5 segredos da melhor educação do Ocidente
Dezembro 25, 2013 às 8:05 pm | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Desempenho Escolar, Educação, Escola, Finlândia, PISA 2012, Resultados académicos
Artigo do site Educar para Crescer de 4 de Dezembro de 2013.
Em entrevista exclusiva para o Educar, a Ministra da Educação e da Ciência da Finlândia revela as diretrizes de seu sistema educacional
Texto Cynthia Costa
Você acredita que a necessidade é a mãe da inovação? Na Finlândia, aquele longínquo país nórdico entre a Rússia e a Suécia, a grande inovação do século 20 foi uma educação de qualidade – tanto, que há anos a terra do Papai Noel sempre ocupa bons posicionamentos no PISA (Programme for International Student Assessment, ou Programa de Avaliação Internacional de Alunos). Na edição de 2012 dessa avaliação promovida pela OCDE, a Finlândia conquistou o 5º lugar em Ciências, o 6º em Leitura e o 12º em Matemática – mais um resultado admirável da pequenina nação, a primeira entre as ocidentais a aparecer no ranking de Leitura.
E que necessidade levou a isso? “Depois da guerra, estávamos pobres, sem recursos naturais. A maior riqueza que tínhamos era a própria nação. Por isso, investimos em uma boa educação”, explica Krista Kiuri, Ministra da Educação e da Ciência da Finlândia, falando com exclusividade ao Educar.
Desde o fim da década de 1960, quando o governo finlandês – em regime parlamentar com inclinação política à esquerda – resolveu que precisava de um sistema em que todas as crianças fossem contempladas, os investimentos nunca pararam. Mas a Ministra pondera: “Não se trata apenas de um aspecto econômico. Valorizamos a formação dos professores, o seu trabalho e o seu papel para a educação”. Quanto aos brilhantes resultados do país em pesquisas mundiais, como o PISA, Kiuri não demonstra tanta tranquilidade assim. “Nem sempre é fácil ser o primeiro lugar”, diz ela modestamente, referindo-se à responsabilidade de se manter no topo do ranking.
O Brasil e a Finlândia são, claro, países bem diferentes. Não apenas a nossa população é 40 vezes maior do que a da nação escandinava, como nós também somos fruto de uma trajetória bastante diversa. Mas que conselho a Sra. Kiuri poderia dar para a melhoria da nossa educação? “A boa educação emerge, primeiro, de um projeto político”, lembra a Ministra.
A seguir, veja pontos essenciais que garantem a educação de qualidade da Finlândia.
Finlândia em números
– 5,4 milhões de habitantes em 2012
– Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2012: 0,892 (21º mais elevado do mundo)
– 2.717 escolas
– 20 universidades e 30 escolas superiores politécnicas
– Em 2011(última estatística publicada), o investimento do governo com a educação foi de 11,9 bilhões de euros
– Escola obrigatória entre as idades de 7 e 16 anos
– Praticamente 100% são alfabetizados no país
– Único país tetracampeão no PISA: entre 2000 e 2010, ficou quatro vezes em primeiro lugar entre todos os países do mundo* (duas vezes no critério Ciências, uma vez em Matemática e uma vez em Leitura). Em todos as edições, foi o melhor país ocidental em todos os critérios.
*Lembrando-se que cerca de 70 economias (número que varia entre edições) participam do PISA, entre as quais o Brasil, que ocupou a 58ª posição entre 65 países na última edição. Há três critérios avaliados separadamente: Ciências, Matemática e Leitura.Para ler, clique nos itens abaixo:
1. “Nenhum aluno é deixado para trás”
Este não é apenas um slogan. A intenção do sistema educacional finlandês é buscar a igualdade, não a meritocracia. “Não investimos apenas nos melhores. O potencial de todos é levado em conta”, ressalta Krista Kiuri, completando: “O aluno pode se tornar um político, um matemático, um artista. Sabemos que todos colaborarão de alguma maneira com a sociedade”.
2. Valorização dos professores
Todos os professores são altamente qualificados, em geral têm no mínimo diploma de mestrado e recebem salários razoáveis – cerca de 3 mil euros mensais, o que não fica nem muito acima nem abaixo de outros salários no país. “Respeitamos os nossos professores e os tratamos como profissionais. Também investimos em sua boa formação”, declara a Ministra.
3. Confiança nos professores e nos alunos
Sobretudo nos últimos 20 anos, os professores finlandeses têm ganhado cada vez mais autonomia: desde que cumpram o chamado “currículo nacional”, ou seja, o conteúdo programático das disciplinas, garantindo que todos os alunos o aprendam, os mestres têm liberdade para planejar as suas aulas e até para escolher métodos. Nem o governo nem os pais seguem neuroticamente os passos de alunos e professores – há apenas um exame nacional, no fim do Ensino Médio, que mede o aprendizado.
O método de alfabetização adotado na Finlândia em geral é o silábico (primeiro os alunos aprendem as letras, depois sílabas, palavras, frases e, por fim, textos), o que tem se mostrado bastante eficaz, seja porque é o mais apropriado para o idioma finlandês ou graças à maneira como é aplicado. Não se espera que as crianças sejam alfabetizadas antes dos sete/oito anos de idade. Na primeira rodada de resultados do PISA, no ano 2000, a Finlândia já apareceu em primeiro lugar no quesito Reading (Leitura). De lá para cá, tem variado entre primeiro, segundo e terceiro lugares no ranking.
Não há interesse em tirar a educação do domínio público na Finlândia. Apenas 2% das escolas são particulares, e unicamente porque se especializaram em algum tipo específico de educação. Os outros 98% são totalmente públicos e descentralizados – municípios podem adotar diretrizes próprias, desde que obedeçam ao currículo nacional.
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