias permite à criança imaginar, iniciar um pensamento crítico e reflexivo, fazer relações com os diferentes conhecimentos, comentar, indagar, duvidar, criar uma opinião”.
Na linguagem oral, a leitura em voz alta e a exploração de histórias facilitam o contacto, a aquisição e a exploração de um maior número de palavras e, frequentemente, de palavras que são menos usuais no dia-a-dia da criança. Ouvir livros em voz alta também aumenta o vocabulário. Para Tânia Reis, “a leitura de histórias por um adulto possibilita o contacto com estruturas sintáticas mais complexas e menos frequentes (construção de frases), contribuindo para o aumento compreensão e expressão oral”.
A melodia da leitura produz efeitos. “Ouvir um adulto a ler permite à criança observar os padrões prosódicos (entoação) que terão uma importância extrema, futuramente, na compreensão leitora e na pontuação. Explorar em conjunto a leitura permite à criança fazer inferências, previsões, gerar conhecimento, atribuir significado, fulcrais para a literacia. Porque ler é muito mais do que transformar as letras em sons”, repara.
Ver como um adulto explora um livro permite à criança aceder a pré-competências de leitura. A terapeuta da fala exemplifica. Não é apenas o folhear de um livro, é igualmente “perceber que existem símbolos visuais que são transformados em palavras (descodificação), entender a ordem da leitura e da escrita (esquerda para a direita)”. “Com os livros contribuímos para a pré-história leitora da criança”, realça, lembrando o psicólogo russo Leo Vigotsky que, no século passado, escreveu: “A aprendizagem escolar nunca parte do zero. Toda a aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história”.
O estudo mencionado no texto é o seguinte:
Workshop “Falo bem para ir para o 1º ano?” 13 abril em Mira Sintra
Abril 9, 2018 às 10:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: C.E.C.D. Mira Sintra - Centro de Educação para o Cidadão com Deficiência, Desenvolvimento da Linguagem, linguagem oral, Workshop
Inscrições através do e-mail: cmr@cecdmirasintra.org, até dia 11 de abril
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