Dicas de Segurança da APSI — Nadar e brincar na água

Julho 24, 2022 às 4:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Dicas de Segurança da APSI — Nadar e brincar na água

– Perto de qualquer local com água, mantenha sempre uma vigilância próxima e a atenção focada na criança. Em dias de festa, deve destacar-se um ou mais adultos responsáveis pela supervisão das crianças. Perto de piscinas, poços, tanques e ribeiras nunca deixe a criança sozinha ou ao cuidado de outras crianças.

– Se tem uma piscina, coloque uma vedação (de preferência transparente) que atrase o acesso das crianças à água. Para ser eficaz, esta vedação deve ter no mínimo 1,10m de altura e não ter elementos de apoio para os pés e mãos que permitam escalá-la; se tiver aberturas, estas deverão ser inferiores a 9 cm. Deve ter também um portão que abra para o exterior, com fecho automático, colocado do lado de dentro e que as crianças não consigam alcançar.

– Se usar piscinas insufláveis mantenha sempre uma vigilância próxima, mesmo que tenham pouca água e esvazie-as logo após a utilização.

– Na praia ou piscina coloque auxiliares de flutuação às crianças que ainda não nadam bem – devem ser adequados ao peso da criança e homologados pelas normas de segurança europeias em vigor.

– Ao chegar ao seu destino de férias comece por verificar se existem zonas de água onde as crianças possam afogar-se (mesmo antes de desfazer as malas!). Verifique se os mesmos estão protegidos e se são de difícil acesso pelos mais novos. Muitas crianças morrem afogadas nas primeiras horas de férias.

A morte por afogamento é rápida e silenciosa!

Maio 18, 2022 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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GNR – Guarda Nacional Republicana

A morte por afogamento é rápida e silenciosa!

– Perto da piscina ou do mar, nunca perca a criança de vista e vista-lhe sempre um colete ou braçadeiras;

– Esteja sempre atento a todos os movimentos das crianças, seja dentro de água ou à beira da piscina;

– Nunca deixe uma criança sozinha na água;

– Nunca deixe brinquedos dentro da piscina, pois é uma situação que chama a atenção da criança e pode revelar-se fatal;

– Se tem piscina em casa, quando a piscina não estiver a ser utilizada, tape-a com uma tela ou lona de proteção;

– Na praia respeite sempre as condições do mar e a cor das bandeiras.

Bastam apenas alguns segundos sem supervisão para tudo acontecer!

Mais de 640 multas em operação sobre cintos de segurança e cadeirinhas para crianças

Abril 26, 2022 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 12 de abril de 2022.

Nesta operação, os militares dos Comandos Territoriais e da Unidade Nacional de Trânsito (UNT) fiscalizaram 17.158 condutores.

A GNR registou mais de 640 contraordenações por falta ou incorreta utilização do cinto de segurança e/ou cadeirinhas para crianças numa operação que decorreu na semana passada e fiscalizou mais de 17.000 condutores.

Em comunicado, a GNR explica que durante a operação ‘RoadPol – Seatbelt’, direcionada para a utilização de cintos de segurança e sistema de retenção para crianças, decorreu entre 04 e 10 de abril em todo o território continental e resultou em 646 autos de contraordenação.

No total, 557 foram por falta ou incorreta utilização do cinto de segurança e 89 por falta ou incorreta utilização do cinto de segurança e/ou sistema de retenção por crianças, acrescenta.

Nesta operação, os militares dos Comandos Territoriais e da Unidade Nacional de Trânsito (UNT) fiscalizaram 17.158 condutores.

Estão a ser usadas menos “cadeirinhas” no transporte de crianças nos carros e há erros ainda comuns. O que deve saber

Janeiro 23, 2022 às 4:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia da Visão de 18 de janeiro de 2022.

O mais recente estudo da APSI – Associação Para a Promoção da Segurança Infantil alerta para os erros básicos que podem causar danos irreversíveis e até a morte dos passageiros mais pequeninos.

Fixemos esta medida: até uma criança atingir 1,35 metro de altura é obrigatório sentá-la na cadeirinha do carro ou no banco elevatório, sistemas de retenção para crianças que podem salvar vidas em caso de acidente rodoviário. Não basta ter 12 anos para permitir aos filhos, sobrinhos ou outras crianças transportadas que passem a sentar-se no banco da frente do automóvel ou a abdicar da cadeirinha – é a altura de 1,35 metro que determina a mudança. Mas, isso nem sempre está a acontecer.

Em outubro passado, uma equipa de técnicos da Associação Para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) passou quatro horas em ambiente de auto-estrada, nas portagens Alverca, Pinhal Novo e Grijó, para realizar o Estudo de Observação de Transporte de Crianças em Veículos Ligeiros. A observação faz-se na portagem, uma vez que assim a associação não precisa de ajuda das autoridades para mandar parar o carro. Não há intervenção ou diálogo com o condutor, apenas observação. E, neste caso, foram observadas 711 crianças, menos do que em 2018 (781), valor que já tinha diminuído face a 2016 (1 886) – em causa poderá estar o simples facto de os carros passarem mais na portagem eletrónica do que na manual. Os técnicos registaram se as crianças tinham até três anos ou mais, se iam sentadas à frente ou atrás, se usavam cadeirinha ou não, se esta estava bem instalada ou se iam ao colo de um adulto.

Este estudo de observação serviu para tirar uma conclusão que espantou a APSI: até aos 12 anos, cerca de 16% do total das crianças observadas viajava sem qualquer proteção (iam ao colo ou à solta), sendo que, no grupo das crianças mais novas (até aos 3 anos) essa percentagem é mais baixa (11,8%). Dos 84% das crianças a usar sistema de retenção, 31% apresentavam erros de utilização. “Houve uma diminuição da utilização da cadeirinha para números de há mais de uma década, o que contraria a evolução que vinha a ser verificada nos últimos estudos realizados”, explica Helena Sacadura Botte, secretária-geral da associação sem fins lucrativos e de utilidade pública.

Entre os erros básicos detetados nas crianças até aos três anos salientam-se alguns: quando o arnês (cinto interno da cadeirinha) não está apertado, está aberto, quando está descaído sobre o braço ou quando está muito largo, com folga exagerada; quando o cinto fica por baixo dos braços, deixando a criança presa apenas pela cintura; quando crianças grandes usam cadeira pequena ou crianças muito pequenas, que ainda deviam ir no ovo, vão numa cadeira grande.

Já nos meninos e meninas mais velhos (3-12 anos) o erro poderá ser o uso do banco elevatório demasiado cedo e o cinto fica a incomodar no pescoço e põe-no por baixo do braço. Este é um erro que pode levar à morte por hemorragia interna do fígado ou do baço (órgãos muito irrigados de sangue), porque o cinco está pensado para partir ossos, protegendo assim os órgãos vitais. “Existe uma maior preocupação dos pais para com as crianças mais novas, até aos três anos”, nota Helena Sacadura Botte.

Quem transporta crianças pequenas deve saber que até aos 3 a 4 anos, estas devem ser sentadas com as costas voltadas para a frente. Isto porque, ao contrário dos adultos, em que o peso da cabeça representa 6% do peso total do corpo, nos mais pequenos essa proporção aumenta e muito, para 25% em bebés até um ano de idade. Além de um quarto do peso do bebé estar na cabeça, o seu pescoço ainda não está totalmente formado e é cartilaginoso, por isso, se a cabeça fizer um estiramento do pescoço pode levar a uma rutura da medula espinal. Viajando de costas, as costas da cadeira vão dar um apoio uniforme à cabeça, pescoço e coluna vertebral. “Os choques frontais são os mais violentos e ir virado para trás evita a morte de nove em dez crianças”, chama a atenção a técnica em segurança infantil.

Mas, colocar a cadeirinha da criança no lugar do passageiro da frente implica obrigatoriamente desligar o “airbag” do carro. Se se mantiver acionado pode causar um acidente muito grave – a abertura desta bolsa de ar de segurança equivale a uma explosão muito forte e ao embater nas costas da cadeira pode provocar fraturas cranianas e eventual perda de massa encefálica e consequente morte ou lesões permanentes.

Helena Sacadura Botte acredita que os dois anos de pandemia, em que houve menos educação para a saúde, seja dos cursos pró-parto e o ensino para a parentalidade, poderão estar na causa para estas famílias que não sabem como usar corretamente a cadeirinha.

Apesar de, em 2021, as crianças terem tido menor circulação, a APSI registou sete mortes de passageiros crianças e mais de 80 que ficaram feridas – um número contabilizado apenas através da recolha na comunicação social, pois só no segundo semestre de 2022 será divulgado o novo relatório da segurança infantil em Portugal.

 

Em vez de automóveis, carros de rolamentos: ruas de Lisboa fechadas ao trânsito e devolvidas às crianças

Janeiro 20, 2022 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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mensagem

Reportagem da Mensagem de Lisboa de 31 de maio de 2021.

A escola não tem de acabar no recreio. Foi com isto em mente que o projeto Brincapé decidiu fechar ruas da cidade aos carros, uma vez por semana, durante duas horas, para dar às crianças a provar a infância dos pais e avós. Por momentos, a cidade nem soa à mesma.

Cristiano Ronaldo lembrá-lo-á como se de ontem se tratasse. Os dias em que conheceu os golos de futebol nas ruas do Funchal, onde passava a maioria dos seus dias. Da rua, nasceram aqueles que reconhecemos hoje como audazes quer no futebol, quer no basquetebol – os desportos-mor das ruas e dos parques das grandes e pequenas cidades. E quem sabe se a rua também não deu à luz mentes brilhantes na engenharia, depois de uma criança construir um carrinho de rolamentos. Ou um artista urbano, enquanto saltava os muros velhos e desbotados e viu ali a tela para imprimir a sua arte.

“Já lá vai o tempo”, dirão as gerações mais velhas. O tempo em que brincar podia ser na liberdade de uma rua. Mas as ruas já não são livres. São, na sua maioria, dos carros e, ao contrário de antigamente, agora são as crianças que têm de pedir licença para entrar.

Mas há uma iniciativa que está a mudar Lisboa como a conhecemos até agora, todas as sextas-feiras. Uma vez por semana, durante duas horas, as ruas fecham-se ao trânsito e o projeto Brincapé, financiado pelo BIP/ZIP, abre-as às crianças.

O início do fim da utopia

São 17 horas da tarde e a vista do Panteão Nacional é a que nunca fora: na rua em frente, os únicos carros que vemos estão estacionados na berma há largas horas ou não têm rodas e descem a estrada de calçada portuguesa contra uma torre de pneus. São caixas de refrigerantes ou águas, geralmente apenas avistadas na restauração e supermercados, e que agora se transformam num meio de transporte para estas dezenas de crianças que vão chegando e fazendo dos materiais à sua disposição o que a imaginação exigir. Cordas, panos, mais pneus, garrafas. Se as caixas não chegam para todos, outros arriscam-se a saltar e trepar muros. Ou árvores – pelo menos uma criança olhou a árvore como um desafio.

O som é outro também. No lugar dos motores, há agora gritos e risadas juvenis. Daqui, quase diríamos que a cidade foi dominada por elas, as crianças, tornando-se num grande recreio.

No final da escadaria do Panteão, está Andrea Sozzi – um homem de 43 anos, italiano há vários anos residente em Lisboa -, em conversa com outros pais que por ali esperam o final das brincadeiras dos filhos. O seu pequeno Tazio, de oito anos, frequenta o CAF (Componente de Apoio à Família) na Escola Básica do Convento do Desagravo e, em passagem por aqui, acabou por ficar e juntar-se a outras crianças. “Eu não sei o que é isto”, confessa o pai Andrea. Explicamos e dá a boa nova ao filho, que responde prontamente: “Ah. Deve ser mau para os carros. Mas é bom para mim.” Ri-se, enquanto desce a escadaria pelo muro que a ladeia, como nunca o tinha feito.

Tazio, como todas as crianças aqui presentes, está a aprender a brincar de uma outra forma: com a estrada inteira pela frente.

“A escola não tem de estar fechada dentro da escola.” Di-lo Liliana Madureira, coordenadora do projeto Brincapé, que resulta de uma parceria entre a APSI e o Macaquinho do Xinês. Está vestida de t-shirt branca com o logótipo, tal como toda a equipa presente, e com um olhar sempre atento ao que acontece à volta. É assim que justifica a origem desta iniciativa que hoje traz a escola para a rua. “A escola é a instituição que colhe a educação, mas não é uma prisão. A escola pode sair cá para fora, quando aquilo que educa está cá fora. E se o recreio não tem tudo o que precisava de ter, podemos vir procurar à rua. Ou porque temos um parque fantástico cá fora, ou porque temos um evento, ou porque há dinâmica de bicicletas.”

Mas, cá fora, o que os mais novos encontram não são atividades planeadas nem brinquedos predefinidos para determinada função – a não ser um carro de rolamentos já construído pela equipa do Brincapé. “Nada foi comprado”, tudo foi reciclado. E, na maioria das vezes, “o fim que os pais idealizam para uma caixa não é o fim que lhe acabam por dar”. Como diz Liliana Madureira, “há uma exploração muito mais livre dos materiais”, aqueles que a equipa leva para o terreno e aqueles que a própria natureza lhes dá.

Sobre a ideia que gerou estes recreios em plenas ruas de Lisboa – um mês em cada uma diferente -, a coordenadora da iniciativa explica que estes “são projetos de ignição, de mudança”, para provar que a palavra “utopia” não entra aqui. “Ainda agora estava a falar com uma pessoa sobre isto. Isto são ideias que parecem utopias. ‘Ah, isso é uma utopia. Acho eu’, disse-me. E quando há o ‘acho eu’ a gente percebe: será mesmo uma utopia?”

Para que deixe de ser, diz, “temos de estar predispostos para a mudança, que implica errar e avaliar o nosso erro e criar mudança novamente”. Um processo “mais desgastante” e que só não acontece porque, “muitas das vezes, as pessoas estão tão dentro das suas rotinas que não têm tempo para pensar numa alternativa a elas”.

Fala das famílias, mas também das escolas. “Quando chegamos com estas loucuras, os pais fazem imensas questões e, ainda assim, desconfiam – há sempre o receio relativamente à segurança. E é por se estar tão preocupado com o que os pais pensam que pode acontecer – que nem nós sabemos o que é -, que, por via da dúvida, não arriscamos, não fazemos diferente e continuamos no mesmo.”

A pensar nas brincadeiras que poderia fazer nesta rua, António, de dez anos, mal tinha dormido na noite anterior. “Sonhou a noite toda com isto”, conta a mãe, Maria Galamba, 52 anos, que ergue o telemóvel para registar todos os momentos. Por detrás do ecrã, ela sorri e faz adivinhar o que, depois, acabou por confessar. “Só não estou ali, porque tenho duas hérnias nas costas.” Vê ali um regresso à sua infância, em Serpa, no Alentejo, altura e sítio em que brincar na rua não era sequer questionável.

“Aqui, ele acaba por participar em coisas em que nunca pensou participar. Passamos aqui todos os dias e ele brinca com coisas que nunca pensou utilizar de outra maneira, como o que está a fazer agora.” Desde que chegou, António desce a calçada, enterrado numa caixa de plástico azul, em direção ao fim da rua. “Acho que se devia alargar a toda a cidade. Dá outra alegria, o barulho da felicidade dos miúdos. É uma coisa única, um privilégio. É um alvoroço saudável.”

A rua é insegura?

Antes de o Brincapé o ser, nasceu o “Siga a Pé”, em 2017, ambos pela mão da APSI – Associação Para a Promoção da Segurança Infantil. A ideia? Criar uma espécie de autocarro humano, de casa para a escola. “Muitas vezes, os pais até vêm todos do mesmo sítio, mas vêm todos até à escola, para trazer a sua criança” e a vasta maioria vai de carro. “Percebemos que eram raros os miúdos que vinham a pé e, quando vinham, raríssimos os que vinham sozinhos”, diz Liliana Madureira.

Pôs-se a questão aos pais: por que razão escolhem ir de carro? Porque as ruas são inseguras, não hesitaram em responder. “E perguntámos: qual é a grande insegurança. Eles disseram que são os carros. Então, eles estão a trazer esta insegurança para a porta da escola? É um contrassenso. Quando lhes colocamos isto assim, eles ficam: ‘ah, pois é’.” E nasceu a proposta do autocarro humano, que antes da pandemia já tinha rotas ativas. “Escusa o pai ou a mãe de ter de andar a correr, a pressionar as crianças para vir para a escola, e elas conversam, brincam, andam a pé, criam relações de vizinhança.”

Mas o medo dos graúdos perante os seus filhos persiste, até na hora de deixar que as crianças brinquem numa única rua fechada. José Morgado, especialista em pedagogia e psicologia infantil, lembra que a grande ameaça está no sedentarismo. “Temos índices preocupantes de obesidade infantil e de diabetes II em crianças. Brincar ao ar livre tem um papel muito importante ao nível do desenvolvimento.” A nível físico, cognitivo e até de saúde.

Diz o especialista que, “hoje, temos um discurso altamente protetor dos miúdos e depois, paradoxalmente, somos dos países da Europa com maior número de acidentes com crianças”. “O que é estranho”, acrescenta, “porque os próprios pediatras prescrevem a brincadeira, o mexer na relva, na lama, que diminui os riscos que agora os miúdos desenvolvem facilmente – as alergias”.

No âmbito cognitivo do desenvolvimento infantil, brincar tendo o céu como teto é o caminho obrigatório para uma maior autonomia, como explica. “A definição que eu acho mais bonita sobre educar não é retirada dos livros de psicologia, é do Almada Negreiros, e diz que ‘educar é ajudar alguém a tomar conta de si próprio’. E o brincar na rua é uma ferramenta de promoção disto mesmo. O que eu quero é que os meus alunos ou filhos sejam autónomos e hoje são muito pouco autónomos. Desde que são pequenos que tomamos decisões por ele e depois queremos que eles sejam autónomos. Ao brincar na rua, aprendemos a controlar os riscos.”

A mudança, diz, começa na cultura dos pais, mas também na legislação. Diz-nos que a lei permite que as crianças de dez anos possam despender de até 11 horas na escola. “Os miúdos são recolhidos cheios de sono ao final da tarde e depois, no meio de um banho, de uma novela e de um jantar é que existe educação. E o brincar entra onde?”, lança o repto.

O clima não deverá ser desculpa, “porque no Norte da Europa as crianças brincam muito mais na rua e o clima é mais agreste do que o nosso”. Mas os carros ainda são.

Por isso, para cada nova atividade do Brincapé a burocracia é requisito. A coordenadora do projeto conta que, para cada fecho de rua, é necessário um pedido de licenciamento de corte de estrada à autarquia, que depois dita as condições: normalmente, solicitam controlo policial para que não se ponha em causa a segurança das crianças e um agente presente para controlar o trânsito – na necessidade de terem de arrancar carros já estacionados antes da atividade ou de passagem de veículos de emergência.

Um processo que, na opinião de Liliana Madureira, deveria ter caminho facilitado. Exorta exemplos: “como moradores de uma rua, deveríamos ter a liberdade de dizer: ‘não, hoje aqui não passam carros, hoje vamos fazer uma festa da comunidade’. E se aqui há uma escola, esta rua também é das crianças. Então, elas deveriam ter a liberdade e autoridade de dizerem que querem que esta rua sirva para a sua brincadeira. Mas não têm, quem tem autoridade nas ruas são os carros.”

Apesar da burocracia, a ideia que parecia utópica está, na sua perspetiva, já longe de o ser. Sobre a possibilidade de ganhar ruas exclusivas para as crianças, mesmo que em permanência num só dia da semana, a coordenadora do Brincapé mostra-se otimista: “essa discussão já começa a existir”.

Não é Lisboa o primeiro município português a ser “Cidade das Crianças”

Lá fora, o conceito não é novo. Há décadas que Francesco Tonucci, um pedagogo italiano e autor do livro “A Cidade das Crianças” – “La Città dei Bambini” -, defende que construir uma pode mesmo ser uma utopia, mas que há caminho para o alcançar e deve ser percorrido. A ideia corre mundo, partiu de Roma e gerou uma rede de centenas de cidades interessadas em aderir aos ideais de uma cidade pensada para as suas crianças. Este ano, Valongo, um município do distrito do Porto, sagra-se como o primeiro município português a oficializar a entrada nesta rede que visa envolver os mais pequenos nas decisões sobre o território.

A experiência chama-se “Valongo 4.0” e deverá arrancar já em setembro, com a criação de um Conselho da Criança, para o qual são sorteadas crianças com nove ou dez anos, residentes no concelho, que irão debater sobre uma revisão do Plano Diretor Municipal. Aquilo a que o presidente da Câmara Municipal de Valongo chama de “laboratório comunitário”.

José Manuel Ribeiro diz que ainda não estão definidas verbas para a iniciativa, à espera do que surgir desta discussão entre crianças. Mas assume que o caminho deve passar por aquilo que Lisboa já experimenta a um nível micro e isolado: fechar ruas para as devolver às crianças.

Mais abaixo no mapa, Coimbra alberga também uma metodologia para incluir mais as crianças na cidade e trazê-las para o ar livre. Chama-se “Limites Invisíveis”, tem lugar na Mata do Choupal e é um projeto que pretende fomentar o contacto com a natureza, faça sol ou chuva – como nos países nórdicos. Em operação desde 2015, trabalham com crianças dos três aos dez anos, para lhes proporcionar um bem-estar imediato e a longo prazo, com benefícios acreditados nas suas capacidade sociais, emocionais, cognitivas e motoras.

Em Lisboa, o pequeno António de dez anos adormece a sonhar com mais uma sexta-feira a descer a calçada dentro de uma caixa azul. “Gostavas de ter sempre uma rua para brincar?”, perguntamos-lhe na despedida. António arregalou os olhos, como se daqui tivesse saído a melhor das ideias, e respondeu com toda a firmeza que a idade permite: “sim”.

 

A última moda na Alemanha são os parques infantis que privilegiam o risco em vez da segurança a 100%

Novembro 12, 2021 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia da Visão de 27 de outubro de 2021.

A ideia é que os parques infantis incorporem uma dose moderada de perigo, para habituar as crianças à exposição ao risco. Em vez de assegurar a segurança absoluta, o objetivo é criar ambientes desafiantes que ensinem as crianças a superar obstáculos

Os novos parques infantis alemães defendem uma nova aproximação à brincadeira: menos segurança, mais riscos. Tudo na medida certa, claro. A ideia vem de um corpo crescente de educadores, professores e produtores de parques infantis que acreditam que os parques devem deixar de privilegiar um ambiente de alta segurança e aversão ao risco, para passarem a incorporar uma dose moderada de perigo. Algum risco permitirá às crianças aprenderem a lidar com situações difíceis e a superar obstáculos – capacidades que lhes serão úteis na vida adulta.

A tendência surgiu depois de, no ano passado, um grupo de companhias seguradoras ter apelado aos planeadores urbanos alemães que desenvolvessem estruturas em que as crianças pudessem brincar ao mesmo tempo que se familiarizavam com uma “competência de risco”. A ideia fazia sentido, especialmente depois de, durante a pandemia, as crianças terem passado muito mais tempo dentro de casa, e os novos parques infantis mais arriscados começaram a surgir.

A Triitopia, em Berlim, é um exemplo: a estrutura inclui um emaranhado de cordas que formam uma “teia de aranha” para trepar, um escorrega, e escadas de corda penduradas que terminam numa plataforma com uma altura máxima de 10 metros. Foi construída em 2018 no Ludwig Lesser Park, em Frohnau, Berlim, e desde então outras semelhantes seguiram-se.

“Os parques infantis são ilhas de livre circulação num ambiente motorizado e perigoso”, afirma Rolf Schwarz, professor na Universidade de Educação de Karlsruhe, que aconselha as empresas fabricantes de parques infantis. “Se queremos que as crianças estejam preparadas para o risco, temos de permitir que elas entrem em contacto com o risco”.

A Berliner Seilfabrik, empresa que produziu a Triitopia, prepara-se agora para apresentar novas estruturas na Feira de Desporto e Lazer, que irá decorrer esta semana em Colónia: a “DNA tower” e a “Tower4”, com sete e dez metros de altura, respetivamente. David Köhler, co-diretor da empresa, acredita que as suas estruturas desafiam as crianças sem representarem um perigo excessivo. “As crianças podem eventualmente sentir-se inseguras das primeiras vezes que escalarem as nossas estruturas, mas isto é o que na verdade as torna mais seguras. Porque quando nos estamos a sentir inseguros, também somos extra cuidadosos”, explica.

Na Alemanha operam cerca de 60 produtores de estruturas, que fornecem mais de 120 mil parques infantis no país, além de exportarem também para todo o Mundo. Os equipamentos de parques infantis na Alemanha são certificados pela empresa de auditoria TÜV para garantir que as condições de segurança são asseguradas. Este sistema permite que as empresas fabricantes das estruturas possam proteger-se em tribunal de quaisquer acusações em caso de acidentes. Tal não acontece em países como os EUA ou o Reino Unido, e também em Portugal, em que as certificações são feitas por empresas externas ou pelos próprios fabricantes das estruturas, o que os torna mais suscetíveis a acusações legais e por isso mais avessos ao risco.

Na Triitopia, por exemplo, a altura máxima de que uma criança corre o risco de cair é de três metros, apesar do seu tamanho elevado. Na estrutura de escalada em forma de “teia de aranha”, 1.80 metros é a altura máxima de risco de queda.

“Os parques infantis modernos exploram os limites do que é permitido dentro dos regulamentos”, diz Steffen Strasser da Playparc, uma outra empresa fabricante de estruturas para parques infantis. “Quando concebemos novas estruturas de parques infantis, tentamos construir desafios: um obstáculo, por exemplo, que uma criança pode não conseguir ultrapassar as primeiras nove vezes, mas depois consegue na décima tentativa”.

Uma tendência para ficar?

É nessa sensação de confronto com situações desafiantes, negociação dos riscos e superação dos obstáculos que reside o ganho para as crianças, defendem cada vez mais pessoas ligadas à indústria dos parques infantis mas também educadores e investigadores. Um estudo australiano de 2008, por exemplo, refere que “o desafio e o risco, em particular durante os jogos ao ar livre, permitem às crianças testar os limites do seu desenvolvimento físico, intelectual e social”.

“Apesar de o termo ‘correr riscos’ ter frequentemente conotações negativas, a realidade é que a participação em algumas actividades arriscadas proporciona oportunidades de aprender novas competências, experimentar novos comportamentos e, em última análise, atingir o nosso potencial”, pode ler-se.

E talvez Portugal também beneficie em implantar medidas como esta. Carlos Neto, professor catedrático na Faculdade de Motricidade Humana, tem vindo a desenvolver um trabalho de investigação académica centrado no papel do brincar e do jogo no desenvolvimento das crianças e é dos maiores especialistas na matéria a nível global. Numa TED Talk de 2017, afirmou que se verifica em Portugal “uma diminuição das competências motoras e sociais das crianças”, “uma diminuição do tempo e do espaço para que as crianças possam brincar livremente” e que, em consequência, estas “têm problemas muito sérios de liberdade e autonomia”.

De facto, refere um estudo no qual participou que indicou que as crianças portuguesas são das que têm um índice mais baixo de autonomia e mobilidade, ocupando a 14ª posição em 16 países. Os países do norte da Europa são aqueles que ocupam os lugares cimeiros, onde as crianças são mais autónomas, têm mais liberdade e passam mais tempo no exterior.

O professor defende que as crianças beneficiam de uma exposição ao risco durante as brincadeiras, pois desenvolverão assim capacidades adaptativas ao nível motor, social, emocional e cognitivo, já que brincar é um comportamento essencial e natural. “Precisamos de libertar as crianças, de lhes dar mais risco e mais autonomia e mais participação”, defende. “O risco é um valor fundamental, que significa autonomia, confiança, segurança. Quem não tem risco não ganha segurança”.

Em Portugal, o Decreto-lei 203/2015 regula as condições de segurança dos espaços de jogo e recreio, onde se incluem os parques infantis. Estabelece-se que “a conformidade com os requisitos de segurança deve ser atestada pelo fabricante ou seu mandatário ou pelo importador estabelecido na União Europeia”. As entidades responsáveis pelo espaço devem também celebrar um “seguro de responsabilidade civil por danos corporais causados aos utilizadores em virtude de deficiente instalação, manutenção, assistência ou vigilância nos espaços de jogo e recreio”. Estas entidades estão ainda obrigadas a inspeções de rotina efetuadas diariamente, e inspeções operacionais todos os meses, sendo a fiscalização do cumprimento destas normas competência das câmaras municipais.

 

Unicef e OMS pedem mais segurança contra a Covid-19 nas escolas da Europa 

Setembro 22, 2021 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia da ONU News de 30 de agosto de 2021.

Milhões de crianças retornam às salas de aula nas próximas semanas, após as férias de verão; agências da ONU lembram que a variante delta, altamente transmissível, já é dominante no continente; previsão é que Europa registre mais 263 mil mortes até 1 de dezembro. 

Milhões de crianças na Europa estão se preparando para voltar às salas de aula, após dois meses de férias de verão.   

Nesta segunda-feira, a Organização Mundial da Saúde, OMS, e o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, lançaram um apelo conjunto, pedindo para as escolas permanecerem abertas e com mais segurança, adotando medidas para minimizar a transmissão do coronavírus. 

Ventilação do ar e vacinação  

As agências explicam que a variante delta, altamente transmissível, já é dominante na Europa. Em Portugal, por exemplo, dados oficiais confirmam que quase 99% dos novos casos de Covid-19 são com a delta. As aulas nas escolas públicas portuguesas começam a partir de 14 de setembro.   

O Unicef e a OMS ressaltam a importância de professores e funcionários das escolas estarem vacinados e recomendam a vacinação para as crianças a partir de 12 anos, que tenham alguma condição médica e maior risco de contraírem forma severa da Covid-19.   

Outras recomendações da agência são: salas de aula bem ventiladas, grupos com menos alunos sempre que possível, distanciamento físico e testar, com frequência, alunos e funcionários.   

Previsão de aumento das mortes   

Também nesta segunda-feira, a OMS na Europa divulgou um balanço da situação: a região já tem 64 milhões de casos confirmados e 1,3 milhão de mortes. A alta taxa de transmissão “é muito preocupante” para a agência, que prevê que mais 263 mil mortes na Europa até 1 de dezembro.   

Segundo as agências, a alta incidência da variante delta na região torna a transmissão nas escolas ainda mais provável. Por isso, Unicef e OMS fazem um apelo para que as pessoas tomem as doses completas da vacina.   

Vítimas silenciosas  

O diretor-regional do Unicef para Europa e Ásia Central, Philippe Cori, afirmou que “crianças e jovens não podem correr o risco de ter mais um ano de interrupção no aprendizado”. Segundo ele, “a vacinação e as medidas de proteção vão prevenir um retorno aos dias mais sombrios da pandemia”.   

Cori declarou ainda que “as crianças são as vítimas mais silenciosas da pandemia, em especial as mais marginalizadas”.   

A OMS, o Unicef e a Unesco apoiam oito recomendações feitas especialmente para os 53 países-membros da União Europeia. São elas:  

  1. As escolas devem ser os últimos locais a fechar e os primeiros a reabrir;  
  2. Ter uma estratégia de testagem;  
  3. Garantir medidas eficientes de redução de riscos;  
  4. Proteger o bem estar mental e social das crianças;  
  5. Proteger as crianças mais vulneráveis e marginalizadas;  
  6. Melhor o ambiente escolar;  
  7. Envolver crianças e adolescentes nos processos de decisão;  
  8. Implementar uma estratégia de vacinação para manter as crianças na escola.   

Dicas de Segurança para as Férias… e não só!

Setembro 12, 2021 às 4:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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O calor chegou e com ele a vontade de dar um mergulho no mar, correr na areia, construir castelos e fazer jogos na praia. Podemos fazer tudo isso, mas é preciso seguir as regras para manter o SARS-CoV-2 à distância.
Em todas as atividades de lazer, sozinho/a ou acompanhado/a, cumpre sempre as regras de segurança. BOAS FÉRIAS!:⁠

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Dicas de Segurança para as Férias… e não só!

Setembro 4, 2021 às 4:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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O calor chegou e com ele a vontade de dar um mergulho no mar, correr na areia, construir castelos e fazer jogos na praia. Podemos fazer tudo isso, mas é preciso seguir as regras para manter o SARS-CoV-2 à distância.
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Dicas de Segurança para as Férias… e não só!

Agosto 27, 2021 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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O calor chegou e com ele a vontade de dar um mergulho no mar, correr na areia, construir castelos e fazer jogos na praia. Podemos fazer tudo isso, mas é preciso seguir as regras para manter o SARS-CoV-2 à distância.
Em todas as atividades de lazer, sozinho/a ou acompanhado/a, cumpre sempre as regras de segurança. BOAS FÉRIAS! Partilha com toda a família as dicas de segurança que te recomendamos em:⁠

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