Contexto familiar desfavorável explica maus resultados dos alunos portugueses no PISA

Janeiro 22, 2011 às 1:00 pm | Publicado em Uncategorized | Deixe um comentário
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Artigo do Público de 12 de Janeiro de 2011.

Estudo de Manuel Coutinho Pereira Desempenho Educativo e Igualdade de Oportunidades em Portugal e na Europa : O Papel da Escola e a Influência da Família

Recursos escolares têm uma contribuição pouco importante NELSON GARRIDO

Recursos escolares têm uma contribuição pouco importante NELSON GARRIDO

Por Bárbara Wong

Estudo revela que papel dos pais é mais importante nos países europeus onde os alunos têm melhores desempenhos.

Os maus resultados dos alunos nos testes do PISA devem-se, em parte, ao contexto familiar desfavorável, nomeadamente às habilitações e profissões dos pais, diz um estudo publicado pelo Banco de Portugal sobre o papel da escola e a influência da família no desempenho educativo dos alunos.

As variáveis socioeconómicas são “os principais determinantes do desempenho, enquanto os recursos escolares têm uma contribuição pouco importante”. Mas, em Portugal, estas variáveis têm “contributos mais fracos” do que nos países europeus com melhores desempenhos no Programme for International Student Assessment (PISA) de 2006, revela a investigação de Manuel Coutinho Pereira, do departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal.

O estudo, publicado ontem no Boletim Económico da instituição, debruça-se sobre os resultados na literacia matemática e de leitura dos alunos da União Europeia (UE), excepto a França, por falta de dados. Entre os 18 países da UE participantes no PISA, os alunos de 15 anos portugueses ficaram na 14.ª posição na literacia de leitura e na 16.ª em matemática. Estes “maus resultados não diferem muito dos obtidos em ciclos anteriores”, escreve o investigador.

Observando as habilitações e profissões dos pais, existe um hiato entre Portugal e os três países europeus com melhores desempenhos (Finlândia, Bélgica e Holanda). Por cá, cerca de um quarto dos alunos tem pelo menos um dos pais com uma ocupação intelectual especializada e cerca de um quinto tem pelo menos um dos progenitores com o ensino superior completo. Estas percentagens rondam os 60 por cento nos três países europeus mais bem posicionados no PISA, onde menos de cinco por cento diz que os pais têm só o 1.º ciclo, contra os quase 40 por cento dos progenitores portugueses.

Atitude passiva

Tendo em conta apenas o contexto socioeconómico dos alunos, contabilizado pela quantidade de livros que têm em casa, “os resultados confirmam que [estes] têm forte impacto nas pontuações dos testes”. Contudo, o impacto é menor para Portugal do que para os dois grupos de referência analisados no estudo – os três países com melhores desempenhos e os três com piores resultados (Espanha, Itália e Grécia).

Quanto à educação dos pais, também esta “é estatisticamente não significativa ou está no limiar da significância, o que contrasta com o forte impacto nos dois grupos de referência”, sobretudo no dos países com melhores desempenhos, aponta o relatório. Em Portugal, as justificações podem ser duas: os pais têm “uma atitude mais passiva” para com a educação dos filhos e a escola “tende a contrabalançar” as desigualdades entre os diferentes alunos.

Os países com melhor desempenho são mais ricos e têm uma proporção de alunos imigrantes ligeiramente maior do que Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Por cá, os imigrantes de segunda geração têm piores resultados do que os colegas imigrantes de primeira geração, embora a diferença não seja significativa. Mas isto significa que o impacto negativo “não se atenua à medida que as famílias ficam mais tempo no país”, refere.

Quanto às escolas, as portuguesas são maiores e têm maior proporção de repetentes do que as dos dois grupos de referência. Já se sabe que as que têm mais repetentes têm piores resultados e que as que têm mais raparigas, melhores. Por cá, o efeito da autonomia é pouco significativo. Só a quantidade de horas de aulas tem um “impacto positivo e estatisticamente significativo sobre o desempenho”. Esta parecer ser a “única variável onde intervenções ao nível dos recursos poderão trazer resultados positivos”, conclui o estudo.


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