Alteração à lei permitiu que 40 casais homossexuais adotassem 55 crianças desde 2016

Março 11, 2024 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia do Diário de Notícias de 1 de março de 2024.

A entrada em vigor desta lei permitiu que nestes oito anos 55 crianças fossem adotadas por casais do mesmo sexo, sendo que 32 destas adoções aconteceram entre 2020 e 2023.
Cerca de 40 casais homossexuais adotaram 55 crianças desde 2016, quando entrou em vigor a legislação que passou a permitir a adoção por casais do mesmo sexo, segundo dados do Instituto de Segurança Social (ISS).

A legislação entrou em vigor em 1 de março de 2016, depois de quatro vezes chumbada no parlamento e vetada pelo então Presidente da República Cavaco Silva.
Segundo dados do ISS enviados à Lusa, a entrada em vigor desta lei permitiu que nestes oito anos 55 crianças fossem adotadas por casais do mesmo sexo, sendo que 32 destas adoções aconteceram entre 2020 e 2023.

Por outro lado, entre 2016 e 2023, “cerca de 40 casais do mesmo sexo integraram crianças”, refere o ISS.
“Relativamente ao tempo médio de espera e à caracterização das crianças integradas em famílias do mesmo sexo, não é feita a diferenciação entre casais do mesmo sexo e de sexo diferente”, assegura a Segurança Social.

A presidente da Associação ILGA Portugal (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo) disse à Lusa que têm recebido alguns pedidos de esclarecimentos, sobretudo sobre como é que decorre o processo de adoção ou que formulários têm de ir buscar à Segurança Social, tendo a associação inclusivamente feito um guia sobre a matéria.
“De facto, as pessoas não nos voltam a contactar porque conseguem resolver os seus problemas, até porque nós também falamos sobre as expectativas em relação ao tempo de espera, que é alto, tal como acontece com os casais que não são do mesmo sexo”, adiantou Daniela Bento.

Segundo a responsável, a aplicação da lei tem estado a correr “relativamente bem”, “sem queixas de maior”.
“Não recebemos problemáticas, mas sim questionamentos sobre como é que funciona, como é que não funciona, e depois as pessoas seguem o seu caminho. A informação que nós temos é que as coisas têm corrido relativamente bem, e não há queixas de discriminação”, disse.

Referiu, no entanto, que a associação está a basear os registos de não discriminação naquilo que é a perceção de as pessoas fazerem queixa ou não, defendendo que, a haver qualquer caso de discriminação, deva ser conhecido onde é que a pessoa ou o casal se pode dirigir para apresentar queixa.
Por outro lado, queixou-se sobre a falta de dados estatísticos e informação que permitam uma monitorização mais eficaz da lei e um questionamento sobre as políticas públicas que estão a ser aplicadas.

A lei sobre adoção por casais do mesmo sexo é publicada em Diário da República em 29 de fevereiro de 2016.
O diploma, a par com as alterações à lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), tinha sido vetado no mês anterior pelo Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, acabando reconfirmada por maioria absoluta pelos deputados da Assembleia da República.

Na altura, na mensagem que enviou ao parlamento quando devolveu os decretos, Cavaco Silva argumentou que a adoção por casais do mesmo sexo não havia sido antecedida de um debate público suficientemente amplo e considerou estar ainda “por demonstrar” que fossem mudanças legais que “promovam o bem-estar da criança”.

Mais de 80% dos jovens LGBTQ escondem dos professores a orientação sexual

Maio 24, 2022 às 6:00 am | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do Público de 17 de maio de 2022.

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“E se o meu filho for gay…?”

Outubro 25, 2017 às 8:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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Artigo de opinião de Mário Cordeiro publicado no https://ionline.sapo.pt/ de 3 de outubro de 2017.

É tempo de acabar com os preconceitos homofóbicos. A orientação do desejo sexual não é uma escolha, é uma característica determinada geneticamente.

Seria bom que, daqui a uns anos, só as crianças tivessem de fazer esta pergunta. Todavia, muitos adultos ainda andam confundidos quanto ao que é a homossexualidade, conotando-a com pedofilia, perversão, manias ou mesmo doença. Ou rindo-se, com ar superior, de quem acha que ser “hétero” (straight, que significa “direito”, como os anglo-saxónicos designam, o que só por si diz tudo) é ser superior a ser “homo”.

Primeiro que tudo, convém definir claramente o que a palavra significa: homossexualidade é a atração sexual, emocional e afetiva de pessoas de um género por pessoas do mesmo género, como parte de um continuum da expressão sexual, ou seja, a orientação do desejo sexual faz-se na direção de uma pessoa do mesmo sexo.

A orientação sexual, apesar de genética, estabelece-se (ou consolida-se) no final da adolescência, e muitos dos homens e mulheres homossexuais tiveram as suas primeiras experiências nesta idade, embora ter este tipo de relações neste grupo etário não tenha, só por si, qualquer valor preditivo (muitos heterossexuais têm experiências “homo” por uma questão das chamadas condutas de experimentação ou de ensaio).

Embora alguns relatórios tenham indicado estimativas em adultos de cerca de 4% para os homens e 2% para as mulheres, desconhece-se a taxa na adolescência e estes dados variam de região para região e de comunidade para comunidade, dependendo muito do grau de aceitação social e política que condiciona a resposta..

Sempre existiu homossexualidade na sociedade, só que, por razões que a antropologia facilmente explica, associadas ao desígnio de contribuir a todo o custo para a continuação da espécie, esta forma de orientação sexual foi quase sempre reprimida ou, pelo menos, olhada de esguelha. Para tal veio a contribuir, de forma decisiva, a posição das religiões e as condenações e culpabilizações inerentes a quem cometia esse “pecado”. Em muitos países, ser homossexual é correr o risco de pena de morte ou prisão, ou pelo menos ser-se ostracizado na sociedade.

Com o evoluir das sociedades, quando, hoje em dia, o facto de não ter filhos não lança ninguém no opróbrio, quando as liberdades, direitos e garantias individuais são promovidas, e não apenas as da comunidade como um todo, a questão da homossexualidade, tal como muitas outras, tornou-se objeto de debate e de discussão.

Se, por um lado, ainda se observam frequentemente atitudes segregacionistas e de exclusão (algumas vezes de autoexclusão), é crescente a normalidade com que, felizmente, o assunto é encarado. Não se trata de dizer, de modo paternalista, que o que cada um faz é da sua conta, mas de muito mais: o de entender que a sociedade é composta por indivíduos diferentes na cor, no tamanho, nas capacidades e também nas orientações sexuais.

Há 20 anos, a homossexualidade era definida como uma “doença mental” por academias de psiquiatria tidas como cientificamente irrepreensíveis – afinal, demonstraram que não o eram e atualmente ainda se assiste a classificações deste tipo nas mais variadas situações.

Não se escolhe ser homo, hétero ou bissexual. É-se, apenas e tão-só, e embora permaneçam desconhecidos os determinantes dessa orientação, sabe-se que são genéticos. O que entra no capítulo das opções é a forma de comportamento e os estilos de vida que as pessoas, homossexuais ou não, adotam, designadamente o tipo de experimentação sexual, mas isso é do foro íntimo de cada um desde que não colida com os direitos dos outros – e tanto se aplica aos homo como aos hétero ou bissexuais.

Por razões várias, para muitos pais é um choque ter um filho homossexual. Não temos espaço para aprofundar as razões que os assistem, mas o que importa referir é que os pais, ao saberem da homossexualidade dos filhos, devem em primeiro lugar dar todo o apoio – são os filhos, não são ET’s que apareceram de um momento para o outro – e ser empáticos com o eventual sofrimento que o filho possa estar a ter.

Quando os pais sentem que o filho tem elevadas probabilidades de não ter filhos porque não consegue estabelecer uma relação conjugal com uma pessoa do sexo oposto – pesem as alternativas todas que a realidade portuguesa agora permite – sentem que o seu próprio futuro está ameaçado, em termos conceptuais, e que todo o projeto imaginado desde a infância cai por terra… o que não é verdade, mas está na cabeça das pessoas… para lá do estigma social, da falta de hábito de receber em casa “o genro, casado com o meu filho” ou “a nora, casada com a minha filha”. Acresce que a desinformação sobre o que é a homossexualidade e a constatação bem real de que um jovem homossexual terá a vida social dificultada, apesar de todas as evoluções sociais, ainda assustam mais os pais e aumentam o “sentimento de desilusão”.

Estas angústias têm de ser compreendidas e os pais, ao saberem da homossexualidade dos filhos, devem, em primeiro lugar, dar todo o apoio – são os filhos! – e ser empáticos. Por outro lado, não devem esconder e remeter o filho para a clandestinidade, mas ajudá-lo e ajudar-se, assumindo o facto como normal e não fazendo tabu do assunto – assim, o diz-que-diz acaba e o filho tem mais hipóteses de se sentir bem e de ter um percurso de vida social normal. Finalmente, devem apoiar-se um no outro, não considerar que os outros filhos é que são bons, tentar esclarecer estes e pedir ajuda – a um médico, a um psicólogo -, se necessário, para ultrapassarem sentimentos, libertar angústias e obter esclarecimentos e informação importante.

Se, pelo contrário, os pais optarem por uma atitude “cavernícola”, quase irradiando o filho, estarão a maltratá-lo, a maltratar-se a si próprios e a agir de uma forma porventura emocional, mas muito pouco racional, inteligente, justificada e eficiente. Os nossos filhos serão sempre os nossos filhos.

É tempo de acabar com os preconceitos homofóbicos. A orientação do desejo sexual não é uma escolha, é uma característica determinada geneticamente. Todas as pessoas devem poder expressar os seus afetos, desde que dentro do que é considerado pela lei como aceitável, e homens amarem homens ou mulheres amarem mulheres é normal. O amor é sempre belo quando é genuíno e é amor. Afinal, o que interessa saber quem dorme com quem? Excluindo casos abusivos ou forçados, a cama de cada um (e quem por lá passa) só a cada um (e a quem lá passa) pertence…

Pediatra

Escreve à terça-feira 

 

 

 

Gabinete de Apoio à Vítima para Juventude LGBTI

Fevereiro 18, 2017 às 1:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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O Gabinete de Apoio à Vítima da Casa Qui é um serviço especializado para a juventude lésbica, gay, bissexual, trans ou intersexo (LGBTI) que dá apoio em situações de violência familiar, violência no namoro, bullying na escola ou de crise/vulnerabilidade. Este serviço é gratuito.

mais informações:

https://www.casa-qui.pt/index.php/destaques/54-gabinete-de-apoio-a-vitima

https://www.facebook.com/casa.qui.associacao/

 

Tertúlia “A influencia dos media, do bullying e da discriminação na vida de jovens LGBTI

Novembro 18, 2015 às 10:04 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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mais informações:

https://www.facebook.com/events/531302443686673/

 

A orientação sexual só fica definida por volta dos 16 ou 17 anos

Julho 17, 2015 às 1:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Entrevista do Diário de Notícias a Daniel Sampaio no dia 12 de julho de 2015.

© Paulo Alexandrino Global Imagens

clicar no link:

A orientação sexual só fica definida por volta dos 16 ou 17 anos

 

 

Sabe como são os miúdos de 2015?

Julho 8, 2015 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Texto da Sábado de 28 de junho de 2015.

sabado

André Rito

Quando a campainha tocava, o rapaz raramente ia para o recreio: preferia passar os intervalos na biblioteca. Os professores estranharam, chamaram os pais e descobriram que o cenário em casa não era diferente, mas em vez da biblioteca, Bruno, de 9 anos, passava horas no quarto em frente ao computador. Tinha ciberadição.

Este é um dos fenómenos apontados por Mário Cordeiro, pediatra que publicou o livro Crianças e Famílias num Portugal em Mudança, onde analisa a realidade das crianças portuguesas ao longo das últimas décadas. Bruno é um caso paradigmático num país onde os menores passam 4,5 horas em frente ao computador – durante a semana –, e 7,5 horas, ao fim-de-semana.

“São valores que contrariam as recomendações pediátricas, numa idade que devia ser sensorial, de experimentação e destreza manual”, explica à SÁBADO o pediatra. Mas há mais: Portugal é o país europeu onde a utilização da Internet começa mais cedo, aos 6 anos.

A crise envergonha

Quando deixaram de ter televisão por cabo, o miúdo ficou envergonhado. Surgiram os primeiros sintomas de depressão: recusava ir à escola, tinha tendência para se isolar. “Era tudo uma chatice”, recorda o pediatra, lembrando que os pais estavam ambos desempregados.

“Chegava a ter vergonha de pedir um conjunto de lápis para a escola”. Os pais também não queriam concorrer a apoios sociais escolares – por vergonha, “não queriam o filho rotulado”, diz o clínico que um dia se sentou sozinho com o rapaz e lhe contou a história dos seus pais: “disse-lhe que chegámos a viver com água e comida racionada. É preciso relativizar, e ele percebeu. Nós somos nós e as nossas circunstâncias.”

Outro dado que a crise introduziu foi a necessidade dos pais emigrarem, deixando os filhos com familiares. Apesar dos problemas de estabilidade que esta mudança implica – mesmo mantendo contacto diário através da Internet– Mário Cordeiro lembra que “as crianças têm uma enorme resiliência e o que lhes interessa é saber que os pais, mesmo distantes, as amam e têm as mesmas saudades que elas têm deles.”

Gays e novas famílias

As mudanças na vida dos miúdos são proporcionais às transformações que as famílias sofreram nas últimas décadas. Em Portugal, que tem a taxa de natalidade mais baixa da Europa, assiste-se a um crescimento dos modelos monoparentais e de casais sem filhos, ou apenas com um filho. A ausência de irmãos, como explica o pediatra, pode contribuir “para o isolamento, egocentrismo, narcisismo e omnipotência da criança.” “Leva também a que a sobrecarga que os pais colocam em termos de ‘destino’ e de percurso de vida se concentre num só filho”, explica. Por outro lado, a vida nas cidades, aliada a preocupações de segurança exageradas, faz com que as crianças se sintam mais isoladas, não brinquem com outras. São “mais autónomas (ou mais sós) em alguns aspectos, mas muito dependentes afectivamente e na gestão do quotidiano.”

Com a família “em permanente transformação”, a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo introduziu uma nova variável e o pediatra já acompanhou vários casos de miúdos “com dois pais ou duas mães”. Apesar da lei da co-adopção não ter sido aprovada, na escola, nenhum dos casos que seguiu foi alvo de discriminação. “Os fantasmas estão na cabeça dos adultos, não na das crianças.”

Fast food e escola

Marta costumava enviar fotografias do almoço da cantina ao pai. Era uma forma de o pressionar: afinal, um prato de comida da escola não tinha o ar apetitoso de um hambúrguer, cuidadosamente produzido por uma cadeia de fast food. Mas a realidade é outra: em Portugal, uma em cada três crianças sofre de excesso de peso.

Mário Cordeiro, que costumava fazer visitas surpresa a refeitórios, diz que a generalidade das cantinas têm ementas equilibradas. Mas alerta para um outro problema: as guloseimas, em tempos símbolo de festas, hoje vendidas ao desbarato perto das escolas. “Não havia festa sem doces, e era isso que as tornava especiais, tinham um valor positivo em termos psicológicos e sociais. Hoje tudo se encontra em todo o lado.” Que o digam os miúdos, enquanto ainda têm dentes.

Números

65% das crianças portuguesas

tem um computador pessoal. A média europeia é de 25%. 

30 meses

foi o tempo médio que uma criança aguardou em 2013 pela regulação do poder paternal.

90% das crianças portuguesas

consome fast-food, doces e refrigerantes pelo menos quatro vezes por semana.

 

 

Como lida a protecção de menores com jovens gays e lésbicas? Nem sempre bem

Agosto 5, 2014 às 1:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Reportagem do Público de 31 de julho de 2014.

nuno ferreira santos

Andreia Sanches

Há técnicos das comissões de protecção que dizem que tratam estas vítimas como todas as outras. Há quem assuma que se calhar não está a fazer tudo bem e há quem reclame mais recursos. Resultados de um diagnóstico inédito.

Tiraram a filha do futebol. Obrigaram-na a vestir-se de forma mais feminina. Quando ela tinha 16 anos, a mãe descobriu as cartas que ela trocava com uma namorada. Quis afastá-la da escola e mantê-la em casa. Dizia “que a sua filha não era doente e que eram uma família séria”. Outro pai, quando o filho lhe disse que era gay, deu-lhe uma tareia e proibiu-o de falar de novo no assunto. A mãe, que até parecia apoiar o filho, calou-se também. Muitos casos de jovens lésbicas, , bissexuais ou transgénero (LGBT), tantas vezes alvo de violência familiar, acabam por chegar às comissões de protecção de menores. Estão estas estruturas preparadas? O que acontece quando os jovens são expulsos de casa e têm que ir para uma instituição de acolhimento? Deve haver centros de emergência só para LGBT?

O Diagnóstico de Experiências, Competências e Respostas na Intervenção Institucional com Jovens LGBT em Situação de Violência Familiar e/ou Expulsão de Casa, feito pela Casa Qui, foi apresentado nesta quarta-feira em Lisboa. É o primeiro projecto da associação criada em 2012. Tem o financiamento do EEA Grants, regulado pela Fundação Calouste Gulbenkian ao abrigo do Programa Cidadania Activa.

Foi elaborado a partir de questionários e entrevistas a 19 dirigentes e 39 técnicos de Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), na sua maioria, mas também de Instituições Particulares de Solidariedade Social que acolhem crianças e jovens. Abundam, na síntese tornada pública, citações das conversas mantidas. Algumas declarações chocam pela “falta de conhecimento” que revelam, admitiu ao PÚBLICO Rita Paulos, directora executiva da Casa Qui. “Mas não vamos esperar que as pessoas percebam as coisas se não têm formação, se não lidam com os casos, se não conhecem…”

Excerto de uma entrevista a uma técnica de uma CPCJ que esteve a acompanhar um menor transexual: “Sim, pronto, se calhar tenho de ter algum cuidado por causa da minha curiosidade. Por exemplo, perguntei aquilo das mamas. Ele mostrou logo as mamas, mas eu fiquei a pensar ‘Bem, agora se calhar já exagerámos, não é?’ Mas confesso, foi mesmo uma curiosidade minha pessoal porque eu só via aquilo na televisão e, ao vivo, o miúdo a dizer-me: ‘Então, estão-me a crescer as mamas e não sei quê’ ‘Mas tu tens?’ ‘Tenho’ ‘Então podes mostrar-me?’ E ele pronto. É verdade, ele tem, igual às minhas (risos). Depois agente pensou isso… Mas não aqueceu nem arrefeceu no processo, naquilo que agente ia trabalhar.”

Ou esta, de outra técnica de outra CPCJ, que a propósito do caso do rapaz que foi espancado pelo pai foi questionada pela equipa da Casa Qui sobre como é que achava que outros colegas de comissão iriam lidar com o processo se ele lhes fosse parar às mãos: “Eram capazes de o aconselhar a que se mantivesse… que se calhar não assumisse, que ficasse mais calado, hmm… ou que fosse procurar um técnico na área para ver se era mesmo a orientação que ele queria.”

“Conspiração do silêncio”

São os próprios técnicos questionados que, em muitos casos, admitem que sentem necessidade de formação, apoio, recursos: “Precisamos é de serviços para terapia familiar”, defende um. “Os recursos em termos de psicologia e saúde mental são escassos”, afirma outro.

Mas mostram-se abertos. Alguns números: desafiados a avaliar, numa escala de 1 (equivalente a “Nada”) e 5 (equivalente a “Muito”), em que medida as CPCJ e as IPSS estão familiarizadas com os conceitos de “orientação sexual e identidade/expressão de género”, 12 em 38 responde “4” ou “5” e 20 respondem “3” — sentem-se “mais ou menos” familiarizadas, resume Andreia Pereira, técnica superior da Casa Qui.

Há 26 que acham que a “sensibilidade” dos técnicos para esta temática e bastante boa. Isto, apesar de a maioria (34) relatarem não ter tido qualquer contacto com estes assuntos na sua formação.

A maioria conta que nunca lidou pessoalmente com casos de “crianças ou jovens encaminhados para a instituição onde trabalham por motivos relacionados com orientação sexual e identidade ou expressão de género”. Mas há 11 que dizem que sim, que isso aconteceu. E outros seis lidaram com menores que, apesar de terem sido sinalizados como estando em risco por outras razões, nalgum momento do processo revelaram ter uma orientação sexual ou identidade de género minoritária.

Henrique Pereira, professor e investigador de Psicologia na Universidade da Beira Interior, convidado a comentar o trabalho, na sessão que decorreu na Câmara Municipal de Lisboa, disse que existe uma “conspiração do silêncio” à volta deste tema das crianças e jovens LGBT e admitiu que isso explicará que sejam poucos os técnicos a dizer que já lidaram com estas situações.

Dulce Rocha, presidente executiva do Instituto de Apoio à Criança, também convidada a comentar os dados, lembrou os seus tempos de magistrada no tribunal de família e menores para dizer que lidou com casos em que as pessoas só contavam o que se estava a passar realmente com elas quando eram instigadas a fazê-lo. Se não se pergunta, elas não dizem.

Suicídio “3 a 4 vezes superior”

A taxa de suicídio entre os jovens LGBT é “três a quatro vezes superior” à dos restantes jovens, recordou ainda Henrique Pereira. Nos Estados Unidos estima-se que entre 12 mil e 24 mil crianças e jovens LGBT estejam a cargo de instituições, sendo que muitos fugiram de casa ou foram expulsos.

A Casa Qui é uma associação de solidariedade social criada em 2012 — só ela recebeu, em menos de um ano, nove pedidos de ajuda de jovens que precisavam de ser acolhidos por causa de conflitos com a família relacionados com a sua orientação sexual ou a identidade de género. A Casa não tem ainda um espaço próprio, a ideia é encaminhar as situações para as respostas mais adequadas, trabalhar em parceria com as instituições, prestar-lhes formação e serviços de consultoria, a qualquer hora em que surja um novo caso mais complexo.

O estudo apresentado nesta quarta-feira é o primeiro passo. Rita Paulos não defende para já a criação de instituições de protecção de crianças e jovens específicas para LGBT  — tema sempre polémico (quer antes de mais continuar a estudar e a trabalhar com as instituições que existem). Mais urgente, admite, pode ser encontrar respostas para jovens com mais de 18 anos, que apesar de continuarem muitas vezes dependentes das famílias, já não são enquadrados pelo sistema de protecção se são expulsos de casa.

Sara Teixeira, da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, elogiou o diagnóstico da associação que, diz, ajudará a decidir políticas para que este tema ganhe mais visibilidade. Isto apesar de alguns técnicos parecerem defender que ele não é relevante: 14 entrevistados disseram que “a orientação sexual não é pertinente” na sua intervenção.

“Um jovem chegar ao [centro de] acolhimento e dizer que é gay já não ligam, vê-se nos filmes, nas novelas”, conta um. “O procedimento é o mesmo independentemente da orientação sexual”, diz outro. Será isto um sinal de uma sociedade avançada? Ou, como admite Henrique Pereira, sinal de que as pessoas “preferem enterrar a cabeça na areia” a enfrentar uma questão sobre a qual “impera uma brutal ignorância”?

 

 

Debate sobre o Estudo “Diagnóstico de Experiências, Competências e Respostas na Intervenção Institucional com Jovens LGBT em Situação de Violência Familiar e/ou Expulsão de Casa”

Julho 17, 2014 às 2:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentário
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A Drª Dulce Rocha, Vice-Presidente do Instituto de Apoio à Criança, irá participar no debate sobre o Estudo “Diagnóstico de Experiências, Competências e Respostas na Intervenção Institucional com Jovens LGBT em Situação de Violência Familiar e/ou Expulsão de Casa” no dia 30 de julho de 2014 pelas 10.45 horas.

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mais informações:

http://www.casa-qui.pt/index.php/noticias/40-debate-sobre-intervencao-institucional-com-jovens-lgbt-em-situacao-de-violencia-e-ou-expulsao-de-casa

STUDY: Kids Who Are Cyberbullied Are 3 Times More Likely To Contemplate Suicide

Março 31, 2014 às 8:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentário
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Notícia do site Think Progress de 11 de Março de 2014.

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By Sy Mukherjee

Children and teenagers who are bullied are twice as likely to contemplate suicide as other children, according to a new review of dozens of previous studies on the psychological tolls of being harassed, taunted, and otherwise ostracized by one’s peers. Strikingly, analysis published in the Journal of the American Medical Association (JAMA) Pediatrics also finds that cyberbullying is even more harmful for young Americans’ mental well-being. Children who have faced online harassment are three times as likely to contemplate suicide.

Cyberbullying has become increasingly problematic in youth culture as schoolyard gossip shifts to online forums and social media platforms, some of which allow users to engage in emotional taunting while maintaining anonymity. Last fall, Florida authorities arrested two girls, aged 12 and 14, on felony charges after their online bullying of 12-year-old Rebecca Sedwick allegedly caused the girl to commit suicide by jumping from an abandoned cement tower. More recently, Daisy Coleman — the 14-year-old girl who was allegedly sexually assaulted by a Maryville high school football player two years ago — tried to kill herself by overdosing on pills after being mocked on Facebook as a “hypocrite” and “slut” for attending a party.

The new JAMA study’s authors say that cyberbullying has unique elements that may make it more harmful than other types of bullying. “With cyberbulling, victims may feel they’ve been denigrated in front of a wider audience,” said lead study author Mitch van Geel in an interview accompanying the analysis. “[And material] can be stored online, which may cause victims to relive the denigrating experience more often.”

Cyberbullying also presents more of a danger to girls and LGBT youth than it does to other young people. While boys in the U.S. are more likely to engage in physical violence and bullying, girls are significantly more likely to be both the perpetrators and the victims of online bullying, according to data from the Cyberbullying Research Center. The Gay, Lesbian, & Straight Education Network (GLSEN) reports that LGBT children are cyberbullied at three times the rate of other kids, and that more than 40 percent of LGBT youth have been bullied online.

States can take action to bolster anti-cyberbullying measures. Although many states consider “electronic harassment” to be bullying, just 18 states specifically mention “cyberbullying” in protective statutes. A mere 12 states impose criminal sanctions on cyberbullies.

Advocacy groups also stress the need for parents to familiarize themselves with their children’s Internet habits and social media interactions while minimizing the stigma associated with being a victim of the harassment.

 

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