Leitura e Internet: Que acrescentam as TIC à leitura? – Documento para download
Janeiro 9, 2016 às 7:00 pm | Publicado em Recursos educativos | Deixe um comentárioEtiquetas: Internet, Leitura, Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC)
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Porque é que crianças inteligentes têm más notas?
Janeiro 9, 2016 às 1:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Eduardo Sá, Insucesso Escolar
Escrito por Eduardo Sá, psicólogo, para a Revista Pais & Filhos em 04 Janeiro 2016.
Estamos mesmo a chegar ao final do primeiro período. E com a conclusão das aulas vêm aí as primeiras notas. Estão, portanto, a chegar algumas reuniões de pais com os professores e uma ou outra má notícia acerca da avaliação final de alguns alunos. Virá aí, para muitos deles, uma ou outra negativa. Evidentemente que a primeira tentação de todos os pais, numa circunstância como essa, é concluírem que os filhos terão sido “preguiçosos”. Havendo alguns que, numa decisão impulsiva, irão decidir castigá-los. Ora, obrigando-os a deixar o futebol, por exemplo. Ora levando até ao fim a decisão de os privar de prendas no Natal. Será isso razoável?
Comecemos pelo princípio: porque é que crianças inteligentes têm más notas? Porque são inteligentes! Eu sei que a resposta pode parecer um desaforo. Mas é verdade. Acreditem que não estou enganado: a tentação de falar de dificuldades cognitivas ou de “deficiência mental”, a propósito das crianças, merece uma imensa ponderação. Mas, vamos por partes.Não há crianças “burras”! Eu sei que há termos ásperos, como este, para todos nós. Mas é importante que sejamos claros: tirando raríssimas exceções, de crianças com quadros genéticos ou neurológicos muito graves (e que são, realmente, raríssimas!) não há crianças que nasçam “burras” como, desde sempre, se foi imaginando ou formulando. Recordo que algumas das crianças consideradas assim, que viveram a escola de forma penosa, com resultados catastróficos e com experiências humanas humilhantes, se transformaram em grandes empreendedores, grandes empresários e pessoas cuja singularidade trouxe, realmente, mais-valias ao mundo.
Mas, sendo assim, quem transforma crianças inteligentes em maus alunos? De certa forma, todos nós. É claro que, para os resultados de uma criança na escola, faz diferença que ela tenha tido – pelo menos, até entrar no primeiro ano de escolaridade – uma família minimamente equilibrada. Porquê? Porque todas as crianças nascem altamente sensíveis, atentas, intuitivas e inteligentes, a grande dificuldade dos pais passa por se adequarem a essa “esponja” habilitadíssima para os recursos cognitivos (é assim que muitos definem a forma como elas “absorvem” conhecimentos e os multiplicam através de operações mentais que as parecem tornar a todas “matemáticos de fraldas”, não é?). Trata-se de adequar às crianças um conjunto de rotinas que façam com que os seus ritmos (de sono ou de alimentação, por exemplo) não se desorganizem, ligando-as a regras que as façam conjugar aquilo que elas desejam e o que os pais consideram desejável. Mas, para além de regras, rotinas e ritmos, as crianças necessitam da sabedoria dos pais. Porquê? Porque, quando as crianças leem o mundo à sua volta, elas têm uma espécie de “instinto de adivinhar” que faz com, em tempo real, intuam de forma fulgurante aquilo que se passa, por mais que uma imagem que fique de uma experiência como essa possa levar trinta anos, por exemplo, a ter a “legenda” apropriada. Isto é: as “legendas” que os pais colocam naquilo que elas intuem servem para as crianças atribuírem palavras àquilo que veem, serve para lhes dar um significado, servem para que elas saibam discernir as operações mentais que as levem a resolver os problemas que a vida sempre lhes traz e servem, sobretudo, para que elas vão aprendendo “coisas” mais complexas e as atinjam de uma forma mais simples, mais rápida e mais eficaz. Como se compreende, quando os pais, na ânsia que elas cresçam mais depressa do que deviam ou esperando que as crianças se adequem a exigências de “agenda” que não são as suas (pensar e aprender exige tempo, tentativas, erros e uma dose generosa de experimentação “autodidática”) não respeitam os seus ritmos, não enquadram os seus ímpetos, não lhes dão um perímetro de segurança esclarecido para aquilo que podem e não podem fazer. Para além do mais, trazem-nas para burburinhos ou conflitos que as magoam – para além de as baralharem ao colocarem “legendas” um bocadinho “ao lado”, considerando aquilo que elas já perceberam – e contribuem muito (contra a sua vontade, sem dúvida) para os maus resultados escolares das crianças. Porquê? Porque a escola é uma espécie de enciclopédia que vai multiplicar os conhecimentos que a própria família já de si gerou. E chegar lá com “as ideias fora do lugar” é meio caminho andado para que tudo o que podia ser simples se transforme numa “confusão”.
Para os bons resultados escolares de uma criança faz, também, diferença que ela tenha uma educação infantil sensata, pouco apressada e pouca dada à vaidade de conhecimentos que se repetem sem que se perceba como eles funcionam. É claro que se a ausência de educação infantil pode trazer limitações cognitivas a uma criança, uma má educação infantil não deixará de lhe trazer constrangimentos. Sendo curial que se pergunte o que poderá ser um má educação infantil? Aquela que coloca os desempenhos de curto prazo à frente de aprendizagens centradas em áreas de conhecimento que contribuam para que os recursos das crianças se transformem, progressivamente, em aptidões para ligarem palavra, aptidões abstratas, sentimentos e expressividade, autonomia e solidariedade, capacidade lúdica e tolerância à frustração. Escusado será dizer que sobrepor conhecimentos às operações mentais que as crianças ainda não agilizaram, e submetê-las aos ritmos e aos objetivos dos pais e dos colégios (independentemente das distorções de médio e longo prazo que isso traz à versatilidade da sua aprendizagem) é, a médio prazo, amiga das más notas.
Depois, há as escolas, propriamente ditas. E aqui tudo se complica mais. Porque embora haja uma política educativa, ela parece carecer, em muitas circunstâncias, de robustez, de coerência e, sobretudo, de uma ideia do que se pretende para a aprendizagem dos alunos. Não se trata de fazer “cruzadas” contra os critérios de avaliação (nem isso seria sensato), nem de eleger as provas de aferição e os exames como “alvos a abater”. Mas trata-se de não nos ficarmos, unicamente, na discussão sobre esses aspetos quando se trata de transformar a educação. Sem perguntarmos o que queremos em cada momento formativo, de ponderarmos se aquilo que se exige das crianças terá em termos de objetivos, de forma e de conteúdos a metodologia correta (que se irá refletir “no fim da linha”). Como se já não bastasse a ideia de que um pacto de regime acerca da educação nunca ter merecido uma oportunidade política ser inquietante, a construção das turmas, o casamento das disciplinas, a ligação que elas não têm (muitas vezes) com a vida das crianças, ou a interseção entre o lúdico, o expressivo e o aprendido que não se estimula faz com que se torne fácil que a escola estimule as más notas.E, finalmente, há os professores. Que são preciosos, claro, mas que nem sempre têm a formação indispensável, os recursos exigíveis, a retaguarda de técnicos que os apoiem e protejam, ou os conhecimentos tão agilizados dentro de si que transformem um programa numa tarefa apetitosa para todos os alunos. E que têm vida própria mas que nem sempre são acolhidos por uma escola com o carinho e o respeito que a sua tarefa exige. E que têm com o ensino uma paixão quase difícil de se entender mas, ao mesmo tempo, a vão sentindo a burocratizar-se todos os dias, mesmo quando têm diante de si turmas difíceis e exigentes e pais que os desconsideram, por vezes, mais do que deviam. Isto é, nem sempre os professores são – ao contrário do que, seguramente, seria o seu anseio – os melhores amigos das boas notas.
É fácil, portanto, uma criança “tirar” más notas! Porque há sempre um ou vários destes incidentes que se emaranham, num momento qualquer, no seu percurso educativo. Por mais que todas as crianças sejam, de forma ardente e continuada, as melhores amigas dos bons resultados. Tanto assim é que, sempre que eles não surgem, e os pais, os professores, os explicadores e os avós se unem no sentido de as ajudar a pensar – todos de forma diferente a congeminar sobre uma mesma disciplina – se os maus resultados perduram as crianças baixam os braços. Ou ficam, aparentemente, “burras” de tanto terem medo de não saber, que erram diante de problemas que elas, efetivamente, dominam. Ou desistem e desinvestem, que é uma forma de terem a ilusão de saírem vitoriosas de um confronto onde, geralmente, acabam a perder. Ou “deixam-se andar”, parecendo preguiçosas (ou numa versão mais urbana: parecendo desmotivadas), que é uma forma de desistirem antes de declararem qualquer desistência. Ou foram acumulando “défices” de conhecimentos ou de raciocínio a algumas áreas e, como a aprendizagem é um longo “puzzle”, chega a uma altura em que não se torna possível contornar por mais tempo essas dificuldades. Ou “encasquetam” que não aptas para algumas disciplinas por mais que sejam muitíssimo capazes noutras, como se fosse possível ser inteligente e “burro” ao mesmo tempo. Ou estão a viver uma relação difícil com um professor ou com a escola e tudo se complica. Não se pense, no entanto, que as crianças são, unicamente, “vítimas”. Não são. Mas não serão, seguramente, as únicas responsáveis pelos seus maus resultados escolares. Só que, chegados ao Natal, e a existirem más notas, elas são “só” suas. Quase todos – pais e professores, à cabeça – reagem como se se sentissem um bocadinho traídos por cada negativa manifestando, até, alguma estranheza pelos maus resultados e castigando-as a elas, unicamente. Como se as notas de uma criança não representassem um percurso de um longo trabalho de equipa onde elas não mandam tanto como as suas notas fazem parecer.Qual será, então, a vantagem de descobrirmos parecerias em cada uma das suas notas? Não tanto o de nos sentirmos levados a estudarmos com elas ou estudarmos por elas, mas percebermos que nem sempre ajudamos as crianças a aprender a aprender. Apesar de isso ser o que elas mais querem e aquilo para o que estão, inequivocamente, mais capacitadas. Terão elas, porventura, mais dificuldades de aprender do que os adultos que as ensinam? Não! Seguramente. Sendo assim, trata-se de aprendermos com erros, percebermos aquilo que estará a gerar as nossas dificuldades e, todos juntos, passarmos das necessidades educativas especiais ao sucesso (que será, ele também, sempre o resultado de um trabalho de equipa).
Em resumo: uma nota negativa existe porque os pais foram complicando a relação com a escola ao contrário das suas genuínas intenções. Porque o “sistema” precisaria de um plano individual de recuperação para deixar de querer positivas, sem olhar a meios, em vez de perceber que uma negativa (ou muitas negativas, a determinadas áreas de aprendizagem, por exemplo) são interpelações que o colocam, verticalmente, em causa. Porque as escolas foram insistindo, teimosamente, em normalizar crianças quando as deviam singularizar. E porque alguns professores vão tendo muitas dificuldades para ensinar e para tornarem claros e apelativos, para todos, os conhecimentos que pretendiam partilhar. No final da cadeia, as crianças só não têm mais sucesso porque – às vezes, por azar – foram tendo pais, escolas e professores que, mal começaram a desenhar-se as primeiras dificuldades escolares, lhes atribuíram a elas – e, sobretudo, a elas – “a parte de leão” dessa má notícia. Quando, na verdade, cada “negativa” pressupõe várias “negativas”. Sendo assim, porque é que os menos responsáveis pelas “negativas” são repreendidos, advertidos e castigados e os outros todos… não?… Chegados aqui, ou temos todos presentes ou ficamos, durante o Natal, todos de castigo. Imaginando que adivinhe a vossa decisão, desejo-vos a todos muitas prendas.
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