Devemos proibir as crianças de ver os filmes onde a princesa é beijada por um desconhecido?
Dezembro 7, 2018 às 8:00 pm | Publicado em Vídeos | Deixe um comentárioEtiquetas: Cinema de Animação, Desenhos Animados, Disney, Género, Igualdade de Género, Vídeos
Notícia do Público de 18 de nevembro de 2018.
No 90.º aniversário do rato Mickey, olhamos para a evolução das princesas da Disney, uma das marcas mais rentáveis e bem-sucedidas do mundo de Walt Disney.
Quando uma princesa é beijada por um desconhecido no meio de um bosque e isso lhe salva a vida, que mensagem estamos a passar às crianças?
A história remonta à primeira longa-metragem de animação da Disney: A Branca de Neve e os Sete Anões. Depois de provar uma maçã envenenada pela vilã da história, a invejosa Rainha Má, Branca de Neve desmaia e assim fica até que o beijo do “verdadeiro amor” a salve. O beijo acaba por chegar, quando Branca de Neve está deitada na floresta. Chega sem que Branca de Neve conheça sequer o Príncipe.
Keira Knightley, a actriz norte-americana que interpreta Elizabeth Swann na saga da Disney Piratas das Caraíbas, afirmou recentemente numa entrevista ao talk-show Ellen que tinha uma lista de filmes na sua “lista negra” e que não iria mostrar à filha de três anos. Entre eles estão Branca de Neve e Cinderela que, diz “esperou que um homem rico a viesse salvar”. “Não, isso é completamente errado. Salva-te a ti própria, obviamente!”, vincou.
Os dois filmes inserem-se numa das primeiras fases das princesas Disney, que a investigadora Juliana Garabedian, da universidade norte-americana James Madison, insere na fase de “pré-transição”. No estudo “Papéis de Género na animação: Como é que a Disney está a redefinir a Princesa Moderna”, a investigadora divide a evolução das princesas em três fases. A primeira arranca precisamente com o lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões em 1937 e vai até à Bela Adormecida, em 1959. Nestes filmes, que a investigadora Charlote Krolokke do Centro de Estudos Culturais da Universidade da Dinamarca do Sul define como a “primeira onda de feminismo”, o papel da mulher nas sociedades estava confinado às tarefas domésticas — um retrato óbvio em Cinderela, responsável por todas as tarefas domésticas da família da madrasta e duas irmãs e de Branca de Neve, que limpa a casa aos Sete Anões.
“Estes papéis de género são afirmados nas acções das princesas e mostram um período em que a Disney seguia o que era expectável de uma sociedade predominantemente machista”, lê-se no estudo.
Voltemos à Branca de Neve. “O que poderia ser a história de uma jovem na sua descoberta pessoal acaba por ser um retrato da mulher enquanto doméstica, que limpa a casa a sete homens, aceita um presente ‘sem autorização’, e precisa do beijo do Príncipe Encantado para sobreviver”, escreve Juliana Garabedian.
Mónica Canário, coordenadora do movimento HeForShe em Portugal, uma campanha lançada em 2014 pela UN Women na defesa dos direitos humanos, defende que “proibir os filmes da Disney não é solução”. Num workshop dirigido a pais e mães com dúvidas sobre o papel destes filmes de animação na educação das crianças, Mónica Canário lembra que “é preciso ver, para que depois se possa contextualizar e fazer a distinção entre o certo e errado”, usando os filmes como “uma ferramenta de explicação de conceitos que não ensinados nas escolas”.
“A Branca de Neve fazia sentido em 1937. Não faz agora. Mas não é por isso que os nossos filhos não a devem ver. A Disney é óptima para perceber a progressão dos direitos das mulheres.” Nos anos 50, nota a coordenadora do HeForShe, a imagem da mulher em tarefas domésticas é continuamente reproduzida em anúncios publicitários e associada a utensílios de cozinha e produtos de limpeza. Foi a partir dessa data que as mulheres começaram a conquistar os seus primeiros direitos, como o direito ao voto.
“A Pequena Sereia também é outro exemplo problemático. Abdicou daquilo que lhe permitia expressar-se. A voz”, continua Mónica Canário, que é também investigadora do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE, no Instituto Universitário de Lisboa. No filme, a sereia Ariel troca a voz por pernas para poder conhecer o príncipe Eric. No momento em que consente o sacrifício, questiona como irá conseguir falar com ele. A resposta? Terá de usar a beleza. Ariel, que no filme tem apenas 16 anos, aceita e deixa a família. No entanto, este filme já se insere num ciclo mais moderno: o de transição. Nesta categoria estão também A Bela e o Monstro (1991), Aladdin (1992), Pocahontas (1995), Mulan (1998), A Princesa e o Sapo (2009) e Entrelaçados (2010).
“Enquanto a Bela escapa como norma como uma mulher que gosta de ler, dizer o que pensa e é corajosa o suficiente para ir salvar o pai, é reduzida a um papel de personagem dependente quando poderia ter sido a heroína”, escreve Garabedian. Ainda assim, já se começa a destacar alguma evolução no feminismo das personagens.
“Sempre vi os filmes e isso não quer dizer que vá ser mais machista. Importa sim explicar às crianças. Por exemplo, no caso da Branca de Neve ou Bela Adormecida, deve explicar-se que não devemos beijar ninguém sem consentimento. E a partir daí explicar a palavra consentimento.”
A viragem é a Mulan. Apesar de arrancar com uma visita à casamenteira e ter a música I’ll Make a Man Out of You, que em português encontra uma versão mais soft com Vais lutar, ela “é a primeira personagem feminina da Disney que mata o vilão” e torna-se a heroína independente da história, aponta Mónica Canário. Disfarçando-se de homem para poder entrar no Exército no lugar do pai, Mulan torna-se no melhor soldado. Salva o pai (e a China) e prova que uma mulher é tão capaz quanto um homem.
“Há também a Tiana [A Princesa e o Sapo], a primeira personagem afro-americana, que é empreendedora nata, onde a figura do pai está muito presente na vida dela. Nesta fase, há uma evolução também das personagens masculinas, que ganham mais emoções. Depois há o pormenor do pote das gorjetas que ela vai somando, mostrando que tu podes ser o que quiseres, desde que trabalhes para isso”, continua a investigadora.
Também em Pocahontas vemos, tal como em Aladdin, um casamento arranjado. No entanto, a filha do chefe da tribo recusa o casamento e escolhe o seu próprio destino. E no final, opta por ficar com o seu povo e deixar partir John Smith.
Mas a grande revolução chega com Brave (2012), uma história sobre uma princesa que recusa casar-se com alguém para se poder tornar rainha. Numa viagem guiada pela busca de independência, a protagonista torna-se na sua própria heroína e dispensa um amor-romântico, focando-se na sua relação com a família, especialmente com a mãe, adepta de tradições conservadoras.
“A Merida, não tem o cabelo liso, não é loura, nem tem um físico de princesa-tipo, com uma cintura vespa, da largura de uma agulha. Tem o cabelo desgrenhado e reivindica que não vai casar com ninguém”, continua Mónica.
Também em Frozen, um dos maiores recentes sucessos da Disney (foi o filme de animação mais lucrativo de sempre, superando os 1,2 mil milhões de dólares só em bilheteiras em todo o mundo), a história do amor entre duas irmãs que se salvam uma à outra mostra o poder das novas princesas. Numa das cenas, Anna tem de escolher entre salvar-se com o beijo de Krostoff (sim, outra vez) e salvar a irmã. A jovem princesa escolhe salvar a irmã.
Neste filme há ainda outra cena importante, onde a Disney faz uma espécie de mea culpa em relação aos seus anteriores casamentos entre príncipes e princesas, quando Elsa censura Anna por querer casar com alguém que acabou de conhecer.
A Disney é progressista?
Apesar da evolução das personagens nas histórias ao longo dos anos, Mónica Canário não considera que a Disney seja progressista. “O que a Disney faz é acompanhar a sociedade, também o faz para não ficar para trás. Era o que iria acontecer se não houvesse representatividade. Mas não dá o passo à frente.” Esse passo à frente seria, por exemplo, representar Elsa [Frozen] como uma personagem homossexual.
“O facto de criares empatia, de dares uma casa ao problema, muitas vezes é a forma mais rápida de chegar as pessoas. As crianças precisam dessa representatividade. Precisam de saber que aquelas pessoas existem. Que não está errado e até aparece no filme. A representatividade é tudo.”
Mas quando se devem começar a discutir estes assuntos? De acordo com a investigadora Christine Macintyre no livro Enhancing Learning through Play (Introduzir a aprendizagem através de brincadeiras), é aos cinco anos de idade que “as crianças transitam da fase de empatia com os personagens e começam eles próprios a personificar os protagonistas das histórias”.
“Não vale a pena confundir a criança. Estas conversas têm sempre de ter em atenção a idade e a própria sensibilidade das crianças. Com isto podem introduzir-se conceitos chave que dificilmente vão ser falados nas escolas. Eu andei na escola pública e não me lembro destes temas serem falados. Não falamos de feminismo, machismo, abuso, assédio ou até de voto”, sustenta. “Isto não ser falado na escola é mau, é péssimo. Só a partir da faculdade é que se começa a falar. Os filmes podem e devem ser usados como ajuda aos pais.”
“A princesa moderna da Disney é independente, corajosa e heróica. As audiências contemporâneas precisam de ver personagens femininas fortes que conseguem estar ao lado dos personagens masculinos”, vinca Juliana Garabedian. “Ao fazê-lo, a Disney encoraja a ideia de igualdade entre géneros e ajuda a construir a aceitação universal de não deixar que sejamos definidos pela forma como nascemos, mas pelas nossas acções.”
Exposição Itinerante “Crianças no Mundo com Direitos” do IAC – CEDI, inaugura amanhã em Coruche
Dezembro 7, 2018 às 3:30 pm | Publicado em CEDI | Deixe um comentárioEtiquetas: Câmara Municipal de Coruche, CEDI - IAC, Convenção sobre os Direitos da Criança, Direitos da Criança, Exposição Itinerante, IAC-CEDI, Instituto de Apoio à Criança
Texto do Facebook da Câmara Municipal de Coruche.
Inaugura amanhã, pelas 10h00, na Galeria do Mercado Municipal de Coruche o programa “SOMOS CRIANÇAS SOMOS SOLIDÁRI@S” constituído pela exposição do Instituto de Apoio à Criança “Crianças no Mundo com Direitos”, Mostra de Educação Artística e Ambiental de várias associações locais e lançamento da campanha de angariação de bens para crianças (livros, brinquedos, materiais didáticos para a prática artística).
A iniciativa conta com o patrocínio oficial da Comissão Nacional da Unesco, a qual contempla a realização de diversos ateliers e atividades no âmbito da Educação Artística e Ambiental – Unesco, com forte enfoque nos direitos humanos e das crianças, e cujos trabalhos artísticos resultantes desses ateliers serão expostos na Galeria Municipal, sendo, portanto, um espaço evolutivo, onde cada criança dará o seu contributo.
Mais informações sobre a exposição no link:
http://www.iacrianca.pt/index.php/recursos-pedagogicos/criancas-no-mundo
Colóquio “O brincar e o brinquedo, no quotidiano e na história” com a participação do IAC – Fórum Construir Juntos, 15 dezembro em Coimbra
Dezembro 7, 2018 às 2:01 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Ana Vicente, Associação Desportiva e Recreativa do Loureiro ADRL, Brincar, Brinquedos Populares, brinquedos tradicionais populares, Colóquio, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, IAC - Fórum Construir Juntos, Instituto de Apoio à Criança, Pedro Rodrigues
O Brincar e o Brinquedo, no quotidiano e na história 15 de dezembro de 2018
O Colóquio O Brincar e o Brinquedo, no quotidiano e na história é uma iniciativa da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra [FPCEUC] e da Associação Desportiva e Recreativa do Loureiro [ADRL], dinamizado pelo Professor Doutor João Amado.
O Colóquio terá lugar no próximo dia 15 de dezembro, na referida Faculdade (parte da manhã) e na sede da ADRL, (de tarde, no lugar do Loureiro/freguesia de Cernache, Coimbra) e conta com especialistas de nível internacional (Jean-Pierre Rossie, da Bélgica; Mª Walburga dos Santos, do Brasil, e João Amado, da Universidade de Coimbra e sócio da ADRL).
A par do colóquio será inaugurada, na antiga Escola Primária do Loureiro, a Exposição: BRINQUEDOS POPULARES, UM PATRIMÓNIO CULTURAL INSPIRADOR A PRESERVAR, que se manterá aberta até 30 de Dez.
Esta iniciativa conta com a colaboração do Instituto de Apoio à Criança, que estará representado na sessão de abertura pela coordenada do IAC-FCJ, Paula Duarte.
O workshop demonstrativo da construção de brinquedos populares será dinamizado por Ana Vicente e Pedro Rodrigues, técnicos do IAC em Coimbra.
Mais informações no link:
Pós-Graduação em Sistema de Promoção e Proteção de Crianças e Jovens – Fevereiro – junho 2019 na Universidade Católica Portuguesa
Dezembro 7, 2018 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Pós-Graduação, Proteção de Crianças, Sistema de Protecção de Crianças e Jovens, Universidade Católica Portuguesa
Mais informações no link:
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