Educação Inclusiva. Pais e diretores alertam para perigos da falta de recursos

Janeiro 22, 2024 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 17 de janeiro de 2024.

Faltam, nas escolas, professores de Educação Especial, técnicos especializados, terapeutas e assistentes operacionais. Há assistentes operacionais que assumem o papel de enfermeiros, alertam os pais.

“Há crianças com diabetes, com necessidade de injeções de insulina, que são dadas por assistentes operacionais, sem formação para o fazer”. O relato é de Rui Moreira, presidente da Associação de Pais da Escola Secundária Sebastião da Gama (ESSG) e presidente do conselho fiscal da Federação Concelhia de Setúbal das Associações de Pais. O responsável adianta ao DN que os assistentes operacionais das escolas com formação são residuais e “a maioria das formações é paga por entidades externas”.

“Acabam por ter de assumir um papel que não é o delas e não é esta a situação ideal. Se não fossem as auxiliares pessoas de bem e com muita boa vontade, não sei o que aconteceria. E há crianças com todo o tipo de problemas, como insuficiência renal, sem o devido apoio. Para se perceber a dimensão do problema, temos um aluno que tem de vir transportado diariamente por uma ambulância e que tem a ajuda de uma técnica apenas duas horas por dia. Essa técnica é paga por entidades externas e não pelo Ministério da Educação”, sublinha.  

Rui Moreira diz ainda faltar “tudo” nas escolas a nível de inclusão, havendo crianças em “autogestão” por falta de apoios. “Nunca vi o país assim, a escola desta forma. O que se passa é muito grave. Contratamos pessoas para tudo e mais alguma coisa neste país, mas não temos o necessário para os alunos mais necessitados”, lamenta. O presidente da  Associação de Pais da Escola Secundária Sebastião da Gama (ESSG) diz não haver crianças em completo abandono apenas porque, não havendo apoio, “quem está ajuda como pode para não deixar ninguém sem o mínimo de apoio”. Rui Moreira vai mais longe e afirma que a Educação Inclusiva é uma falácia. “A inclusão não acontece. As coisas não são tão lineares como querem fazer parecer. Cada vez mais o ME exige às escolas e não dá recursos ou apoio para que se possam cumprir as exigências. Tem de haver mais apoios, mais técnicos e mais professores”, afirma. 

A burocracia, conta, também é um entrave leva à demora e respostas quando os pais solicitam apoios. “A  máquina do Estado não dá resposta e estas coisas deviam ser alteradas. Devia haver uma reforma séria no ensino e da burocracia no que toca ao superior interesse das crianças”, conclui.

Diretores consideram recursos insuficientes

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) levou a cabo um estudo, no decorrer do 1.º período, num universo que corresponde a 10% dos agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas do continente, questionando os diretores escolares sobre a Educação Inclusiva. O resultado mostra que 83% dos diretores dos agrupamentos de escolas (AE) e das escolas não agrupadas (ENA) afirmam não ter os recursos necessários para uma “educação verdadeiramente inclusiva”.

A recolha de informações – envolvendo 112 187 alunos, 12 157 docentes e 5266 assistentes operacionais – conclui  que, para 73% dos diretores dos AE/ENA, o número de docentes de educação especial é insuficiente, 78% consideram que o mesmo acontece com os assistentes operacionais e 85% com os técnicos especializados. As maiores carências são de terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais e psicólogos, apontando ainda a falta de formação de assistentes operacionais. Apenas 6% têm formação específica para trabalhar com alunos com medidas seletivas e/ou adicionais, refere o estudo.
Segundo a organização sindical, os alunos com medidas seletivas e adicionais são “na ordem dos 8% do total dos alunos e cerca de 3,5% referem-se a alunos apenas com apoio indireto do Docente de Educação Especial”.

“A educação inclusiva é o parente pobre da educação”

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), considera que “a educação inclusiva é o parente pobre da educação”, sendo “uma área onde os governos deveriam investir”. Contudo, refere, esse investimento não é feito na medida das verdadeiras necessidades dos alunos com necessidades educativas especiais. “Não houve investimento em recursos humanos, nesta área, em professores de Ensino Especial, terapeutas e na formação dos nossos assistentes operacionais, que deveria ser uma responsabilidade da tutela e somos nós escola que acabamos por assumir esse papel”, sublinha. As necessidades de mais recursos, conta, têm aumentado por se conseguirem identificar cada vez mais alunos de Educação Especial.

Filinto Lima explica que os professores estão cada vez mais atentos às possíveis necessidades específicas dos alunos, “levado a um número cada vez maior de alunos sinalizados para o Ensino Especial e consequente maior necessidade de recursos humanos”.  “Há cada vez mais alunos com necessidades específicas e mais alunos que chegam de fora de Portugal com necessidades”, refere. Diz ser, por isso, urgente a aposta na Educação Inclusiva. E essas necessidades, sublinha, devem ser supridas rapidamente, porque há problemas com necessidade de intervenção que perdem a eficácia quando a janela temporal se estende. “É  o caso, por exemplo, dos alunos que precisam de terapia da fala. Essas crianças são prejudicadas pela escassez de recursos humanos”, conclui.

Apesar de todas as dificuldades, Filinto Lima garante que as escolas conseguem “fazer omeletes sem ovos”. Segundo o presidente da ANDAEP, o empenho da comunidade escolar e o “apoio e boa vontade das autarquias vão suprindo as funções do ME nesta matéria”.  

Os diretores escolares estão também preocupados com a falta de resposta aos jovens, a partir dos 18 anos, altura em que saem das escolas e perdem o apoio necessário. “O principal problema é quando estes meninos e meninas atingem os 18 anos, saem da escola e têm necessidade de ir para locais específicos para dar continuidade aos apoios. As instituições não têm vagas suficientes para dar continuidade ao percurso destes jovens. Acabam por ir para casa e obrigam os pais a irem tomar conta deles, tendo de deixar de trabalhar. É desolador, injusto e triste”, conclui.

“Crianças não podem ficar sozinhas.” Pais querem apoios se as escolas voltarem a fechar

Agosto 25, 2020 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 19 de agosto de 2020.

Associações de pais alertam: são precisas soluções que garantam que as crianças não ficarão sozinhas caso surjam casos positivos de covid-19 nas escolas que obriguem ao confinamento.

A menos de um mês do início das aulas, os pais e encarregados de educação dizem estar preocupados porque faltam informações sobre como irá ser o próximo ano letivo.

O ensino volta a ser presencial, mas cada escola está a tomar medidas concretas de funcionamento. Além disso, há a possibilidade de ser preciso avançar para o ensino misto ou à distância, caso haja uma evolução desfavorável de casos de covid-19 entre a comunidade escolar.

“Na eventualidade de haver confinamento profilático, é preciso conhecer as medidas de apoio às famílias para que os filhos não fiquem abandonados”, alertou o presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção, em declarações à Lusa.

Já em setembro, com o ensino presencial, algumas escolas optaram por desdobrar as turmas ou fazer horários com turnos de manhã ou durante a tarde.

Estas soluções, que estão a ser pensadas para reduzir as hipóteses de contágio, podem também traduzir-se num problema para as famílias. As crianças teriam de ficar uma parte do dia sozinhas enquanto a maioria dos encarregados de educação estão a trabalhar, alertou Jorge Ascenção.

O presidente da Confap lembrou que é preciso garantir que existem medidas de acompanhamento aos alunos e de apoio às famílias, caso a solução passe por turnos duplos. “As crianças não podem ficar sozinhas, as famílias não poderão abandonar os seus trabalhos, a maioria trabalha todo o dia, pelo que a solução tem de surgir do coletivo e em parceria com a rede local”, disse.

O líder da Confap destacou ainda a importância de garantir que os alunos de educação especial não serão esquecidos e que as escolas estarão preparadas para continuar a recebe-los mesmo que surjam casos de infeção.

“Têm de ser acauteladas condições para que os alunos continuem a receber os apoios que precisam e a estar com os seus terapeutas. No passado ano letivo, foram todos para casa e foi muito complicado”, lembrou Jorge Ascenção, sublinhando que “telefonar para casa não é a mesma coisa que dar o acompanhamento que realmente precisam“.

Segundo Jorge Ascenção, “o trabalho interrompido durante meses foi bastante prejudicial, até porque significa, muitas vezes, perder-se anos de aprendizagens”.

Em contacto com vários casos de alunos com necessidades especiais, o presidente da Confap admitiu que muitas “famílias desesperaram”.

Entre as boas noticias, a Confap salienta que as Atividades de Enriquecimento Curricular iriam continuar a funcionar com as necessárias medidas adequadas à situação vigente, segundo uma garantia dada aos próprios durante uma reunião realizada na semana passada com responsáveis da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE).

Revista Educação Inclusiva nº 11 de junho de 2020

Julho 17, 2020 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Ler o Vol. 11, N.º 1 – junho 2020 no link:

https://proandee.weebly.com/revista_v11n1_jun2020.html

XIII Congresso Neurociência e Educação Especial, “Pensar ontem e atuar hoje para o sucesso de amanhã“ 25/26 maio em Viseu

Maio 20, 2018 às 6:59 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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mais informações no link:

https://viicongressoneurocienciaseducacaoespecial.wordpress.com/

Coleção “A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar” | e-Books

Setembro 5, 2017 às 8:00 pm | Publicado em Recursos educativos | Deixe um comentário
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Texto do blogue http://blogue.rbe.mec.pt/ de 21 de agosto de 2017.

Fonte

Esta coleção, produzida pelo Ministério da Educação do Brasil, tem a finalidade de contribuir para a formação dos professores, bem como promover o debate relacionado com a escola inclusiva.

Pode fazer o download gratuito de cada fascículo clicando no título abaixo:

Também pode descarregar os documentos no link:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=17009

Pós-Graduação em Educação Especial Domínio Cognitivo e Motor na FMH

Agosto 17, 2017 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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mais informações no link:

http://posgrad.fmh.ulisboa.pt/specialeducation/?utm_source=phplist95&utm_medium=email&utm_content=HTML&utm_campaign=Oferta+em+P%C3%B3s-Gradua%C3%A7%C3%B5es

Educação especial: “todos os alunos têm direito” a concluir a escola obrigatória

Julho 6, 2017 às 9:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do https://www.publico.pt/ de 4 de julho de 2017.

Paulo Pimenta

Nem espaços físicos segregados. Nem currículos à parte. A ideia é adaptar a escola e garantir que ela é inclusiva, diz o Governo. Está lançada a discussão pública.

Andreia Sanches

Como devem as escolas garantir a educação de crianças e jovens com necessidades especiais? O diploma que revê a legislação em vigor — que é de 2008 e tem sido alvo de várias críticas —, está em discussão pública desde esta terça-feira e até ao fim de Agosto. Estão previstos diferentes níveis de adaptação dos currículos e de métodos de avaliação, em função do perfil dos alunos, bem como apoio tutorial. As escolas têm autonomia para decidir que tipo de medidas se adequam mais a cada caso.

No final do seu percurso escolar, “todos os alunos têm direito a um certificado de conclusão da escolaridade obrigatória”, esclarece-se.

Em cada estabelecimento de ensino, define ainda o documento, haverá uma equipa multidisciplinar que tem várias missões: “convocar” todos os profissionais que trabalham com o aluno para avaliar as suas necessidades; estabelecer como vai a escola desenvolver formas de garantir aprendizagens; traçar um “plano educativo individual”.

Esta “equipa multidisciplinar”, que deve ser criada nas escolas em 30 dias, após a publicação da nova lei, integra professores de diferentes níveis de ensino, um docente de educação especial, um técnico especializado — um psicólogo, por exemplo. E deve articular-se, quando necessário, com as equipas de saúde escolar dos centros de saúde.

O “programa educativo individual” do aluno deve ainda contemplar “um plano individual de transição” a pensar no “exercício de uma actividade profissional”. O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, garantiu esta terça-feira no Parlamento que sim, está a haver articulação com a secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência.

Apostar na “escola inclusiva” 

O Governo diz que quer apostar na “escola inclusiva”, centrada “no acesso ao currículo”, na “clarificação de papéis dos diferentes intervenientes” nesta área, na “avaliação e certificação de todos os percursos de aprendizagem”.

No site do Governo, onde o diploma foi colocado, lê-se: “Portugal é ainda um país com baixas taxas de inclusão dos alunos no sistema educativo, subsistindo nas escolas um número significativo de jovens, com necessidades específicas, em espaços físicos ou curriculares segregados. Esta constatação e a sua identificação por diferentes actores do sector sustenta a necessidade de se proceder a uma revisão do quadro legal em vigor.”

A proposta agora apresentada teve em conta as conclusões de um grupo de trabalho constituído na anterior legislatura e as recomendações de um conjunto alargado de especialistas na área da educação inclusiva e instituições, acrescenta.

Mais de 78 mil alunos identificados como tendo Necessidades Educativas Especiais frequentam o ensino regular, segundo dados de 2016 do Ministério da Educação.

mais informações no link:

http://www.dge.mec.pt/noticias/regime-legal-da-inclusao-escolar

 

 

 

Seminário “Aprender na Escola para a Sociedade Inclusiva” 10 e 11 de Julho na Escola Secundária de Benavente

Junho 24, 2017 às 9:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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As inscrições estão abertas até 28 de junho de 2017.

Inscrição:

https://docs.google.com/a/centroeducatis.net/forms/d/e/1FAIpQLSckV42o_X_hONtT3imruk1SQYIA-F7MT-POgo3Yt0nBBsTrkw/viewform

programa

http://www.cm-benavente.pt/informacoes/agenda/item/2417-seminario-aprender-na-escola-para-a-sociedade-inclusiva-projeto-gulbenkian

A educação especial e a inclusão na escola

Março 29, 2017 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Quando pensamos em escola inclusiva, pensamos numa escola adaptada a todas as crianças onde possam desenvolver os temas académicos e simultaneamente competências sociais e pessoais que as irão ajudar a transformar-se em adultos felizes e inseridos.

Resumidamente, a educação inclusiva assenta num novo conceito de escola, com uma estrutura organizativa própria, inovadora, aberta à mudança, e que se baseia no respeito pela diferença. Deve-se assumir a diversidade, criar respostas adequadas através da realização e aplicação de um currículo aberto e flexível em construção permanente perante as necessidades de cada criança. Só criando uma rede adequada de recursos e privilegiando a coadjuvação dos intervenientes do processo educativo, é que se poderá conseguir e possibilitar o sucesso de todos. Neste sentido foi publicado o Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de Janeiro que define os apoios especializados a prestar na educação pré escolar e nos ensinos básico e secundário dos setores público, particular e cooperativo.

Mas na verdade, esperando que assim seja em algumas escolas portuguesas, infelizmente não acontece em todas. Basta não funcionar em apenas uma, para ser precisa uma reflexão sobre o assunto.

Durante a minha experiência enquanto psicóloga clínica em escolas, o que aí se faz diariamente são pequenos milagres que resultam do esforço e dedicação de todos os técnicos e professores que trabalham com crianças com necessidades educativas especiais. Infelizmente de entre todas estas dificuldades, temos também a falta de preparação de alguns técnicos e professores nesta área.

A reflexão pode levar-nos um pouco mais atrás nesta discussão, e pensaremos que na formação dos professores deveria ser suposto equacionar-se a temática assim como estratégias para o ensino na diversidade. Mas não parece ser assim.

Decidi escrever este texto, porque estou a seguir um caso clínico em que estas dificuldades são diárias, principalmente por parte do meu paciente, um jovem com “Síndrome de Asperger”, actualmente e de acordo com a nova classificação no DSM-V, Trantorno do Espectro Autista (TEA), e respectiva família. As principais características deste transtorno são:

A – Deficiências persistentes na comunicação e interação social:

1.Limitação na reciprocidade social e emocional;
2.Limitação nos comportamentos de comunicação não verbal utilizados para interação social;
3.Limitação em iniciar, manter e entender relacionamentos, variando de dificuldades
com adaptação de comportamento para se ajustar as diversas situações sociais.
B – Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, manifestadas pelo menos por dois dos seguintes aspectos observados ou pela história clínica:

1.Movimentos repetitivos e estereotipados no uso de objetos ou fala;
2.Insistência nas mesmas coisas, aderência inflexível às rotinas ou padrões
ritualísticos de comportamentos verbais e não verbais;
3.Interesses restritos que são anormais na intensidade e foco;
4.Hiper ou hiporreativo a estímulos sensoriais do ambiente.
C – Os sintomas devem estar presentes nas primeiras etapas do desenvolvimento. Eles podem não estar totalmente manifestos até que a demanda social exceder suas capacidades ou podem ficar mascarados por algumas estratégias de aprendizado ao longo da vida

D – Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo nas áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento atual do paciente.

E – Esses distúrbios não são melhores explicados por deficiência cognitiva ou atraso global do desenvolvimento.

Quando estamos perante um jovem que tem um comportamento completamente integrado num determinado meio, e não o consegue ter no ambiente escolar, perguntamo-nos automaticamente o que se estará a passar. E o que se está a passar, é que este jovem está inserido numa escola, onde os recursos humanos não só são escassos, como não têm qualquer preparação para lidar com a diversidade escolar. Quero apenas salientar que este jovem não é diferente por ter uma necessidade educativa especial…ele é diferente porque todos nós somos diferentes, quanto mais não seja porque geneticamente somos todos diferentes

A referida falta de recursos, que aparentemente pode parecer não ter grandes repercussões, tem efectivamente um custo muito grande na vida deste jovem. Embora tenha recursos cognitivos, ele não se sente motivado para a escola como seria suposto, não se consegue integrar no grupo, não acede à autoridade do adulto, é reactivo com os demais da sua idade…curiosamente algo que não se verifica no contexto do ATL, onde a rotina é muito semelhante. Aqui ele interage com o grupo, reage positivamente à autoridade do adulto (referindo a teimosia natural de um qualquer adolescente), mantém contacto visual e de tacto com os outros, controla os comportamentos repetitivos e estereotipados.

A escola falha sempre que uma situação destas acontece.

Assim, é importante dotar os assistentes operacionais de formação específica para acompanhar jovens como o que estamos a falar. Para terem esta profissão tiveram que ter formação específica, mas não tiveram qualquer tipo de formação orientada para lidar com crianças e jovens com necessidades educativas especiais.

Recordo-me a propósito deste assunto, de uma formação que fui dar a uma escola em Benavente, que ia receber uma criança com paralisia cerebral em cadeira de rodas, e que queria dotar os assistentes operacionais com essa competência para que o percurso escolar dessa criança fosse adequado.

E os recursos financeiros para essas formações?

Algo fundamental em qualquer sociedade será sempre a educação (a par da justiça e da saúde). E assim sendo não podemos justificar a falta de formação com a falta de recursos económicos. Relembro que o papel da escola é formar as crianças e jovens com recursos escolares e sociais (Neste caso, essa formação foi totalmente oferecida por mim). Referindo novamente a situação do meu jovem paciente, eu (em conjunto com a mãe), fiz proposta para formação aos professores e assistentes operacionais, em pro bono novamente, mais que 3 vezes, sendo que só à 4ª vez é que houve disponibilidade para tal. Contudo, e para bem estar emocional do jovem em questão, foi solicitada transferência para outra escola, o que acabou por acontecer.

Igualmente grave é encontrarmos professores que não têm qualquer vocação para tal (minoria, mas basta que haja um que não tenha para ser relevante). Que revelam, mais ainda, falta de vontade para receberem nas suas aulas crianças e jovens com necessidades educativas especiais, referindo muitas vezes que não estudaram para dar aulas a estas pessoas e ou que não sabem o que fazer com eles, pois têm outras crianças e jovens que têm de aprender o currículo escolar.

Seria importante, diria, fulcral, que a formação dos professores fosse igualmente exigente nas competências pedagógicas para o ensino destes alunos. É necessário que psicólogos, terapeutas da fala, psicomotricistas, terapeutas ocupacionais, professores de educação especial, médicos de família ou pedopsiquiatras, directores de turma, professores, assistentes operacionais e pais, em conjunto, desenvolvam estratégias específicas para estes alunos.

Deixo, assim, a reflexão de que toda a sociedade civil deve ser responsabilizada sempre que temos uma pessoa, com ou sem necessidade educativa especial, que não se sente inserida nem feliz na escola. E essa responsabilidade é acrescida quando nos referimos aos profissionais que trabalham directamente com essa pessoa.

 

Por Patrícia Câmara Pestana, para Up To Kids em 16 de março de 2017

 

Tribunais estão a mandar repor Subsídio de Educação Especial

Março 23, 2016 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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“Os senhores são neste momento os culpados pelos retrocessos do meu filho”, acusa a mãe de uma das crianças com deficiência que deixou de ter apoios especializados, numa carta aberta dirigida ao actual Governo.

Existem pelo menos já 15 sentenças de tribunais administrativos e fiscais a condenar o indeferimento do pagamento do Subsídio de Educação Especial (SEE), cuja atribuição foi restringida a partir de 2013/2014, na sequência de um protocolo celebrado entre o Instituto de Segurança Social (ISS) e a Direcção-Geral de Estabelecimentos Escolares. A informação foi adiantado ao PÚBLICO por um dos responsáveis da Associação Nacional de Empresas de Apoio Especializado (ANEAE), José Martins, segundo o qual existirão ainda centenas de processos a decorrer a propósito desta prestação familiar, que ronda os três mil euros anuais.

A ANEAE representa clínicas e centros terapêuticos privados e algumas instituições particulares de solidariedade social. As primeiras sentenças a favor da anulação das decisões de indeferimento do pagamento de subsídio pelo ISS foram conhecidas em finais de Fevereiro. Segundo José Martins, os tribunais que se pronunciaram a favor fizeram-no por considerarem que, por lei, a sinalização das deficiências por via de certificado médico é um imperativo que deixou de ser cumprido depois da assinatura daquele protocolo, que por essa razão, entre outras, violará o diploma de 1981 que regulamenta o pagamento daqueles subsídios.

O Subsídio de Educação Especial destina-se, de acordo com a lei, a crianças e jovens até aos 24 anos “que possuam comprovada redução permanente da capacidade física, motora, orgânica, sensorial ou intelectual” e que precisem de frequentar estabelecimentos de ensino especial, ou de beneficiar de apoios especializados que não são facultados nas escolas onde estão inseridos.

A partir do protocolo de 2013, a proposta de atribuição do SEE a crianças com deficiência passou a ser feita sobretudo pelas escolas no âmbito da sinalização dos alunos com Necessidades Educativas Especiais, um procedimento que é contestado pelo Bloco de Esquerda (BE) num novo projecto de resolução que apresentou no Parlamento em Fevereiro.

“É inaceitável a forma como o anterior Governo se recusou a distinguir entre uma criança e jovem que precisa de apoio em educação especial de uma criança e jovem que precisa de apoio terapêutico individualizado nas valências de psicologia, terapia da fala, terapia ocupacional e psicomotricidade”, acusa o BE no projecto onde se recomenda ao Governo a “revogação imediata” do protocolo de 2013, cujo debate não foi ainda agendado.

Segundo as estatísticas constantes no portal da Segurança Social, o número de beneficiários do SEE caiu de 14.571 em 2010 para 9146 em 2014.Numa carta aberta dirigida recentemente aos ministros da Segurança Social e da Educação, a que o PÚBLICO teve acesso, a mãe de uma destas crianças conta que o pagamento da prestação foi indeferido logo no final do ano lectivo de 2013/2014, já depois de o seu filho, agora com 9 anos, ter sido avaliado de novo por uma junta médica, que “comprovou a necessidade de manter os apoios” que vinha recebendo nos últimos dois anos para que continuasse a ser acompanhado por um psicólogo e um terapeuta da fala.

“Durante esse tempo todo o meu filho teve uma evolução enorme” para depois ser “abandonado pelo Estado”, afirma esta mãe, que pediu o anonimato de modo a defender a “privacidade” do filho. Ela arriscou contrair uma dívida para garantir que o filho continuasse a ter os apoios necessários, na esperança de que a situação de indeferimento fosse ultrapassada e a lei “cumprida”.

Como tal não aconteceu até agora, foi obrigada, por falta de recursos, a desistir dos apoios especializados. “Chorei muito por saber que o meu filho estava a ser castigado pelos crimes que os governantes cometiam, mas também de revolta por saber que outras crianças, em outras escolas, com os mesmo diagnósticos, tinham direito a esse apoio, enquanto milhares ficaram de fora, não porque não precisavam, mas porque alguém num gabinete sem formação clínica, assinava um indeferimento”, descreve, para frisar de seguida, dirigindo-se ao Governo actual: “A partir do momento em que os senhores ocuparam esses cargos a responsabilidade política é vossa. Os senhores são neste momento os culpados pelos retrocessos do meu filho e de milhares de outras crianças que perderam os apoios”, um cenário que o BE, no seu projecto der resolução, descreve como “consubstanciando uma situação de catástrofe de saúde pública e de calamidade social”.

José Martins, da ANEAE, di-lo de outro modo: “Passados dois anos já não é possível repor a vida destas crianças, apenas remediar”. Em resposta ao PÚBLICO, o Ministério da Educação, que não se pronunciou sobre as sentenças dos tribunais, limitou-se a indicar, através do seu gabinete de comunicação, que “ está a convocar os diferentes interlocutores relevantes para a construção de uma política sectorial sobre este tema para resolver de forma articulada e consequente as lacunas que ele apresenta”.

 

Clara Viana, para o Público, em 9 de março de 2016

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