TikTok poderá estar a prejudicar a capacidade de atenção das crianças, diz relatório
Abril 19, 2022 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Cérebro, Crianças, Défice de Atenção, Redes Sociais, Relatório, Saúde Infantil, TikTok
Notícia de pplware de 10 de abril de 2022.
Os psicólogos estão preocupados com o impacto que o TikTok pode estar a ter no cérebro das crianças e, por isso, têm surgido vários estudos. Desta vez, um relatório revela que a rede social pode estar a prejudicar o cérebro das crianças e a afetar de forma negativa a sua capacidade de atenção.
Conteúdos rápidos e dinâmicos promovem o desinteresse por atividades mais longas.
O consumo de redes sociais pelos mais novos é, a cada dia, normalizado. De entre as várias disponíveis, o TikTok é aquele que parece reunir mais adeptos, e os psicólogos estão preocupados. Por essa razão, têm levado a cabo estudos que comprovem as suas teorias.
De acordo com um relatório do The Wall Street Journal, mencionado pelo New York Post, a forma como as crianças estão a consumir as redes sociais, especialmente o TikTok, poderá estar a afetar a sua capacidade de atenção. Afinal, a rede social faz sucesso pelos vídeos curtos.
É difícil olhar para as tendências crescentes no consumo das redes sociais de todos os tipos, multitarefas e taxas de transtorno de hiperatividade com défice de atenção (THDA) nos jovens e não concluir que há uma diminuição da sua capacidade de atenção.
Disse Carl Marci, psiquiatra do Massachusetts General Hospital.
Embora a ligação entre as THDA e o tempo de ecrã não seja unânime, estudos sugerem que os vídeos acelerados e de curta duração que as crianças consomem são, em parte, responsáveis pelo desinteresse em atividades longas e que implicam prática recorrente.
Crianças estão habituadas à dinâmica do TikTok
O estudo que deu origem ao relatório examinou a influência que vídeos personalizados têm no cérebro, em comparação com vídeos aleatórios. As ressonâncias magnéticas dos participantes mostraram que a parte do cérebro associada ao vício despertava furtivamente aquando dos vídeos personalizados. Aliás, alguns utilizadores demonstraram dificuldade em controlar o momento em que deveriam parar de assistir.
Tendo em conta que atividades que requerem atenção e foco, como problemas de matemática, utilizam a parte do cérebro responsável pela tomada de decisões e controlo de impulsos (córtex pré-frontal), torna-se complicado para as crianças. Isto, porque, de acordo com o The Wall Street Jorunal, essa parte do seu cérebro só está completamente desenvolvida na idade adulta, a partir dos 25 anos.
A atenção dirigida é a capacidade de inibir as distrações e manter a atenção e de desviar a atenção adequadamente. Requer habilidades de ordem superior como planeamento e priorização.
Se os cérebros das crianças se habituam a mudanças constantes, o cérebro tem dificuldade em adaptar-se a uma atividade não digital onde as coisas não se movem tão depressa.
Explicou Michael Manos, diretor clínico do Center for Attention and Learning da Cleveland Clinic Children’s.
Na opinião de John Hutton, pediatra e diretor do Reading & Literacy Discovery Center do Cincinnati Children’s Hospital, o TikTok é “uma máquina dopaminérgica” e, se o objetivo é que as crianças prestem atenção, “elas precisam de praticar”.
Por sua vez, James Williams, um especialista em ética tecnológica e autor de “Stand Out of Our Light”: Liberdade e Resistência na Economia da Atenção, considera que é “como se tivéssemos feito as crianças viverem numa loja de doces e depois dizemos-lhes para ignorarem todos esses doces e comerem um prato de vegetais”.
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Surto inédito de hepatite em crianças alerta a comunidade científica internacional
Abril 19, 2022 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Crianças, Hepatite, Reino Unido, Saúde Infantil
Notícia de O Globo de 9 de abril de 2022.
Cerca de 60 casos da doença foram registrados em menores de 10 anos na Inglaterra. Na Escócia, mais 11 crianças foram hospitalizadas no último mês.
RIO — Uma misteriosa onda de casos de hepatite em crianças tem deixado pais em estado de alerta no Reino Unido. Os chefes de saúde não têm ideia do que levou dezenas de crianças a serem atingidas pela doença inflamatória do fígado. Até agora, foram contabilizados cerca de 60 casos no país, todos afetando crianças com menos de 10 anos, segundo uma reportagem do jornal britânico “Daily Mail”.
As investigações também estão em andamento sobre o que desencadeou a condição em 11 jovens na Escócia. Por lá, os pacientes — que foram hospitalizados — tinham entre um e cinco anos.
As hepatites A a E, cinco tipos comuns de infecções virais que causam a doença, não foram detectadas em nenhum dos casos.
Meera Chand, diretora de infecções clínicas e emergentes da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA), disse que “investigações para uma ampla gama de causas potenciais estão em andamento, incluindo possíveis ligações a doenças infecciosas”.
— Estamos trabalhando com parceiros para aumentar a conscientização entre os profissionais de saúde, para que quaisquer outras crianças que possam ser afetadas possam ser identificadas precocemente e os testes apropriados realizados — afirmou Meera.
A Covid, bem como uma “variedade de outras infecções”, estão sendo considerados como a causa, disse a UKHSA ao MailOnline. Mas não há ligação com a vacinação até porque as crianças mais afetadas são muito jovens para serem elegíveis para a vacina.
Meera acrescentou que os pais têm sido lembrados de estarem cientes dos sintomas de icterícia – incluindo a pele com uma coloração amarela que é mais facilmente vista no branco dos olhos – e entrar em contato com um profissional de saúde assim que perceberem anormalidades.
A UKHSA recusou-se a fornecer um detalhamento de onde os casos estão localizados. A hepatite geralmente não apresenta sintomas perceptíveis — mas podem incluir urina escura, fezes de cor cinza pálida, coceira na pele e amarelecimento dos olhos e da pele. As pessoas infectadas também podem sofrer dores musculares e articulares, febre e cansaço.
Quando a hepatite é transmitida por um vírus, geralmente é causada pelo consumo de alimentos e bebidas contaminados com as fezes de uma pessoa infectada ou pelo contato sexual ou por meio de sangue.
Na Escócia, os chefes de saúde disseram que o número de casos em um período tão curto de tempo, combinado com a disseminação geográfica e a gravidade da doença, era “incomum”. Atualmente, não há causas claras para os casos detectados em Lanarkshire, Tayside, Greater Glasgow e Clyde and Fife.
Os 11 casos hospitalizados na Escócia desde março são mais do que a média de sete a oito casos de hepatite não A a E registrados no país todos os anos. E a Public Health Scotland disse que nenhuma conexão clara entre os casos foi identificada.
Nicholas Phin, diretor de saúde pública da organização, disse que a investigação está em seus estágios iniciais.
— Se você tem um filho que mostra sinais de icterícia, onde a pele tem uma coloração amarela e é mais facilmente vista no branco dos olhos, os pais devem entrar em contato com seu médico ou outro profissional de saúde. Continuamos a investigar esses casos e forneceremos mais atualizações à medida que estiverem disponíveis — afirmou Phin.
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Como as crianças estão sendo afetadas pela covid longa
Abril 19, 2022 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Coronavírus COVID-19, Crianças, Saúde Infantil
Notícia da BBC Brasil de 10 de abril de 2022.
David Cox
BBC Future
Antes de ficarem doentes, as crianças atendidas pelo pediatra Danilo Buonsenso no Hospital Universitário Gemelli, em Roma, na Itália, eram ativas e animadas. A maioria praticava esportes e participava de atividades depois da aula na escola, até pegar covid-19.
Meses após terem aparentemente se recuperado da infecção viral inicial, as crianças seguiram sofrendo com uma série de sintomas que as impedem de retomar sua vida normal.
“A maioria das crianças que eu vi era completamente saudável antes da covid. Elas praticavam esportes e atividades fora da escola”, afirma Buonsenso.
“E, agora, elas não conseguem voltar para sua rotina escolar normal porque têm dor de cabeça ou dificuldade de concentração depois de algumas horas.”
Buonsenso foi o primeiro médico a pesquisar se as crianças seriam vulneráveis à covid longa. Como muitos pediatras, ele observou crianças com sintomas persistentes de fadiga, insônia, dor nas articulações, problemas respiratórios, erupções na pele e palpitações cardíacas, que podem permanecer por meses depois de debelada a infecção.
Buonsenso afirma que é fundamental que as crianças não sejam deixadas para trás nos estudos de doenças pós-covid. Ele indica que, da mesma forma que acontece com os adultos, mesmo as crianças que são assintomáticas ou apresentam a forma leve da doença podem desenvolver problemas duradouros.
Acreditava-se que as crianças, de forma geral, seriam menos vulneráveis aos efeitos de longo prazo da covid-19 e que, quanto mais novas, menor seria o risco. O motivo poderia ser o fato de que as crianças mais novas possuem menos receptores ACE2 — a porta de entrada que o vírus usa para invadir as nossas células pelo nariz e pelo trato respiratório.
Mas o surgimento da variante ômicron — que é mais infecciosa que as formas anteriores de covid-19 — e da sua nova subvariante BA.2, aumentou em muito a proporção de crianças infectadas pelo vírus.
Segundo um relatório dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, as taxas de internação hospitalar por covid-19 entre crianças e adolescentes com menos de 17 anos aumentaram rapidamente no fim de dezembro de 2021, quando a variante ômicron começou a se alastrar. Isso foi particularmente observado entre crianças de 0 a 4 anos, que ainda não podem ser vacinadas.
Comportamento similar foi verificado no Reino Unido, onde as estatísticas indicavam, no início de fevereiro de 2022, que havia tido um aumento da proporção de crianças internadas em hospitais com covid-19 durante a onda de ômicron, especialmente com menos de um ano.
Embora a ampla maioria das crianças se recupere rapidamente, os especialistas ainda estão preocupados com os primeiros sinais que indicam que as taxas de covid longa entre elas podem estar aumentando.
“Estamos observando atualmente um crescimento do número de crianças diagnosticadas com condições pós-covid”, afirma Carlos Oliveira, pediatra responsável pelo programa de atenção pós-covid do Hospital Infantil Yale New Haven em Connecticut, nos Estados Unidos.
“No nosso hospital, por exemplo, o número de crianças e adolescentes diagnosticados com condições pós-covid neste mês [janeiro] já é mais de três vezes superior ao verificado nos meses de verão (do Hemisfério Norte). Outros países estão observando tendências similares.”
Isso é confirmado pelos dados mais recentes do Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido, que concluiu que o número de crianças com menos de 16 anos que relataram apresentar covid longa de qualquer duração aumentou de 77 mil em outubro de 2021 para 119 mil em janeiro de 2022.
Para atender a este forte aumento do fluxo de pacientes, o Reino Unido criou 15 centros pediátricos especializados para fornecer tratamento pós-covid. Os Estados Unidos e vários outros países estão fazendo investimentos similares.
O Hospital Infantil de Los Angeles recebeu US$ 8,3 milhões (R$ 39,7 milhões) em auxílio, especificamente para estudar a covid longa em crianças e adultos jovens, como parte de uma iniciativa nacional chamada Recover, que pretende desvendar os mistérios em torno das sequelas da covid-19.
O risco aparentemente mais alto de covid longa em crianças também vem sendo usado para defender o aumento da vacinação de crianças contra a doença. Estudos em adultos associaram a vacinação contra a covid-19 à redução do risco de desenvolvimento de sintomas da covid longa.
Mas, enquanto os EUA, o Reino Unido e muitos outros países europeus, como a França e a Espanha, estão agora vacinando crianças de 5 a 11 anos, os imunizantes ainda aguardam autorização para uso em crianças com menos de 5 anos.
Mas uma das principais questões continua sendo tentar descobrir o quão comum a covid longa é em crianças.
Cientistas da University College de Londres (UCL), no Reino Unido, revelaram recentemente a primeira definição padronizada desta condição, como sendo um conjunto de sintomas que prejudicam o bem-estar físico, mental ou social das crianças e persistem por pelo menos 12 semanas após o primeiro teste positivo para covid-19.
A expectativa é de que esta definição facilite o estudo da evolução da doença e seus vários desdobramentos, permitindo que os pesquisadores compreendam precisamente por que muitas crianças são afetadas.
Em setembro de 2021, pesquisadores da UCL e da agência governamental de saúde pública Public Health England divulgaram algumas das primeiras respostas concretas, depois de examinarem 3.065 pacientes de 11 a 17 anos que testaram positivo para covid-19 entre janeiro e março de 2021.
Concluiu-se que de 2% a 14% dos adolescentes ainda sofriam de fadiga, falta de ar e dores de cabeça persistentes 15 semanas depois do teste PCR positivo — em um percentual maior do que um grupo controle que testou negativo para o vírus.
Na mesma época, o Ministério da Saúde de Israel publicou uma pesquisa mostrando que 11,2% das crianças relataram sintomas de covid longa como parte da sua recuperação, enquanto de 1,8 a 4,6% continuaram a apresentar sintomas seis meses depois.
Pediatras responsáveis por clínicas pós-covid acreditam que a incidência, na verdade, varia na faixa de 10%. Mas outros cientistas indicam que os dados são frágeis pelo fato de que mais da metade das crianças sem covid-19 também apresentou dores de cabeça, fadiga, distúrbios do sono e problemas de concentração durante a pandemia.
Muitas pesquisas sobre sintomas pós-covid persistentes em crianças não comparam crianças infectadas com covid-19 com grupos de controle não infectados, o que poderia gerar uma sobrerrepresentação da incidência dos sintomas.
Por isso, muitos cientistas acreditam que ainda são necessários estudos mais rigorosos para determinar com precisão o verdadeiro risco da covid longa, particularmente com a variante ômicron. E é provável que, à medida que mais crianças sejam vacinadas contra covid-19, os números se alterem.
Para Buonsenso, seja qual for a verdadeira incidência de covid longa em adolescentes e crianças mais novas, o número elevado de infecções pelo vírus significa que muitas pessoas nesta faixa etária estão sofrendo.
“Mesmo se a incidência da covid longa for de 2%, por exemplo, ainda será um número muito alto se considerarmos as centenas de milhares de crianças que estão contraindo covid”, diz ele.
Por que razão exatamente as crianças desenvolvem sintomas da covid longa ainda é outro mistério.
Oliveira contou à BBC que, em alguns casos, as crianças podem apresentar lesões nos órgãos provocadas pelo Sars-Cov-2, o vírus causador da covid-19. Ele pode invadir o coração ou o pâncreas, causando pericardite ou pancreatite — a inflamação destes órgãos respectivamente, que pode levar a problemas respiratórios e outras complicações de longo prazo. Mas isso é relativamente raro.
Há diversas teorias para explicar a ocorrência de covid longa em adultos, que vão da reativação de um vírus dormente até fragmentos virais persistentes dentro do corpo e reações autoimunes induzidas pelo vírus, com os chamados autoanticorpos se ligando a células em diferentes tecidos.
O mesmo poderia acontecer em crianças, mas outra ideia que vem sendo considerada como possível mecanismo para a covid longa em crianças e adultos é o fato de que o vírus prejudica o sistema circulatório.
“A hipótese mais comentada atualmente são alterações inflamatórias em pequenos vasos sanguíneos, que mais tarde geram distúrbios nos órgãos”, afirma Jakob Armann, pediatra da Universidade de Tecnologia de Dresden, na Alemanha, que vem coletando amostras de sangue de alunos do ensino médio para tentar identificar as possíveis causas da covid longa.
“Mas ainda não há dados confiáveis em crianças para comprovar isso”, diz ele.
Oliveira não está convencido de que os processos que causam a covid longa em crianças são sempre iguais aos dos adultos. Um dos motivos é o fato de que os perfis dos sintomas são levemente diferentes em adultos e crianças.
Muitos adultos apresentam névoa mental e outros problemas neurológicos — e acredita-se que estes sintomas sejam ocasionados, em alguns casos, pela presença de autoanticorpos (anticorpos que atacam os próprios tecidos do corpo). Mas Oliveira afirma que os principais sintomas da covid longa em crianças tendem a ser fadiga, dor de cabeça, tontura e dor nas articulações e nos músculos.
“Digamos que os autoanticorpos sejam a principal causa desta doença. Estes autoanticorpos deveriam ser produzidos independentemente da idade”, diz ele.
“Por isso, a incidência da covid longa deveria ser a mesma em todas as idades. Mas não é o que observamos — a incidência é menor nas crianças.”
Oliveira indica um estudo que concluiu que crianças pequenas que vão ao médico com inflamações pós-covid tendem a ter um biomarcador no sangue que é associado ao intestino permeável — condição digestiva que pode permitir que os micróbios do intestino se infiltrem na corrente sanguínea.
Ele sugere que, embora a covid-19 seja predominantemente uma doença respiratória nos adultos, ela pode ser mais um problema gastrointestinal em uma parcela de crianças susceptíveis, nas quais as partículas virais residem no intestino até que sejam reabsorvidas pelo sangue e causem problemas.
“Sabemos que crianças e adultos podem eliminar DNA do vírus pelas fezes por vários meses. Por isso, é uma ideia razoável que a reexposição aos vírus mortos devido ao intestino permeável acione um processo inflamatório súbito”, afirma.
“Se isso realmente for verdade, poderemos testar crianças infectadas para determinar intestino permeável e ver se podemos prever quem é mais propenso a ter problemas, o que seria ótimo.”
Mas, assim como acontece com os adultos, provavelmente existe mais de uma explicação.
Buonsenso está atualmente colaborando com o Instituto Karolinska, na Suécia, para observar se as crianças com covid longa parecem ter algum distúrbio genético óbvio.
Já Daniel Munblit, pediatra especializado da Universidade Sechenov, em Moscou, na Rússia, vem investigando se há alguma relação entre a susceptibilidade a alergias e a vulnerabilidade à covid longa.
Nas últimas duas décadas, uma das principais teorias por trás das alergias é um desequilíbrio dos glóbulos brancos do sangue, especificamente as células Th1 e Th2. As células Th1 agem como a primeira linha de defesa contra invasores externos e geram inflamações em reação a patógenos, enquanto as células Th2 são a segunda linha de resposta e produzem anticorpos.
Em um sistema imunológico funcional, estes dois grupos de células trabalham juntos para manter o sistema equilibrado. Mas, em alguns indivíduos susceptíveis, um grupo se torna dominante, o que pode gerar reações excessivas a um vírus ou outros estímulos externos, resultando em alergias e outras doenças autoimunes.
Munblit acredita que esta poderá ser uma possível causa dos sintomas pós-covid.
“Descobrimos que crianças com histórico de alergia são mais propensas a desenvolver covid longa”, diz ele.
“Mas estou estudando isso com cuidado até termos mais evidências, já que infelizmente os pais tendem a exagerar nos relatos de doenças alérgicas dos filhos, de forma que precisamos de mais estudos.”
Embora a constatação de que a covid longa pode afetar as crianças tenha assustado pais em todo o mundo, Buonsenso faz questão de tranquilizar as famílias. Ele afirma que, na grande maioria dos casos, elas se recuperam em poucos meses, o que significa que não há impacto a longo prazo em sua educação e desenvolvimento.
Mas há casos de crianças que permanecem doentes por mais de seis meses após a infecção inicial. Especialistas do Centro Médico Infantil Schneider, em Israel, relataram recentemente casos de crianças com covid longa que desenvolveram problemas crônicos, como asma e perda de audição, e de bebês que reverteram seu desenvolvimento, deixando de andar para engatinhar devido às dores musculares.
“Eu diria no momento que de dois terços a três quartos das crianças com covid longa se recuperam após três meses, mas existe um grupo de cerca de 10 a 20% que não se recupera espontaneamente”, diz Buonsenso.
“E ainda não sabemos se algumas destas crianças vão sofrer sequelas por um prazo mais longo, como acontece com o sarampo e outras infecções virais.”
Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos lançaram um estudo que vai rastrear até 1 mil crianças e jovens adultos que testaram positivo para covid-19 e acompanhá-los por até três anos, para investigar eventuais consequências de longo prazo para sua saúde e qualidade de vida.
Os médicos também estão pesquisando se a aplicação de vacinas contra covid-19 em crianças que sofrem de covid longa pode ajudar a reduzir os sintomas, como se observou em adultos. Oliveira afirma que este é um tratamento comprovadamente bem-sucedido para algumas crianças que ainda possuem partículas virais em algumas partes do corpo.
“A ideia é que, se existem partes remanescentes do vírus no corpo, a vacina pode fazer com que elas sejam eliminadas”, explica.
“Atendi diversas crianças que tinham sintomas persistentes, e nem todas melhoram. Mas a maioria apresentou resolução total ou parcial dos seus sintomas.”
“Atendi uma criança com fortes dores abdominais por meses, além de outros sintomas como dor de cabeça e febre. Depois que ela tomou a vacina, suas dores de cabeça e abdominais desapareceram por completo, mas a febre permaneceu. Dois dos três sintomas desaparecerem, para mim é uma vitória”, relata Oliveira.
Além disso, continua a ser uma questão de tentar aliviar os problemas da melhor forma possível. Alguns sintomas, como tontura, podem ser tratados com medicações para reduzir os batimentos cardíacos, enquanto Oliveira encaminha crianças com dores crônicas para especialistas em comportamento cognitivo, que podem tentar ajudar a encontrar formas de lidar com as mesmas.
Outros especialistas esperam que o aumento das pesquisas dedicadas à covid longa em crianças possa ajudar a esclarecer as complicações de longo prazo que podem resultar de outras infecções virais da infância.
Sabe-se, por exemplo, que o vírus sincicial respiratório (RSV) pode gerar asma, e que os vírus Influenza e Epstein-Barr também podem causar doenças crônicas em um pequeno percentual de crianças.
Henry Balfour, especialista em pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, acredita que todas estas condições pós-virais podem decorrer de fraquezas similares no código genético.
“Acho que todos esses problemas estão relacionados às diversas formas de desregulação imune e podem ter um ancestral comum nos nossos genes que vale a pena ser examinado”, afirma.
Mas, para muitos pais e mães, como Sammie McFarland, que fundou a organização britânica Long Covid Kids depois que sua filha Kitty, de 15 anos, desenvolveu sintomas de covid longa, tem sido reconfortante ver mais médicos e formuladores de políticas levando o problema mais a sério nos últimos meses.
Em entrevista à BBC em 2021, McFarland contou que, quando descreveu a doença da filha pela primeira vez para uma enfermeira, ouviu que ela queria chamar a atenção, enquanto muitos outros pais foram informados que os problemas dos filhos eram psicológicos.
“Isso passou a ser uma preocupação desde que o Royal College of Paediatrics and Child Health [organização de pediatras do Reino Unido] publicou um artigo indicando que as famílias estavam relatando sintomas aos médicos, com uma discussão sobre doenças inventadas”, diz McFarland.
“E existe a brigada da positividade tóxica, que acha que o pensamento positivo cura a covid longa. É claro que a positividade desempenha um papel importante em qualquer recuperação, mas ela não cura órgãos lesionados.”
Embora a covid longa possa afetar apenas uma parcela relativamente pequena das crianças, Buonsenso afirma que, ainda assim, os números são tão expressivos que o mundo não pode se dar ao luxo de ignorar seu sofrimento.
“Sei que é menos frequente nas crianças, mas acho muito difícil fechar os olhos para tantos pacientes que relatam esta condição”, diz ele.
“Está começando a criar problemas para os sistemas nacionais de saúde, pois é muito caro e complicado cuidar de crianças com tantas comorbidades. Vivenciamos problemas de longo prazo no passado com Epstein-Barr e outras infecções virais, mas a principal diferença agora é que milhares de pacientes estão lutando para retomar suas vidas.”
Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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