Mais de 80% dos estudantes adolescentes não praticam atividades físicas suficientes, diz OMS

Novembro 30, 2019 às 1:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Banco Mundial/Charlotte Kesl
Estudo nota que se tendências apresentadas continuarem, a meta global de uma redução relativa de 15% na atividade física insuficiente até 2030, não será alcançada.

Notícia da ONU News de 21 de novembro de 2019.

Estudo da Organização Mundial da Saúde, OMS, recomenda pelo menos uma hora de exercícios físicos por dia; especialistas afirmam que tempo gasto com aparelhos eletrônicos como celular e computadores influencia no sedentarismo.

A Organização Mundial da Saúde realizou o primeiro estudo sobre a falta de atividades físicas entre adolescentes. O levantamento analisou a situação de crianças e adolescentes entre 11 a 17 anos.

A pesquisa publicada neste 21 de novembro conclui que mais de 80% dos adolescentes, que frequentam escolas em todo o mundo, não cumpriram as recomendações atuais de pelo menos uma hora de atividade física por dia.

Alerta

Os autores do estudo afirmam que os níveis de atividade física insuficiente em adolescentes continuam extremamente altos, comprometendo sua saúde atual e futura. Em conversa com a ONU News, de Moscou, o diretor do Escritório Europeu da OMS de Prevenção e Tratamento de Doenças Crônicas Não Transmissíveis disse que o fato de o problema afetar quatro em cada cinco adolescentes é “bastante assustador”.

João Rodrigues alerta que a falta de atividades físicas entre as crianças e os jovens geram problemas tanto físicos como mentais.

“A atividade física é muito importante porque realmente promove a saúde mental. Existem estudos que dizem que adolescentes que são mais ativos têm melhores resultados escolares, mas também têm, níveis de relação social e saúde mental naturalmente melhores. No fundo, a atividade física protege e promove a saúde mental. A atividade física também serve para lidar com e a prevenir o excesso de peso e obesidade. Os adolescentes e as crianças que são mais ativos têm menos risco de ter obviamente excesso de peso e obesidade.”

Rodrigues acrescentou que além da obesidade, atividades físicas também evitam problemas cardiovasculares, câncer e outros, e que é essencial que crianças e jovens pratiquem atividades físicas pelo menos uma hora por dia, para serem considerados ativos.

Gênero

Os resultados apresentados pela pesquisa são piores para meninas do que meninos, com 85% e 78%, respectivamente. O estudo, que é baseado em dados relatados por 1,6 milhão de estudantes da faixa etária, registrou essa tendência de diferença entre os gêneros em todos os 146 países analisados entre 2001 e 2016, exceto em Tonga, Samoa, Afeganistão e Zâmbia.

A maioria dos países, 107 de 146, viu essa diferença de gênero aumentar entre 2001 e 2016.

Em 2016, as Filipinas foram o país com maior prevalência de falta de atividade entre meninos, com 93%, enquanto a Coréia do Sul apresentou níveis mais altos entre meninas, com 97%, e ambos os sexos combinados, 94%. Bangladesh registrou a menor prevalência de atividade física entre meninos e meninas com 63% e 69%.

Lusófonos

O Brasil é um dos citados. No país, em 2001, a prevalência de falta de atividades físicas dos adolescentes era de 84,6%. E em 2016, o índice teve um pequeno progresso passando para 83,6%.

Em Moçambique, no mesmo período, os resultados desceram de 84,6% para 83,6% e no Timor-Leste, o índice subiu pouco: de 89% para 89,4%.

Sociabilização

O estudo também indica que existem sinais de que a atividade física tem um impacto positivo no desenvolvimento cognitivo e na sociabilização. Fora isso, muitos desses benefícios continuam na idade adulta.

Rodrigues enfatiza que é essencial que crianças e jovens, desde muito cedo, se envolvam em atividades esportivas e de caráter recreativo, como caminhadas e ciclismo. Ele também citou recomendações recentes da OMS de que crianças devem ter tempo limitado na frente das telas de aparelhos como computadores e telefones celulares.

“Nós sabemos que um dos elementos que podem contribuir aos níveis de sedentarismo são as horas que as crianças e os jovens passam em frente às telas e aos computadores. É muito importante reduzir ou limitar, não cortar, naturalmente, é importante que as crianças e jovens possam usar os benefícios da internet etc, dentro de determinados limites. Mas é importante reduzir o tempo porque os dados indicam que é muito visível que as crianças e jovens passam mais tempo do que o aceitável por dia nessas atividades sedentárias.”

Redução

A pesquisa nota que se as tendências apresentadas continuarem, a meta global de uma redução relativa de 15% na atividade física insuficiente, o que levaria a uma prevalência global de menos de 70% até 2030, não será alcançada. Esta meta foi acordada por todos os países na Assembleia Mundial da Saúde no ano passado.

Rodrigues diz que para mudar essas tendências, é importante trabalhar com um conjunto de fatores, onde a participação dos pais é essencial.

“O mais importante é que os pais também sejam ativos fisicamente. Crianças e jovens de pais ativos, seguramente, serão mais ativos também. Então, a primeira coisa é o exemplo, outra é não deixar as crianças ficarem tanto tempo nessas atividades sedentárias e realmente impor um limite diário de número de horas que podem fazer essas atividades, como o uso dos seus smartphones, e de computadores. Ao mesmo tempo, também, colaborar com a escola. Porque a escola é realmente um dos ambientes mais importantes para promover a atividade física. Envolvendo os pais com a escola, de uma forma interativa e compreensiva, é muito importante, porque naturalmente os pais sozinhos não podem fazer tudo.”

Outras recomendações do estudo incluem a promoção pelos líderes nacionais, regionais e locais da importância da atividade física para a saúde e o bem-estar de todas as pessoas, incluindo adolescentes.

Recomendações:

  • Ampliar, urgentemente, políticas e programas eficazes conhecidos para aumentar a atividade física em adolescentes;
  •  Promover ações multisetoriais para oferecer oportunidades aos jovens de serem ativos, envolvendo educação, planejamento urbano, segurança viária e outros.

 

Mais informações na notícia da World Health Organization:

New WHO-led study says majority of adolescents worldwide are not sufficiently physically active, putting their current and future health at risk

Artigo da The Lancet Child & Adolescent Health:

Global trends in insufficient physical activity among adolescents: a pooled analysis of 298 population-based surveys with 1·6 million participants

Europa regista mais de 13 mil casos de sarampo num ano

Novembro 29, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Expresso de 20 de novembro de 2019.

França, Itália, Polónia e Roménia registaram o maior número de casos desta doença altamente contagiosa.

Mais de 13.300 casos de sarampo foram registados no último ano em 30 países europeus, apesar de haver uma diminuição do número de casos nos meses mais recentes. Os dados constam do último relatório do Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) e dizem respeito ao período entre 01 de outubro de 2018 e 30 de setembro de 2019.

Em setembro, no último mês analisado pelo relatório concluído a semana passada, 17 países europeus reportaram um total de 280 casos de sarampo. França, Itália, Polónia e Roménia registaram o maior número de casos desta doença altamente contagiosa. Portugal está entre os 12 países que não registou qualquer caso de sarampo. Apesar de um volume ainda significativo de casos, o ECDC indica que o número de infeções está a decrescer quando comparado com os relatórios dos dois meses anteriores.

França continua a ser o país com o maior número de casos de sarampo acumulados nos últimos 12 meses, com um total de mais de 2.600 casos. Contudo, em setembro as autoridades francesas registaram 56 casos, quando em agosto e em julho tinham sido reportados 110 e 314 casos, respetivamente. Também em Itália o número de pessoas que contraem sarampo aparenta estar a diminuir: passou de 151 casos em julho e de 78 em agosto para 19 casos em setembro.

O ECDC alerta que os casos de sarampo “continuam a espalhar-se pela Europa devido a uma cobertura vacinal insuficiente nalguns países”. As autoridades de saúde recomendam a vacina contra o sarampo como a melhor forma de evitar a doença, que pode desencadear complicações e, em casos graves, levar à morte.

mais informações na publicação da ECDC:

Monthly measles and rubella monitoring report November 2019 Period covered: 1 October 2018–30 September 2019

Encontro “Olhares Sobre a Realidade : Crianças e Jovens” com a presença de Paula Duarte do IAC, 4 dezembro na Casa Municipal da Cultura de Coimbra

Novembro 29, 2019 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Dia 4 de dezembro realiza se o Encontro “Olhares Sobre a Realidade”, na Casa Municipal da Cultura de Coimbra, das 10h00 às 17h30.

Esta é uma iniciativa da Divisão de Intervenção e Ação Social – Grupo de Trabalho de Crianças e Jovens – do qual o IAC é parceiro.

A inscrição é gratuita limitada a 150 participantes.

Programa e inscrição em https://forms.gle/Ph3CAA21z3zo3EeV6

A Dra. Paula Duarte, coordenadora do Instituto de Apoio à Criança – Pólo de Coimbra irá participar no 2º painel “Absentismo e abandono escolar”

Espanha recomenda que crianças até aos 10 anos e grávidas não comam atum ou peixe espada

Novembro 29, 2019 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Expresso de 20 de novembro de 2019.

O problema é a concentração de mercúrio presente nesta e noutras espécies, dado o metal ser nocivo para os humanos quando o cérebro está em desenvolvimento.

A recomendação já existia, mas foi alargada. A Agência Espanhola de Segurança e Nutrição Alimentar (AESAN) reviu os últimos dados sobre o consumo de peixe com alto teor de mercúrio e pede agora que as grávidas e as crianças até aos 10 anos – até aqui a fasquia eram os 3 anos – evitem a ingestão de espécies como atum e peixe espada. A recomendação abrange ainda as mulheres que planeiem engravidar ou amamentar, cabendo na lista dos peixes proibidos espécies tradicionalmente menos consumidas, como tubarão e lúcio.

Segundo a AESAN, a ingestão dessas espécies em crianças entre 10 e 14 anos deve ser limitada a 120 gramas por mês, já que o mercúrio pode ser um tóxico neurológico nos estágios iniciais do desenvolvimento.

O alerta deve ser contextualizado e não justifica alarmismos, considera o nutricionista Pedro Graça, diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto. Sobretudo, explicou ao Expresso, se tivermos em conta a realidade portuguesa, onde a existência de um “inquérito nacional alimentar e a realização regular de análises ao pescado, quer pela ASAE [Autoridade de Segurança Alimentar e Económica], quer pelo IPMA [Instituto Português do Mar e da Atmosfera], permite avaliar com segurança o grau de risco”.

A questão é: se sabemos exatamente o que os portugueses comem e em que quantidades, e se sabemos o grau de contaminação das diferentes espécies de peixe, é possível cruzar os dados e “fazer o mapeamento do risco”, conclui o também ex-diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da DGS.

O mercúrio é um metal pesado que está presente no ambiente e pode ser encontrado em certos alimentos. No pescado, a sua concentração é variável, maior nas espécies que surgem no final da cadeia alimentar. Peixes predadores, maiores e que vivem mais tempo, apresentam uma maior concentração, “peixes como a sardinha ou a cavala” quase não apresentam contaminação, adianta Pedro Graça.

Quanto aos riscos do mercúrio para a saúde, estão bem estudados. E não são imediatos, resultando antes do facto de este metal se acumular no organismo, aí se mantendo.

No caso de Espanha, o alargamento da recomendação é justificado pelo facto de novos dados científicos revelarem que as concentrações de mercúrio na população espanhola são mais elevadas do que as registadas noutros países europeus, adianta o “El País”, razão porque são agora aconselhadas preferencialmente espécies como anchovas, lulas ou truta, entre outras.

O mercúrio é nocivo nos períodos em que o cérebro está em desenvolvimento, pelo que fetos e crianças pequenas são especialmente sensíveis. Mas Pedro Graça recorda os benefícios reconhecidos associados ao consumo de peixe. É preciso fazer um controlo e os alertas são uma obrigação, sempre que se justifique, defende, mas os danos estão associados a elevadas concentrações, o que muitas vezes quereria dizer “consumir continuamente uma mesma espécie de peixe, oriunda sempre da mesma região”.

Mais informações na notícia do El País:

Sanidad recomienda a embarazadas y niños hasta 10 años no comer atún rojo ni pez espada

Sessão de Sensibilização “#Geração Cordão – A Geração que não desliga!” 30 novembro Sobral de Monte Agraço.

Novembro 28, 2019 às 8:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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João criou uma app para incentivar crianças a ler — e isso mudou-lhe a vida

Novembro 28, 2019 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 21 de novembro de 2019.

Aos 18 anos, o jovem de Santarém não queria nada com a escola; a nota suficiente para passar “chegava”. Até que a participação num concurso destinado a resolver problemas sociais através da tecnologia lhe trocou as voltas. Hoje prepara a entrada no curso de Engenharia Informática com a criação de uma aplicação no currículo.

Ana Rita Moutinho (texto) e Nuno Ferreira Santos (fotos)

Em criança, João Rosado não tinha uma resposta definida quando lhe faziam a típica pergunta “O que queres ser quando cresceres?”. Todos os anos tinha uma sugestão nova e, do que se lembra, a mais original foi “primeiro-ministro”. Revelara-se um aluno distraído, o que acabou por marcar (e complicar) a sua passagem pelos bancos da escola. “Não me sentia cativado, acabava sempre por me perder nas aulas”, confessa ao P3. “A nota necessária para passar” era suficiente para satisfazer as suas exigências. Nos jogos e no computador, oferecido quando frequentava o 6.º ano do ensino básico, acabou por encontrou a escapatória, através da qual começou a construir “uma relação próxima com a tecnologia” que resultou na criação de uma aplicação para incentivar as crianças a ler.

Na hora de escolher a área a seguir no ensino secundário, esta relação não foi, naturalmente, ignorada. Optou por um curso de Multimédia onde, durante três anos, teve aulas de Tecnologias de Informação. Os conhecimentos adquiridos revelar-se-iam úteis quando, no início do 12.º ano, o jovem foi apresentado ao projecto Apps for Good, uma iniciativa que apela à criatividade dos alunos para que, com recurso à tecnologia, apresentem soluções para problemas quotidianos. O estudante não ficou imediatamente convencido ou cativado pela ideia, mas como a conclusão do ciclo de estudos que frequentava pressupunha o desenvolvimento um “projecto de aptidão profissional”, acabou por anuir numa lógica de “Ok, vamos experimentar e ver no que dá”. Sempre “sem expectativas”.

O resultado chegaria após dois períodos de aulas, nos quais João e Mónica Marona (sua colega de grupo) trocaram ideias e discutiram conceitos para a Pensa antes de publicar, a aplicação que desenvolveram com o objectivo de “ensinar às crianças algumas regras e incentivá-las para o hábito da leitura”. O projecto contempla um livro (escrito e construído pelos alunos) que alerta para “os perigos das redes sociais” e uma aplicação para smartphones. A tecnologia está dividida em dois módulos: “um de realidade aumentada [em que as imagens de livros são animadas] e outro que consiste num quiz de consolidação de conhecimentos” sobre os conteúdos lidos. Durante a concepção da app, os estudantes foram acompanhados por professores, que dedicavam ao projecto cerca de duas horas semanais. Mesmo assim, tiveram que esperar até ao final do ano lectivo para ver o trabalho reconhecido, a nível escolar, com “nota máxima”.

Apesar do feedback positivo que foram recebendo, João confessa que o trabalho foi “um pouco menosprezado” pela dupla, que nunca foi capaz de lhe atribuir “a credibilidade que realmente tinha”. A percepção começou a alterar-se quando a Pensa antes de publicar foi a vencedora da final nacional do Apps for Good, que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian. O primeiro lugar, encarado “com surpresa”, valeu aos jovens a oportunidade de representar Portugal em Londres, no evento final da iniciativa. “Uma experiência engraçada”, classifica o jovem natural de Santarém.

Da mostra de Londres também não saiu de mãos vazias. Apesar de não ter ganho prémios, no bolso trouxe alguns contactos de empresas que o incentivaram a prosseguir trabalho. Entre elas, a gigante alemã Mercedes. A mesma que, semanas mais tarde, lhe batia à porta e acenava com uma proposta de estágio em Mem Martins, onde se situam as instalações portuguesas da marca de automóveis. Lá, João fazia “suporte aplicacional com pequenos desenvolvimentos internos, dentro da casa”.

Finalizado o estágio, que o jovem diz ter corrido de forma “impecável”, algo começou a mudar. A experiência num ambiente profissional estimulante e exigente fez com que o aluno outrora desmotivado começasse a considerar um rumo diferente para a sua vida, algo que passasse pelo ensino superior. “Quando acabei o 12.º ano não tinha qualquer interesse em prosseguir os estudos mas, um pouco à conta de tudo isto (o concurso, os resultados que obtive e ver que era realmente bom nesta área), pretendo ingressar em Engenharia Informática no próximo ano lectivo.”

Aos 23 anos, João trabalha numa instituição financeira de crédito onde desempenha funções como “developer em formação”. O futuro passará por conciliar esta mesma actividade profissional com a licenciatura em regime pós-laboral.

Face a todas estas mudanças, o jovem confessa que a Pensa antes de publicar foi relegada para segundo plano, tendo em conta que “não houve qualquer interesse ou ideia” que motivasse uma actualização do que já existia. No entanto, a tecnologia continua a ser utilizada pelos alunos do segundo ciclo do ensino básico no agrupamento de escolas que a dupla de antigos alunos frequentou em Santarém. Planos para a comercialização parecem não existir de momento, até “porque a Porto Editora e a Areal já se juntaram para fazer algo similar”.

Acho que [o Apps for Good] me abriu os olhos e abre a muitos alunos. Não é só falar em teoria, tem a parte prática e coisas físicas”, confessa. Ainda que na altura não fosse esta a sua opinião, o conselho que tem para dar aos alunos que hoje possam estar a participar numa iniciativa semelhante resume-se a uma palavra: “Aproveitem!”

A história do abandono de crianças é uma história de pobreza contada numa roda

Novembro 28, 2019 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social, Vídeos | Deixe um comentário
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Notícia do Sapo24 de 20 de novembro de 2019.

Sérgio Costa Araújo

Na semana em que se assinalam os 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança, que hoje de celebra, Portugal debate o que terá levado uma mãe a depositar o seu filho recém-nascido num ecoponto. Talvez o debate se enriqueça se olharmos para trás recordando a longa história do abandono de crianças em Portugal, outrora anónimo, nas chamadas “casas da roda”.

Um dos pontos de partida possíveis para esta incursão é o projecto do Arquivo Distrital do Porto (ADP), que há 5 anos, com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian, permitiu tratar tecnicamente (restauro, conservação e arquivo) 22.449 documentos em papel e mais de 500 sinais – objectos que eram deixados junto dos bebés abandonados na “casa da roda” do Porto.

Este projecto focou-se em 23,5% da totalidade do conjunto documental, designado “Partes da Directora”. Com ele foram revelados os detalhes tenebrosos por detrás do abandono dessas crianças, também designadas de expostos ou enjeitados, há mais de 100 anos atrás.

“Ill.mo Snr Provedor, desta Santa Caza dos emzetados,

No dia 4 de Junho de 1813 foi deitado a Roda da Sta Casa desta cidade do Porto: Hum Menino…”

Eram assim que começavam habitualmente as “Partes”, ou os relatórios, que a directora da “Casa da Roda” do Porto escrevia e que enviava diariamente ao provedor da Santa Casa da Misericórdia ou ao vereador da Câmara Municipal do Porto – dependendo de quem assumiria a tutela da protecção concelhia às crianças abandonadas à data do abandono. Neles a directora, também conhecida por ama-seca, dava conta da circunstância que conduzia à exposição do bebé na “roda”. À directora competia também elaborar um documento que colocava junto ao bebé, com a sua identificação, e os mapas diários e mensais de entrada e saída das crianças expostas. Seleccionava também amas exteriores que recolheriam a criança e, caso a criança tivesse sido exposta por baptizar, assistiria ao seu baptismo.

A atividade da “Casa da Roda” baseava-se, fundamentalmente, na designada “assistência à infância desvalida”, assegurando um conforto mínimo de vida ao abandonado, e que consistia – de acordo com a história administrativa deste conjunto documental: “por um lado, na sustentação da sua criação, através da entrega a amas de fora, renumeradas, que estavam responsáveis pelas crianças até estas completarem os sete anos de idade. Por outro lado, através da concessão de subsídios de lactação (pagamentos mensais às mães e famílias necessitadas durante o período de aleitamento das crianças), com vista à prevenção do abandono das crianças que se encontravam numa situação de indigência, devido à pobreza e condição das mães.”

Segundo Maria João Pires de Lima, directora do ADP, este foi um projecto único, particularmente desafiante, na medida em que “é uma documentação muito especial, e não só pelas características informativas, não só pelas característica sob o ponto de vista emocional, mas também porque tinha suportes especiais que requeriam trabalho especial” e, completa, “a equipa teve muitas surpresas, além dos documentos oficiais vêm os documentos afectivos da mãe ou do familiar que tem haver com o pulsar do dia-a-dia e daquelas famílias e também da cidade do Porto daquela época”

Colin Heywood na sua “História da Infância”, conta que o abandono de crianças tem uma longa história na Europa e faz ligações com a condição de pobreza dos progenitores. Já na baixa idade média, ainda em Roma, as crianças de famílias mais pobres eram expostas nas ruas, vendidas pelos seus pais, enviadas para casas religiosas ou para famílias abastadas para funcionarem como serviçais. Famílias mais ricas que ofereciam os filhos, ou particularmente as filhas, aos conventos, estariam de algum modo também a praticar o abandono. No século XIX – o período para o qual nos remete a documentação tratada pela equipa da ADP, o abandono seria uma prática recorrente nas grandes cidades europeias. O mesmo historiador, refere, por exemplo, que em Paris um quinto dos nascidos seriam abandonados; em São Petersburgo, durante as décadas de 1830 e 1840, o abandono situar-se-ia entre um terço a metade da totalidade dos nascidos, sendo na sua maioria meninas – numa proporção de cerca de cem meninas para cada oito meninos; em Milão, até 1860, a taxa de abandono, situar-se-ia entre os 30 e os 40%.

A Roda dos Expostos no Porto

O modo como foram criadas as instituições da roda em Portugal é relativamente bem conhecida. Tem na base da sua criação o alto infanticídio que existia em Portugal no final do século XVIII que, por muito tempo, e mais do que um crime, era visto como sendo pecado até ao século XV. O sistema português da “roda” era então muito semelhante a outros modelos europeus da chamada “Europa Católica” – as “tours” francesas ou as “route” italianas, um sistema mais tarde adoptado também pela “Europa Protestante”.

créditos: Colecção SCA | Natal Zeitgeist, Porto

No Porto, sabe-se, a partir das obras de Damião Peres e de António Cruz sobre a história da cidade, que numa carta do Rei D. João III, datada do ano de 1535, e dirigida ao juiz e vereadores da cidade, que os enjeitados já seriam no século XVI alvo de protecção concelhia através da figura do “pai dos meninos” — figura essa que à época teria como obrigação percorrer a cidade e os arredores para recolher as crianças que seriam abandonadas. Nesse tempo, ainda anterior à existência da roda, a maioria das crianças seriam sistematicamente abandonadas nas igrejas, designadamente nas igrejas de S. Nicolau, da Sé, de S. Domingos, de S. Francisco e também em cruzeiros e ermidas, tanto na cidade do Porto como nos arredores. A natureza do cargo do “Pai dos Meninos” era anual e renovável por igual período. Este “pai” pertenceria às classes artesanais. A partir de 1618 o cargo passaria a ser partilhado pela esposa do “pai dos Meninos”, designada de “may dos engeitados”.

Em julho de 1689 a tutela dos enjeitados passa para a Santa Casa da Misericórdia do Porto sendo ainda a Câmara a financiar a criação das crianças e das amas.

A primeira “roda” da cidade começa a ser construída em 1603 na Rua das Flores junto ao Hospital de D. Lopo de Almeida.

Razões do abandono na primeira pessoa

As razões na base do abandono passariam pelo carácter inoportuno da própria criança, por pobreza da família, possivelmente com demasiadas bocas para sustentar, e por mães solteiras com dificuldades económicas. Um outro factor que parecia favorecer o abandono seriam os períodos de crise económica que lançavam para a pobreza franjas importantes da população e por isso a eles se associavam picos nas taxas de abandono de crianças. Estes bebés seriam também conduzidos para a “roda” por mal-formações, por serem filhos enteados, filhos ilegítimos, ou até por interferirem em heranças.

O confronto com as palavras escritas, em muitos casos escritas pelo próprio punho de um dos pais, nos bilhetinhos deixados com as crianças, revela-se um mergulho inquieto nos sentimentos, nos laços afectivos universais e intemporais, que unem invariavelmente pais e filhos. Uma mãe explica: “Uma inflis Mae obrigada pelas circusnstancias da sua presente situação, entregua ao abrigo de estranhos a sua filha querida…”. Outra mulher esclarece em nome da verdadeira mãe: “A portadora conduz para a Roda huma menina com o nome de Laurinda Paula. A Mai não a pode amamentar por falta de leite.”  E ainda outra justifica: “Não pode crear”. Outro termina o bilhetinho dizendo que a criança “teve a infelicidade de sua mãe durar sô 12 dias”.

Com o bilhetinho era muitas vezes depositado um objecto que funcionaria como “sinal”, na expectativa de ser a partir dele que a criança seria reconhecida e, consequentemente, recuperada. Os sinais, muitas vezes depositados dentro da roupa do bebé, incluíam medalhas, pagelas, cartas de jogar, pulseiras, entre outros. Nos bilhetinhos eram mencionados: “… leva de sinal esta fita de seda amarrada ao pulso esquerdo…” ou “leva por sinaes o cordão umbilical attado com fita de nastro vermelha…”.

Ana Maria Marques dos Santos, autora do estudo “O modelo de protecção à infância: entre a justiça e a comunidade”, conta-me que com a imposição do fim do sigilo do abandono na cidade do Porto, em 1864, e ,naturalmente, a obrigatoriedade de a partir de aí ter de se identificar a criança e a sua proveniência, hoje um direito consagrado na Convenção dos Direitos da Criança, ditou que nos anos subsequentes o número de expostos na ‘roda’ diminuísse drasticamente, até à sua total extinção.

“Apesar deste sistema subsistir hoje em dia em alguns países europeus, em Portugal está interdito, as crianças são registadas automaticamente no sistema do registo civil que foi implementado nacionalmente, o projecto ‘nascer cidadão’. Para além disso temos outros mecanismos legais em que os pais têm a possibilidade, caso tenham, por exemplo, problemas económicos e não queiram assumir as crianças, e se prestarem o seu consentimento, de a criança ser entregue para adopção, agilizando-se de imediato esse processo”.

“…será procurada”

Sabemos que cerca de 63 900 crianças foram expostas na “roda” do Porto num espaço temporal de 110 anos (1690-1800) – cidade que em meados do século XVIII, e de acordo com a literatura, teria cerca de 30 000 habitantes. Uma outra estatística do século XVIII revela que nesta mesma cidade o número de crianças reclamadas à “Casa da Roda” variaria entre os 3 e os 15%, conforme o ano do abandono. Da quantidade de crianças procuradas nas décadas seguintes para regressarem às suas famílias pouco se saberá. Mas a partir das peças deste importante conjunto documental percebe-se a expectativa do progenitor ou da progenitora em vir a recuperar a criança: “…será procurada… e será remunerado a caridade com que a acolherem e tratarem até esse tempo”. “Para ser procurada…”. “…será procurada”. “Por estes signaes se hade procurar esta criança”.

O facto destes objectos-sinais terem chegado até nós aponta que o número de crianças reclamadas seria ínfimo, provavelmente por à maioria ter sido negado um final feliz, talvez pela persistência das dificuldades. Mas nestas histórias, como naquela que por estes dias em período pré-natalício ocupa o país, um sentimento não muito agradável parece impor-se e uma conclusão parece evidente: onde afinal o estado falha, é porque afinal falhamos todos nós.

Presidente da República pede atenção para as crianças em situação de pobreza

Novembro 27, 2019 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Expresso de 20 de novembro de 2019.

O Presidente da República defendeu esta quarta-feira que é preciso “acelerar passo” na proteção dos direitos das crianças e pediu a atenção da sociedade como um todo para as que ainda estão em situação ou risco de pobreza

Numa cerimónia de comemoração dos 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança, no Museu de Marinha, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que este “tem de ser um desafio nacional de todos os dias”.

Segundo o chefe de Estado, “tem de ser a sociedade a exigir mais, a chamar a atenção para este problema” e a questionar “por que é que há aquela bolsa de pobreza de crianças” ou “por que é que ali funciona e ali funciona mal”.

Logo no início da sua intervenção, o Presidente da República saudou a “estratégia que é posta hoje em debate público” sobre os direitos da criança por parte do Governo, congratulando-se também com “a criação de um conselho em que as pessoas que percebem destas matérias vão ser ouvidas pelo menos duas vezes por ano”.

“Fico muito feliz com esta estratégia nacional, que significa uma visão de conjunto e haver programas muito bem definidos sobre o que se vai fazer para os próximos anos, que ela seja discutida e aprovada”, acrescentou.

Ao longo de cerca de 20 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa recuou aos anos 50 do século passado, quando a sua mãe trabalhava como assistente social no Casal Ventoso, em Lisboa, para lembrar como “as crianças eram destratadas, maltratadas, esquecidas em Portugal”, que hoje já “não é o mesmo país”.

“Era impressionante ver o que era a vida das crianças em Portugal e em Lisboa há 60 e tal anos, os que não tinham nascido do lado da vida com sol, tinham nascido do lado da sombra: era pobreza, era não ter as mínimas condições de saúde, era não ir à escola”, relatou, perante uma assistência composta por crianças e jovens.

O Presidente da República considerou que a Convenção sobre os Direitos da Criança adotada em novembro de 1989 pelas Nações Unidas “foi um sucesso” que provocou mudanças legislativas, mudanças de formação e de mentalidades sobre a necessidade de “proteção reforçada” das crianças.

No entanto, realçou que ainda “há crianças em zonas de pobreza e de risco de pobreza” e que “há diferenças entre aquelas que vão à escola e as que não vão à escola”.

“Isto é para nos lembrarmos como demorámos tempo de mais a enfrentar, a ter a noção da importância do problema. E como é importante agora acelerar passo”, concluiu.

Marcelo Rebelo de Sousa assinalou os 30 anos da Convenção sobre os Direitos da Criança também com uma mensagem no portal da Presidência da República na Internet, referindo que Portugal ratificou este tratado em 1990 e que “em três décadas muito mudou”, mas os seus princípios orientadores “permanecem atuais”.

“Fenómenos emergentes como as alterações climáticas exigem posturas que reflitam o reconhecimento que Portugal deu à convenção. 30 anos depois são as crianças que nos pedem um novo olhar sobre o mundo. Um olhar responsável, um olhar que permita satisfazer necessidades presentes, sem comprometer gerações futuras”, escreveu.

Nesta mensagem, o Presidente da República “saúda todas as crianças” e manifesta o seu “empenho para que as suas vidas tenham sempre a esperança de um futuro digno”, salientando que “Portugal continua obrigado a assegurar a todas as suas crianças o cumprimento dos seus direitos”.

Diabetes. Cada vez mais crianças com excesso de peso e em situação de pré-diabetes

Novembro 27, 2019 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia da RTP de 14 de novembro de 2019.

Todos os dias são diagnosticados com diabetes em Portugal cerca de 200 pessoas. Novos casos, que colocam o país no lugar mais elevado da União Europeia, em relação à taxa de prevalência da doença.

Neste Dia Mundial da Diabetes, a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica recorda a importância dos rastreios. A APIFARMA revela que 80% dos casos de Diabetes são diagnosticados sem qualquer suspeita clínica prévia.

Também entre os mais novos, a situação é preocupante. Há cada vez mais crianças portuguesas com excesso de peso, obesidade e alguma resistência à insulina – em situação de pré diabetes. É o que adianta à Antena 1 a nutricionista pediátrica Mónica Pitta Grós Dias.

Esta nutricionista do centro da criança e do adolescente do hospital CUF Descobertas, também médica do hospital Dona Estefânia, defende uma alimentação com mais frutas, os legumes e as leguminosas.

Em Portugal, menos de metade das crianças come as 4 porções de legumes, diárias, que são recomendadas, por uma mudança no padrão de vida.

É preciso explicar às crianças o que faz cada alimento, de onde vem, trazê-las para a cozinha, envolvê-las no processo de preparar a refeição e, sobretudo, dar o exemplo, recorda Mónica Pitta Grós Dias.

O ambiente das refeições deve ser tranquilo, sem écrans à frente, com conversa à mesa e água a acompanhar.

A criança tem o direito de brincar e de descansar. Este jogo de cartas ensina-lhe tudo

Novembro 27, 2019 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 19 de novembro de 2019.

Ana Mafalda Inácio

Quando se pergunta a uma criança se sabe quais são os seus direitos, é quase certo que diz que sim, alguns poderão hesitar, talvez por timidez, e muitos poucos dirão que não. O mesmo exercício com pais, professores e autoridades policiais terá certamente o mesmo resultado. Mas, ao certo, quantos sabem quais são realmente os 31 direitos das crianças que estão consignados na Convenção sobre os Direitos da Criança, assinada no dia 20 de novembro de 1989, por unanimidade, na Assembleia Geral da Nações Unidas?

De acordo com o projeto europeu ISCWeB, que avalia o bem-estar das crianças e a sua presença na família, escola e comunidade, no qual Portugal participa através do trabalho da psicóloga Joana Alexandre, no âmbito de uma parceria com o ISCTE, as crianças portuguesas conhecem os seus direitos e sentem-se felizes pela forma como são ouvidas pelos adultos.

O projeto ISCWeB, cuja recolha de dados envolveu já 53 mil crianças, nos anos de 2009, 2011, 2016, de 15 países, com idades entre os 8, 10 e 12 anos, 765 das quais em Portugal, 682 com nacionalidade portuguesa e 80 com outras nacionalidades, de várias escolas, e do 3.º, do 5.º e do 7.º anos, revela que 63% das crianças destas idades dizem conhecer os seus direitos, que 45% já ouviram falar da convenção dos direitos da ONU, e que 56% consideram que, no seu país, os adultos respeitam os direitos das crianças. Os dados deste projeto indicam ainda que 47% das crianças consideram que os adultos ouvem o que elas dizem e se sentem felizes com isso.

Mas, depois, a realidade é outra. Quem trabalha com crianças, da escola à justiça, dos pais aos psicólogos, acredita que são poucos os que sabem todos os direitos das crianças e como estes se podem fazer cumprir e respeitar. Para aumentar a consciencialização sobre este tema, as psicólogas Rute Agulhas, Joana Alexandre e Adriana Duarte construíram o Jogo dos Direitos, que lançam dia 26, para assinlar os 30 anos da convenção da ONU. O jogo tem a marca das Ideias com História, e o objetivo é “consciencializar pais, familiares, professores, educadores, autoridades de segurança e as próprias crianças sobre os seus direitos”.

“É um jogo que pretende, de forma lúdica, aumentar os conhecimentos de todos e consciencializar ainda mais a sociedade sobre os princípios e direitos das crianças. A maioria das pessoas acreditam que são apenas os direitos fundamentais e básicos que asseguram e protegem a criança, como o direito à sobrevivência, à alimentação, educação ou saúde, mas há muitos mais”, explica ao DN Rute Agulhas.

Na sua tese de mestrado, “Direitos em Jogo – Construção de Um Jogo Didático sobre os Direitos das Crianças”, a psicóloga Adriana Duarte justifica mesmo que “a literatura tem evidenciado que, muitas vezes, crianças e adultos têm um parco conhecimento sobre os direitos da criança. Torna-se, assim, premente educar sobre e para os direitos da criança, com o objetivo de promover a sua plena promoção em diferentes contextos de vida da criança”.

Os 31 artigos dos direitos em dois baralhos de cartas

A verdade é que a convenção dos direitos tem 54 artigos, 31 de direitos, divididos em quatro categorias: os direitos de sobrevivência, associados à prestação dos cuidados básicos, os direitos de desenvolvimento, que respeitam aos direitos de disponibilidade e acessibilidade a determinados serviços, como educação e saúde, os direitos à proteção, contra qualquer forma de violência física, psicológica ou sexual, e, por último, os direitos de participação, relativamente ao direito de cada criança poder expressar a sua opinião, envolver-se ativamente na vida da sociedade.

“Este é um direito importante e que muitos desconhecem ou ignoram. A criança tem direito a dar a sua opinião, a ser ouvida nas decisões que lhe dizem respeito, mas também tem o direito ao lazer, a brincar e até ao descanso. E muitos ignoram este direito”, explica de novo a psicóloga. Por isso, “este jogo pretende exatamente dar mais conhecimentos às crianças sobre aquilo a que têm direito, até para aumentar as suas competências para reconhecer as situações em que os seus dieitos não estão a ser assegurados”, afirma, sublinhando: “É preciso potenciar a perceção dos próprios adultos sobre os direitos dos filhos ou das crianças com quem trabalham, que os percebem de uma forma mais alargada e aprofundada, porque cada vez mais todos somos agentes de mudança numa sociedade plural e desafiante.”

O Jogo dos Direitos é constituído por dois baralhos de cartas, um para crianças dos 3 aos 6 anos, outro para as que têm entre 7 e 14 anos, ambos estão divididos em nove atividades, que vão desde a memória à lengalenga, da mão protetora e do avião de papel até aos direitos com história, e vamos descobrir os nossos direitos. O último baralho está preparado para abarcar duas faixas etárias, dos 7 aos 10 e dos 11 aos 14.

De acordo com as psicólogas, todas estas atividades foram pensadas para se recorrer ao baralho de cartas – no entanto, “os adultos podem fazer uso da sua ciatividade e imaginação e utilizar as cartas de outra forma, porque o objetivo, tendo em conta a existência de cartas que contêm apenas os direitos das crianças, é o jogo poder alargar-se para outras atividades e contextos”, referem.

Todos os direitos são importantes, desde o da sobrevivência ao lazer e ao descanso.

O jogo, conforme salienta Rute Agulhas, pretende mostrar que todos os direitos são importantes, até aquele que tantas vezes é esquecido, e que é o direito à participação, definido na convenção da ONU nos seguintes artigos: 12 – a criança tem direito a exprimir os seus pontos de vista; 13 – liberdade de expressão, em que a criança tem direito a exprimir os seus pontos de vista, obter informações e dar a conhecer ideias e informações, sem considerações de fronteiras; 14 – liberdade de pensamento, consciência e religião (o Estado respeita o direito da criança à liberdade de pensamento, consciência e religião); 15 – liberdade de associação (as crianças têm o direito de se reunir e de aderir ou formar associações); 16 – proteção da vida privada (a criança tem o direito de ser protegida contra intromissões na sua vida privada); 17 – acesso à informação apropriada (o Estado deve garantir à criança o acesso a uma informação e a materiais provenientes de fontes diversas, e encorajar os media a difundir informação que seja de interesse social e cultural para a criança).

Um jogo para mostrar às crianças e aos adultos que lidam com elas que, afinal, todos os direitos são importantes, mesmo aqueles que parecem não o ser. Mas, além dos direitos, o jogo implica também o ter de lidar com os deveres das crianças. “Todos têm de aprender que há direitos, que estes não se reduzem aos básicos, da sobrevivência à educação, mas que há também deveres, para com os outros e para com a sociedade, e o jogo também aborda este lado”, refere ao DN Rute Agulhas.

As psicólogas acreditam que só havendo “este conhecimento é possível o respeito, a prática e a promoção dos direitos da criança, podendo assim promover-se uma sociedade mais inclusiva e tolerante”.

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