Criança autista vítima de bullying na escola

Março 17, 2023 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias da Madeira de 8 de março de 2023.

O bullying e o seu impacto

Março 6, 2023 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Correio da Manhã de 26 de fevereiro de 2023.

O estudo citado na notícia é o seguinte:

Sadness, hopelessness and suicide attempts in bullying: Data from the 2018 Iowa youth survey

Como saber se o seu filho é vítima de «bullying»?

Fevereiro 16, 2023 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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porto

Texto da Porto Editora 

A escola, espaço de eleição para educar para a cidadania, para a não violência, para a paz, é muitas vezes palco de situações violentas que marcam para a vida. A vitimação por “bullying” prejudica seriamente a competência escolar dos alunos e promove o insucesso escolar, pois afeta-os não só a nível social mas também a nível académico.

Ana Rodrigues da Costa

Bullying é qualquer tipo de agressão entre pares (crianças ou jovens), em que um ou vários indivíduos abusam intencionalmente da sua situação de superioridade sobre a vítima, sem que tenha havido provocação prévia, e que ocorre, repetidamente, ao longo do tempo.

As intimidações e a vitimação não acontecem ao acaso; o bully, ou agressor, é mais forte a nível físico, tem um perfil violento e ameaçador, o que impede as vítimas de se defenderem ou de pedirem auxílio. As consequências são, potencialmente, graves.

É importante referir que as brincadeiras em que existe envolvimento físico, o “andar à luta” e outras formas de comportamento agressivo, mas que não têm a intenção de causar danos, não podem nem devem ser consideradas bullying.

Podemos classificar os envolvidos nas situações de bullying em três tipos: vítimas passivasvítimas provocadoras, que são simultaneamente agressores e vítimas, e os agressores (bullies).

Quanto aos tipos de bullying, podemos referir os seguintes: físico (bater, empurrar), mais usado pelos rapazes; verbal (ameaçar, chamar nomes, chantagear, contar segredos ou levantar rumores), mais usado pelas raparigas; social (exclusão do grupo de pares); cyberbullying (abuso através de meios eletrónicos e novas tecnologias da comunicação). A todos estes tipos de bullying está associada a agressão psicológica.

O que fazer se suspeitar que o seu filho é vítima de bullying?

  • Incentivar a partilha de problemas, especialmente se notar alterações no comportamento: recusa em ir para a escola, queixas somáticas constantes (dor de cabeça, de barriga, tonturas…), mas sem insistir em demasiado.
  • Ouvir atentamente, sem críticas e julgamentos negativos, o relato de situações problemáticas e elogiar essa partilha.
  • Averiguar da veracidade do relato, discretamente.
  • Fazer um diário dos acontecimentos.
  • Abordar a escola (professor, diretor de turma, direção) e apresentar calmamente a situação para, conjuntamente, serem encontradas soluções.
  • Reunir regularmente com o interlocutor escolar para fazer o ponto da situação.
  • Aconselhar o jovem a procurar evitar o(s) agressor(es), especialmente se estiver sozinho, e a procurar ajuda junto dos adultos (professores, assistentes operacionais).
  • Tentar “treinar” o que fazer na próxima situação (verbalizar «não, afasta-te de mim», etc.); deve enfrentar o bully mas não usar da agressividade e violência deste.
  • Monitorizar diariamente junto da criança/adolescente o problema, de forma calma e ponderada, e respeitando o tempo e a vontade da criança/adolescente.

As consequências das situações de bullying, quer a curto, médio ou longo prazo, são dramáticas e repercutem-se por todas as áreas da vida do indivíduo. Assim, o bullying pode afetar a saúde física, emocional e social das crianças envolvidas e ter consequências graves, tais como depressões e, em última análise, suicídio.

Os envolvidos em situações de bullying – vítimas, vítimas provocadoras, agressores e, inclusive, espectadores – devem ser encaminhados para acompanhamento psicológico ou outro, no sentido de minorar as consequências.

bullying é um problema da sociedade, não só dos intervenientes. Quanto à escola, esta deve, em primeiro lugar, reconhecer o problema, querer resolvê-lo, definir prioridades e delinear programas de prevenção do bullying que simultaneamente envolvam alunos, pais, professores, técnicos (psicólogos, assistentes sociais, etc.), assistentes operacionais e a comunidade envolvente. Só a cooperação entre todos permitirá reverter ou minorar esta problemática.

Ana Rodrigues da Costa

Doutorada em Desarrollo Psicológico, Familia, Educación e Intervención, pela Universidade de Santiago de Compostela, é professora auxiliar na Universidade Fernando Pessoa e coordenadora da Unidade de Crianças e Adolescentes da Clínica Pedagógica de Psicologia da UFP. É autora e coautora de vários capítulos de livros e artigos científicos sobre bullying, altas capacidades/sobredotação, estilos cognitivos e competência percebida (autoconceito).

 

Dia Escolar da Não Violência e da Paz

Janeiro 30, 2023 às 7:30 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Hoje assinala-se o Dia Escolar da Não Violência e da Paz.
O IAC na sua intervenção com crianças e jovens desenvolve ações que assentam na Educação para a Paz. Consideramos primordial promover valores como o respeito, a tolerância, a igualdade, a solidariedade, a cooperação e a não violência em diferentes contextos. Porque só assim estaremos a promover a comunicação positiva, a amizade e impedir situações como o bullying.

Porque as crianças são o nosso futuro! ❤️
Porque queremos uma sociedade mais justa e tolerante!
No âmbito do seu trabalho de prevenção o IAC partilha o recurso digital “Bullying, Não!” (desdobrável): https://bit.ly/3RexAla

Automutilação. Os adolescentes precisam de ajuda

Janeiro 20, 2023 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Reportagem do Notícias Magazine de 12 de janeiro de 2023.

A filha de Sónia deu recentemente entrada nas urgências, com um grande corte no braço que a obrigou a levar pontos. A de Armando marcou os pulsos com um x-ato e o pai ainda hoje dá voltas à cabeça para perceber porquê. Helena usou a lâmina de barbear do pai. Queria fugir à dor de um bullying mortificante. Um em cada quatro adolescentes portugueses já se feriu de propósito. E as sirenes disparam. Não estamos a fazer o suficiente para acudir ao sofrimento dos mais jovens, avisam os especialistas.

Sónia (nome fictício) lembra-se da primeira vez como se fosse hoje: o choque de chegar a casa e ver a filha deitada na cama, cheia de cortes nos braços, o sangue ainda ali à vista, o desvario que veio com aquela imagem desconcertante, antes que ela pudesse sequer parar para respirar fundo. “Fiquei possuída, confesso. Na altura, não entendi aquilo como um pedido de ajuda, mas sim como uma tentativa de chamar a atenção. E então passei-me. Dei-lhe uma palmada no rabo e depois ajudei-a a curar as feridas, mas sempre muito aborrecida.” O episódio tem anos, a filha, uma das três, estava então com 13 anos, entregue à adolescência, envolta num intrincado nó sombrio. “Enquanto criança, era extremamente sociável e popular. Os miúdos até se pegavam para ir às festas dela. Depois começou a recusar todos os convites e mais alguns, a deixar de querer fazer festas de anos, a fechar-se no mundo dela.” Por essa altura, já estava até a ser acompanhada por um pedopsiquiatra. Por causa de um episódio na escola envolvendo um bilhete com uma aparente mensagem suicidária, que levou a diretora de turma a chamar Sónia para lhe dar conta da sua preocupação. “Ela negou. Disse sempre que só se estava a referir ao facto de ir mudar de escola.”

Mas depois vieram os cortes. “Tentámos falar com ela, mas não dizia nada, ficava calada, nunca deu uma justificação .” E o coração de mãe a encolher, imerso num mar de dúvidas. “Entretanto fomos percebendo que havia uma questão relacionada com a identidade de género. Mas mesmo isso ainda não percebemos bem. Porque ela quer ser chamada por um nome masculino, mas quando lhe pergunto se, no futuro, quer fazer uma operação para mudar de sexo, ela diz: ‘Credo mãe, claro que não’. E noutras vezes diz que é só uma questão de pronome. De qualquer forma, nós nunca fomos castradores em relação a isso, nem em relação a nada.” Sónia vai divagando em ziguezagues, como quem continua à procura de explicações. “Sabemos que tem uma má relação com a irmã mais velha e que isso é parte do problema. Mas, se me pergunta se temos problemas em casa, eu acho sinceramente que não, que somos uma família normal. No outro dia, ouvi-a a dizer à irmã que, a dada altura, na escola antiga, chegou a sofrer de bullying. E eu pergunto-me: ‘Mas como é que nós nunca soubemos de nada? E será que isso também contribuiu?’.”

Sem respostas, e sem um guião exato para lidar com o problema, a família vai procurando “vigiar” como pode. “Tento estar sempre atenta. A minha filha do meio nisso também ajuda muito porque dão-se bem. Quando ela está a tomar banho e sabemos que anda mais nervosa, a do meio vai para a casa de banho também, tenta distraí-la, fazer conversa, ir espreitando. Percebemos que, volta a meia, quando anda mais nervosa, faz pequenos cortes, nas coxas ou nos antebraços, coisas discretas.” Mas, recentemente, a situação voltou a descontrolar-se. “Fez um corte muito grande no braço. Como não parava de sangrar contou à irmã e ela contou-me a mim, levei-a às urgências e teve de levar três pontos. Disse-nos que fez aquilo por causa de um pico de stress, motivado pelos exames da faculdade. Essa é outra coisa. Ela sempre teve excelentes notas, mas é extremamente perfeccionista e isso também não a ajuda.” Toma até medicação, “levezinha”, diz a mãe, para a ajudar a lidar com a ansiedade e a dormir melhor. Mas até ver não tem nenhuma outra patologia diagnosticada. E ainda assim Sónia continua a viver de coração nas mãos. “É inevitável pensar: ‘Agora é um corte, amanhã o que vai ser?’. É muito complicado. Ela já é acompanhada por uma psicóloga, por um pedopsiquiatra, eu também tento ajudar, mas ela fala pouco comigo. É uma sensação de impotência muito grande. É triste vermos um filho a sofrer e não conseguirmos fazer nada para ajudar.”

A angústia que aflige Sónia inquieta um número crescente de pais. A asserção é confirmada pelos dados apresentados no´último estudo “Health behaviour in school-aged children [comportamentos de saúde de crianças em idade escolar]”, realizado de quatro em quatro anos pela Organização Mundial de Saúde, em 51 países, entre os quais Portugal. A análise, conduzida pela equipa do projeto Aventura Social, em parceria com várias entidades, Direção-Geral da Saúde incluída, denota um agravamento da saúde mental dos jovens entre os 11 e os 15 anos (a amostra focada neste estudo), traduzido numa série de parâmetros com resultados preocupantes: 28% dos adolescentes sentem-se infelizes, 9% estão “tão tristes que não aguentam mais”, 21% sentem-se nervosos quase todos os dias (16% admitiram mesmo ter tomado medicação por este motivo no mês anterior), 9% sentem medo diariamente, 64,1% têm dificuldade em adormecer à noite. Em todos estes pontos, há um agravamento, quando comparando com os resultados obtidos em 2018 (ver gráficos). A própria perceção de infelicidade escalou quase dez pontos percentuais, dos 18,3% para os 27,7%. E é neste quadro negro que sobressai um outro resultado inquietante: um em cada quatro adolescentes portugueses (24,8%) já se feriu de propósito pelo menos uma vez, através de cortes, queimaduras ou outro tipo de lesões. Um número que traduz um aumento superior a cinco pontos percentuais face aos resultados de 2018 e que faz soar os alarmes.

“Se não fosse a minha mãe não estava aqui”

“É uma forma de os jovens lidarem com as emoções negativas e uma manifestação de mal-estar psicológico muito preocupante, que requer apoio especializado”, alerta Tânia Gaspar, coordenadora nacional do estudo. Sofia Ramalho, vice-presidente da Ordem dos Psicólogos, chama a atenção para um “agravamento do sofrimento psicológico na sua generalidade, que se manifesta em mais ansiedade, mais quadros de depressão, mais distúrbios alimentares e também mais automutilações”. No caso destas últimas, a especialista sublinha que tanto podem ser “sintoma de um problema de saúde mental”, nomeadamente de depressão, como uma situação “isolada e situada no tempo, que não implica a existência de uma perturbação subjacente”. Em ambos os casos, há “uma tentativa de autorregulação emocional e de autocontrolo da dor [psíquica] e da ansiedade”. E em ambos os casos está inerente “um sofrimento psicológico intenso”, que impõe a necessidade de uma “intervenção psicológica e especializada”.

Também João Bessa, da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, põe o dedo na ferida. “A questão não são tanto os números, porque esses dependerão sempre da metodologia adotada em cada estudo. O que me parece mais relevante é que este é um problema de saúde pública que está cá, que obviamente não se verifica só a nível nacional, mas que é preocupante, que tem que ser reconhecido e valorizado, e que exige a adoção de novas estratégias.” Até porque, lembra o psiquiatra e docente da Escola de Medicina da Universidade do Minho, apesar de os comportamentos autolesivos não terem, à partida, “uma intencionalidade focada no fim da vida”, são “um fator preditivo importante do aparecimento de comportamentos suicidários no futuro”. Para tranquilizar os pais que possam estar a ler estas linhas, vale a pena reforçar que a correlação não é obrigatória. Mas é mais um sinal de que o assunto é grave e deve inspirar cuidados e reflexão.

O caso de Helena Maia, 21 anos, é um bom exemplo disso. Pede que a chamemos pelo nome verdadeiro porque não se envergonha do que ficou para trás. E porque, repete uma e outra vez, quer muito poder ajudar outros jovens que estejam a passar pelo mesmo. Helena vive com uma depressão. Assume-o às claras. Toma antidepressivos e ansiolíticos (estes últimos só em SOS). E ainda assim diz com orgulho que se transformou, que conseguiu escapar do buraco onde viveu durante tanto tempo. Fala despachada, confiante, parece toda senhora de si. A história começa quando tinha uns 12, 13 anos. “Era muito gordinha, cheguei a pesar 105 quilos, e sofria imenso bullying. Desde ouvir coisas como ‘olha, vai ali a passar a gorda’ até fazerem rodinhas à minha volta para me humilharem e chamarem nomes.” Acresce que mal falava sobre o assunto. Os pais trabalhavam muito, ela também não se sentia à vontade para puxar o tema, tinha vergonha, começou a fechar-se em copas. E a espiral de sofrimento começou aí. Depois, veio a “inspiração”. Uma amiga que “andava sempre com a caixinha das lâminas” e que um dia se automutilou à beira dela. “Porque no fundo partilhávamos o mesmo sofrimento.”

Helena viu ali um possível escape para a dor. “Durante a noite, quando os meus pais estavam no quarto, fui buscar uma lâmina de barbear do meu pai e cortei-me no braço.” Lembra-se que chorou, que o alívio que achou que ia encontrar foi engolido por uma tristeza imensa, que se culpou e ficou ali abatida, a braços com um peso inultrapassável: “Como é que cheguei a este ponto?” E ainda assim optou por continuar a calar aquela dor, a sofrer em silêncio. “Durante duas semanas, tive que andar sempre preocupada em tapar os braços, em esconder, porque fiquei mesmo muito marcada.” Na altura, uma amiga mais próxima, que se apercebeu de que ela não estava bem, tentou apoiá-la. Mas os pais de nada souberam. Essa confissão, aos pais – ou melhor, à mãe -, tardaria ainda uns dois anos. “Curiosamente, até foi por causa de um comentário de um professor de Educação Física. Na altura íamos ter um corta-mato e ele, num telefonema para a diretora da escola, disse qualquer coisa como: ‘Não te esqueças que para a Helena tem de ser uma camisola maior.’” E aquela saída aparentemente desprovida de maldade deixou-a desvairada, como um gatilho que traz à tona o que tentamos a todo o custo remeter para as entranhas. “Fui-me embora da escola a correr, cheguei a casa muito triste, a chorar, enraivecida, tão enraivecida que dei um soco num vidro e tive de ir para o hospital, porque abri o braço todo. Levei imensos pontos.” Naquele momento, decidiu abrir o jogo com a mãe. Contar-lhe do bullying, do sofrimento, de como tentou fazer mal a ela própria. E a partir dali o jogo virou: começou a ter acompanhamento especializado, deixou a escola antiga, mudou-se de Matosinhos para o Porto. “Aí comecei a minha transformação.”

Tudo parecia estar por fim a entrar nos eixos. Mas com 18, 19 anos, nem sabe ao certo, teve um momento de desespero e tentou pôr fim à vida. “Tenho uma depressão e naquele dia não estava em mim. Acho que sofri tanto naqueles anos que acabei por ficar com uma série de traumas.” Mas prefere focar-se na parte boa da história. “Os meus amigos foram muito importantes neste processo. E a minha mãe também. Se não fosse a minha mãe não estava aqui hoje.” Por isso, faz questão de deixar um conselho a quem possa rever-se nas angústias que acedeu a partilhar. “Não tenham medo de falar. Se não quiserem falar com a vossa mãe ou o vosso pai, falem com outra pessoa. Numa fase inicial nós temos sempre vergonha, mas é o primeiro passo. O pior é sempre guardar.” E não termina sem dar graças por se dar hoje “muito mais valor à saúde mental”. “Há uns anos, quando eu andava na escola, ainda era uma questão muito subvalorizada. A minha mãe ainda hoje se culpa por não ter reparado antes na minha tristeza, por não ter conseguido apagar o fogo a tempo.”

A relação com os pais não é uma nota lateral nesta história. Tânia Gaspar, coordenadora do estudo que dá o mote para este trabalho, salienta isso mesmo. “O estudo fornece uma visão abrangente, em que tentámos ver a ‘big picture’. Por um lado, há a questão dos indicadores de saúde mental e bem-estar destes jovens; por outro, é percetível também um agravamento da relação com os pais, uma maior dificuldade de comunicação, uma perceção de menor apoio dos pais e de que a relação já não é tão positiva.” A psicóloga clínica destaca ainda dois outros pontos, que lhe parecem relevantes para uma interpretação mais ajustada: “Por um lado, a questão do aumento do uso das novas tecnologias.” Que em si mesmo não é mau, mas que pode ser preocupante na medida em que há um aumento da dependência e um aparente “enfraquecimento das competências socioemocionais” na socialização cara a cara. E há ainda a questão dos medicamentos. O estudo mostra que aumentou o uso do fármacos como espécie de droga, bem como a medicação sem prescrição médica. “E isto também inibe as competências para lidar com as coisas de outra forma. Todo este panorama acaba por pesar na questão da saúde mental e do bem-estar.”

A este quadro juntou-se, nos últimos dois anos, um outro fator que assume particular relevância no agravamento do estado emocional dos jovens (e não só): a pandemia. E tudo o que veio com ela. Diogo Guerreiro, especialista em psiquiatria de adultos e adolescentes e autor de uma tese de doutoramento datada de 2014 que foca precisamente a questão dos comportamentos autolesivos, ressalva que não há explicações 100% precisas “porque são sempre multifatoriais”, mas recorda que a crise pandémica, os confinamentos, o isolamento fizeram com que o aumento da prevalência da ansiedade e da depressão seja “avassalador em todo o Mundo”. Com natural repercussão ao nível dos comportamentos autolesivos.

“Estes comportamentos têm dadas funções. Por um lado, são uma forma de comunicação. Por outro, são uma tentativa destes jovens regularem emoções que não estão a conseguir controlar.” E o facto de os adolescentes se terem visto privados da socialização, a incerteza que veio com a pandemia, a instabilidade financeira e familiar redundaram numa espécie de “tempestade perfeita” para os potenciar. “Quando somos adultos, temos outras formas de lidar com a frustração, com o tédio, com os estados mais depressivos. Os adolescentes nem tanto. Até porque muitas vezes também há um efeito de contágio.”

“Para não lhe bater, parti-lhe o telemóvel”

Armando (nome fictício) não tem certezas, mas está convencido de que esse fator também há de ter contribuído para que, há uns meses, a filha (13 anos) tenha decidido cortar ambos os pulsos com um x-ato. “Creio que se inspirou numa colega da escola que passou pelo mesmo. Nestas idades as companhias influenciam muito.” Armando nem sabe bem por onde começar a desenrolar o novelo. Sabe que a filha sempre foi algo tímida, mas que se tornou mais introvertida com a entrada na adolescência. Sabe que a pandemia e a “telescola”, como lhe chama (neste caso, o “Estudo em Casa”), não ajudaram. “Se ela já passava muito tempo no quarto, começou a passar ainda mais.” Sabe que a filha foi ficando mais calada e mais murcha. Desconfia até dos animes (desenhos animados japoneses) que a filha começou a ver. “Eu não sei, mas acho aquilo muito depressivo.” Até que, um dia, a mulher recebeu um telefonema da mãe de uma colega da escola da filha. A avisá-la de que algo de estranho se passava. “Nesse dia, quando chegámos à beira dela, a mãe puxou-lhe as mangas da camisola para cima e vimos que tinha os pulsos cortados.”

“Não foi bonito”, reconhece. “Muitos gritos, choro, fiquei tão cego que, para não lhe bater, parti-lhe o telemóvel.” A reação imediata de quem é tomado de súbito pela frustração e a angústia. Pela incompreensão também. “Ainda hoje não consigo perceber.” Depois, com mais calma, tentaram conversar. “O passo seguinte foi procurar ajuda na escola, falar com os professores, pedir para estarem atentos. Nessa altura, começou também a ser acompanhada pela psicóloga da escola. Fomos insistindo no diálogo em casa, tentando puxá-la para sair mais, e as coisas foram acalmando.” Que se tenham apercebido, o episódio não se repetiu. “E ela até está mais comunicativa. Mas mesmo assim ando sempre de pé atrás. Porque quem passa por uma situação destas fica sempre desconfiado.” Tanto mais quanto Armando continua a deparar-se com umas quantas pontas soltas. “Ela nunca conseguiu explicar-nos bem por que razão o fez. Mas havia claramente inseguranças e falta de autoestima próprias de uma adolescente. Problemas com o corpo. Mas, caramba, eu também tive, quando era adolescente. Acho que todos passámos por isso e não andámos propriamente a cortar-nos com um x-ato.”

O desabafo de Armando toca num ponto relevante, desconstruído pela pedopsiquiatra Bárbara Romão. “Os jovens podem sofrer de uma forma mais internalizante, que é aquele sofrimento que provoca maior apatia, que puxa mais para estar deitado, ou mais externalizante, que é quando o sofrimento é exteriorizado. E hoje em dia o sofrimento mais comum é o externalizado. Já não há tanto aquela inibição de incomodar o outro, de não querer dar nas vistas, que se devia muito a uma educação mais autoritária. Neste momento, como o modelo parental mais prevalente é um modelo mais permissivo, isso faz com que o sofrimento seja mais externalizado. Mas também faz com que haja jovens mais narcísicos, menos gratos, mais exigentes, mesmo em relação aos próprios pais.” E, embora admita que a percentagem apresentada no estudo (um quarto dos jovens) a surpreende, não tem dúvidas de que “é um fenómeno crescente”, que atende cada vez mais jovens com “pequenos cortes” e que há um “agravamento enorme”, a todos os níveis. “A procura disparou com a pandemia. Já não estou a aceitar primeiras consultas porque não tenho capacidade de resposta.”

Ivone Patrão, psicóloga clínica e coordenadora do projeto “Geração Cordão”, aponta outros fatores, mais relacionados com a esfera pessoal, que podem pesar. “As questões relacionadas com a imagem corporal, os problemas ligados ao comportamento alimentar, as dificuldades na socialização e interação com o grupo de pares ou mesmo as disfuncionalidades familiares, tudo isso pode contribuir para que haja comportamentos autolesivos. Depois, os estudos dizem-nos que adolescentes com uma personalidade mais introvertida ou com características de um neuroticismo mais elevado estão mais sujeitos. Mas claro que isto não quer dizer que todos os miúdos introvertidos se vão cortar.” Chama ainda a atenção para outros dois pontos relevantes: o primeiro é que estes comportamentos são mais típicos nas raparigas, mas “também há rapazes a fazê-lo”; o segundo é que quando acontece uma vez, “a probabilidade de se repetir é grande”.

Hugo Tavares, pediatra no Hospital Lusíadas Porto, onde é responsável pela “consulta do adolescente”, também tem notado um aumento substancial do número de jovens que adota comportamentos autolesivos. “Os últimos tempos têm sido inacreditavelmente pródigos neste tipo de episódios.” O pediatra distingue três situações-tipo. “Há casos em que, quando nos chegam, já temos conhecimento de que estes comportamentos ocorreram; há outros em que os pais se apercebem que há uma mudança de atitude e depois, durante o exame da consulta, vamos dar com as marcas dos cortes; e há ainda aquelas situações em que não há qualquer indício percecionado pelos pais e acabamos por ser nós a descobrir.” Frequentemente, os pacientes tentam esconder, arranjam justificações, dizem que foi o gato que os arranhou ou invocam outra qualquer desculpa. Noutros casos, “até fazem gala disso”. “Há situações em que a questão é a transferência da dor psicológica para a dor física. E há outras em que o veem como um castigo que têm de cumprir. Porque se portam mal, porque só causam problemas à família, porque a escola não corre bem, porque os amigos não gostam deles. Seja como for, é sempre um sinal muito importante de perda do controlo, que nos deve preocupar. Porque dali para outras situações que põem em causa a vida pode ser um passinho.” Bárbara Romão também realça que estes fenómenos “nunca devem ser negligenciados”. “O mais importante é não desvalorizar. Uma automutilação pode ter vários significados, mas é sempre caso para consultar um especialista. E também é importante não culpabilizar, mostrar compreensão, comunicar.”

E num plano mais alargado, o que pode ser feito para reduzir estes números e cuidar da saúde mental dos mais jovens? O psiquiatra Diogo Guerreiro aponta alguns pontos cruciais. “É preciso falar mais, aumentar a literacia dos pais e dos professores, para que saibam reconhecer os sinais de alarme. É preciso que os próprios jovens saibam a quem podem recorrer. Tem havido um aumento brutal das patologias de saúde mental e, com os meios que temos, é muito difícil encontrar uma resposta cabal na rede. Tem de haver uma abordagem mais geral, que envolva a escola, a sociedade, em que os professores estejam à vontade para falar sobre estes temas, em que tenham ao seu dispor um kit básico de ferramentas para abordar o assunto, em não haja tabus. Há muito a ideia de que falar sobre estes comportamentos vai exponenciá-los, mas uma das medidas que mais eficácia tem é falar sobre eles.” Além do imperativo reforço da rede de psicólogos e pedopsiquiatras do SNS. Até porque, como lembra João Bessa, da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, o “sofrimento psíquico na infância e adolescência pode suscitar o desenvolvimento de patologia psiquiátrica na idade adulta”. Por isso, não tem dúvidas: “O foco de intervenção deve virar-se cada vez mais para estas janelas temporais que sabemos que são cruciais no desenvolvimento pessoal”.

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Linhas de apoio

Apoio Psicológico integrado na linha SNS24
Horário: 24 horas por dia
Contacto telefónico: 808 24 24 24

SOS Voz Amiga
Horário: 15.30 horas – 00.30 horas
Contacto telefónico: 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660

Conversa Amiga
Horário: 15 horas – 22 horas
Contacto telefónico: 808 237 327 | 210 027 159

Vozes Amigas de Esperança de Portugal
Horário: 16 horas – 22 horas
Contacto telefónico: 222 030 707

Telefone da Amizade
Horário: 16 horas – 23 horas
Contacto telefónico: 222 080 707

Voz de Apoio
Horário: 21 horas – 24 horas
Contacto telefónico: 225 506 070
Email: sos@vozdeapoio.pt

Vira(l)Solidariedade – Rede de Apoio Telefónico da Sociedade Portuguesa de Psicanálise
Horário: 08 horas – 00.00 horas
Contacto telefónico: 300 051 920

A SAÚDE DOS ADOLESCENTES PORTUGUESES EM CONTEXTO DE PANDEMIA – Dados nacionais do estudo HBSC 2022

Histórias de bullying e como o prevenir. “É preciso acabar com a palavra queixinhas”

Janeiro 9, 2023 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Magg de 2 de novembro de 2022.

A desvalorização das denúncias das crianças e jovens pode ser o caminho para situações de violência física e psicológica.

No mesmo dia, o rapaz apanhou duas tareias dos colegas, uma de manhã e outra à tarde .“Pediu ajuda aos adultos na escola, que simplesmente o ignoraram, disseram-lhe para ir para as aulas e que não apresentasse queixa, dava muito trabalho”, recorda a mãe, Isabel Sousa. Quando a engenheira chegou a casa, encontrou-o  “a chorar compulsivamente”, e a dizer-lhe “que não aguentava mais e que se ia suicidar”. O garoto de 10 anos, pertencente ao quadro de honra e muito apegado à mãe, era vítima de violência física e psicológica há algum tempo, embora Isabel só o tenha descoberto no final do ano letivo.

“Quando me apercebi que o meu filho estava a ser vítima de bullying, a situação já ia muito avançada. Como vivemos muito perto da escola dele, praticamente a dois minutos a pé, descobri que tocavavam à campainha de nossa casa durante o ano inteiro e perseguiam-no quando ele ia para os treinos”, conta à MAGG Isabel.

A palavra bullying já não deixa ninguém indiferente. O conceito é explicado aos jovens desde cedo, seja pelos professores, pelos pais, pela comunicação social e até pelo cinema e televisão (basta olhar para o sucesso da série “Por 13 Razões”, focada no caso de Hannah, vítima de bullying físico e psicológico, que acaba por cometer suicídio).

E se é verdade que o bullying continua a ser uma realidade dos jovens portugueses, não é menos verdade que é sobretudo na escola que as crianças o sofrem. De acordo com um relatório da UNICEF, 31 a 40% dos adolescentes portugueses, com idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos, afirmaram ter sido vítima de algum tipo de violência física ou psicológica, na escola, uma vez em menos de dois meses.

O que é o bullying?

O termo é facilmente reconhecido. Mas onde é que se traça a linha entre as discussões e brigas ditas normais entre jovens e o bullying? “Para uma situação de violência ser considerada bullying, tem de reunir três fatores essenciais”, conta à MAGG Rosário Carmona e Costa, psicóloga clínica e co-autora do jogo de tabuleiro “Bullying: Um Dia na Escola”.

A especialista explica que a intencionalidade é o primeiro destes fatores. “Tem de existir uma intenção de magoar e/ou ofender o outro. Por exemplo, se um jovem magoa outro no decorrer de um jogo de futebol, não estamos obviamente perante um cenário de bullying, dado que nesse contexto o objetivo principal é ganhar o jogo.”

A continuidade é o segundo fator a ter em conta. Segundo Rosário Carmona e Costa, “quando uma agressão é prolongada no tempo e recorrente, é bullying. Pelo contrário, episódios esporádicos e pontuais de violência não entram nesta designação”.

O desequilíbrio de poder é o último ponto. “Também falamos de bullying quando existe uma situação de violência de alguém mais velho contra o mais novo, de um grupo contra um, numa situação real de desequilíbrio de poder. No entanto, esse desequilíbrio também pode ser percebido, quando a vítima, por qualquer razão, se considera inferior em relação ao agressor, mesmo que essa não seja uma situação real”.

Rosário Carmona e Costa acrescenta que o bullying se pode dividir em cinco sub-tipos, sendo que existem casos em que todas estas situações podem co-existir. “Existe o bullying físico, psicológico, social, sexual e cyber-bullying”, esclarece a psicóloga clínica.

Esteja atento aos sinais do seu filho

Ainda antes de perceber que o filho estava a ser vítima de bullying, Isabel Sousa começou a notar algumas diferenças no seu comportamento.

“Estava sempre a chamar a nossa atenção, isolava-se muito no quarto, mas o grande alerta para mim aconteceu quando começou a bater na irmã mais nova. Ele adora-a e aí percebi que algo não estava bem”, recorda à MAGG Isabel Sousa.

Decidida a perceber o que se passava com o filho, Isabel pediu-lhe que visse com ela um dos episódios da série de reportagem “E se fosse consigo?”, exibida pela SIC, focado no tema do bullying.

“Quando o programa acabou, confessou-me que estava a passar por aquelas situações”.  E pouco tempo depois apanhava as tais duas tareias no mesmo dia.

A psicóloga Rosário Carmona e Costa explica que existem sinais de alarme a que pode estar atento e que podem demonstrar que há uma situação de bullying na escola.

“Se as crianças começam a recusar-se a ir à escola de uma forma recorrente, com a desculpa das dores de barriga, isso pode ser um sinal claro de que algo está a acontecer. A dificuldade em adormecer, mudanças de comportamento repentinas a partir de domingo à tarde (interiorização), a perda constante de coisas quando regressam da escola (como camisolas, mochilas, material escolar) ou até se pedem mais dinheiro do que o habitual (que pode ser significativo de alguém lhe estar a tirar dinheiro) podem ser sinais de alarme”, enumera a especialista.

O choro fácil, a irritação com figuras de referência em casa (pais e irmãos), a agressividade e o mau estar emocional também são escapes emocionais que podem ser sinais. No entanto, a psicóloga alerta que “se uma criança ficar mais agressiva em casa de repente, isso não é obrigatoriamente uma ligação direta com uma situação de bullying”.

Rosário Carmona e Costa também salienta que a diminuição do aproveitamento escolar é o pior dos sinais, dado que as vítimas de bullying são, por vezes, alunos muito empenhados.

“Há crianças que, sendo vítimas de violência, acabam por se refugiar nos estudos, investem muito neste campo, nem que seja para agradar aos professores. Acompanho uma jovem de 15 anos que sofre de bullying, chora constantemente durante as consultas mas é a melhor aluna da turma. Às vezes, estar à espera que as notas baixem para atuar, pode ser uma má política”, explica a especialista.

Se as crianças sofrem bullying, devem os pais mudá-las de escola?

Quando a filha de Luísa Margarida Jordão tinha 12 anos e se encontrava a frequentar o sétimo ano, a empresária foi confrontada com um dramático desabafo.

“Estava a ajudá-la a estudar numa tarde de sábado e, de repente, a minha filha começou a chorar compulsivamente. Acabou por partilhar comigo que estava a ser vítima de gozos constantes e estava sempre a receber mensagens de WhatsApp, através de um grupo fechado”, conta Luísa à MAGG.

Depois de alguma insistência da parte da mãe, a rapariga acabou por a deixar ver as mensagens. “Fiquei chocada. Utilizavam um slogan conhecido de uma marca de queijos que continha a mensagem ‘uma vaca feliz’ e adaptaram a letra, personalizando-a com o nome da minha filha, bem como situações especificas do quotidiano dela na escola.”

Vaca, lenta, puta. Tudo nomes que era frequente chamarem à filha de Luísa que, após esta descoberta, não perdeu tempo e enviou de imediato um e-mail à diretora de turma da filha com o relato do sucedido e capturas de ecrã das mensagens que esta recebia, solicitando uma reunião de urgência.

“Não recebi qualquer resposta. A minha filha dizia-me que preferia morrer a enfrentar os colegas. Contactei a pediatra para me orientar nos procedimentos a tomar e, dado que continuava sem obter um contacto da escola, dirigi-me à direção da mesma e solicitei medidas urgentes”, relata Luísa Jordão.

A atitude da escola, inicialmente, desiludiu Luísa, dado que “chamaram os pais dos agressores para uma conversa, chamaram os alunos à atenção e pouco mais”. Com o final do ano letivo a aproximar-se, a empresária tentou mudar a filha de escola mas, devido à falta de vagas, tal não foi possível.

Quando percebi que a minha filha ia ficar na mesma escola, falei novamente com a direção, que se comprometeu a substituir a diretora de turma no ano letivo seguinte. E, na verdade, com o apoio dado em casa e do pediatra, com a mudança da professora e as férias de verão, tudo se superou.”

Luísa Jordão recorda que a catarse final da filha chegou no ano seguinte, já com outra diretora de turma, quando a professora pediu à adolescente que, perante a turma, contasse o que se tinha passado no ano anterior. “Com o testemunho da sua vivência, a minha filha ganhou o respeito dos colegas.”

Rosário Carmona e Costa explica que a mudança de escola neste contexto de bullying, apesar de parecer uma solução fácil, deve ser avaliada caso a caso e nem sempre é o mais acertado.

“Depende muito do contexto de permeabilidade dos jovens. Apesar de cada caso ser um caso, e de já ter acompanhado jovens em que acreditei que o melhor era a mudança de escola, bem como outros em que recomendei a manutenção do mesmo estabelecimento de ensino, costumo preferir trabalhar as competências das crianças antes de partir para uma mudança.”

É necessário, em conjunto com o psicólogo, que as vítimas de bullying trabalhem nelas mesmas e percebam o que devem mudar para fazer face a esta situação, explica a especialista, que alerta que, “caso o jovem não adquira novas competências e ferramentas (como a assertividade e a gestão emocional), mesmo mudando de escola, existe o perigo de a situação de bullying ser recorrente no novo contexto”.

Rosário Carmona e Costa explica também que, muitas vezes, os próprios jovens são os primeiros a entender que a mudança de escola não vai ser suficiente. “Tenho miúdos que acompanho que me dizem que não querem mudar, que sentem que ainda não trabalharam o suficiente neles mesmos e têm a noção que o cenário poderia repetir-se num novo contexto.”

Para o filho de Isabel Sousa não só foi preciso mudar de escola como escolher uma noutra localidade. “Agora quando o encontram [os antigos colegas] na rua ainda lhe mandam umas bocas mas nunca mais se aproximaram”.

“É preciso acabar com a palavra queixinhas.”

As consequências de uma situação de bullying são gravíssimas para um jovem, podendo causar fortes marcas no seu desenvolvimento pessoal.

“O bullying priva os miúdos de momentos de desenvolvimento chave na vida. É na adolescência que as crianças adquirem competências sociais, sendo que se estiverem a ser vítimas destas agressões constantes, vão ser privados de competências sociais ajustadas”, afirma Rosário Carmona e Costa.

A especialista acrescenta que o sentimento de insegurança na escola, por exemplo, que deveria ser um local seguro, pode comprometer e muito o tipo de adulto em que se vão tornar e recorda o caso de uma paciente de 17 anos, “que me diz que quando crescer não quer ter amigos, só conhecidos, dado que sente que se se expuser e confiar em alguém, vai acabar por sair magoada”.

O bullying na infância e na adolescência também pode ser o causador de várias patologias do foro psicológico como a ansiedade, a depressão e as tendências suicidas — basta recordar os testemunhos de Luísa e Isabel, em que ambos os filhos expressaram o desejo de terminar a própria vida em virtude das situações de violência de que eram alvo.

Após a descoberta de uma situação de bullying, e desta ser confirmada, Rosário Carmona e Costa explica que o primeiro passo para os pais é pedir ajuda. “A escola deve ser imediatamente contactada, não numa perspetiva acusatória, mas sim de colaboração, para escola e família perceberem em conjunto o melhor caminho a trilhar”, explica a especialista, que acredita que o recurso a um psicólogo é necessário, até para fazer a ponte entre a escola e os pais, numa ótica de mediador.

No entanto, a psicóloga clínica considera que a verdadeira chave está na prevenção e na importância extrema de acabar com um termo muito conhecido em ambiente escolar.

“É preciso acabar com a palavra queixinhas. Esta é uma designação incutida nos miúdos, por muitos pais e professores, que só causa problemas. Tantas crianças que, quando confrontadas pelos pais sobre o porquê de não terem falado antes sobre uma situação de violência, respondem com ‘porque não sou queixinhas’”, salienta a especialista.

Rosário Carmona e Costa explica que há que saber diferenciar uma queixa de uma denúncia, distinguido as que afetam as crianças e as que não têm qualquer influência na sua vida.

“Se um aluno repara que um colega está a tirar macacos do nariz, essa é uma situação que não deve reportar e que pode ser considerada uma queixa gratuita, dado que não afeta a vida da criança em nada. Mas se é uma situação que causa sofrimento de uma forma direta, aí já estamos a falar de uma denúncia que deve ser feita e valorizada pelos adultos, sejam professores ou pais.”

A psicóloga afirma também que os pais são a primeira linha na educação dos filhos e têm de estar aptos, desde cedo, a acolher as denúncias, a valorizar o sofrimento dos mais jovens e a transmitir-lhes competências.

“Se um pai ouvir o seu filho a contar-lhe que um colega lhe roubou a bola na escola, para além de valorizar o sucedido, deve de imediato ensiná-lo a resolver essa e outras situações semelhantes, com um discurso assertivo, explicando ao colega o porquê de não gostar dessa atitude.”

No entanto, Rosário Carmona e Costa alerta que os pais não devem ficar obcecados em serem o único porto de abrigo dos filhos, nem exigir que lhes contem tudo apenas a eles.

“É importante que os pais passem uma mensagem de que os filhos podem confiar em outros e garantir que estes têm alguém a quem recorrer, sejam professores, auxiliares e até amigos mais próximos. Acompanho em consulta uma menina de 10 anos que teve vergonha de contar à mãe o que se estava a passar, mas confiou numa amiga, que prontamente contou à mãe da minha paciente e a situação começou a resolver-se”, conclui a psicóloga clínica.

 

Conselho de Ética quer casas de banho descaracterizadas nas escolas e bullying na lei

Dezembro 14, 2022 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 3 de dezembro de 2022. 

 

Bullying nas Escolas: agir e reagir – conversa com Gisela Dinis e Madalena Fernandes, moderada por Catarina Furtado, 5 novembro em Lisboa

Novembro 4, 2022 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Vamos falar sobre Bullying? Ordem dos Psicólogos Portugueses

Novembro 4, 2022 às 6:00 am | Publicado em Recursos educativos | Deixe um comentário
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Notícia da Ordem dos Psicólogos Portugueses de 20 de outubro de 2022.

Como complemento é ainda possível aceder à checklist “Estou a ser vítima de Bullying ou estou a ser Bully? Para aceder à checklist aceda aqui.
Para aceder ao documento aceda aqui.

Bullying diminui face aos anos pré-pandemia, mas continua a ser um problema nas escolas

Novembro 1, 2022 às 4:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia da Rádio Renascença de 20 de outubro de 2022.

 Celso Paiva Sol , Olímpia Mairos , com Lusa

Foi registado um aumento dos casos de bullying no último ano letivo face aos dois anos anteriores, em que as crianças e jovens passaram menos tempo na escola por causa da Covid-19. Fenómeno pode ser físico, verbal ou sócio-emocional e vai desde a agressão física à difamação. Maioria das vítimas e dos agressores são rapazes com entre 12 e 15 anos.

As situações de bullying em contexto escolar continuam a aumentar. No último ano letivo, a PSP registou mais de 2.800 ocorrências criminais, sendo que as injúrias e as ameaças atingiram o valor mais elevado, pelo menos, dos últimos nove anos.

De acordo com o subintendente Sérgio Saldanha, a maioria das vítimas e dos agressores são rapazes com idades entre os 12 e os 15 anos.

Em declarações à Renascença, o responsável sublinha a importância de os pais estarem atentos a todos os sinais que possam indiciar uma situação de bullying. “Devem ouvir as crianças, sejam as vítimas ou os agressores, estar atentos aos sinais de alterações comportamentais”, aconselha.

E no caso de pais de eventuais vítimas, é importante estar atento aos “sinais, não só a nível psicológico, mas a nível físico, se apresentarem hematomas, usarem roupa, em situações que não é normal, para esconder alguns ferimentos que possam ter também”.

No último ano letivo, a Polícia de Segurança Pública registou 2.847 ocorrências criminais de situações de ‘bullying’ em contexto escolar, 1.169 das quais por agressões e 752 por injúrias e ameaças.

“Bullying é para fracos”

Para assinalar o Dia Mundial do Combate ao Bullying, a PSP está realizar desde o dia 10 de outubro e até amanhã, sexta-feira, a operação “Bullying é para fracos”, dirigida às escolas do 1.º ao 3.º ciclos e ensino secundário, abarcando crianças e jovens dos seis aos 18 anos de idade.

Segundo esta força de segurança, o Dia Mundial do Combate ao Bullying constitui-se como “um alerta internacional para o problema do ‘bullying’ com o qual muitos jovens convivem diariamente e que é suscetível de interferir, de forma negativa e com grande impacto também a longo prazo, no seu crescimento, físico, emocional e psicológico”.

A operação tem como objetivos “aumentar o conhecimento sobre este fenómeno, capacitando a deteção precoce”, “fazer crescer o sentimento de intolerância e de rejeição para com as práticas de bullying” e “incrementar a confiança nas capacidades da PSP e dos demais parceiros neste contexto para intervir e lidar eficazmente com o problema”.

O bullying pode ser, físico, verbal ou sócio-emocional e vai desde a agressão física à difamação.

Ordem dos Psicólogos apresentou, em comunicado, dados de 2017 que colocavam Portugal em 15.º lugar numa lista de países mais atingidos por esta prática na Europa e na América do Norte, à frente dos Estados Unidos.

De acordo com a mesma fonte, 31% a 40% dos adolescentes portugueses com idades entre os 11 os 15 anos “confirma ter sido intimidado na escola uma vez em menos de dois meses”.

Mas, se os números tiverem em conta apenas os dois últimos anos letivos – vividos em tempo de pandemia e em que as crianças e jovens passaram muito menos tempo na escola – as situações de bullying, em contexto escolar aumentaram 37%.

Saber lidar com vítimas e agressores

Não menos importante, sublinha o subintendente Sérgio Saldanha, é saber lidar com os agressores e com as vítimas.

“Em termos de relação com o agressor têm que ouvir, têm que escutar para perceber o que é que se passa e não fazer juízos prévios”, destaca, realçando que é preciso “perceber as razões e a avaliação que o agressor faz dos seus próprios comportamentos”.

“Há que entender que estas crianças também precisam de ajuda e ajudar o agressor, em boa parte, é a melhor forma de ajudar a vítima”, observa.

Já quanto às vítimas, é fundamental “ouvir, escutar, estar com atenção àquilo que a criança nos transmite, às vezes sem ser transmitido por palavras, mas com comportamento e não desvalorizar o assunto”.

“Há que manter a calma, não entrar em conflito ou em confronto com o agressor ou com os pais familiares do agressor. Contactar as pessoas responsáveis a nível da escola, a Polícia de Segurança Pública, para que todos em conjunto, possamos ter uma intervenção articulada nesta matéria”, sintetiza.

“Não incentivem, não filmem”

Falando especificamente dos amigos e colegas que sabem destes casos, o subintendente pede-lhes que não incentivem, e que não filmem.

“Perante uma situação de bullying em primeiro lugar, devem tentar fazer cessar essa situação. Se não forem capazes pelos próprios meios, devem contactar um adulto responsável que esteja por perto no momento, seja na escola, professores, assistentes operacionais e depois não encorajar o agressor fazendo filmagens, como por vezes vê nas redes sociais das situações em que divulgam as situações”, esclarece.

Segundo o subintendente Sérgio Saldanha, “as filmagens a serem feitas devem apenas servir para prova, para entregarem às pessoas responsáveis para tratarem deste assunto”.

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