Libertem as Crianças : a urgência de brincar e ser ativo, de Carlos Neto, dia 6 de novembro nas livrarias

Novembro 4, 2020 às 8:00 pm | Publicado em Livros | Deixe um comentário
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Mais informações no link:

https://www.contrapontoeditores.pt/produtos/ficha/libertem-as-criancas/24338217

Odisseia de Homero em banda desenhada

Outubro 16, 2020 às 6:00 am | Publicado em Livros | Deixe um comentário
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Mais informações e outros títulos:

https://www.fnac.pt/e46879/Levoir

“Nenhuma criança se estraga por excesso de mimo; estraga-se muita gente por falta dele”

Julho 11, 2020 às 2:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 25 de junho de 2020.

Os dois livros que o pediatra Hugo Rodrigues lança recentemente juntam-se aos esforços de partilhar conhecimento em saúde que tem desenvolvido quer no site “Pediatria para Todos”, quer no seu canal de YouTube.

Hugo Moreira

Seguir a carreira médica não era algo com que Hugo Rodrigues sonhasse desde criança e a escolha da especialidade surgiu já estudava no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, na Universidade do Porto. Aliás, explica entre risos, a pediatria, “teoricamente, seria das últimas opções” que colocaria quando entrou​ na faculdade. Contudo, a oportunidade de poder “apostar na prevenção e na promoção da saúde” convenceram-no. Hoje, aos 40 anos, diz não ter dúvidas de que tomou as decisões acertadas.

Natural de Viana do Castelo, onde exerce na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, é também docente na Escola de Medicina da Universidade do Minho e na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, além de formador pelo European Ressuscitation Council na área de Emergências Pediátricas. Ao mesmo tempo que considera um dever dos profissionais de saúde “sair dos consultórios” e educar a população, revela que o papel principal da sua vida é ser pai de dois filhos, de 9 e de 11 anos, cujos nascimentos lhe trouxeram uma nova visão da pediatria. Ávido defensor da vacinação, dá espaço para que os pais tomem as suas próprias decisões, desde que munidos de informação e não apenas opiniões.

A sua função enquanto comunicador de saúde faz-se através do site Pediatria para Todos e do seu canal de YouTube, mas o médico aventura-se agora pelo mundo dos livros com duas publicações, uma dedicada aos pais e outra aos filhos. Enquanto O Livro do Seu Bebé é um guia prático dos primeiros mil dias de vida, O Livro Mágico do Avô João tenta ajudar a explicar temas complexos aos mais novos.

É importante que os especialistas comuniquem de forma directa e aberta com o público?
Eu acho que a comunicação é um dever nosso enquanto médicos. Nós temos conhecimento específico sobre uma área e temos o dever de o divulgar para aumentar o nível de saúde da população. Sempre achei que tínhamos de sair dos consultórios, dos hospitais e aproximarmo-nos da população. O site “Pediatria para Todos” cresceu a partir daí. Foi um projecto que idealizei enquanto interno, mas que não consegui concretizar na altura. Mal acabei a especialidade achei que deveria seguir esse caminho.

Hoje em dia temos muita informação e muitos locais onde os pais a podem ir buscar. Se nós temos informação específica e técnica do nosso lado, por que não sermos nós a divulgá-la, em vez de serem pessoas que divulgam mais opinião do que propriamente conhecimento? Para além de um dever, é um prazer comunicar e poder informar e aumentar a literacia em saúde.

Nesta altura, além de exercer pediatria, gere o site, o canal de YouTube, agora lançou dois livros… Considera-se o Brazelton português?
(Risos) Não sou muito de comparações. Gosto muito do que faço, mas, acima de tudo, sou pai. Esse é o papel que destaco mais e que me ajuda muito no meu percurso profissional. Ter sido pai foi uma aprendizagem que coincidiu com a formação em pediatria, enquanto era interno. Foi um marco decisivo. O Brazelton foi um pediatra que marcou a história da pediatria moderna a nível mundial. Não tenho essa pretensão, mas, se puder ajudar pessoas, é para isso que trabalho todos os dias.

Como é que ser pai alterou a sua visão da pediatria?
Permitiu-me estar do outro lado da barricada e compreender por que é que os pais têm algumas questões. Por outro lado, pude ter conhecimento de causa das etapas do desenvolvimento, dos produtos que se vão utilizando, dos cuidados a ter no dia-a-dia, aqueles aspectos que só com a prática é que vamos adquirindo. Acho que foi uma mais valia perceber que, apesar de ser pediatra, enquanto pai também tenho as minhas questões, também tenho momentos em que não acerto como todos. Isso é mesmo assim.

E o que é que mudou na pediatria desde Brazelton?
Acho que Brazelton veio abrir mentalidades. Não foi ele que mudou a pediatria. O que nós temos de perceber é que a pediatria de agora é muito diferente da pediatria de há 30 ou 40 anos, que era muito centrada na doença. Havia muitas doenças graves e uma mortalidade infantil muito significativa. Nós conseguimos, ao longo das últimas décadas, melhorar drasticamente o panorama da mortalidade infantil muito à custa das condições socioeconómicas e das condições higieno-sanitárias da população, mas também muito à custa da vacinação e dos cuidados de prevenção. Por causa disso, a carga enorme que as doenças tinham no dia-a-dia médico dos pediatras foi diminuindo e abriu disponibilidade para estarmos atentos a outros aspectos do dia-a-dia que são igualmente importantes e que promovem a saúde como um todo.

Tais como?
O comportamento, o sono, a alimentação, o desenvolvimento, o bem-estar emocional… Tudo aspectos fulcrais no dia-a-dia das crianças. A definição de saúde, que antes era só a ausência de doença, neste momento é muito mais vasta: o bem-estar físico, psicológico, social, emocional, sexual. Faz tudo parte de um conceito muito mais global de saúde e que é o que devemos promover. Brazelton teve essa ousadia, essa visão pioneira de perceber que o caminho iria passar por essa definição mais larga de saúde. Não tenho dúvida nenhuma: a pediatria moderna é uma pediatria muito mais comportamental. Já não é uma pediatria de doenças.

A falta de vacinação é uma preocupação nos nossos dias? Chegam-lhe muitos casos de pais que têm dúvidas ou não querem vacinar os filhos?
Felizmente, em Portugal, a falta de vacinação não é um problema muito grave. Infelizmente, é um problema que tem tendência crescente. Cabe-nos a nós, mais uma vez, sair dos consultórios e hospitais e, com toda a certeza que a ciência nos traz — porque a ciência é inequívoca quanto aos benefícios da vacinação —, sermos vectores de comunicação correcta e fiável, assente em estudos científicos e não em ideias que surgem sabe-se lá de onde. Não vacinar é uma decisão individual, podemos aceitar isso, mas pode ser uma decisão irresponsável porque vai comprometer a saúde não só dos próprios filhos como de toda a gente.

Como é que se lida com um pai que chega ao consultório e diz abertamente que não quer vacinar o filho?
O público não tem esta percepção, mas a esmagadora maioria das pessoas que se posiciona contra as vacinas são os chamados ‘indecisos’. Ou seja, há pouca gente efectivamente contra as vacinas. Temos é uma franja relativamente grande de pessoas indecisas que se posiciona mais no lado contra as vacinas, mas estão sensíveis a ouvir outra opinião. É a essa franja da população que nós temos de chegar, não é à minoria que é claramente contra. Essa já tem as suas ideias preconcebidas. Faz sentido passar-lhes a informação, mas não vamos conseguir mudar a sua forma de pensar. Quando me chegam ao consultório com essas dúvidas, tento explicar os prós e contras da vacinação, estar disponível para ouvir os argumentos que me dão e tento, dentro do possível, desconstruir e perceber onde estão as falhas desses argumentos. Os argumentos contra a vacinação são todos desmontáveis, mas quando ditos com certeza parecem muito fortes.

E essa é uma das funções do seu trabalho enquanto comunicador?
Exactamente. Mostrar de forma inequívoca aquilo que sabemos sobre as vacinas hoje em dia. Temos a ciência do nosso lado. Só temos é de o saber transmitir e mostrar as falhas nos argumentos do outro lado.

Muitas vezes as redes sociais funcionam como propagadoras de todo o tipo de argumentos. A Internet veio trazer mais riscos que benefícios à parentalidade?
Isso é uma óptima pergunta. Eu faço a minha parte para melhorar esse rácio. Acho que veio trazer muita informação e muita desinformação ao mesmo tempo. As redes sociais e os profissionais de saúde em conjunto vieram fazer algo que não era um objectivo, mas que está a acontecer: castrar o poder de decisão dos pais. Isso não é correcto. Nós temos de passar a informação, é verdade, mas há sempre espaço para que os pais, com todas as informações que vão recolhendo, possam tomar as suas decisões. Se nós castrarmos essa capacidade de decisão, vamos estar a tirar algum sentido crítico acerca do que se vai lendo e, aí sim, pode ser mais prejudicial do que benéfico.

Há uma indústria em torno do bebé…
Ui… (risos)

Cadeirinhas, biberões, mesas… Como é que se distingue o que é realmente essencial?
É muito difícil porque é uma área em que as pessoas estão muito sensíveis e acabam por ceder em alguns aspectos por falta de experiência. De uma forma simples, os pais podem pensar: será que eu ofereceria este produto a um amigo meu que tivesse um filho? Será que isto lhe seria útil? Assim provavelmente vão conseguir perceber a relevância de determinados produtos.

Aparelhos electrónicos e crianças, a questão não é nova, mas agudizou-se com a pandemia. Como é que vê a entrada dos ecrãs cada vez mais cedo na vida das crianças?
Até aos 2 anos, não há vantagem nenhuma em introduzir ecrãs no dia-a-dia das crianças. Claro que com a pandemia damos espaço às videochamadas, tentar aproximar quem está distante e eu percebo essa intenção, mas isso é muito mais útil para os adultos do que para as crianças. Um bebé de oito meses pode reagir um bocadinho ao ver a cara da mãe ou do avô num ecrã, mas não vai sentir o mesmo que os adultos. Tirando isso, até aos 2 anos, o tempo de ecrã deveria ser zero. Não traz vantagem nenhuma em termos de desenvolvimento, aliás, traz desvantagens. A partir dos dois anos, é um pouco diferente. Já há jogos e aplicações que podem estimular algumas áreas do desenvolvimento e que podem ser úteis desde que sejam bem seleccionadas em termos de conteúdos e de quantidade de tempo dispendido. Diria que uma hora já é demais e uma hora em ecrãs passa muito rápido.

Há pais que utilizam estes dispositivos para ocupar os filhos. Mas é da opinião de que as crianças precisam de ficar aborrecidas de vez em quando
Exactamente.

Porquê?
A nossa tendência enquanto cuidadores é estar sempre a salvar as crianças do aborrecimento. “Coitadinhas das crianças, não podem estar sem nada para fazer.” Estamos constantemente a intrometermo-nos na capacidade de decisão delas sem pensar no que estamos a boicotar. Quando estamos a evitar que a criança passe por momentos em que não tem nada para fazer, estamos a castrar-lhes a criatividade e a limitar muito a sua capacidade de imaginar soluções para os problemas. Não ter nada para fazer, para uma criança, pode ser um problema, mas ela é capaz de encontrar mil e uma soluções. Aliás, basta uma tampa de uma garrafa que já dá para brincar. As crianças precisam efectivamente de ter momentos em que estão aborrecidas. Não no sentido de as chatear, como é lógico, mas no sentido de as ajudar a descobrirem-se a si próprias e a descobrirem estratégias para ultrapassar os desafios que vão surgindo.

Ao mesmo tempo considera que “não existe mimo a mais”
Sempre que os pais ouçam que estão a dar mimo a mais aos filhos, não liguem. O mimo, o contacto físico, o carinho são necessidades básicas de todas as crianças, principalmente de bebés e crianças pequenas. Os mais novos precisam de contacto físico para se sentirem seguros e tranquilos. Só assim é que vão ser felizes. Mimo a mais é um disparate, não existe. Nós devemos dar todo o mimo que pudermos às nossas crianças. Isto vai fazer com que cresçam mais felizes e até mais saudáveis porque está provado que o equilíbrio emocional é fundamental para uma boa saúde física. Nenhuma criança se estraga por excesso de mimo; estraga-se muita gente por falta dele. Contudo, mimo a mais e regras podem e devem coexistir no mesmo ambiente. Ou seja, dou todo o mimo e carinho, mas há momentos em que vou estabelecer limites às atitudes dos meus filhos.

Quais são as principais dúvidas dos pais que tenta responder com O Livro do Seu Bebé e porquê o enfoque nos primeiros mil dias de vida das crianças?Os primeiros mil dias correspondem ao tempo que dura a gravidez e os primeiros dois anos de vida. A investigação científica tem demonstrado que este é um período crítico em termos de crescimento, desenvolvimento e programação futura da saúde das crianças. Dou exemplos muito simples: uma criança aos 2 anos tem aproximadamente metade da altura que vai ter na idade adulta. O cérebro tem cerca de 80% do tamanho que irá ter. Estamos a falar de uma altura em que o crescimento físico e, sobretudo, o crescimento cerebral, e tudo o que isso acarreta, se desenvolvem drasticamente. Por outro lado, é também no período entre a gravidez e os 2 anos em que a criança vai desenvolver a maior parte das competências que vão ser úteis no futuro e que vão servir de base à sua inteligência, à sua habilidade motora, à habilidade social. Nesses primeiros mil dias vamos conseguir dotar a criança de um reportório de competências que vão fazer dela muito mais capaz seja do ponto de vista pessoal, seja do ponto de vista social. Este é um período crítico de programação futura. Nós conseguimos, com algumas atitudes relativamente simples no dia-a-dia das crianças, alterar a expressão dos genes e o funcionamento das células para toda a vida. Para mim faz todo o sentido comunicar estes conhecimentos e fazer com que os pais percebam que este início de vida pode fazer toda a diferença no futuro da saúde dos seus filhos.

O livro tem um cariz muito prático. Isso pode evitar idas desnecessárias ao pediatra? Vai-se demasiado ao pediatra?
O objectivo é dotar os pais de um conhecimento muito alargado e com conselhos que possam efectivamente pôr em prática no seu dia-a-dia. Claro que se as pessoas tiverem mais conhecimento, vão recorrer menos aos serviços de saúde, mas nunca foi um objectivo do livro substituir consultas médicas, tal como o site não tem essa pretensão. Isso não seria responsável. Se me pergunta se as pessoas vão demasiado ao pediatra, eu colocaria a questão de outra forma: se as pessoas recorrem demasiado aos serviços de urgência dos hospitais. E aí eu acho que sim. Acho que uma percentagem muito significativa das nossas idas às urgências são situações que não necessitam propriamente do recurso a um hospital. Contudo, entendo que da forma como está estruturado o Sistema Nacional de Saúde, nós praticamente só temos pediatras nos hospitais. Os outros são privados, têm um custo acrescido. Assim eu percebo que as pessoas se sintam mais seguras em ir às urgências.

Como pai, compreende o outro lado da secretária do consultório…
Percebo. Acima de tudo, temos de valorizar as queixas que nos colocam. Mesmo que pareçam descabidas, as pessoas colocam porque são importantes para elas naqueles momentos. Mais do que achar as queixas descabidas, nós temos de passar informação correcta que ajude os pais a descobrir que essas preocupações não são assim tão preocupantes.

Numa altura que lança O Livro do Seu Bebé surge também O Livro Mágico do Avô João, que é narrado pelo Avô João. É o avô dos seus filhos?
(Risos) Sim, o Avô João é o meu pai, a Avó Céu é a minha mãe. O Diogo e o Gonçalo são os meus filhos e a Inês e a Margarida são as minhas sobrinhas. Sempre gostei de inventar e contar histórias aos meus filhos e já as escrevi há algum tempo. A ideia foi usar situações que se passam no dia-a-dia dos meus filhos ou dos amigos deles. Neste livro, os quatro primos vão comer a casa dos avós e trazem todas as semanas um amigo diferente que tem sempre consigo algo que não conhecem, o que vai ser explicado pelas histórias do Avô João. Acredito que muitas crianças, ao ler o livro, vão sentir-se confortadas porque se revêem naquelas questões.

Ou seja, tenta-se explicar às crianças um conjunto de situações que talvez os pais não saibam explicar?
Exactamente. Eu tentei pegar em temas recorrentes que os pais trazem para as consultas e que as próprias crianças vão demonstrando como preocupações. Vamos tentar normalizar algumas situações que causam ansiedade às crianças e aos pais. Eu tentei aliar um pouco a versão “Hugo pai” à versão “Hugo pediatra” e juntar os dois num livro só.

Parentalidade. “Quando as crianças estão agitadas ficam cegas e surdas”

Agosto 25, 2019 às 1:00 pm | Publicado em Livros | Deixe um comentário
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Entrevista do Observador a Hedvig Montgomery no dia 28 de julho de 2019.

Ana Kotowicz

Terapeuta norueguesa explica que o estado de agitação tem efeitos sobre o cérebro das crianças que ficam, literalmente, cegas e surdas. Não é teimosia — simplesmente perdem a capacidade de nos ouvir

Dizem que é a bíblia dos pais do século XXI e que é este livro — “A Magia da Parentalidade” — que vai, finalmente, transformá-los naquilo que sempre quiseram ser. Quem tem filhos sabe que essa é uma ambição comum, até porque a parentalidade é uma tarefa muito mais fácil e romântica quando as crianças não passam de pequenos seres imaginários e adoráveis. O problema é quando se tornam reais e mães e pais fazem tudo aquilo que juraram nunca fazer. A privação do sono, a que nenhum pais ou mãe escapa nos primeiros meses (ou anos) de vida do filho, ou as birras que se seguem em catadupa antes do pequeno-almoço são momentos habituais do dia a dia de uma família, mas são capazes de transformar até o pai mais zen num Bruce Banner prestes a virar Hulk.

Mas há soluções para manter as pulsações em baixa, mesmo quando o seu filho de cinco anos demora 10 minutos a calçar uma meia. Pelo menos, é isso que promete Hedvig Montgomery em “A Magia da Parentalidade”, o primeiro de uma série de livros assinados pela norueguesa. Considerada uma guru no seu país, especialista em terapia familiar, Montgomery trabalha há mais de 20 anos com pais, ajudando-os a criar filhos mais felizes e saudáveis.

Com 51 anos e três filhos — de 9, 12 e 25 anos —, a terapeuta conta ao Observador, numa conversa por email, que o seu forte como mãe é a capacidade de compreensão e que, se mudasse alguma coisa na relação com os filhos, seria o tempo que dedica ao trabalho. Não rejeita a ideia de que ser mãe ou pai é um dos trabalhos mais duros da nossa vida de adultos, mas garante que, se olharmos bem, vamos sempre encontrar pedaços de magia no meio do caos. Defende que os pais deviam conhecer melhor as fases de desenvolvimento das crianças, já que isso iria ajudá-los a saber o que esperar, tornando a parentalidade bastante mais fácil. E deixa um alerta: atenção aos momentos em que perdem a paciência, porque há linhas vermelhas que não podem nunca ser ultrapassadas.

Confessa que a maioria dos pais está cheio de conselhos inúteis e que só devemos confiar nas opiniões que fazem sentido para nós e ignorar as outras, mesmo quando chegam de conceituados especialistas. Com o tempo, promete, todos melhoramos as nossas capacidades parentais e seremos sempre mais capazes de educar o segundo ou o terceiro filho. O importante, com todos os nossos defeitos, é que as crianças percebam que são amadas e que a sua família é um sítio seguro.

Esse é, aliás, o grande truque: “As crianças aprendem quando se sentem seguras, é nesses momentos que apanham uma série de coisas complicadas.” Nos outros, na altura do caos, o melhor é reencontrar o equilíbrio e deixar as lições de vida para mais tarde. O estado de agitação tem efeitos sobre o seu cérebro, ao ponto de ficarem, de certa forma, cegas e surdas. Não é teimosia, simplesmente perdem a capacidade de nos ouvir. “O que devemos fazer é apostar mais no que elas aprendem quando podem e tentar acalmar situações que deram para o torto, muito mais do que seguir a via do castigo”, aconselha. “Os castigos nunca são úteis para a criança, por isso não há necessidade de usá-los.”

“A Magia da Parentalidade” é o nome do livro em português. Mas para muitas mães, depois de lidarem com 20 birras, ou quando estão a passar pela privação do sono, nem sempre é fácil ver onde está a magia, não concorda?
Bem sei que ser mãe ou pai é um trabalho muito duro. Mas, no meio de tudo isso que diz, de repente, olha e vê o seu lindo filho ou filha a brincar, a dizer algo fantástico ou apenas satisfeito e sente uma onda de amor. Esse momento é pura magia, e eu tento dar aos pais ferramentas para criar e reconhecer esses momentos com mais frequência.

Mas a magia existe, de facto, na sua opinião?
Sim, existe em todas as famílias. Podemos aumentar a quantidade de magia na família, mas a vida não vai ser sempre mágica. Se assim fosse, os nossos filhos não aprenderiam a lidar com a vida real ou com todas as dificuldades que têm de enfrentar. E nós nem saberíamos que existe magia. Para ver os momentos mágicos, temos também de experimentar o outro lado.

Se a parentalidade fosse fácil, não seriam precisos tantos livros sobre o tema. Ser mãe é das tarefas mais difíceis da nossa vida e no seu livro diz que todos os pais com quem falou em algum momento erraram. Não há famílias perfeitas? É importante percebermos isso?
Ser humano é difícil, criar um filho é ainda mais difícil. Quando vivemos em conjunto com alguém, essa proximidade faz com que o atrito aconteça, seja qual for o relacionamento. Mas, enquanto pais, somos responsáveis pelos nossos filhos. Nós podemos resolver os problemas, eles não. Saber que as armadilhas existem torna mais fácil sermos responsáveis e ajuda-nos a lidar com os nossos próprios erros.

Como foi consigo e com os seus três filhos — 9, 12 e 25 anos — de gerações tão diferentes? Sentiu a influência da década enquanto educadora? Há coisas que as nossas avós faziam e que nós não arriscamos repetir. Cada geração melhora o tipo de pais que tem?
Penso que cada geração comete os seus próprios erros, tem os seus ângulos mortos e tenta corrigir a educação das suas crianças. Nos anos 1950, os pais eram demasiadamente rígidos e as suas interações com as crianças eram pobres. A distância entre pais e filhos era enorme e os castigos físicos e psicológicos eram comuns. O resultado disto foram crianças inseguras com pouco contacto com os seus próprios sentimentos. Nos anos 1970, era dada mais permissão às crianças para brincarem e para serem elas mesmas, mas muitos pais esqueciam-se de tomar conta dos seus filhos da forma apropriada. Estavam ocupados a criar uma nova sociedade e a encontrar o seu próprio espaço dentro dela. O resultado? Crianças que se sentiam à parte e que tinham de lutar para criar ligações. Nos anos 1990, apercebemos-nos da importância de proteger as crianças de acidentes e começámos a tornar os parques infantis mais seguros e começámos a preocupar-nos mais. As crianças não eram autorizadas a tentar e a falhar e isto resultou em crianças com medo de cair e de falhar. As crianças superprotegidas sentem que não podem fazer nada, e isso faz com que o seu mundo se torne mais pequeno. Hoje em dia, penso que vemos pais muito ocupados que querem fazer tudo bem, então acabam a fazer muitas coisas pelos seus filhos. Não deixam que as crianças tentem por si próprias porque não há tempo para isso. Por isso, acho que os pais de hoje são fantásticos, melhores do que nunca. Mas ainda temos de procurar os nossos próprios ângulos mortos. Acredito sinceramente que todas as gerações deviam tentar fazer melhor. E não, a avó nem sempre está certa. Mas faça-lhe perguntas na mesma, ela sabe sempre algo útil sobre a vida.

E enquanto pessoas, vamos ficando melhores pais? Ou seja, somos melhores pais do segundo filho do que do primeiro? Isso faz com que as mães de famílias numerosas estejam num patamar muito diferente das mães de filhos únicos?
Penso que a maioria de nós faz as coisas mais bem feitas da segunda ou da terceira vez. Lembro-me de que quando dei à luz o meu terceiro filho, pensei: “Uau, agora é que realmente sei como fazer isso!” Os pais em geral tendem a ser muito rígidos com o primeiro filho. Só com o filho número dois, ou três, é que aprendemos a deixar-nos ir, é com eles que aprendemos que todas as fases difíceis têm fim.

Escreve no livro que aqueles pais que dizem que na sua família é tudo maravilhoso já se esqueceram dos problemas. Esqueceram-se mesmo ou estão apenas a mentir?
Um facto divertido: quando me perguntam como era o sono do meu filho mais velho em bebé, costumo responder que foi o mais fácil dos três e que dormia sem problemas. Realmente é isso que eu sinto, e é isso que penso que é verdade. Mas quando encontrei os meus diários daquela altura, caramba, ele estava sempre acordado. Hoje em dia, ele é um jovem brilhante e para mim é quase impossível pensar nele daquela maneira. Por isso, penso que não mentimos, o que acontece é que aquele facto deixou de ser importante. E agarramo-nos aos momentos felizes — e isso é uma coisa boa.

Há falta de solidariedade entre os pais? Quando se fala de educar uma criança, todos vestem a pele do crítico e avós, cunhadas e amigas, todas têm a solução perfeita para o nosso problema.
Todos nós queremos falar sobre as nossas próprias soluções brilhantes e a nossa própria criança fofa. Os outros pais não veem necessariamente a situação em que estamos. Devemos tentar tratar melhor os outros pais e os seus filhos e perceber a situação deles antes de começarmos a falar da nossa.

Os outros pais estão cheios de conselhos inúteis?
Algumas vezes, sim. Todos nós estamos. O melhor que temos a fazer é só aceitar conselhos de pais e especialistas que façam sentido para nós.

Enquanto educadores cometemos a nossa dose de erros e não é fácil lidar com isso. No livro, diz que um mau pai é aquele que, depois de castigar o filho, pensa para si próprio: “Ele mereceu.” Esta é a pior justificação que podemos encontrar para o nosso erro? As crianças nunca merecem um castigo?
As crianças merecem que as tratemos bem, que as ajudemos e que lhes demos conselhos. Os castigos nunca são úteis para a criança, por isso não há necessidade de usá-los.

Então, até que ponto é que nos podemos zangar com os nossos filhos?
Todos nós nos zangamos de tempos a tempos, é apenas humano. Mas existe uma linha de que devemos estar conscientes e que nunca devemos ultrapassar. Gritar tão alto que a criança fique com medo de nós, agarrar o seu braço com tanta força que a magoe — essa linha é quando passamos de estar zangados para estarmos a magoar o nosso filho. Aí somos uma ameaça e somos potencialmente perigosos. A criança não terá respeito, terá medo dos pais. E ter medo é um sentimento solitário.

Diz que os castigos não funcionam e que são inúteis. Certo, mas o que funciona? A lógica de recompensa/punição está ultrapassada? Castigamos de mais as crianças?
Devemos dizer às crianças o que queremos que elas façam ou não façam, e não dizer-lhes o que é incorreto. Devemos ajudá-las quando estão aflitas, não mandá-las embora. Quando as coisas estão difíceis, devemos voltar a entrar em contacto com as crianças, não afastá-las ainda mais. Se procurarmos alternativas para a punição, vai valer a pena.

O medo é o pior inimigo dos pais?
Sim, o medo torna as pessoas solitárias em qualquer idade.

Defende no livro que não se educa quando as coisas correm mal, educa-se quando correm bem. Como é que isto se faz na prática?
As crianças aprendem quando se sentem seguras, nesses momentos apanham uma série de coisas complicadas. Elas vêm o que fazes, ouvem o que dizes. Quando as crianças estão agitadas, de certa forma ficam cegas e surdas. O que devemos fazer é apostar mais no que elas aprendem quando podem e tentar acalmar situações que deram para o torto, muito mais do que seguir a via do castigo.

Somos mais exigentes com as crianças do que somos com alguns adultos?
Definitivamente. Somos mais exigentes com as crianças do que com alguns adultos e elas ainda nem sequer têm os cérebros completamente desenvolvidos.

No livro, relata um momento em que um pai lhe perguntou se tem de ser sempre o adulto a adaptar-se à criança. É isso que acontece ou é isso que sentimos?
É apenas o que sentimos, as crianças adaptam-se imenso, muito mais do que conseguimos perceber. Viver em conjunto é adaptarmo-nos uns aos outros. Como pais, somos a parte responsável em criar um lar que seja bom para toda a família. Estamos no comando e isso, por vezes, é muito difícil.

Porque é que as crianças não cooperam mais com os adultos? Seria bastante mais fácil para nós se, de tempos a tempos, elas fizessem o que nós pedimos…
As crianças cooperam quando podem. Quando não o fazem há sempre uma razão. Talvez não sejam capazes de fazer o que pedimos porque é muito difícil, talvez tenham uma ideia diferente em relação à situação e não estejam a ser capazes de nos dizer o que estão a planear, talvez tenham sentimentos muito fortes sobre o assunto e não sejam ainda capazes de lidar com eles. Ou talvez estejam apenas com fome ou com sono, que na verdade são os dois principais motivos que levam as crianças a não cooperar. Só temos de tentar perceber o que se passa. Mas, ao mesmo tempo, não podemos esquecer que elas querem cooperar, que elas querem fazer o que é certo e querem ser amadas.

Ao longo do livro fala do desenvolvimento cerebral das crianças, da inteligência, da forma como elas aprendem a lidar com as suas emoções de uma forma muito lenta, e de como em muitas das vezes em que nos desafiam, em que são teimosas, simplesmente não conseguem agir de outra forma. Os pais deviam aprender mais sobre estes aspetos do desenvolvimento infantil?
Sim, porque quando sabemos o que esperar acabamos por perceber melhor o comportamento das crianças..

Passamos 20 anos da nossa vida a educar os nossos filhos e somos testados diariamente. Quão importante é impor limites?
Estamos sempre a impor limites para manter a criança segura. Aonde ir (e não ir), quando ir para a cama, quando ir para a escola, etc. As crianças precisam disto, e precisam que os pais encontrem os limites apropriados para elas e para as suas idades — do princípio até ao fim.

Quando perdemos a paciência devemos pedir desculpa aos nossos filhos?
Sim. Pedir desculpa aos nossos filhos vai ensinar-lhes o que é errado e o que é certo, vai ensinar-lhes que são pessoas importantes para nós e vai ensinar-lhes o significado correto da palavra ‘desculpa’. E vai dar-nos a nós próprios a oportunidade de melhorar.

Escreve que vamos acabar a repetir os padrões de parentalidade que experimentámos com os nossos pais. Há alguma forma de quebrar o ciclo ou, inevitavelmente, vamos tornar-nos nas nossas mães, perpetuando os mesmos erros?
Sim, há uma maneira de nos tornarmos melhores mães — um dos passos no livro é “Melhore os seus próprios padrões”. E funciona, posso garantir-lhe que funciona, depois de trabalhar com pais há mais de 20 anos.

Há alguma forma de resumir os segredos para educar uma criança saudável e feliz?
Bom, tentar criar uma família, um lar onde todos se sintam bem. E saudar os nossos filhos com alegria todos os dias. Uma vez por dia, deixar que as crianças percebam pela forma como olhamos para elas, sorrimos para elas, que são pessoas fantásticas na nossa vida. Sentir-se bem-vindo todos os dias faz uma grande diferença.

A Maria Montessori [pedagoga italiana, 1870-1952, inventora do método Montessori] dizia que quando fazemos algo por uma criança que ela pode fazer sozinha estamos a desrespeitá-las. Concorda?
Maria Montessori era uma mulher muito sábia e está certa também nessa ideia. Temos de dar espaço e tempo às crianças para crescerem, para fazer o seu melhor. Aí, e apenas aí, elas irão revelar-se.

Que tipo de motivos levam as famílias até ao seu consultório nos dias de hoje? São as mesmas de quando começou a trabalhar?
É uma pergunta difícil. Diria que a resposta, de uma forma global, é que são os mesmos motivos. Mas eu vejo mais crianças stressadas, mais crianças com medo de não serem boas o suficiente. E são-no, absolutamente.

Que tipo de mãe é? Mudava alguma coisa?
Penso que a minha força é a minha compreensão. Põe-me numa posição de ser capaz de ajudar quando a vida está a ser difícil para os meus filhos. Para todas as crianças, a vida será difícil de tempos a tempos. O que faz a diferença é existir alguém que está lá com eles, para os compreender e lhes dar conselhos. Sou boa nessas situações. Desejava passar menos tempo a trabalhar.

Apresentação do livro “Fátima Campos Ferreira Entrevista Manuela Eanes” 28 junho no El Corte Inglés em Lisboa

Junho 26, 2019 às 2:00 pm | Publicado em Livros | Deixe um comentário
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Mais informações sobre o livro no link:

https://paulus.pt/fatima-campos-ferreira-entrevista-manuela-eanes

Livro «Breve História do Direito das Crianças e dos Jovens» vai ser apresentado em Faro – 22 março

Março 21, 2019 às 9:00 am | Publicado em Livros | Deixe um comentário
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Notícia da Região Sul de 18 de março de 2019.

O livro «Breve História do Direito das Crianças e dos Jovens», de João Luís Gonçalves, procurador do Tribunal de Família e Menores de Faro, vai ser lançado na próxima sexta-feira, 22, na Casa dos Rapazes, na capital algarvia.

“O direito das crianças e dos jovens é recente. A partir do iluminismo humanista, nos séculos XVII e XVIII, começou a olhar-se para as crianças como seres em formação e não como “pequenos adultos”, como antes eram consideradas. Desde então, a legislação foi profícua em projetos de educação e proteção das crianças”, refere a sinopse do livro.

“Quando ouvimos, em pleno século XXI, casos de bebés encontrados em lixeiras, situações de fome, tráfico, escravatura e até de sacrifícios de crianças, notícias que não são exclusivas dos países menos desenvolvidos, tudo isto nos envergonha enquanto sociedade que se diz civilizada”, acrescenta o autor.

Nesta obra, são presentados alguns pontos de reflexão breves sobre o modo como as crianças e jovens foram considerados ao longo dos tempos e até à atualidade.

A sessão de lançamento da obra decorre no Instituto Dom Francisco Gomes, também conhecido como Casa dos Rapazes, em Faro, na sexta-feira, a partir das 19:00 horas.

João Luís Rodrigues Gonçalves nasceu em 1960, na Madeira. Frequentou o Seminário Maior da Sé, no Porto, entre 1978 e1980, onde concluiu o 2.º ano do curso de Teologia no Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto (ICHT).

Participou em missões das Nações Unidas, em Timor-Leste, onde colaborou num curso de formação judiciária para magistrados e defensores públicos.

Foi Procurador Mentor em Díli, no âmbito do UNDP (United Nations Development Programme), e Procurador Internacional pela UNMISET (Missão das Nações Unidas de Apoio a Timor-Leste), no departamento de Serious Crime, que investigou os crimes contra a humanidade dos massacres das milícias praticados em 1999.

Desde dezembro de 2014, é Procurador da República na comarca de Faro.

https://www.edicoesvieiradasilva.pt/livros/ensaio/brevehistoriadodireitodascriancasedosjovens

http://idfgomes.pt/

 

 

 

“Correria infernal” dos pais cria filhos stressados — pediatra Mário Cordeiro

Março 4, 2019 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Observador de 16 de fevereiro de 2019.

O novo livro do pediatra Mário Cordeiro pede aos pais que pensem em mudanças simples na forma como lidam com “a pressão enorme” do quotidiano, para não criarem filhos “stressados”.

O pediatra Mário Cordeiro convida os pais de hoje em dia a refletir sobre a “correria infernal sem destino”, que tem como consequência filhos ‘stressados’, e pede mudanças simples para melhorar a qualidade de vida.

“Pais Apressados, Filhos Stressados” é o título do novo livro de Mário Cordeiro, obra que é apresentada na segunda-feira em Lisboa e que se debruça sobre a pressa e o ‘stress’ parental.

“A vida quotidiana é uma pressão enorme e o que pretendo com este livro é, exatamente, estimular a pensar. Não é mudar o mundo e implodir o que está feito, mas pedir, quase rogar, que os pais parem para pensar, vejam se têm graus de liberdade para mudar a sua vida, porventura em coisa singelas e que não consomem muito tempo”, explica Mário Cordeiro à agência Lusa.

Para a sociedade em geral, o livro apela também para uma reflexão sobre o tempo, porque o pediatra considera que todos andam a “rosnar e de garras de fora”.

Uma das questões deixadas na obra, em jeito de desafio, é testar a capacidade de estar “uma hora sem ecrãs”, não contando o tempo de sono.

“Excluamos o tempo de dormir e o de trabalho e vejamos, das horas que restam, quantas passamos com um ecrã à frente (…) Parece canja, mas ficar sem SMS, telefonemas, e-mail, ‘tweets’, redes sociais… sem sequer olhar para ver ‘se já chegou alguma coisa’, vai ser muito difícil”, escreve Mário Cordeiro.

O pediatra compara a vida atual e a sua relação com o tempo com a escravatura: “O escravo (…) não tinha vida própria, vontade própria e tempo próprio”, aludindo desta forma à atitude de cobrança para uma disponibilidade permanente através do telefone ou das redes sociais.

Mário Cordeiro entende que deve haver coragem para “afastar a pressão de estar sempre” comunicável, sob pena de fazer sofrer os filhos, que estão “expostos ao comportamento dos pais, como que a radiações”.

O livro sugere ainda que a hora das refeições seja “um momento sagrado, ritualizado, partilhado”.

“Mesmo atendendo ao ritmo de vida das atuais famílias — e do qual estou bem ciente, podem crer, pelo que não pretendo estar aqui com moralismos de pacotilha —, é possível criar o hábito de fazer pelo menos uma refeição por dia em conjunto, com calma, e pelo menos uma mensal de toda a família. O homem é um animal gregário e necessita de o ser. Querer contrariar isso é condená-lo ao fracasso. Não é só o corpo que precisa de alimento”, escreve o autor, que é pediatra e autor de várias obras sobre a infância e a adolescência, além de pai e avô.

Sobre a falta de tempo de pais e famílias, Mário Cordeiro considera que pode induzir ‘stress’ nas crianças e uma “rapidez maior do que a que o ser humano consegue absorver e metabolizar”.

“As crianças não estão, ainda, habituadas a tanto ‘stress’, rapidez, aceleração e, sobretudo, à ausência de ritmos calmos, de lazer”, defende à agência Lusa.

“Ser e estar” em vez de “fazer e ter” é o que advoga o pediatra, para quem viver é fruir, é ter contactos pessoais, é ver o outro com empatia, é ter “o prazer de contemplar”, observar e interagir.

O pediatra considera que não são apenas os pais que têm de se interrogar “para onde vão” na “correria infernal sem destino aparentemente nenhum”.

“Tem um misto de intervenção pessoal e de intervenção estatal e laboral”, responde à Lusa, sublinhando a necessidade de políticas “integrais para a infância e para a família”.

Não se trata de inventar a pólvora, refere Mário Cordeiro, mas antes de olhar para exemplos do que já foi feitos nalguns países nórdicos, além de pensar que “o tempo é escasso e finito”.

“Não somos deuses”, afirma o pediatra, que constata que atualmente se vive com uma atitude de imortalidade e de que o dia tem 240 horas.

 

 

Um Conto de Natal foi publicado pela primeira vez há 175 anos

Dezembro 25, 2018 às 3:00 pm | Publicado em Livros | Deixe um comentário
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Notícia do Sol de 19 de dezembro de 2018.

Joana Marques Alves

Quem não conhece a história de Ebenezer Scrooge.

Faz hoje 175 anos que a editora Chapman & Hall publicou Um Conto de Natal, aquele que viria a ser uma das obras mais conhecidas de Charles Dickens e um dos livros que ainda hoje faz parte das festividades.

Ebenezer Scrooge tornou-se um símbolo do Natal inglês. Na história, publicada a 19 de dezembro de 1843, Scrooge é um homem avarento que detesta a época natalícia. Bob Cratchit, o seu empregado, vive com a mulher e os quatro filhos na pobreza, mas consegue ter sempre um sorriso nos lábios e uma atitude positiva.

Na véspera de Natal, Scrooge recebe a visita do seu ex-sócio, que morreu há sete anos. Jacob Marley avisa-o que é melhor começar a ser boa pessoa, senão acabará como ele: no limbo, num rebuliço eterno, sem descanso. Marley avisa o antigo sócio que receberá a visita de três espíritos que poderão ditar o seu futuro.

O primeiro é o Espírito do Natal Passado, que leva Ebenezer Scrooge até aos momentos em que era jovem e adorava o Natal. Triste com o que estava a recordar, o homem de negócios faz de tudo para voltar ao presente e o espírito acaba por desaparecer.

Depois, surge o Espírito do Natal Presente, que mostra a forma como as famílias celebram o Natal. Uma delas é a de Bob Cratchit – apesar de viverem na pobreza, os Cratchit celebram o Natal de forma feliz e unida. No final da viagem, o espírito revela duas crianças com caras terríveis – a Ignorância e a Miséria – que devem ser evitadas por todos os homens.

Por último surge o Espírito do Natal Futuro, que não diz nada e apenas aponta para a campa de Scrooge, que nem um amigo teve no funeral.

Depois da visita dos três espíritos, Scrooge acorda como um homem novo: começou a gostar do Natal, é generoso com todos e até ajudou o seu empregado, tornando-se um segundo pai para o Pequeno Tim, o filho de Bob que tem graves problemas de saúde.

Esta tornou-se uma das histórias mais conhecidas de sempre. Logo na altura em que saiu, a obra de Dickens foi um best-seller. Foram muitas as adaptações feitas ao longo dos últimos anos – as mais conhecidas são a da Disney (que tem o Tio Patinhas como Ebenezer Scrooge) e a dos Marretas (com o Sapo Cocas no papel de Bob Cratchit).

 

 

 

Cuidado com as passwords”, avisam Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada

Dezembro 25, 2018 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Miguel Manso

Notícia do Público de 26 de novembro de 2018.

Armadilha Digital é o mais recente livro das autoras de Uma Aventura, que o apresentaram nesta segunda-feira, no Porto, com a ajuda do director da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da Polícia Judiciária, Carlos Cabreira.

Rita Pimenta texto e Miguel Manso  fotografia

Alertar os mais jovens para “riscos e perigos da Internet” através de uma história com que se identifiquem é o propósito de Armadilha Digital, o quinto livro da colecção Seguros e Cidadania, editada pela Associação Portuguesa de Seguradores (APS). Protagonistas: passwords fracas.

Quais são elas? As “relacionadas com o próprio nome, nome dos filhos, datas de nascimento, telefones, número de porta, de residência, etc.”. Exemplos que surgem no final da obra, a que se acrescenta ainda recomendações para “evitar o furto de identidade”, como “nunca revelar a palavra-passe a ninguém” ou “evitar disponibilizar os dados pessoais em sites ou plataformas que promovem encontros online, como chats e redes sociais”.

Clonagem de cartões bancários, burlas online, cópias de ficheiros, e-mails falsos e ataques aos sistemas informáticos das empresas e do Estado são outros riscos para que Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada alertam em Armadilha Digital.

As autoras, conhecidas sobretudo pela colecção Uma Aventura, contaram com a colaboração do director da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica da Polícia Judiciária, Carlos Cabreira, e com a equipa do Centro de Investigação para as Tecnologias Interactivas da Universidade Nova de Lisboa.

Ana Maria Magalhães diz ao PÚBLICO: “Podia fazer-se um livro apenas informativo. Mas os textos informativos são apelativos para um reduzido número de pessoas. A maior parte chega a meio e abandona-os.” Por isso, criaram uma história que cativasse o jovem leitor: “Uma história, para arrebatar, tem de criar empatia. Pessoas de quem se goste, pessoas que se odeie, pessoas que nos indignam, atitudes e actos absolutamente condenáveis e outros enternecedores.”

Segundo Isabel Alçada, foi preciso “virar do avesso” os textos informativos que leram. E explica: “Estavam escritos do ponto de vista de quem já sabe e não do ponto de vista de quem está na eventualidade de sofrer um problema.”

Paixão e informação

Vamos à história: um workshop sobre programação numa escola de artes e o fascínio de uma aluna pelo formador dão o mote para uma narrativa que irá revelando os perigos que corremos ao transmitir certas informações a alguém que mal conhecemos.

Sem querermos entrar em muitos pormenores da narrativa, podemos desvendar que familiares da rapariga, Beatriz, hão-de ver-se a braços com crimes de pirataria informática decorrentes da sua ingenuidade e desconhecimento. De caminho, é-nos dado conta de que existem seguros que podem minimizar os danos destes novos cibercrimes.

Descreve Ana Maria Magalhães: “Íamos contando a história e nunca mais chegávamos ao que se pretendia.” Isabel Alçada continua: “Tínhamos de dar lastro às personagens e torná-las próximas do potencial leitor.” Ana completa: “É uma história de amor. Percebe-se que a rapariga está apaixonada e que ele é enigmático.” Isabel prossegue: “Quisemos reconstituir uma realidade que torne nítida a posição de cada personagem…” Ana conclui: “… e que a pessoa sinta: podia ser eu.”

Chegar às escolas

O tema do livro foi proposto, como habitualmente nesta colecção (começou em 2013), pela directora-geral da APS, Alexandra Queiroz, devido ao crescimento “da influência dos recursos digitais nas práticas financeiras e os riscos que isso implica, sobre os quais muita gente não tem noção”, explica Isabel Alçada.

De acordo com a associação, “o objectivo principal é chegar às escolas”, estando estas publicações integradas numa “acção de esclarecimento sobre o que é o seguro, no âmbito do programa nacional de literacia financeira, com a chancela Portugal Seguro”.

O quinto volume, destinado ao 3.º ciclo e secundário, foi lançado nesta segunda-feira justamente numa “escola que tem no seu programa oficial, especificamente, a literacia em seguros”, o Agrupamento de Escolas Fontes Pereira de Melo, no Porto, em associação com a Fundação Cupertino Miranda.

Ambas as autoras admitem que alteraram comportamentos depois deste trabalho. Isabel Alçada: “Mudo as passwords de vez em quando, tenho mais cuidado quando vou ao banco online, tinha os cartões de código todos à vista e agora tenho outro cuidado e atenção.” Ana Maria Magalhães passou a usar “o cartão multibanco só dentro do banco”.

Convidar uma é convidar a outra

A trabalhar juntas desde 1982, quisemos saber se fizeram algum pacto ou contrato que as obrigue a assinar em conjunto. Divertidas, respondem: “Não, não fizemos, é implícito”, diz Isabel. Ana discorre: “Quando os miúdos nos fazem essa pergunta, eu costumo dizer: ‘Nasci com dois braços, seria muito estúpido cortar um para ver como é trabalhar só com o outro. Nós começámos juntas e correu bem. Em equipa que vence não se mexe.”

Durante todos estes anos, sempre que alguém sugere a uma das autoras algum tema ou iniciativa no âmbito da escrita para crianças e jovens, isso significa que a outra também está a ser convidada.

Dizem não estar “fartas” uma da outra, continuam amigas e vão tendo projectos em separado: Ana fez uma autobiografia, Isabel esteve no Plano Nacional de Leitura e escreveu sobre ele a solo.

Isabel Alçada recorre à geometria: “Somos secantes.” Isto para explicar que “a maior parte das actividades é em conjunto, mas depois cada uma tem a sua vida”. Ana: “Estamos óptimas assim. Se estivéssemos todos os dias a trabalhar juntas, ia tornar-se cansativo.”

O processo de trabalho mantém-se a cada novo título: lêem, estudam, investigam, cada uma por seu lado, mas recorrendo às mesmas fontes. Vão conversando, vêem se têm lacunas na investigação e se coincidem na interpretação dos documentos que consultaram. Se têm divergências sobre o entendimento de algo, recorrem a um especialista no assunto. “Depois, inventamos uma história.” Tem resultado.

Ambas ex-professoras de História, Ana já se reformou, mas Isabel ainda não. “Eu já me podia ter reformado, mas o Presidente [Marcelo Rebelo de Sousa] convidou-me para ser consultora para a Educação e eu achei muito interessante. Lá estou.”

Palavras de outros tempos

Durante a leitura de Armadilha Digital, tropeçámos em pelo menos duas expressões que nos soaram estranhas, por remeterem para tempos recuados: “dichotes e remoques” e “lançavam miradas aos seguranças”. Quisemos saber se eram propositadas e se tinham algum objectivo didáctico.

Divertidas, respondem: “Não, não é”, diz Isabel. “Escapou”, acrescenta Ana. E explica: “Muitas vezes escrevemos e depois, pensamos: espera aí, já ninguém diz isto. E cortamos. Há sempre uns que escapam, esses escaparam!”

Isabel: “Temos a preocupação de ver, no caso de o leitor não conhecer o termo, se o contexto o esclarece.” Ana: “Usamos imenso ‘mirada’. Eles tiram pelo sentido, mas temos de ter cuidado porque se não, não percebem a história.”

A compreensão por parte dos leitores sempre esteve nas suas preocupações: “Sempre tivemos a intuição de que, se tivéssemos termos, expressões ou figuras de estilo que impedissem a compreensão do texto, eles abandonavam a leitura.” Isabel lembra como os estudos entretanto realizados provam isso mesmo: “Há uma investigação na área da leitura que demonstra que, se houver, 10% de palavras que eles não conheçam o significado, rejeitam o livro.”

Sobre as frases feitas, Ana Maria Magalhães recorda um miúdo pequenino que “ria às gargalhadas” porque tinha lido a frase até então desconhecida “enquanto o Diabo esfrega um olho”. Logo Isabel Alçada se lembrou de outra criança que também se riu muito quando leu “foi num pé e veio no outro”. Convencido de que tinha ido e vindo “ao pé-coxinho”.

Acabaram por transpor essa ideia para a colecção A Bruxa Cartuxa. “Aproveitámos essas frases feitas, umas mais vulgares, outras menos. Através de magia, acontecem coisas como: ‘Nesta sala está tudo de pernas para o ar.’ E fica mesmo tudo de pernas para o ar. Eles acham imensa piada.”

A terminar, Ana refere: “Mesmo na colecção Uma Aventura, nalgumas reedições, houve termos que tiveram de ser substituídos por sinónimos. Isto por serem palavras que as pessoas deixaram de dizer completamente. Tem de se ter cuidado, estamos em 2018 e não em 1940.”

Desta colecção, Seguros e Cidadania, já fazem parte os seguintes títulos: O Risco Espreita, Mais Vale Jogar pelo Seguro (2013); Catástrofes e Grandes Desastres (2014); Um Perito em Busca da Verdade (2016); Encontro Acidental (2017), ilustrados por Carlos Marques. Em Armadilha Digital, as imagens são assinadas por João Pupo. São livros distribuídos gratuitamente nas bibliotecas escolares em articulação directa entre a APS e os professores bibliotecários.

 

 

 

Pensar o Acolhimento Residencial de Crianças e Jovens, na Fundação Calouste Gulbenkian, 5 de dezembro, 18h30m

Dezembro 2, 2018 às 7:43 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Mais informações:

http://www.gulbenkian.org

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