Sabia que todos têm direito à Infância?
Agosto 28, 2019 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento de crianças e jovens, Acolhimento Familiar, Acolhimento Institucional, Acolhimento Residencial, Crianças Institucionalizadas, Direito à Família, Mariana Negrão, Proteção de Crianças
Artigo de opinião de Mariana Negrão publicado no Público de 2 de agosto de 2019.
Todos somos sociedade e todos somos chamados a conhecer os nossos sistemas e instituições, para nos orgulharmos das suas conquistas e reclamarmos as mudanças necessárias a um maior desenvolvimento e melhoria da vida comum.
Sabia que os dados mais recentes do relatório de caracterização anual da situação de acolhimento reportam que, em 2017, estavam acolhidas 7553 crianças e jovens, separados das suas famílias, ao abrigo da lei de promoção e proteção? E que, em média, estas crianças e jovens estão acolhidas um pouco mais de três anos e meio? Sabia que, destas, só 3% estava entregue ao cuidado de uma família de acolhimento, permanecendo as restantes acolhidas em instituição? Sabia que esta é uma realidade em clara clivagem com a europeia e com a evidência científica? E que estudos exploratórios revelam que os portugueses têm uma atitude favorável face ao acolhimento familiar e uma elevada disponibilidade para se tornarem família de acolhimento?
Todos somos sociedade e todos somos chamados a conhecer os nossos sistemas e instituições, para nos orgulharmos das suas conquistas e reclamarmos as mudanças necessárias a um maior desenvolvimento e melhoria da vida comum. O conhecimento e a sensibilização social em torno do Sistema de Promoção e Proteção de Crianças e Jovens é fundamental, permitindo ter cidadãos mais despertos para a problemática da proteção à infância, mais exigentes na reivindicação da sua qualidade, mais sensibilizados para poder, eventualmente, desempenhar algum papel – seja de família de acolhimento, padrinho civil, família amiga – em colaboração com o sistema.
Por isso, importa sabermos que a realidade do Acolhimento Familiar em Portugal é contrária ao que está consagrado na lei portuguesa, contrária à tendência europeia, e contrária ao consenso científico. A investigação afirma a maior capacidade do acolhimento familiar para responder às necessidades desenvolvimentais das crianças em perigo, devido à sua semelhança com o ambiente natural e à mais fácil criação de uma relação investida, particular e estável com os acolhedores. Importa saber isto para exigir, em Portugal, a efetivação de condições para o acolhimento familiar como resposta primeira, permitindo dar à grande maioria das crianças acolhidas um colo específico – que seja lugar de estabilidade, segurança, normalização da vida quotidiana, reparação de modelos de vínculos e relações saudáveis.
Importa também sabermos que a realidade do acolhimento residencial está em transformação – com jovens cada vez mais velhos e com mais problemas de comportamento – porque chegam ao sistema com marcas da passagem de um tempo mais dilatado de desatenção e desamor. Importa saber isto para exigir também condições que viabilizem trazer mais qualidade às casas de acolhimento: casas mais pequenas e organizadas num modelo para-familiar; mais atenção e respeito pela voz e perspetiva das crianças; maior capacidade e disponibilidade para o envolvimento da família e o investimento na sua recapacitação; menor sobrecarga dos técnicos e mais formação/supervisão das equipas que têm que gerir comportamentos e emoções; maior literacia sobre o poder dos vínculos, do amor, da entrega e do quanto isso é estruturante na possibilidade de lermos a vida de uma outra forma, de nos lermos de uma outra forma, de reparar trajetórias de vida – que é o grande compromisso do sistema com estas crianças e jovens.
De realçar, ainda, que saber que tudo isto pode ser uma realidade menos presente nas vidas de tantas crianças e jovens, se as suas famílias tiverem apoio precocemente, se os técnicos de proximidade, na comunidade, em meio natural de vida, tiverem as condições que lhes permitam desenvolver o seu trabalho cada vez com maior qualidade, com base em evidência, com consistência temporal, evitando tantas separações e acolhimentos.
Importa sermos cidadãos informados que exijam um sistema de promoção e proteção à infância cada vez mais congruente com aquilo que a ciência demonstra, com aquilo que o bom senso dita, com a necessidade de amor que a realidade grita. Para permitir um direito à infância, ao amor e a um pleno desenvolvimento, efetivos, e para todas as crianças.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico
Docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa – Porto
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Crianças retiradas a famílias dão nota positiva a casas de acolhimento
Julho 3, 2019 às 12:00 pm | Publicado em Estudos sobre a Criança | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento de crianças e jovens, Acolhimento Institucional, Casas de acolhimento, Crianças Institucionalizadas, Retirada de crianças, Sónia Pires de Lima Araújo Rodrigues, Sónia Rodrigues, Tese de Doutoramento
Notícia do Público de 15 de junho de 2019.
Descarregar a tese citada na notícia em baixo
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I Encontro Nacional de Jovens (Ex)Acolhidos, 3 julho em Coimbra
Junho 25, 2018 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento Institucional, Acolhimento Residencial, Encontro, Jovens Institucionalizados, PAJE - Plataforma de Apoio a Jovens Ex-acolhidos
mais informações nos links:
https://www.facebook.com/events/189650968405953/
http://www.paje.pt/i-encontro-nacional-de-jovens-exacolhidos/
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Conferência Final Houses of Empathy, 4 de Julho, na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro
Junho 29, 2017 às 9:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento Institucional, Bullying, Casas de acolhimento, Conferência, Crianças Institucionalizadas, Par – Respostas Sociais
Entrada Livre.
Inscrições: http://bit.ly/2sdpOhL
+ info: www.housesofempathy.eu
A Par – Respostas Sociais tem o prazer de a convidar para a Conferência Final Houses of Empathy, que se irá realizar no próximo dia 4 de Julho, a partir das 14h, na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro (Telheiras, Lisboa).
A Conferência Final Houses of Empathy irá reunir os parceiros internacionais do projeto (Portugal, Espanha, Reino Unido e República da Irlanda) e tem como objetivo dar a conhecer os principais resultados do programa Houses of Empathy. Pretende-se, ainda, que este seja um espaço de reflexão acerca prevenção e intervenção em situações bullying em contexto de acolhimento institucional de crianças e jovens.
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Matam a sede de afetos com brinquedos de peluche
Agosto 29, 2016 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento Institucional, Conselho Português para os Refugiados - CPR, Crianças Refugiadas, Portugal
Reportagem do Jornal de Notícias de 1 de agosto de 2016.
clicar na imagem
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I Fórum da Gondomar Social – “O Acolhimento Terapêutico de Crianças e Jovens”
Setembro 9, 2015 às 6:00 am | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento de crianças, Acolhimento Institucional, Acolhimento Terapêutico, Crianças Institucionalizadas, Escola, Fórum, Gondomar Social - Associação de Intervenção Comunitária
A Gondomar Social – Associação de Intervenção Comunitária é uma Instituição Particular de Solidariedade Social vocacionada para o desenvolvimento de respostas que prossigam fins sociais e cuja atividade se centra na dinamização de um Lar de Infância e Juventude Especializado «Coração d’Ouro» que acolhe 18 jovens do sexo feminino com idades entre os 12 e os 18 anos e com problemas de comportamento e saúde mental diagnosticados.
Atualmente estamos a organizar o I Fórum da Gondomar Social – O Acolhimento Terapêutico de Crianças e Jovens que decorrerá nos próximos dias 8 e 9 de Outubro, no Pavilhão Multiusos de Gondomar. Pretendemos criar um espaço de reflexão, estudo e partilha relativamente ao acolhimento institucional, em geral, e à importância de investir em práticas cada vez mais específicas e dirigidas às necessidades que as crianças e, em particular, os jovens revelam. Assim, este Fórum irá contar com a participação de ilustres palestrantes não só de todo o país, mas também internacionais, como é o caso do Prof. Richard Rollinson, conceituado palestrante na área do acolhimento residencial especializado junto de jovens com problemas de comportamento.
Serve o presente para remeter o Programa deste fórum estando certos de que a dinamização desta iniciativa contribuirá para o enriquecimento de todos os profissionais que intervém nas áreas da infância, juventude e respetivas famílias. Assim solicitamos a v/ prestimosa colaboração na divulgação deste evento.
As inscrições devem ser enviadas através do link: https://docs.google.com/forms/d/1cLvBP9xdP___iJm4B7it8OfJ8t3FbU4leP4kaFu8tis/viewform?usp=send_form
Caso tenha problemas a preencher o formulário de inscrição poderá mandar os seguintes dados para o email: gondomarsocial@gmail.com
Nome:
Profissional ativo
Estudante
Desempregado
Organismo onde estuda/trabalha:
NIF:
Área de Formação:
Cargo/função:
Morada:
Contato telefónico:
E-mail:
O valor da inscrição é de:
€15: Público em Geral.
€10: Estudantes/Desempregados(as).
O pagamento deverá ser efetuado mediante transferência bancária para:
NIB 0010 0000 45939510001 42.
Após o pagamento agradece-se o envio do comprovativo da transferência por e-mail ou fax, para validação da inscrição.
Relembramos que as inscrições são limitadas à capacidade da sala, pelo que serão validadas por ordem de remissão de comprovativos. INSCREVA-SE!!
Quaisquer esclarecimentos adicionais, agradece-se o contacto:
Tel. 22 421 99 20 | Fax. 22 421 99 29
http://gondomarsocial.webnode.pt/lar-de-inf%C3%A2ncia-e-juventude-especializado/
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Encontro Os Direitos da Criança no Acolhimento Institucional
Novembro 12, 2014 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento Institucional, Direitos da Criança, Encontro, Fundação Calouste Gulbenkian
Entrada livre mediante inscrição prévia aqui
mais informações aqui
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Workshop Acolhimento Institucional de Menores – Intervir nas Famílias sem Piorar?
Novembro 6, 2014 às 12:00 pm | Publicado em Divulgação | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento Institucional, Intervenção Familiar, Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, Workshop
Delegação do Norte da SPTF
WORKSHOP
“ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL DE MENORES – INTERVIR NAS FAMÍLIAS SEM PIORAR?”29 de Novembro de 2014
9:30 – 12:30
14:30 – 17:30Sócios SPTF – 10 €
Não sócios – 15 €A retirada de menores das famílias e o seu acolhimento temporário ou prolongado em instituições justifica preocupações que se pretende sejam discutidas neste workshop. A emergência das situações de crise, a proteção devida aos menores e a intervenção do Estado através da saúde, da justiça e do serviço social podem induzir simplificações, que não vão permitir soluções que respeitem a complexidade dos valores, dos afetos e do desenvolvimento das pessoas envolvidas. A teoria dos sistemas é uma teoria da complexidade organizada. A Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar – Delegação Norte leva a cabo este workshop com o objetivo de abordar as práticas institucionais e profissionais numa leitura sistémica de casos trazidos pelos participantes.
Inscreva-se aqui até ao dia 24 de Novembro 2014
O workshop terá lugar nas instalações da Delegação do Norte SPTF, Rua Júlio Dinis, 748 – 5º andar – Sala 513
4050-321 PORTO
Para mais informações contacte o e-mail: info@sptfnorte.org ou os telefones 226007614 / 918392805.https://www.facebook.com/pages/SPTF/224023041058164?sk=timeline
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Direitos das crianças em instituições também passam por pensar o seu futuro
Junho 5, 2014 às 12:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento de crianças, Acolhimento Institucional, Jovens Institucionalizados
Notícia do Público de 29 de maio de 2014.
Esgotadas as medidas possíveis de protecção ou de intervenção, a criança é retirada da família. “Quando chega, vem assustada.” O Lar Nossa Senhora de Fátima, em Reguengos de Monsaraz, foi um dos quatro escolhidos no país para um projecto da Gulbenkian que pretende minorar e debater a dor destes filhos das instituições. A conferência realiza-se esta quinta-feira em Lisboa.
Quando são retiradas de surpresa à família, as crianças e jovens em perigo não têm tempo para se despedir dos pais. Nem de ninguém. A retirada é decidida quando há “indícios claros de perigo”. E é planeada em segredo, em caso de risco de fuga. Acontece mesmo em situações de retirada consentida, por pais que depois rejeitam a ideia de se separarem dos filhos. Quando são retiradas de surpresa à família, as crianças e jovens em perigo não têm tempo para se despedir dos pais. Nem de ninguém. A retirada é decidida quando há “indícios claros de perigo”. E é planeada em segredo, em caso de risco de fuga. Acontece mesmo em situações de retirada consentida, por pais que depois rejeitam a ideia de se separarem dos filhos.
Os pais de António, Sandra e Susana declararam-se incapazes de os criar por motivo de doença de ambos e falta de condições. “Mas apesar de concordarem com a retirada, ficaram muito assustados quando receberam o despacho” da decisão, conta Vânia Pereira, psicóloga e directora do Lar Nossa Senhora de Fátima, de infância e juventude, que acolheu as três crianças em Reguengos de Monsaraz. “Com a ideia de perder os filhos, os pais estiveram desaparecidos com eles durante um mês e meio. Não se queriam separar dos miúdos. Esconderam-se na casa de um familiar.” Foi em 2009. “Mais tarde, o pai, arrependido, foi falar com a técnica da Segurança Social. Mas levou muito tempo a aceitar a situação.” E António? Os pais deixaram-nos aqui por “dificuldades”, diz o rapaz de 12 anos. É bom aluno e tem planos grandiosos para o futuro – ser médico-cirurgião. Mas para ele, a casa dos pais será sempre “mais casa do que aqui”.
Nalguns casos, o corte faz-se sem pré-aviso. Aí, o carro da Polícia de Segurança Pública (PSP) ou a equipa da Segurança Social aparecem na escola ou em casa para levar a criança – ou as crianças, quando há irmãos sob uma mesma medida de protecção decidida pelo Tribunal de Família e Menores, se a retirada não é consentida pelos pais (o que acontece na maior parte dos casos). A partir desse momento, as crianças ainda não sabem – ou talvez pressintam – que talvez nunca mais regressem à família. Das crianças que viveram e saíram deste lar em Reguengos desde 2008, apenas um quinto voltou para a família. São dados de Abril de 2014.
Ainda entre as crianças e jovens que passaram por aqui nos últimos seis anos, 42% ficaram mais de 10 anos e 55% mais de sete. E embora uma importante fatia – 33% – tenha permanecido menos de três anos, só 5% ficaram menos de um ano. Do conjunto, apenas 7% foram para famílias adoptivas.
Limitar ao mínimo o tempo na instituição e pensar um projecto de vida para estas crianças serão alguns dos temas em debate na conferência Jovens em Acolhimento Institucional que esta tarde se realiza no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa e na qual participa a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal.
No encontro, olham-se as propostas – para melhorar as perspectivas de inserção e de vida das crianças institucionalizadas – apresentadas por quatro instituições. Foram seleccionadas no âmbito de um projecto da Gulbenkian pelo contributo de uma possível aplicação, a nível nacional, das suas experiências: a Oficina de São José, em Braga, a Associação Vila Nova, em Vila Real, o centro de acolhimento temporário Casa do Canto, em Ansião, que centrou o seu projecto na tentativa de reconstruir os laços familiares; e o Lar de Nossa Senhora de Fátima, em Reguengos de Monsaraz.
“Chegam em choque”
“Quando aqui chegam, vêm assustados. Alguns vêm o caminho todo a chorar, ficam calados ou continuam a chorar. Outros nem conseguem verter lágrimas, estão em estado de choque, principalmente quando são crianças retiradas de surpresa. A maioria sabe por que aqui está”, diz Vânia Pereira, que dirige esta instituição que, enquanto Lar de Infância e Juventude se distingue dos Centros de Acolhimento Temporário (CAT), pelo tempo previsto de permanência.
Os CAT recebem bebés e crianças mais novas, na transição para outro lar, para a adopção ou retorno à família biológica e têm um tempo de permanência previsto inferior a seis meses –, mas, na maioria dos casos, prolonga-se por vários anos. Os lares de infância e juventude são habitualmente para crianças a partir dos 12 anos, e vistos como opção quando se esgotaram todos os tipos de intervenção para as proteger.
“Quando vêm para aqui, normalmente, é porque já se sabe que não vai haver retorno à família. Pelo menos, para breve”, explica Vânia Pereira que acolhe nesta instituição crianças mais pequenas do que o previsto para não ficarem separadas dos irmãos.
Como Sara e Leonel, tirados de casa sem aviso e sem nada porque numa situação extrema e depois acolhidos neste lar de infância e juventude em Reguengos de Monsaraz, quando ele tinha quatro anos e a irmã ia fazer 11. Sara sabia que um dia seriam levados de casa – só não sabia quando.
Acabou por ser quase em véspera de Natal, no dia 23 de Dezembro de 2011. O tribunal considerou que a humilhação e o mau trato sobre Sara e a negligência sobre ambos punham em perigo o bem-estar, saúde e desenvolvimento das duas crianças, hoje com 13 e seis anos.
Na casa onde viviam com os pais em Évora tornara-se habitual serem deixados sozinhos durante o dia. Era Sara quem cuidava da casa e do irmão bebé, quando Leonel, com dois e três anos, ainda acordava de noite para mudar a fralda e beber o biberão. Mais difícil de apagar da memória será a violência que Sara viveu em segredo por medo do que poderia acontecer se contasse o que se passava em casa. Poderia ela proteger o irmão? Seria ela castigada por falar? Seriam os pais castigados, levados para sempre, presos?
Os pais estão presos, depois de condenados em Fevereiro passado, por violência sobre Sara e Marlene, a irmã do meio, hoje com dez anos, que vive num lar em Vila Viçosa e que foi retirada de urgência de casa, antes dos irmãos, em Janeiro de 2011. Para Sara e Leonel, também o contacto com a irmã seria prejudicial pelos “danos” sofridos por Marlene que a transformaram como pessoa, explica a psicóloga Vânia Pereira.
“Na maioria dos casos, as crianças lembram-se de quase tudo. Mas muitas têm retalhos apenas, não uma narrativa”, acrescenta. “Tentamos perceber do que se recordam sem lhes dar lembranças que não têm, que recalcaram. Por vezes há coisas que é preferível não saberem.”
Fechados para seu próprio bem
A porta sempre trancada do lar tem a seu lado um sistema de controlo das entradas e saídas, com um código apenas conhecido das responsáveis. É dentro destas paredes que as 23 crianças e jovens aqui institucionalizadas recriam o seu mundo. Fechadas, para seu bem. No caso de Sara e Leonel, os pais ficaram impedidos de visitar os filhos pelos riscos emocionais que esse contacto poderia constituir. Entre eles, o risco de reviver o trauma.
Em casa, Marlene era humilhada por palavras e castigada com violência. Os gritos ouviam-se para lá do quarto onde era fechada, por vezes no escuro – até um dia de Janeiro de 2011, quando as marcas no corpo lançaram o alarme na escola. Imediatamente foi retirada aos pais, passando a violência a centrar-se em Sara, retirada meses depois com o irmão. Conta Vânia Pereira que Sara já passou da tentativa de “dar um sentido” ao que de pior lhe aconteceu, questionando a possibilidade de ser dela também parte da culpa, ao tormento da dúvida: “O que me vai acontecer agora que não tenho ninguém para cuidar de mim?”
O estigma continua presente e é preciso pensar a vida estes jovens na comunidade, diz Maria João Leote, investigadora do CESNova (Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa) que integra a equipa de acompanhamento do projecto inserido no programa “Crianças e Jovens em Risco” da Gulbenkian, com coordenação cientifica do psiquiatra Daniel Sampaio, e que estará em discussão no encontro desta quinta-feira.
Depois da missão de levar as instituições a cumprir as convenções internacionais dos direitos da criança, “o objectivo agora é que a instituição esteja presente o menor tempo possível na vida da criança e que seja pensado um projecto futuro de autonomização plenamente integrado na comunidade”, completa a socióloga.
O número de crianças acompanhadas pelas comissões tem aumentado (71 mil casos em 2013), de acordo com o relatório anual da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco relativo ao ano passado, em que o grupo mais representado passou a ser o dos jovens entre os 15 e os 18 anos.
Esse maior peso no conjunto – também visível no lar de Reguengos, onde quase metade (44%) dos jovens acolhidos em Abril deste ano têm entre 15 e 18 anos – explica-se pelo arrastar da situação das crianças que crescem nas instituições, mas também por serem mais notadas e sinalizadas as situações de perigo dos jovens agora que a escolaridade obrigatória passou para os 18 anos.
Pelo segundo ano consecutivo, em 2013, a principal razão foi a violência ou a exposição a comportamentos violentos, como aconteceu com Sara, Leonel e Marlene, em 2011 – o ano da sua retirada.
Primeiros passos decisivos
Quando retiradas, as crianças são acompanhadas ao lar de infância e juventude ou ao centro de acolhimento temporário por um técnico da segurança social ou da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco (CPCJR), quando houve acordo. Por vezes, chegam sem nada, e só mais tarde um familiar ou os próprios pais trazem a roupa.
Quando aqui chegam, as crianças têm uma primeira entrevista de acolhimento, uma primeira refeição, um primeiro banho – passos decisivos para, aos poucos, aceitarem ter uma casa sem uma família.
Procuram um sentido, resguardam-se na fantasia e na idealização dos pais. Quando o caso é entregue ao tribunal, na ausência de acordo entre os pais e a comissão de protecção, a partir dos 12 anos, a criança deve ser ouvida. Habitualmente, porém, não é questionada sobre o desejo de ficar ou não com os pais. “Normalmente e apesar de tudo, todas elas querem ficar com os pais. Não aceitam vir para uma instituição”, nota Vânia Pereira.
Esta opção coloca-se quando estão esgotadas todas as intervenções de protecção junto da família ou tentando, prioritariamente, manter a criança em meio natural de vida. Num primeiro momento, tenta-se a medida de apoios dos pais – com apoio psicológico, educação parental ou visitas a casa – e esta pode ser suficiente. Se não o for, pode aplicar-se uma medida de apoio junto de outro familiar. Porém, não havendo isto, passa-se para a colocação em acolhimento familiar ou institucional, entrega a pessoa idónea (que pode ser uma amiga, uma madrinha) ou inicia-se a medida de adopção.
Sara e Leonel estão ainda juntos depois de terem sido arrancados de casa quando tinham dez e quatro anos. No átrio do lar, quando se revêem ao final do dia, depois da escola e do infantário, brilha o olhar de ambos, inseparáveis. E assim ficariam no caso, improvável, de aparecer uma família que aceitasse adoptar os dois irmãos.
Sara sabe que existe uma forte probabilidade de o pequenino, hoje com seis anos, ser adoptado por uma família e de ela, com 12, não o ser. O melhor para o irmão será mais um corte para ela.
Os nomes nesta reportagem são fictícios
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Jovens que aprendem a voar sozinhos
Junho 5, 2014 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Acolhimento Institucional, Inclusão Social, Jovens Institucionalizados, Maus Tratos e Negligência, Reinserção Social
Notícia da Visão Solidária de 29 de maio de 2014.
A frase colada na parede maior da sala de estar, à entrada da instituição, não podia ser mais certeira: “Nesta casa divertimo-nos, damos segundas oportunidades, perdoamos, rimos alto, somos pacientes, somos verdadeiros, pedimos desculpa, amamos.
Somos Família.” É um estado de espírito que se sente também na algazarra que invade os corredores quando os miúdos chegam da escola à hora de almoço, recebidos pelo carinho das funcionárias e pelos sorrisos de toda a equipa técnica. Assim, à primeira vista, parecem todos iguais. Mas um olhar mais atento encontra diferenças. Veja-se Anabela, chamemos-lhe assim, 19 anos, que também vem a casa à hora do almoço, mas tem outra rotina. Abraçou, há um mês, a experiência de viver quase sozinha, numa espécie de treino de autonomia, num apartamento adaptado à medida, no andar de cima.
“Eram as maiores dificuldades para quem estava prestes a sair da instituição: viver com o silêncio e saber estar sozinho, ter um orçamento para abastecer o frigorífico, separar roupa para lavar, passar a ferro.”, aponta Vânia Pereira, 34 anos, diretora do Lar Nossa Senhora de Fátima, em Reguengos de Monsaraz, ao indicar-nos o caminho. A rapariga abre-nos a porta e sorri: “Vivo com uma colega, mas cada uma tem o seu quarto e a sua privacidade.” Está a estudar técnicas de venda, para obter a equivalência ao 12.º ano e, sabendo que tem ajuda até aos 21 anos, mostra-se confiante: “Se conseguir emprego, até saio antes.” Mais não diz, mas sabe que há ali muitos que sonham com um quarto só para eles.
O centro, que cresceu numa casa senhorial doada à Misericórdia nos anos 1930, no pico de um surto de tuberculose, até há pouco tempo não era nada parecido com o que hoje encontramos: além do apartamento autónomo, há quartos de todas as cores, pintados com a ajuda das 23 crianças e jovens, entre os 5 e os 22 anos, que ali encontraram um lar. “Pode não parecer importante, mas diminui o vandalismo”, assegura Vânia Pereira.
“Quanto mais se identificam com o espaço onde vivem, mais o estimam.”
Autonomia e responsabilidade
Este é só um primeiro passo, porque há todo um inventário de dificuldades na vida de crianças retirados à família em processos de abuso ou negligência. Na maioria das vezes, crescem sem figuras de referência ou modelos de comportamento positivos, e acumulam processos da Segurança Social, mesmo enquanto estão em casa dos pais, sem qualquer sucesso. Por demasiadas vezes, seguia-se uma institucionalização prolongada e, por sistema, sem projeto pedagógico. “Quando chegámos, em 2008, estava cá uma rapariga com 30 anos que vivia aqui desde os 16.”, lembra a diretora. Ora, foi para acabar com situações como esta que a equipa pôs mãos à obra e, em 2012, esse empenho deu frutos: a instituição foi escolhida pela Fundação Calouste Gulbenkian para entrar num projeto-piloto, com uma linha de financiamento que permitiu avançar com a ideia de Vânia e da sua equipa: “Para que a passagem por sítios assim seja sempre transitória e com um projeto educativo definido. Aqui começa a proteção. Não acaba, não é um fim em si. Não queremos criar pessoas dependentes mas sim autónomas e responsáveis.” O contexto não é o melhor (só no ano passado foram retiradas às famílias mais 3 500 crianças, totalizando 8 500 institucionalizadas) mas o futuro não tem de ser assim. Este projeto-piloto abrange outras três instituições (ver caixa). “Esperamos que estes exemplos estimulem experiências semelhantes noutras equipas”, considera Daniel Sampaio, coordenador científico do programa Crianças e Jovens em Risco, da Gulbenkian, que será apresentado numa conferência, a 29 de maio.
Passeando pelo resto da casa alentejana, é quase palpável essa ideia de criar vínculos nos miúdos para que depois possam voar sozinhos. Todos partilham esse sonho. Jorge, 15 anos, vive ali há três anos com o irmão, de 13, enviados já de outra instituição. Só pensa em acabar o 9.º ano e ir para Évora, aprender qualquer coisa ligada às tecnologias.
Sofia, 16 anos, está lá há nove anos.
Retirada a um ambiente de conflito, hoje é escuteira, treina para desfilar nas marchas e também quer seguir um curso profissional.
É uma das próximas a treinar a autonomia, no apartamento: “Mal posso esperar.”
Boas práticas
O objetivo de todos os projetos apoiados pela Fundação Gulbenkian é a promoção da autonomia de crianças e jovens em acolhimento institucional
Oficina S. José – Braga
Lar de Infância e Juventude que acolhe 43 rapazes entre os 2 e os 29 anos, todos oriundos da região, apostou também por isso boa parte da sua intervenção no regresso dos jovens à sua família nuclear.
Associação Via Nova – Vila Real
A gestão do dinheiro é transversal a todos os projetos, mas aqui permitiu mesmo abrir um bar na instituição, gerido pelos jovens. Tem também um conjunto de casas separadas do edifício principal nas quais os 19 rapazes, entre os 9 e os 20 anos, treinam a autonomização.
Casa do Canto – Ansião
É o único centro de acolhimento temporário do programa e optou por usar as atividades artísticas para combater a baixa autoestima, dificuldades de interação e problemas de adaptação à escola das 23 raparigas, com idades entre os 12 e os 19 anos, que ali estão.
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