Os quatro excessos da educação moderna que perturbam as crianças

Junho 14, 2017 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , ,

Texto do site http://www.revistapazes.com/ de 24 de maio de 2017.

Por Jennifer Delgado Suárez, psicóloga

Quando nossos avós eram pequenos, eles tinham apenas um casaco de frio para o inverno. Apenas um! Naquela época de vacas magras, já era luxo ter um. Exatamente por isso a criançada cuidava dele como se fosse um tesouro precioso. Naquela época bastava a consciência de se ter o mínimo indispensável. E, acima de tudo, as crianças tinham consciência do valor e da importância de suas coisas.

Muita água correu por baixo da ponte, acabamos nos transformando em pessoas mais sofisticadas. Agora prezamos pelas várias opções e queremos que nossos filhos tenham tudo aquilo que desejarem, ou, caso seja possível, muito mais. Não percebemos que esse mimo excessivo ajuda a criar um ambiente propício para transtornos psicológicos.

De fato, foi demonstrado que o excesso de estresse durante a infância aumenta a probabilidade de que as crianças venham a desenvolver problemas psicológicos. Assim, uma criança sistemática pode ser empurrada para ativar um comportamento obsessivo. Uma criança sonhadora, sempre com a cabeça nas nuvens, pode perder a sua capacidade de concentração.

Neste sentido, Kim Payne, professor e conselheiro norte-americano, conduziu uma experiência interessante em que simplificou a vida de crianças diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Depois de apenas quatro meses, 68% destes pequeninos passaram a ser considerados clinicamente funcionais. Eles também mostraram um aumento de 37% em suas habilidades acadêmicas e cognitivas, um efeito que não poderia coincidir com a medicação prescrita para esta desordem, o Ritalin.

Estes resultados são, em parte, extremamente reveladores e, mais que isto, também são um pouco assustadores, porque nos fazem pensar se realmente estamos criando para nossos filhos um ambiente saudável, mental e emocionalmente.

O que estamos fazendo de errado e como podemos corrigir isto?

Quando o “muito” se transforma em “demais”?

No início de sua carreira, este professor trabalhou como voluntário em campos de refugiados, onde teve que lidar com crianças que sofrem de estresse pós-traumático. Payne constatou que essas crianças se mostravam nervosas, hiperativas e tremendamente ansiosas, como se pressentissem que algo de ruim fosse acontecer de uma hora para a outra. Elas também eram amedrontadas em excesso, temendo qualquer novidade, o desconhecido, como se tivessem perdido a curiosidade inata das crianças.

Anos mais tarde, Payne constatou que muitas das crianças que precisavam de sua ajuda mostravam os mesmos comportamentos que os pequenos que vinham de países em guerra. No entanto, o estranho é que estas crianças viviam na Inglaterra, abraçados por um ambiente completamente seguro. Qual a razão que os levava a exibir os sintomas típicos de estresse das crianças pós-traumáticas?

O professor pensa que as crianças em nossa sociedade, apesar de estarem seguras do ponto de vista físico, mentalmente vivem em um ambiente semelhante ao produzido em áreas de conflito armado, como se suas vidas estivessem sempre em perigo. A exposição à muitos estímulos provoca um estresse acumulado que obriga as crianças a desenvolverem estratégias que as façam se sentir mais seguras.

Na verdade, as crianças de hoje estão expostas a um fluxo constante de informações que não são capazes de processar. Elas são forçadas ao crescimento rápido, já que os adultos depositam muitas expectativas sobre elas, forçando-as a assumir papéis que realmente não condizem com a realidade infantil. Assim, o cérebro imaturo das crianças é incapaz de acompanhar o ritmo imposto pela nova educação, por conseguinte, um grande estresse ocorre, com as óbvias consequências negativas.

Os quatro pilares do excesso.

Como pais, nós normalmente queremos dar o melhor para os nossos filhos. E pensamos que, se o pouco é bom, o mais só pode ser melhor. Portanto, vamos implementar um modelo de paternidade superprotetora, nós forçamos os filhos a participar de uma infinidade de atividades que, em teoria, ajudam a preparar os pequenos para a vida.

Como se isso não fosse suficiente, nós enchemos seus quartos com livros, dispositivos e brinquedos. Na verdade, estima-se que as crianças ocidentais possuem, em média, 150 brinquedos. É demais, e quando é excessivo, as crianças ficam sobrecarregadas. Como resultado, elas brincam superficialmente, facilmente perdendo o interesse imediatista nos brinquedos e no ambiente, elas não são estimuladas a desenvolver a imaginação.

Payne ressalta que estes são os quatro pilares do excesso que forma a educação atual das crianças:

1 – Excesso de coisas.

2 – Excesso de opções.

3 – Excesso de informações.

4 – Excesso de rapidez.

Quando as crianças estão sobrecarregadas, elas não têm tempo para explorar, refletir e liberar tensões diárias. Muitas opções acabam corroendo sua liberdade e roubam a chance de se cansar, o que é elemento essencial no estímulo à criatividade e ao aprendizado pela descoberta.

Gradualmente, a sociedade foi corroendo as qualidades que tornam o período da infância algo mágico, tanto que alguns psicólogos se referem a esse fenômeno como a “guerra contra a infância”. Basta pensar que, nas últimas duas décadas, as crianças perderam uma média de 12 horas por semana de tempo livre. Mesmo as escolas e jardins de infância assumiram uma orientação mais acadêmica.

No entanto, um estudo realizado na Universidade do Texas revelou que quando as crianças brincam com esportes bem estruturados, elas se tornam adultos menos criativos, em comparação com jovens que tiveram mais tempo livre para criar suas próprias brincadeiras. Na verdade, os psicólogos têm notado que a maneira moderna de jogar gera ansiedade e depressão. Obviamente, não é apenas o jogo mais ou menos estruturado, mas também a falta de tempo.

Simplificar a infância.

A melhor maneira de proteger a infância das crianças é dizer “não” para as diretrizes que a sociedade pretende impor. É preciso deixar que as crianças sejam crianças, apenas isso. A melhor maneira de proteger o equilíbrio mental e emocional é educar as crianças na simplicidade. Para isso, é necessário:

– Não encher elas de atividades extracurriculares, que, em longo prazo, não vão ajudá-las em nada. – Deixe-lhes tempo livre para brincar, de preferência com outras crianças, ou com jogos que estimulem a criatividade, jogos não estruturados.

– Passar um tempo de qualidade com eles é o melhor presente que os pais podem dar.

– Criar um espaço tranquilo em suas vidas onde eles podem se refugiar do caos e aliviar o estresse diário.

– Garantir tempo suficiente de sono e descanso.

– Reduzir a quantidade de informações, certificando-se de que esta seja sempre compreensível e adequada à sua idade, o que envolve um uso mais racional da tecnologia.

– Simplifique o ambiente, apostando em menos brinquedos e certificando-se de que estes realmente estimulem a fantasia da criança.

– Reduzir as expectativas sobre o desempenho, deixe que elas sejam simplesmente crianças. Lembre-se que as crianças têm uma vida inteira pela frente até se tornarem adultos, entretanto, então, permita que elas vivam plenamente a infância.

Texto publicado em espanhol no site Rincón de la Psicología, traduzido e adaptado pela Revista Pazes.

 

 

 

Por que ser materialista faz você infeliz

Janeiro 6, 2015 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , , ,

texto do site http://www.psyciencia.com  de 26 de dezembro de 2014.

adult-18728_1280-e1419630659153-700x749

 

Por qué ser materialista te hace infeliz

Por David Aparicio

es un reconocido psicólogo que durante los últimos años se ha dedicado a investigar los efectos del materialismo sobre nuestra conducta y bienestar. En la siguiente entrevista realizada por la Asociación Americana de Psicología (APA), Kasser nos explica por qué ser materialistas nos hace menos felices, cómo se diferencia con las compras compulsivas y el efecto de los medios sobre nuestros valores.

APA: ¿Qué significa ser materialista y por qué se considera algo negativo? ¿Por qué algunas personas son materialistas y otras no?

Kasser: Ser materialista significa tener valores que ponen relativamente en alta prioridad el tener muchas posesiones y hacer mucho dinero, así como también una buena imagen social y popular, que se expresan a través de las posesiones.

Creo que el materialismo es visto de forma negativa porque las personas pueden haber tenido experiencias desagradables con gente materialistas. Sabemos por las investigaciones que el materialismo se asocia con tratar a las personas de una manera competitiva, manipuladora, egoísta y menos empática. Tales comportamientos generalmente no son apreciados por las personas, a pesar de que es alentado por algunos aspectos de nuestro sistema económico capitalista. La investigación muestra dos conjuntos de factores que llevan a la gente a tener valores materialistas. En primer lugar, las personas son más materialista cuando están expuestas a los mensajes que sugieren que esas actividades son importantes, ya sea a través de sus padres y amigos, la sociedad o los medios de comunicación. En segundo lugar, y algo menos obvio, es que la gente es más materialista cuando se sienten inseguros o amenazados, ya sea debido al rechazo, miedos económicos o pensamientos acerca de su propia muerte.

APA: ¿Cómo han influido los medios de comunicación, especialmente las redes sociales, al materialismo en el mundo de hoy?

Kasser: Las investigaciones muestran que cuanto más la gente ve televisión, más materialistas son sus valores. Esto se da porque probablemente muchos programas de TV y anuncios publicitarios nos envían mensajes que sugieren que para ser felices hay que ser ricos, tener cosas bonitas y populares.

Un estudio que recientemente publiqué con el psicólogo Jean Twenge, rastreó cómo el materialismo ha cambiado en los estudiantes de secundaria de Estados Unidos, en unas cuantas décadas y cómo se conectan esos cambios con los gastos de publicidad nacional y se encontró que cuanto más se gastaba en publicidad, más materialistas eran los jóvenes del último año de secundaria.

Otro estudio sobre los adolescentes estadounidenses y árabes encontró que el materialismo se incrementa a medida que aumenta el uso de las redes sociales. Estos hallazgos sugieren que, así como el uso de la televisión se asocia con el incremento materialismo, también el uso de los medios sociales. Esto tiene sentido, ya que la mayoría de los mensajes en las redes sociales también contiene publicidad, porque esta es la manera en que esas empresas generan ingresos.

APA: ¿Cual es la diferencia entre ser extremadamente materialista y ser un comprador compulsivo? Una persona materialista, ¿tiene riesgo de convertirse en un comprador compulsivo?

Kasser: El materialismo se trata de los valores, el deseo por el dinero, las posesiones y similares. Por otro lado, el consumo compulsivo se da cuando una persona se siente incapaz de controlar el deseo de consumir, a menudo porque él o ella están tratando de llenar algún vacío o para superar la ansiedad.

El materialismo y el consumismo compulsivo están relacionados entre sí. En un reciente meta-análisis de la asociación entre el materialismo y el bienestar de las personas, se encontró que la correlación entre el materialismo de la gente y la media de problemas reportados por consumo compulsivo era fuerte y consistente a través de muchos estudios.

El materialismo es un factor de riesgo para el consumo compulsivo, pero no son la misma cosa. La psicóloga, Miriam Tatzel, sugiere que algunos materialistas son más ¨relajados¨ con su dinero y otros son más ¨rígidos¨. Ambos tipos se preocupan por tener dinero y posesiones, pero el materialista relajado va a gastar y gastar, mientras que el materialista rígido será como Scrooge e intentará seguir acumulando riquezas.

Pixabay

APA: ¿Cuáles podrían ser algunos de los aspectos positivos del materialismo?

Kasser:  Sabemos por la literatura, que el materialismo se asocia con menores niveles de bienestar, menos comportamiento pro-social interpersonal y con un comportamiento  ecológicamente destructivo y peores resultados académicos. También se asocia con más problemas de gasto y deuda. Desde mi punto de vista todos estos son resultados negativos. Pero desde el punto de vista del sistema económico/social que se basa en el gasto para impulsar los altos niveles de ganancias para las empresas, el crecimiento económico de la nación y de los ingresos fiscales para el gobierno, el consumo y el gasto excesivo relacionado con el materialismo puede ser visto como positivo.

APA: ¿Qué dicen las investigaciones psicológicas sobre la relación entre el materialismo y la felicidad?

Kasser: La conexión entre el materialismo y el bienestar es la cadena más antigua de la investigación sobre el materialismo. Mis colegas de la Universidad de Sussex y yo publicamos recientemente un meta-análisis que mostró que la relación negativa entre el materialismo y el bienestar fue consistente en todo tipo de medidas de materialismo, tipos de personas y culturas. Encontramos que entre más valores materialistas tenían las personas, más problemas de salud física tenían como: dolores de estómago y dolores de cabeza y experimentaron menos emociones agradables y se sintieron menos satisfechos con sus vidas.

La explicación más apoyada por la cual el bienestar es más bajo que el materialismo, es que las personas que anteponen el materialismo sobre su bienestar, tienen mayores necesidades psicológicas. En concreto, los valores materialistas están asociados con vivir una vida que hace un mal trabajo a la hora de satisfacer las necesidades psicológicas de sentirse libre, competente y conectado con los demás. Las personas reportan niveles más bajos de bienestar y felicidad y experimentan más angustia cuando sus necesidades de bienestar no son satisfechas.

APA: ¿De qué manera la fe religiosa afecta al materialismo, en particular durante las fiestas?

Kasser: Un par de estudios han encontrado que la relación negativa entre el materialismo y el bienestar es aún más fuerte en las personas que son religiosas. Probablemente porque hay un conflicto entre las actividades materialistas y las religiosas. Es decir, la investigación sobre cómo se organizan los valores de la gente ha demostrado que algunos objetivos son fáciles de perseguir simultáneamente, pero otros están en conflicto entre sí. Por ejemplo, es relativamente fácil fijarse metas para obtener dinero y al mismo tiempo fijarse metas para alcanzar una buena imagen y popularidad, ya que estas metas están relacionadas entre sí y se facilitan una a la otra. Sin embargo, las investigaciones muestran que hay un conflicto entre los objetivos materialistas y religiosos, así como Jesus, Mohammed, Buddha, Lao Tze y muchos otros pensadores religiosos han sugerido desde hace tiempo. Parece que tratar de alcanzar metas materialistas y espirituales hace que la gente entre en un conflicto que genera estrés y a su vez reduce su bienestar.

Un estudio encontró que este sistema también funciona durante navidad. El psicólogo Ken Sheldon y yo hicimos una investigación que demuestra que las personas se interesaron menos en los objetivos espirituales a medida que más se interesaban en objetivos materialistas como comprar y recibir. También encontramos que las personas que reportaron sus navidades como felices, fueron aquellas en las que la espiritualidad fue una parte importante de la navidad. En contraste las personas que reportaron menos bienestar durante la navidad fueron aquellas que estuvieron dominadas por aspectos materialistas.

Si te gustó este artículo, también podría interesarte: Materialismo, publicidad y baja satisfacción en niños.

La entrevista fue publicada en inglés y ha sido traducida y adaptada al español por David Aparicio y María Fernanda Alonso.

Fuente: APA Imagen: Pixabay

 

Capacidade de as famílias suportarem encargos baixa entre 2004/2011

Dezembro 19, 2013 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , , , , ,

Notícia do site OJE de 6 de Dezembro de 2013.

O estudo mencionado na notícia é o seguinte:

INE divulga Índice de Bem-estar para Portugal

oje

O estudo, realizado pela primeira vez pelo Instituto Nacional de Estatística, foi desenvolvido nos últimos três anos e visa disponibilizar, anualmente, resultados que permitam acompanhar a evolução do bem-estar e progresso social em duas vertentes: condições materiais de vida das famílias e qualidade de vida.

O estudo, realizado pela primeira vez pelo Instituto Nacional de Estatística, foi desenvolvido nos últimos três anos e visa disponibilizar, anualmente, resultados que permitam acompanhar a evolução do bem-estar e progresso social em duas vertentes: condições materiais de vida das famílias e qualidade de vida.

Segundo o estudo, os índices dos indicadores relacionados com a capacidade de as famílias fazerem frente aos seus encargos financeiros e com a sobretaxa das despesas com a habitação apresentam um decréscimo.

Esta situação “evidencia uma deterioração da capacidade dos rendimentos familiares suportarem os compromissos financeiros assumidos, ou de suportarem despesas básicas como a habitação”, explica.

Os índices associados aos indicadores de pobreza monetária apresentam um crescimento ao longo deste período, expressando a redução da taxa de risco de pobreza de 19,4% para 17,8% e da intensidade da pobreza de 26,7% para 24,7%.

O Índice do Bem-Estar (IBE) ressalva que o indicador da taxa de risco de pobreza após 2010 merece “uma leitura atenta”, uma vez que “a manutenção da taxa de pobreza após 2009 reflete, mais do que uma manutenção ou melhoria das condições de vida dos indivíduos mais pobres, a acentuada descida do rendimento mediano e a subsequente redução do limiar de pobreza”.

“Particularmente significativo” é o agravamento do índice relativo à intensidade da pobreza em 2011, superior a cinco pontos percentuais, refere o estudo, que também apresenta resultados preliminares para 2012.

A leitura da evolução da taxa de privação material “é menos clara”, dadas as oscilações sofridas por este índice ao longo do período. Em termos globais, a taxa de privação material em 2012 é praticamente idêntica à do valor inicial de 2004, traduzindo-se num índice de 99,5 no final do período em análise.

A variação do índice no domínio Balanço vida-trabalho aumentou 11,3 pontos percentuais entre 2004/2012. “A capacidade de conciliação entre o tempo dedicado ao trabalho e a outras vertentes da vida pessoal, como a família, os amigos ou o lazer em geral, é um importante fator de caracterização do bem-estar”, observa.

O índice de conciliação do trabalho com as responsabilidades familiares, que retrata o grau de dificuldade em cumprir tarefas domésticas ou outras responsabilidades devido ao trabalho, ou de concentração no trabalho devido a responsabilidades familiares, teve uma evolução percentual positiva (48 pp) até 2007, “decrescendo lentamente a partir de então”.

 

Exigências materiais dos filhos: “Não, não compro!… Está bem, leva…”

Outubro 1, 2013 às 2:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , ,

Artigo de opinião de Sofia Nunes Silva publicado no Público de 26 de setembro de 2013.

É sexta-feira, Tânia vai buscar Mafalda (5 anos e 6 meses) à escola e vão as duas ao supermercado fazer as compras do mês lá para casa, como já vem sendo habitual.

Tânia: Então, querida correu bem o dia?
Mafalda: Sim! Vamos ao supermercado? Vais comprar aquelas gambas para comermos com a massa preta?
Tânia: Meu Deus, Mafalda! Tens tudo programado! Sim, querida. É o que fazemos sempre, não é?
Mafalda: Mãe, podemos ir ver se já chegaram mais bonecos da nova colecção dos Little Pet Shop?
Tânia: Podemos, mas sabes que mesmo que já tenham chegado…
Mafalda: O quê?
Tânia: Hoje não vamos trazer nenhum. É só de 15 em 15 dias, como combinámos.
Mafalda: Oh, mãe vá lá… Só hoje! Prometo!
Tânia: Querida, então? O combinado não era que a mãe te comprava um de 15 em 15 dias? E se pudesse? A semana passada comprámos um agora é só na próxima semana. Ok?
Mafalda: Sim…
Já no supermercado:
Tânia: Vá querida, vai pondo as cenouras aqui para o saco enquanto a mãe escolhe os tomates.
Mafalda: São quantas?
Tânia: Dez.
Mafalda: Já está! Podemos ir agora ver se há?
Tânia: Vamos! Mas já sabes não é?
Mafalda: Já chegaram! Não é tão querida a joaninha, mãe?
Tânia: É, querida. É um amor! É esse que queres levar para a semana?
Mafalda: Por favor, mãe. Só hoje!
Tânia: Mafalda, já falámos sobre isto.
Mafalda: Oh mãe, mas a mãe da Constança compra-lhe sempre um todas as semanas! Porque é que eu não posso?
Tânia: Porque a mãe e o pai não têm dinheiro para te dar um boneco todas as semanas e porque eu não acho que seja um bom hábito, e porque tenho a certeza que não é por isso que a Constança é mais feliz!
Mafalda: Mas pelo menos tem uma colecção maior que a minha! E vai acabar mais rápido!
Tânia: Tu também vais fazer a colecção toda. Só que mais devagarinho. Até acho que assim brincas mais com cada boneco.
Mesmo ao lado Tânia e Mafalda assistem a uma discussão entre uma mãe e um filho, de aproximadamente três anos de idade:
Mãe: António, já te disse que não vale apena pedires mais carros! Ainda ontem te comprei um!
António: Então quero um lego!
Mãe: Já te disse que não te compro mais nada!
António atira-se para o chão a chorar e a espernear enquanto grita:
António: Tu não gostas de mim! Eu quero! Ninguém gosta de mim!
Mãe: Pára com isso António! Está toda a gente a olhar para ti! Estou tão cansada!
A partir daqui, António ainda chorava e gritava mais alto captando todas as atenções. A mãe permanecia imóvel ao comportamento do filho e com um ar esgotado.
Mãe: … Está bem, leva…
António, levanta-se rapidamente e vai buscar o lego que queria. Com um leve sorriso na cara.
António: Obrigada, mãe! És a melhor mãe do mundo!
Tânia e Mafalda ficaram paradas, caladas e também imóveis enquanto António e a mãe se afastavam.
Tânia sentiu pena daquela mãe, que parecia muito cansada e sem capacidade para conseguir dizer que não ao filho que reagiu com descontrolo e chantagem emocional face à “ameaça” da mãe perante a sua ausência de tolerância à frustração.

Para os pais a questão da gestão dos pedidos dos filhos é um constante desafio! Sobretudo, nas últimas décadas em que a nossa sociedade passou a assumir o lema do consumo criando necessidades reais ou não para pais e filhos. A facilidade de acesso ao crédito fácil mergulha muitas famílias numa ilusão de que se pode ter tudo, levando-as a adoptarem estilos de vida e de consumo muito superiores às suas reais capacidades e necessidades.

Os pais devem gerir os pedidos dos filhos com muita contenção. Actualmente, vivem-se tempos de crise onde temos visto famílias que de um momento para o outro perdem os seus empregos. Outras, veem os seus rendimentos diminuídos ou sentem uma clara quebra no seu poder de compra. Este é um tempo difícil para todos. Por isso, é errado transmitir às crianças que é possível comprar tudo. Porque isso é uma ilusão.

É uma ilusão que depois elas transpõem para os outros planos da vida, além do consumismo. Como nas próprias relações com os outros, onde o “ter” passa a ter uma importância superior ao “ser”. Que sentido tem para os nossos filhos crescerem habituados a utilizar bens materiais como intermediários ou como forma de afirmação na relação com os outros? Esta é uma questão fundamental que nos devemos colocar. Pelo menos temos a garantia que não terão tantas oportunidades de desenvolver as suas próprias capacidades de empatia e de afirmação social perante o grupo, e que mais tarde ou mais cedo sofrerão estas consequências.

É importante que as crianças cresçam com a noção da realidade e das dificuldades. Uma criança que acha que pode ter sempre tudo o que quer cresce sem limites e com um sentido de omnipotência. E quando não tem limites também desenvolve sentimentos de insegurança noutras situações, como aquelas que o dinheiro não compra. Cresce sem resistência à frustração.

A negação de alguns pedidos por parte dos pais além de permitir à criança confrontar-se com a realidade pode constituir boas oportunidades para aprender a lidar com a sua frustração. Como já dissemos anteriormente esta é uma importante função parental. Dar oportunidades para experimentar e vivenciar sentimentos de frustração vai ajudá-la a sentir-se mais segura e confiante para lidar com outros momentos de frustração que a vida inevitavelmente proporciona.

Há muitas famílias que sentem que quanto maior número de presentes ou pedidos satisfizerem às crianças melhor e mais forte se tornam as suas relações. Isto está longe de ser verdade, além de que constitui um enorme perigo no desenvolvimento das relações familiares.

 É fundamental entendermos que mais do que termos a garantia de que os nossos filhos podem ter tudo importa que os ajudemos a crescer com um sentido da realidade, da partilha, da solidariedade nas relações o que passa essencialmente pela construção do ser, onde o ter não deverá assumir qualquer primazia. Este é mais um dos grandes desafios da parentalidade!

Mas como as crianças fazem essencialmente aquilo que vêem fazer mais do que o que ouvem dizer, os pais devem eles próprios reflectir sobre a forma como gerem os seus desejos e vontade de consumo.

As crianças têm que aprender a dar valor às coisas que têm e recebem. Não ceder no imediato aos pedidos permite-lhes desenvolver a capacidade para aguardar receber determinado presente, esforçarem-se para ter determinada coisa, que o seu bom comportamento pode representar maior valorização por parte dos pais sem que tenha que implicar receber algo.

Os pais podem sentir que já dedicam pouco tempo aos filhos no dia-a-dia e que todo o tempo que lhes resta é para passarem em ambiente de calma e tranquilidade cedendo aos muitos pedidos que lhes fazem e evitarem assim momentos que possam ameaçar todo este clima que desejam manter. No entanto, como já dissemos saber dizer não faz parte de uma educação que se quer equilibrada e responsável. Além de ser um grande acto de amor por todas as boas consequências que se reflectirão ao longo do crescimento dos filhos!

Sofia Nunes Silva é psicóloga clínica e terapeuta familiar. A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico.

 

Portugal é um dos países com menor desigualdade no acesso à saúde infantil e bem-estar das crianças

Dezembro 7, 2010 às 9:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
Etiquetas: , , , , , ,

Artigo do Público de 3 de Dezembro de 2010. Descarregar o relatório Aqui

Foto: Fernando Veludo/arquivo)

Foto: Fernando Veludo/arquivo)

Por Ana Cristina Pereira

Estão os países ricos a deixar as crianças pobres ficar para trás?, pergunta o Centro de Estudos Innocenti da Unicef. Num ranking de 24 países da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, Portugal destaca-se pela positiva em matéria de igualdade de acesso a saúde e bem-estar, mas peca na educação e no bem-estar material.

Está tudo no relatório As crianças que ficam para trás, hoje lançado em Helsínquia. O documento – o nono de uma série feita para acompanhar o desempenho dos países desenvolvidos – analisa a desigualdade em três dimensões: saúde e bem-estar, educação, bem-estar material.

Os autores não olharam para os mínimos e os máximos, como é costume quando se trata de desigualdade. Optaram por medir “o fosso entre a criança média (aquela que um país pode considerar “normal” – a mediana) e a criança que se encontra perto da base da pirâmide.

A maior parte dos dados foram recolhidos antes de a crise financeira e económica se instalar. O relatório tira um “retrato” dos tempos de prosperidade, lembra que as consequências mais pesadas das crises tendem a recair sobre as famílias mais vulneráveis e as suas crianças e conclui que os países ricos estão a deixar as crianças mais pobres ficar para trás.

Os primeiros classificados na tabela da igualdade: Dinamarca, Finlândia, Holanda, Suíça. No segundo grupo: Islândia, Irlanda, Noruega e Suécia. Portugal figura no terceiro grupo, a par da Áustria, do Canadá, da França, da Alemanha, da Polónia. À frente da Bélgica, da República Checa, da Hungria, do Luxemburgo, da Eslováquia, de Espanha e do Reino Unido. No fim, a Grécia, a Itália, os Estados Unidos. Só a Holanda e a Noruega ficam à frente de Portugal na igualdade de acesso à saúde e ao bem-estar. Tendo em conta o auto-relato de queixas de saúde, a alimentação saudável, a frequência de actividade física vigorosa.

A pior classificação de Portugal ocorre no bem-estar material, onde ocupa a 16.ª posição. E a pobreza infantil é mais do que pobreza de rendimento. Tem também a ver com oportunidades e expectativas, recursos de educação e cultura, habitação, cuidado e tempo parental.

No que concerne à educação, o país ocupa o 14.º lugar. Ora, este tipo de desigualdade “reflecte mais do que a lotaria do nascimento e das circunstâncias”. Pode “resultar do esforço para reduzir as desvantagens socioeconómicas. Ou do esforço para enfraquecer a relação entre pobreza e resultados escolares”.

“A ideia de que a desigualdade é um reflexo das diferenças de mérito não pode razoavelmente ser aplicada a crianças”, sublinham os autores. “Poucos negarão que as circunstâncias iniciais de uma criança estão além do seu controlo. Ou que essas circunstâncias têm um profundo efeito na sua vida presente ou futura. Ou que crescer na pobreza acarreta um risco acrescido de piores níveis de saúde, de desenvolvimento cognitivo, de resultados escolares ou de mais baixos conhecimentos e aspirações e, eventualmente, de menores rendimentos na vida adulta, o que ajuda a perpetuar as desvantagens de uma geração para a seguinte.”


Entries e comentários feeds.