Dislexia: “Para os educadores e professores não andarem às escuras é preciso avaliar a criança”
Setembro 18, 2012 às 6:00 am | Publicado em A criança na comunicação social | Deixe um comentárioEtiquetas: Associação Portuguesa de Dislexia (DISLEX), Avaliação, Dislexia, escolas, Exames, instrumento de Avaliação
Artigo do portal Educare de 20 de Agosto de 2012.
A Associação Portuguesa de Dislexia vai propor ao MEC a aplicação de um instrumento de avaliação precoce do distúrbio em crianças em idade pré-escolar.
Palavras sem acentos, sem cedilhas, sem traços nos te. Trocas de os por us, de es por is, de s por z, cedilhas por dois ss. Palavras incompletas. Elementos de frase que não concordam em género, número ou verbo. Estes são alguns dos indicadores de dislexia visíveis numa criança nos primeiros anos de escolaridade. Mostram um desnivelamento de certas pré-competências que precisa de ser compensado durante o percurso educativo.
Mas não é preciso esperar pela aprendizagem da leitura e a escrita para diagnosticar este distúrbio. A Associação Portuguesa de Dislexia (DISLEX) e uma equipa educativa de um agrupamento de escolas de Viseu, constituída por uma terapeuta da fala, psicóloga, professor e educador especializados, criaram um conjunto de provas que permitem mostrar quais as pré-competências não desenvolvidas em crianças com cinco anos. Helena Serra, presidente da DISLEX e coordenadora deste grupo, pretende sensibilizar o Ministério da Educação e Ciência (MEC) para a necessidade de aplicar este instrumento de avaliação de forma obrigatória no ensino pré-escolar.
O pré-escolar e os primeiros anos de escolaridade são os períodos ideias para começar a trabalhar o cérebro disléxico. “Mas para os educadores e professores não andarem às escuras é preciso avaliar a criança e diagnosticar que áreas cerebrais concretamente não estão a responder àquilo que é esperado naquela idade”, explica Helena Serra. A partir daí é necessário traçar o perfil de desenvolvimento do aluno. E avançar com “técnicas próprias” para trabalhar o conjunto de pré-competências que estão desniveladas e no futuro vão gerar problemas na leitura e na escrita. “O treino vai minorar essa desvantagem até se alcançar um grau satisfatório de resposta de modo a que as pré-competências fiquem mais ágeis no seu funcionamento, pela exigência do seu processamento”.
Compreender as dificuldades
Existem variados exercícios para trabalhar a dislexia, considera Helena Serra, ela própria autora de alguns. Faltava apenas um instrumento para avaliar especificamente quais as áreas problemáticas. Pelo menos até ao momento em que decidiu reunir uma equipa de profissionais e criar um. Trata-se de um conjunto de provas que vão pôr a criança em situações de desempenho: em linguagem compreensiva e expressiva, em fonologia, no que toca à lateralidade (direita/esquerda), a noções de espaço e do tempo, também de discriminação de memória auditiva e visual e motricidade fina.Aspetos que, segundo Helena Serra, “estão absolutamente interligados e são o alicerce de uma boa entrada na leitura e na escrita e que devem estar a um nível pronto de desempenho da tarefa”. Até porque, continua, “o primeiro ano de escola vai apelar a simbolizações em cima de simbolizações a qualquer criança”. Cada letra tem um som e um grafismo e essa associação grafema-fonema no cérebro de um disléxico pode estar muitas vezes posta em perigo. No entanto, a bem da aprendizagem, “essas pré-competências têm de estar à boca de cena”, esclarece a investigadora.
Através das provas de avaliação, que se encontram em fase de pré-teste, mesmo sem formação em dislexia, “o educador consegue entrar na compreensão das dificuldades do aluno”, garante Helena Serra. E, assim, perceber se as noções de direita e esquerda ainda estão confusas. Ou mesmo se o aluno memoriza ou não de forma sequencial as palavras propostas. Se as respostas nas provas forem desadequadas dá-se o sinal de alerta. Depois é preciso intervir, diz Helena Serra.
“O educador fica logo com o perfil do aluno e em tempo útil, como o trabalho no pré-escolar é mais flexível, tem toda a possibilidade de trabalhar mais intensivamente as áreas da criança onde detetou o desnivelamento.” Caso contrário, corre o risco de ir para o 1.º ciclo sem a segurança desejada. Por isso, “é preciso agir precocemente para prevenir os erros maiores de leitura e de escrita e as dificuldades de grande monta”.
Helena Serra acredita na validade da aplicação do instrumento que descreve como sendo de “utilização simples e carácter pedagógico”. Por isso, a equipa responsável pelo projeto solicitou já uma reunião de trabalho com o MEC para o apresentar. O objetivo: discutir vários aspetos sobre dislexia, incluindo a prevenção dos problemas de leitura e escrita, mas também convencer o Ministério a tornar obrigatória a utilização do instrumento “avaliativo e preventivo” que criaram. “A nossa ideia é aplicar as provas a toda e qualquer criança e não apenas à que está a sugerir ter problemas, porque ficava aí um critério falacioso e subjetivo e isso não pode ser.”
Assim, a sugestão a levar ao Ministério passa por disponibilizar centralmente estas provas científicas e exigir do agrupamento a sua aplicação no terreno. Se forem aplicadas em janeiro ou fevereiro do ano letivo em que a criança está a frequentar o pré-escolar, sobra tempo, afirma Helena Serra, para trabalhar as pré-competências necessárias até à sua saída para o 1.º ano. Nesses meses, “virão ao de cima as áreas que estão com baixo desempenho e o educador pode direcionar para elas o trabalho utilizando várias estratégias”, além disso, “como tem uma organização flexível na sala até pode pôr a turma toda a fazer exercícios e atividades lúdicas, desenvolvendo estratégias que vão beneficiar não só essas crianças específicas mas todas as outras”, assegura.
Sobre os materiais existentes, a presidente da DISLEX afirma que a associação vai fazer uma recolha de algumas estratégias para futura publicação: “Há muita coisa avulsa, vários cadernos que trabalham a lateralidade, etc., mas queremos evitar aquele sentimento de que as orientações estão todas dispersas.” Caberá depois ao educador decidir qual dos instrumentos a adotar: “O importante é que saiba que determinado problema se trata com determinada estratégia e materiais daquele tipo.”
Minimizar falhas
A grande discussão proporcionada pelas alterações do MEC à realização dos exames nacionais pelas crianças disléxicas significa para Helena Serra uma oportunidade para “arrumar a casa”. Na audiência que espera vir a ter no Ministério, a DISLEX vai ainda propor um conjunto de medidas para minimizar as falhas detetadas e preparar melhor a atuação no futuro. Até porque a necessidade de atuar na prevenção não exclui, segundo Helena Serra, “a urgência de resolver a questão dos alunos que não tendo passado por estes enriquecimentos, estão no terreno a precisar que façam alguma coisa com eles”. Acresce que a avaliação preventiva, sugerida aos cinco anos, pode ainda ser feita no 2.º ano de escolaridade. “Vamos admitir que o 1.º ano é de adaptação àquele novo espaço e no 2.º ano se persistirem as tais dificuldades é preciso intervir!” Nesse caso, explica Helena Serra, “as provas são um bocado diferentes, seguindo um modelo equivalente ao usado no pré-escolar, mas incluindo um nível de competências já iniciadas em leitura e escrita”.Considerando o clima de contenção financeira, Helena Serra insiste que não vai pedir ao Ministro para criar nada de novo: “Vamos sugerir o direcionamento do que existe”. Antecipando uma resposta negativa, pela falta de professores especializados, a presidente da DISLEX preparou dois modelos de suporte à proposta que levará à Rua 5 de Outubro: “Ou entra mais alguma unidade com especialização nos agrupamentos, em função do número de alunos, que fica para estes casos de dislexia e assume no terreno o que precisa de trabalhar com eles. Ou aproveita-se a unidade de professores de apoio educativo – que é uma estrutura disponível para qualquer criança – e dá-se-lhes uma formação de 50 horas para saberem como se trabalha um cérebro de um disléxico.”
E assim se resolve a questão: “Se estes professores dos apoios que tiveram esta formação, em vez de estarem com os alunos disléxicos a fazer o mesmo que o professor não especialista faz na sala de aula, ficam ensinados a usar estratégias específicas, exercícios que vão elevar as competências desses alunos para um nível aceitável”. E para que não restem dúvidas sobre as suas intenções, a presidente da DISLEX esclarece: “Não precisa de ser a associação a formar estes professores, embora já o tenhamos feito por todo o país, pode ser o Ministério a definir os autores, os instrumentos e a contratualizar isso com escolas superiores de educação.”
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