Quando os pais contratam professores particulares de Fortnite: uns sonham com milhões, outros querem fugir do embaraço na escola

Setembro 2, 2019 às 8:00 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentário
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Notícia e imagem do Expresso de 9 de agosto de 2019.

O preço das aulas particulares podem oscilar entre 10 e 25 euros por hora. “Existe uma grande pressão para não só jogar como para ser realmente bom. Não fazem ideia do duro que foi para eles na escola”

A vida de Jordan desenrola-se no quarto da sua casa em Sudbury, Massachusetts. É ali que passa oito, 10 (e às vezes 14) horas do dia. Recebe a sabedoria da escola longe da escola: as lições chegam-lhe via Internet, depois de o pai retirá-lo do liceu. Querem ambos que ele seja um dos grandes no gaming. Na verdade, conta esta reportagem do “Boston Globe”, já é. Começou a jogar numa consola com três anos. Aos sete, era craque no “Halo”. Aos 12, ganhou o primeiro torneio de gaming, metendo no bolso quase 1800 euros (em acessórios para jogar). O pai de Jordan, antes de as coisas começarem a traduzir-se em dinheiro, investiu 27 mil euros em tecnologia de ponta para Jordan brilhar. As férias e jogatanas de ténis ficaram suspensas. O foco é treinar e ser um dos melhores no jogo Fortnite. Perante as vozes que censuram este jeito de viver, o pai diz que se fosse outra área, como piano ou representação, as reações seriam diferentes.

A cenourinha, que é como quem diz o objetivo, passa por viver numa casa com uma equipa, onde comem, dormem e treinam juntos. Não seria “Eight days a week”, como cantavam os Beatles, mas quase. “Eu só quero fazer dinheiro suficiente para não ter de trabalhar durante a minha vida”, disse àquele jornal norte-americano. Até julho, o rapaz de 16 anos somou, pelo menos, 99 mil euros. Jordan Herzog, conhecido por “Crimz”, qualificou-se para o Campeonato do Mundo de Fortnite, que, somente pela participação, lhe valeu quase 45 mil euros.

Esta história demonstra uma franja do impacto que tem tido pelo mundo fora. De acordo com o site “Portugal Gamers”, todos os meses este jogo angaria qualquer coisa como 268 milhões de euros nas compras e vendas de itens e skins. O fenómeno atrai também ações ilicitas, como o Expresso contou neste artigo de dezembro: na altura, a BBC denunciava que existem hackers que roubam contas privadas e que as vendem, variando o valor consoante a qualidade ou raridade da personagem ou acessórios.

E, agora, conhece-se ainda outra variante: pais que contratam professores de Fortnite para os filhos, uma realidade que está em crescendo nos Estados Unidos, até porque há universidades daquele país que têm desenvolvido as suas equipas de eSports, como acontece com os atletas de basquetebol ou outros desportos, culminando assim em bolsas e ajudas no ensino superior.

Esta história, publicada esta sexta-feira no “El Mundo”, revela que os professores/treinadores/explicadores deste jogo são tão fáceis de encontrar como os que ensinam disciplinas tradicionais. Há sites especializados na temática e os professores são avaliados pelos alunos – a informação é pública. Aquele periódico espanhol dá conta de uma página na Internet em que há 100 pessoas disponíveis para o trabalho. O custo oscila entre 10 e 25 euros por hora.

O “Wall Street Journal”, a base da história publicada pelo “El Mundo”, tentou descobrir por que razão os pais escolhem pagar a alguém para afinar a capacidade para jogar do filho… e o entretenimento tem pouco a ver com esta conversa. As conclusões, à boleia das explicações dos pais, falam em pressão social e aspirações económicas. Não é diferente do que se vê em equipas de desporto na infância e adolescência, por exemplo. A forma como se é visto por outros (até longe do gaming, na escola também), o estatuto entre pares. Mais: teme-se que a falta de perícia no Fortnite conduza a casos de bullying ou brincadeiras de mau gosto.

“Existe uma grande pressão para não só jogar como para ser realmente bom. Não fazem ideia do duro que foi para eles na escola”, desabafou uma mãe àquele jornal norte-americano.

O Fortine é um jogo de guerra online em que o objetivo da personagem controlada pelo jogador é ser o último a cair. No fundo, é correr pela sobrevivência, escapar ao destino fatal, eliminar zombies, encontrar armas e construir fortes para proteger preciosidades. É assim que ganha forma uma das sensações do mundo dos videojogos na atualidade. Espalhados pelo mundo, estão mais de 200 milhões de jogadores.

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