Regresso às aulas. Educação Física é a maior dúvida mas já se prepara novo modelo

Julho 29, 2020 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 14 de julho de 2020.

As novas orientações do Governo para as escolas não contemplam a disciplina e o seu futuro continua uma incógnita. Como aprender basquetebol sem tocar nos outros membros do jogo? Utilizar o balneário é permitido? A confederação que representa os profissionais da Educação Física já está a preparar “um conjunto de orientações e recomendações para as escolas”.

A preocupação está instalada nas escolas. “Os professores de Educação Física estão ansiosos” com o próximo ano letivo, assegura Filinto Lima, dirigente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). Depois de decretada a suspensão das aulas presenciais em março, devido à pandemia de covid-19, todos os docentes, alunos e famílias foram obrigados a adaptar-se a uma nova realidade de ensino à distância. Uma tarefa dificultada para estudantes e professores de Educação Física, habituados a um currículo mais prático e com a envolvência de contacto, por força do ensino das modalidades coletivas. Entre todas, “foi a disciplina mais prejudicada”, não hesita em dizer o presidente do Conselho Nacional de Profissionais de Educação Física e Desporto (CNAPEF), Avelino Azevedo.

Findo o ano letivo que passou, as dúvidas mantêm-se. Embora, na semana passada, o Ministério da Educação tenha feito chegar às escolas diversas orientações sobre o funcionamento do próximo ano letivo, esta unidade curricular ficou de fora do documento e continua uma incógnita. O representante da ANDAEP indica que a Educação Física é, atualmente, “a disciplina que está menos definida quanto ao futuro”. “Como é que as aulas vão ser dadas?”, levanta o debate. “Está tudo por se saber ainda” e, até arrancarem as aulas, diz Filinto Lima, “a audição [por parte do ministério] das confederações [representativas da Educação Física] é essencial.”

A CNAPEF já vê, contudo, a luz ao fundo do túnel e garante que levar a Educação Física para as escolas em setembro sem alterar o plano curricular não se trata de uma missão impossível. O presidente Avelino Azevedo adiantou, em entrevista ao DN, que a confederação já está a preparar “um conjunto de orientações e recomendações para as escolas”.

“Há várias formas de ensinar a mesma coisa”

Sem adiantar parte das medidas que deverão ser anunciadas em breve, Avelino Azevedo garante que contemplam o desafio a que a disciplina se propõe, embora de forma menos tradicional. Ainda que “as pessoas associem o ensino da educação física ao ensino das modalidades coletivas e da situação de jogo, nós passamos por um processo de aprendizagem [o ensino à distância] em que conseguimos manobrar perfeitamente o contacto com o material, o contacto físico e o contacto nos balneários”, diz.

A Educação Física ensina as modalidades, “é certo”, “mas não tem as mesmas regras que têm as modalidades”. “O que é que eu quero dizer com isto? Que há várias formas de ensinar a mesma coisa, sem envolver o contacto físico com os colegas e o material” disponibilizado pela escola para o desporto. E deixa um exemplo: “Eu posso ensinar basquetebol fazendo um campeonato por skills, ver quem encesta mais vezes a sua bola.”

Além disso, entre as várias modalidades coletivas, os professores podem “selecionar aquelas que considerem ser as que menos põem em risco os alunos no processo de ensino de aprendizagem” e ajustável ao novo plano de aulas.

Filinto Lima garante que a segurança não será posta em causa. “Pretendemos que as aulas ocorram de forma segura e adaptada à realidade de cada escola, daí eu entender por que é o Ministério da Educação não deu orientações específicas às escolas, porque funcionam em realidades diferentes e têm de se fazer valer da sua autonomia. Autonomia também é responsabilizar e é preciso responsabilizar os seus professores e os diretores no sentido de se criar condições para que o ensino seja efetuado de forma segura e seguindo as orientações da Direção-Geral da Saúde. Se disser que é preciso manter dois metros entre alunos, vamos fazer isso“, remata.

Outra das preocupações das escolas passa pela utilização dos balneários, à semelhança do que ocorreu com os ginásios, obrigados a suspender os banhos nas suas instalações. O presidente da CNAPEF adianta, contudo, que “há várias formas de ultrapassar esta questão” e deve partir da organização de cada escola e dos horários elaborados para as turmas. “Se os alunos tiveram aulas no final do turno, vão logo para casa, como alguns já fazem. Ou então, têm aulas só de Educação
Física à tarde”, lança a hipótese.

E se o aluno morar longe do estabelecimento de ensino e tiver os transportes limitados para ir a casa tomar banho e regressar à escola? “A ideia é prever um número de alunos reduzido a utilizar os balneários”, responde.

Pico de infeções pode “deitar tudo a perder”

Portugal continua com infeções da ordem de duas ou três centenas por dia, totalizando já 46 818 infetados pelo novo coronavírus e 1662 mortes. Segundo a Direção-Geral da Saúde, há a possibilidade de um pico de contágios em outubro, mudança de estação, altura em que as fragilidades na saúde dos cidadãos se tornam mais visíveis. A acontecer, os planos das escolas poderão mudar e regressarem as aulas à distância. Para a disciplina de Educação Física, seria como “deitar tudo a perder”, alerta Filinto Lima, da ANDAEP. Porque embora as restantes disciplinas ganhem espaço de manobra, esta ficará sempre mais condicionada.

Para já, o plano é regressar às escolas e às aulas presenciais entre 14 e 17 de setembro, prolongando o ano letivo (com exceção dos alunos com exames) para recuperação das aprendizagens e diminuindo a pausa letiva da Páscoa.

Mas o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, alerta: “Temos de nos preparar para o pior.” O que implica prever três regimes nas escolas: presencial, não presencial e misto. Estes dois últimos só deverão ser acionados em caso de necessidade temporária, no caso de um encerramento forçado pela pandemia.

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